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História Apenas Ela - Tempos Difíceis


Escrita por: DanyPS

Notas do Autor


Olá pessoas, mais um capítulo saiu.
Ele já estava um pouco adiantado, mas tenho que confessar que quando fui terminar de escrevê-lo, por pouco não dei uma pausa na fic pra reavaliar se vou continuar.
Como disse no início, é a minha primeira história, zero experiência... Aí bate aquela insegurança básica: será que isso aqui tá prestando? Será que vale a pena seguir?
Agradeço às meninas que tem me dado algum retorno. Foi por elas que consegui concluir pelo menos mais esse capítulo. Espero que não se decepcionem.

Capítulo 9 - Tempos Difíceis


Quando o avião enfim pousou no aeroporto John F. Kennedy, Laura soltou um suspiro, sentindo-se aliviada por estar em casa. Passou pelos procedimentos de desembarque o mais rápido que pode e quando seus olhos encontraram Jodi, ela abriu um enorme sorriso. A amiga veio rapidamente em sua direção e lhe deu um abraço apertado.

- Jodi, é tão bom ver você. Obrigada por vir pra Nova York ficar comigo esses dias.

- Como se isso fosse um grande esforço – Jodi deu um apertão nas bochechas de Laura. - Senti muito a sua falta. Nunca mais fique tanto tempo longe de mim.

As duas foram em direção ao estacionamento de braços dados. Quando chegaram em seu apartamento, Laura foi direto tomar um banho. Tudo o que queria era sua cama. Já passava das dez da noite e ela estava exausta pelo longo voo. No dia seguinte colocaria os assuntos em ordem com a amiga.

 

Na terça, Laura acordou tarde e resolveu que almoçariam fora. Só então teve tempo de contar tudo que acontecera nos últimos meses, embora muita coisa tivesse sido adiantada em conversas pelo Skype. Já tinham acabado de almoçar. Jodi a deixara informada de todos os acontecimentos recentes, agora era a vez de Prepon falar.

- Quer dizer então, que daqui a 15 dias você volta para a França e fica ainda mais um mês lá? – Jodi entrou no assunto.

- Pois é. Eu tentei por duas vezes conversar com Dylan sobre a possibilidade de eu vir de vez, mas ele evitava. Acabei desistindo. Vai ser só mais um mês, passa rápido.

- Laura, eu não tô te reconhecendo. Se você não quer mais ficar lá, porque isso? Você nunca foi de se submeter às vontades alheias tendo que passar por cima das suas, ainda mais com relação aos homens.

- Eu sei Jodi. Mas... -  ela não sabia como explicar. – Eu me sinto como se estivesse sempre em dívida com o Dyl. É muito claro que de um tempo pra cá ele vem se doando muito mais a essa relação do que eu. Tá sempre fazendo de tudo pra me agradar, pra aproveitar cada minuto ao meu lado. Ele ficou tão feliz esse tempo todo em que estivemos juntos. E vamos combinar que um mês a mais ou a menos em Paris não é tanto esforço assim né? Quantas pessoas no mundo dariam tudo para estar no meu lugar?

- Ok, você que sabe.  – Jodi deu de ombros - Agora, uma pergunta: eu ainda continuarei como sua agente ou você vai me dispensar? Seria bom se me avisasse com uma certa antecedência.

- Que loucura é essa?

- Sei lá, Laura. Você com essa história de virar empresária, chef de cozinha ou qualquer coisa do tipo. Vai ficar praticamente impossível conciliar com sua carreira.

- Pela milésima vez eu vou ter que explicar que eu não vou abandonar minha carreira? Eu sou e sempre serei atriz. Essa é a minha profissão. – Laura ficou irritada. - Por mais que eu repita isso ninguém me ouve. Inferno.

- Calma, também não precisa ficar assim. Eu só queria saber se você já decidiu o que vai fazer.

- Já, Jodi. Eu nem deveria te falar nada, porque prometi a mim mesma que conversaria primeiro com Dylan. Mas eu não vou aceitar a sociedade com eles. Ele tinha razão quando disse que essa viagem, além ser uma oportunidade única para passarmos um tempo sozinhos, também serviria para que eu me aprofundasse nesse universo e pudesse tomar uma decisão de forma mais consciente. – ela fez uma pausa para comer a sobremesa-  Amo cozinhar, amo entender mais sobre alimentação saudável, produtos orgânicos... realmente amo. Mas investir nisso me tornando sócia de uma cadeia de restaurantes está fora de cogitação. Por mais que Mark e Dylan tenham me garantido que eu não precisaria me dedicar de forma integral ao negócio, e atuaria muito mais como consultora, eu não acho isso justo. Se for para ser dessa forma, posso continuar ajudando eles sem compromisso, como fiz até aqui. Não preciso me tornar dona de nada.

- Eu não vou tentar esconder minha felicidade com essa sua decisão. – e Jodi não conseguia mesmo disfarçar sua animação. – Por Deus, Laura. Eu estava realmente com medo que você voltasse dessa viagem com a cabeça mudada.

- Não, de jeito nenhum. E tenho que confessar que as duas últimas semanas me fizeram apressar essa decisão. Jean Pierre, finalmente adquiriu o imóvel onde abrirá seu restaurante, e Dylan está tão envolvido com o projeto, como se já fosse uma das filiais do Full Life. Sai cedo do flat e volta tarde da noite. Eu não quero esse tipo de rotina para mim. Essa semana, nos dias em que não o acompanhei, fiquei sozinha. Aproveitei para fazer algumas compras, ir a um café, ou simplesmente apreciar as paisagens parisienses.

- Bem, já que agora posso respirar aliviada, vamos mudar de assunto? Ansiosa para as fotos?

- Na verdade, ansiosa para rever todos. Sinto tanta saudade das meninas, da equipe, até mesmo de Jenji. – Laura riu. – Mas tem algo que me incomoda.

- O que?

- Eu falei com você. Achei as garotas tão distantes, na verdade depois que parei de mandar mensagens, nenhuma delas me procurou. Nem mesmo a Taylor, acredita?

- Normal, Laura. Na maioria das produções é assim, durante meses vocês passam muito tempo juntas, praticamente todos os dias e criam uma ligação inevitável. Mas quando as gravações terminam, cada uma tem seus próprios compromissos e a coisa não é mais como antes.

- É... pode ser só isso mesmo.

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 Taylor dividia o camarim com Natasha, Laverne, Uzo e Dascha. Naquele dia, quase todo o elenco estaria presente no estúdio para um grande ensaio fotográfico. A Netflix havia pedido que fosse produzido um vasto material com o elenco, todos junto, em grupos maiores, em grupos menores. Eles queriam explorar a diversidade de pessoas que faziam parte do cast, isso seria fundamental para a divulgação da série.

O trabalho continuaria no dia seguinte pois a quantidade de pessoas envolvidas era enorme. E, no início da próxima semana, haveria um dia reservado para fotos individuais dela e de Laura, que pelo destaque de suas personagens, teriam material exclusivo.

Pelo burburinho ouvido no corredor, todas as meninas já deviam estar presentes. Taylor fora uma das primeiras a chegar e desde então não deixara o camarim, mesmo já estando pronta. Por mais que estivesse o tempo todo pensando em como seria seu reencontro com Laura, queria adiá-lo enquanto pudesse. Em parte porque não saberia o que dizer, em parte porque sabia que Natasha a estava analisando o tempo todo. Mesmo que não dissesse nada, a loira sabia que a amiga estava de olho nela.

Já fazia tempo que o assunto Laura Prepon fora deixado de lado quando as garotas se encontravam. Algumas delas, como Uzo e Yael, não chegaram a ficar tão sentidas assim com a morena; embora também não tivessem gostado do que ela fez, sempre defenderam que valia a pena tentar entendê-la. Mas essas duas não contavam, Taylor nunca vira pessoas tão amáveis quanto elas. Outras, provavelmente já tinham esquecido o ocorrido. Quem não estava presente no final da festa, soubera por alto o que acontecera, então também não deveria ter dado muita importância. Schilling repetia isso em sua mente para tentar se acalmar, porque apesar de ainda estar muito magoada, não queria que Laura fosse destratada ou ficasse deslocada. Se Natasha ouvisse seus pensamentos, tinha certeza que lhe daria um sermão.

Após serem chamadas para comparecer no local indicado, Taylor viu que não havia mais como escapar. Ao entrar no gigantesco salão que estava preparado com todos os equipamentos, luzes, elementos cênicos e demais parafernálias necessárias, ela tentou procurar pela morena disfarçadamente. Encontrou Laura no lado esquerdo do ambiente, conversando com Kate e Selenis.

Taylor teve que se apoiar na parede, pois sentiu as pernas tremerem levemente. Ela estava mais linda do que nunca, se é que isso era possível. Mesmo caracterizada como Alex Vause, era impossível não perceber que a pele perdera o tom pálido e estava mais corada. Os olhos pareciam mais verdes, mesmo à distância. Ela deu uma gargalhada por algo que Kate dissera e ouvir aquele som rouco novamente não estava ajudando a loira.

Foi então que a morena percebeu que estava sendo observada e abriu o sorriso mais encantador que Taylor já vira. Percebeu que ela dizia algo às duas mulheres com quem estava conversando e em seguida veio andando em sua direção. Antes que dissesse qualquer coisa, a morena a abraçou com força.

- Taylor, que saudade, garota. Como é que você tá?

Schilling não conseguiu responder logo. Flashes da noite da festa vieram em sua mente: ela ansiosa pela chegada de Laura, as mensagens, a foto, a pulseira.

- Eu tô bem. E você não preciso nem perguntar, porque tô vendo que está ótima. Mas quem não estaria depois de uma temporada romântica em Paris?

Ela percebeu que falou aquilo de maneira um tanto brusca, porque Prepon ficou subitamente séria.

- Schilling, aconteceu alguma coisa durante minha ausência?

- Muitas coisas aconteceram, claro. Mas você quer saber do que especificamente?

- No princípio eu achei que era coisa da minha cabeça, mas hoje ao chegar aqui, tive certeza que o clima comigo tá estranho. Não da parte de todos, mas por ironia, justamente da parte das pessoas que eu considerava mais próximas. Você, por exemplo, é uma delas.

Antes que Taylor pudesse responder, Natasha se juntou às duas.

- Tayloface, eles querem ensaiar algumas marcações e estão convocando Piper Chapman ali na frente – só quando terminou de se dirigir a ela, pareceu notar a presença de Laura – Oi Laura. – limitou-se a dizer.

- Laura? Eu ouvi, direito? Laura?- repetiu – O que houve com “ruiva”?

Natasha olhou para ela, com um sorriso no canto dos lábios, mas sem nenhum humor e disse:

- Eu também gostaria de saber o que houve com a “ruiva” - e saiu carregando Taylor.

O dia de trabalho foi longo, mas Taylor Schilling e Laura Prepon não tiveram outros momentos a sós. Ficaram próximas por diversas vezes na hora das fotos, mas não trocaram nenhuma palavra além do necessário para acertar as poses. A loira notou que durante as pausas, a morena sempre se dirigia para perto de Kate, Selenis ou um dos rapazes. Na hora do almoço ela sentou com Jason e Pablo.

Taylor pensou em ir até ela, mas achou que ainda não era o momento. Sabia que uma hora provavelmente teriam de conversar, mas não seria agora.

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Era manhã de quinta-feira e Laura estava em um táxi, a caminho do segundo dia de fotos. Diferente do primeiro, hoje ela já sabia o que a esperava e estava preparada.

Claro que não foi sua imaginação a mudança de atitude das meninas enquanto ela esteve fora. Tentou se convencer disso enquanto a coisa estava restrita às mensagens telefônicas, mas agora, pessoalmente, não dava mais para se enganar.

No dia anterior, ao chegar ao camarim destinado a ela, encontrara Taryn, Samira, Danielle e Kate. Ficou tão contente ao vê-las, que foi abraçar uma por uma. Todas foram extremamente educadas, mas ficou evidente que a única que mostrou algum interesse real em estender uma conversa com ela foi Kate.

Mas o que realmente a derrubou foi a forma como Taylor e Natasha a trataram. Elas foram tão frias que chegou a doer. E Laura nem ao menos sabia o que estava acontecendo, porque ninguém lhe dizia nada. Quando parava para pensar, talvez o único motivo plausível fosse sua ausência na festa de encerramento das gravações. Foi a partir daí que as coisas começaram a mudar, porém ela não faltara de propósito. Estava tudo acertado para ir, mas a chegada inesperada de Dylan atrapalhara tudo.

Mesmo assim, não achava que o comportamento das garotas fosse justificável. Imaginava que sua presença nem seria tão fundamental assim, afinal nunca fora das mais animadas e festeiras do grupo. As garotas com certeza se divertiram bastante, estando ela presente ou não.

Porém uma coisa estava clara em sua mente: não ia implorar pela atenção ou amizade de quem quer que fosse. Continuaria agindo da mesma forma com todos. Aqueles que quisessem falar com ela, seriam bem tratados como sempre foram. E se sua presença estava incomodando algumas, ela evitaria ficar por perto para não ser inconveniente. Talvez por isso sempre preferira ter amigos homens. Mulheres decididamente eram muito complicadas.

Naquele dia em especial, tudo que precisava era do colo de Marjorie Prepon. Somente ela conseguiria trazer calma e tranquilidade para a filha. Mas sua mãe estava viajando com duas amigas. Quando soube que Laura estaria em Nova York, Marjorie sugeriu que poderia retornar antes e ficar alguns dias com ela. A morena recusou prontamente, não queria atrapalhar o passeio da mãe.

O tempo em que esteve no estúdio, Laura ficou mais reservada, quieta em seu canto. Falou pouco e sempre que podia se retirava para o camarim. Para aqueles que notaram e se preocuparam com ela, deu como resposta uma leve indisposição. Evitou olhar para Taylor, pois a atitude dela era a que mais a machucava.

Para finalizar aquele dia tão estranho, Laura estava juntando suas coisas para ir embora quando ouviu algumas das meninas se despedindo no corredor. Ela tentava não prestar muita atenção, mas foi impossível não escutar uma parte em especial:

- Tayloface, mande um beijo para Chloe. E nada de passar a noite inteira trepando loucamente porque amanhã cedo você tem compromisso – era a voz de Natasha.

Então Taylor estava de namorada nova? Talvez esse fosse um dos motivos dela ter deixado de lado a amizade das duas. Ótimo para ela, que fosse muito feliz.

Resolveu que aproveitaria os dias de folga até segunda-feira para espairecer, e arrastaria Jodi com ela. Ligaria para alguns amigos que estavam na cidade, sairia pra beber, quem sabe até dançar. Qualquer coisa que desviasse seus pensamentos das pequenas decepções que tivera ao voltar de Paris.

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Laura estava de novo em um camarim, sentada na cadeira enquanto era maquiada. Preparava-se para o último dia de sessão de fotos. Seria fotografada algumas vezes sozinha e outras com Taylor. Também fariam alguns vídeos.

Apesar do fim de semana agitado, pois evitara a qualquer custo ficar em casa olhando para o teto, não podia dizer que estava se sentindo muito animada. Encontraria Taylor sozinha e não sabia como agir. Tinha considerado a possibilidade de chamá-la para uma conversa direta, mas não sabia se era uma boa ideia.

- Como foi a festa? Tão agitada quanto a Lyonne prometeu?

- Oi? Não entendi. – Laura respondeu à maquiadora que parecia estar falando com ela há algum tempo.

- Você tá com a cabeça longe, Prepon. Eu perguntei como foi o aniversário da Natasha – Carol riu.

- Ah...não sei. Eu estava fora do país, cheguei na semana passada. – ela não estava muito para papo.

- Mas a festa foi nesse fim de semana. Ela ia levar um grupo grande para os Hamptons. Pensei que você também estava nessa.

- Não, não estava. – Laura sentiu uma coisa esquisita ao ouvir as palavras de Carol. Duvidada da ingenuidade da maquiadora em lançar o assunto daquela forma- Desculpa Carol, mas hoje estou com a cabeça explodindo, prefiro não falar muito.

- Oh sim, claro. Me perdoe.

Perdoar, agora que você já conseguiu jogar seu veneno? Laura teve vontade de dizer em voz alta, mas se conteve.

Porém a isca lançada pela mulher servira para ela tomar conhecimento de que agora era oficial, realmente fora banida da turma das garotas Orange. Ela sentia muito, porque sua amizade por cada uma sempre fora sincera. Gostava delas de verdade. E estava sendo repelida sem que ninguém nem ao menos conversasse decentemente com ela. Obviamente esperava que essa pessoa fosse Taylor. Mas até a loira parecia ter perdido seu lado doce e compreensivo.

- Oi Laura, bom dia.

Laura viu pelo espelho que Schilling tinha acabado de chegar.

- Oi.- foi o máximo que se permitiria dizer. Que se danassem todas elas. Que se danasse toda aquela palhaçada.

Esse pensamento a dominou durante quase toda a manhã, o que só serviu para prejudicar seu desempenho. A equipe teve de fazer duas pausas para que ela conseguisse se concentrar. Na hora do almoço, resolveu sair do prédio e dar uma volta. Precisava de ar puro. Precisava ficar longe de Taylor. A loira até tentara falar com ela ao perceber que algo estava errado, mas Laura a deixou falando sozinha e saiu de perto.

Ao voltar à tarde para a sequência final, ela se sentia um pouco melhor. O que foi ótimo, pois assim conseguiram terminar logo. Ela estava louca para ir para casa, mas lembrou-se que não tinha ido de carro e teria de chamar um táxi. A previsão do motorista foi de 10 minutos. Ela se dirigiu à entrada do prédio e decidiu esperar por lá mesmo.

Para sua surpresa, Taylor também estava parada ali e já a tinha visto. Não dava para fugir.

- Está tudo bem com você, Laura?

- Você tá autorizada a falar comigo? – a morena fez a pergunta com o rosto fechado. – Ou está se garantindo no fato de que estamos sozinhas e ninguém vai testemunhar essa sua infração?

- Eu só estou preocupada com você, porque sua aparência não está das melhores hoje. Mas pelo visto, você está bem o suficiente para responder com deboche.

- Qual é a sua Taylor? Aliás, qual é a de vocês? O que foi que eu fiz para de repente passar a ser uma persona non grata? – ela não ia aguentar segurar mais aquilo.

- Você nem desconfia? – Taylor parecia estar realmente surpresa.

- Desconfiar de que? O que eu sei é que saí daqui ano passado feliz com o término de mais um trabalho que amei fazer. Feliz por ter conhecido pessoas tão especiais que eu já considerava amigas. E quando volto sou tratada como se nada daquilo tivesse sido real.

- Acho que precisamos conversar, Laura.

- Eu tô esperando por isso desde que cheguei.

A loira abaixou a cabeça e quando a ergueu novamente, Laura ficou hipnotizada por aqueles olhos azuis que a fitavam tão diretamente. Ela parecia estar pensando antes de dizer alguma coisa e a morena ficou esperando. A troca de olhares durou intermináveis segundos, até que o encanto se quebrou quando ouviram uma buzina na porta do edifício.

Taylor virou o rosto naquela direção e quando falou novamente, foi com um sorriso triste nos lábios:

- Minha carona chegou. Podemos conversar outra hora?

- Sim, claro. Meu táxi também acabou de chegar.

As duas passaram pela porta. Saindo de um carro preto, Laura avistou uma linda garota loira, de olhos azuis, cabelos compridos e lábios cheios ostentando um enorme sorriso. Ela dirigiu-se à Taylor:

- Desculpe a demora, baby. O trânsito está complicado.

- Acho que não estou em condições de reclamar, afinal sou eu quem preciso de carona.

Laura levou um tempo para que a ficha caísse. Não era possível que “aquela” fosse a namorada de Taylor. Ela não podia acreditar nisso, a menina nem devia ser maior de idade. O que ela tinha na cabeça, enlouquecera? E pelo visto Natasha apoiava aquela insanidade.

Como se as duas pudessem ouvir seus pensamentos e quisessem resolver sua dúvida, trocaram um rápido beijo apenas com um leve encostar dos lábios. Laura ficou enjoada ao ver. O taxista apertou a buzina tirando-a do transe e fazendo com que ela se movesse. Nesse instante parece que Taylor lembrou-se de sua presença:

- Laura, te ligo depois para combinarmos algo?

A morena se sentia irritada, então respondeu de forma indiferente:

- Acho que não. Deixa as coisas como estão, Schilling.

Taylor ficou confusa e não disse nada, apenas ficou acompanhando-a com o olhar.

Foi então que antes de entrar no táxi, Laura virou-se mais uma vez:

- Pode me fazer um favor? Quando estiver com a Lyonne, dê-lhe os parabéns por mim, mesmo que atrasado. Fiquei sabendo que a festa dela foi ótima.

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Na sexta-feira seguinte, o elenco reuniu-se novamente. Estavam todos ao redor de uma enorme mesa para ouvirem Jenji, alguns outros produtores e dois diretores da Netflix. A reunião fora convocada para que fossem expostos diversos pontos em relação ao lançamento da série, que já estava bem próximo, e algumas questões da segunda temporada, agora já oficialmente confirmada.

Por mais que o assunto fosse de seu interesse, Taylor não conseguia se concentrar. Laura fora uma das últimas a entrar na sala, e quando chegou estava acompanhada de Jenji. Sua expressão era de extrema tristeza e a loira precisou conter o impulso de se levantar e ir até ela. Tentou contato visual com Prepon durante vários momentos da reunião, mas esta estava quase sempre com os olhos baixos.

Quando o encontro foi enfim encerrado e todos começaram a se levantar, Laura ergueu-se rapidamente e foi a primeira a sair da sala sem falar com ninguém. Taylor levantou-se também e seu olhar cruzou com o de Natasha que estava ao seu lado. Ficaram mudas por um tempo, até que Lyonne disse:

- Vá atrás dela, Tayloface. Ela parece precisar de você.

Não foi preciso que ela falasse uma segunda vez, Taylor deu um abraço rápido na amiga e saiu atrás de Laura. Para sua sorte, encontrou-a parada no hall esperando o elevador chegar. A loira ficou parada ao lado dela sem dizer nada. Quando o equipamento abriu as portas, as duas entraram.

- Você tá de carro?- foi Taylor quem quebrou o gelo.

Laura virou-se para ela olhando-a como se só agora a enxergasse ali ao lado.

- Não, vou chamar um táxi.

- Eu te levo.

- Não precisa, Taylor.

- Laura, pode baixar a guarda por um segundo? Você está com algum problema e se não quiser falar sobre ele, não vou insistir. Mas não posso te deixar ir sozinha pra casa.

O silêncio voltou a preencher o lugar. Quando o elevador parou na garagem, Taylor saiu primeiro e a outra a seguiu. Ao abrir a porta do carro e olhar para Laura para se certificar de que ela entrava no lado do carona, percebeu que lágrimas escorriam por seu rosto. A loira sentiu o coração se partir. Nunca vira a amiga chorando antes.

Esperou que ela sentasse e entrou no carro em seguida. Ficaram por um tempo sem falar nada, até que a morena quebrou o silêncio:

- Eu tô praticamente cortada da continuação da série.

- Como é que é? – Taylor falou um pouco mais alto do que gostaria.

- Jenji me chamou para conversar antes da reunião para que eu não fosse pega de surpresa - ela tentava enxugar as lágrimas.

- Isso não faz sentido Laura.- Taylor queria se aproximar mais dela, mas tinha medo da reação.

- E sabe o pior? A culpa é minha por ter sido burra o suficiente pra agir com sinceridade. – Laura colocou as mãos no rosto.

- Tenta se acalmar pra me explicar melhor o que tá acontecendo -  a loira suavizou o tom de voz.

- Você lembra que eu fui conversar com a Jenji para tentar saber o planejamento deles pra esse ano e assim poder programar melhor minha estadia em Paris? Para que isso não interferisse em meus compromissos com a série?

- Lembro, claro.

- Pois é, parece que ela dividiu essa minha questão com outros diretores e eles entenderam que eu estava envolvida com outros compromissos, que poderia não estar totalmente disponível para a segunda temporada, então minha participação será pequena.

- Então você não está cortada. Alex Vause continua na história. Isso já é uma boa notícia, não?

- Não sei Taylor, Jenji não deu maiores detalhes. Mas adiantou que aparecerei em poucos episódios. – a essa altura ela já tinha parado de chorar - Questionei porque não fui chamada se eles tinham alguma dúvida, porque não me consultaram e Jenji disse que nem todas as decisões são tomadas exclusivamente por ela. Você acredita nisso?

- Será que você não disse algo que fizessem eles interpretarem que estava querendo informações privilegiadas?

- Mas que pergunta idiota é essa Taylor? – Laura mudou da tristeza para a irritação.

- Calma aí, senhorita. Não vira seu canhão para mim não. Foi algo que ouvi.

- O que você ouviu?

Taylor contou sobre os boatos sutis, mas que circulavam entre algumas pessoas, a respeito dela querer um tratamento diferenciado e até aumento de cachê para permanecer no projeto.

- Você só pode estar de brincadeira, Schilling! Quem tá espalhando essa merda toda por aí?

 - Ninguém em especial. Você sabe como são essas coisas, alguém que ouviu dizer de outro alguém que soube de fontes seguras. E isso acaba gerando um ciúme né?

- Será que a gente pode sair dessa garagem? Tô começando a me sentir sufocada.        

- Ok madame, perdoe a lentidão de sua motorista – Taylor brincou para tentar amenizar o clima.

Laura conseguiu rir e a loira achou que aquilo já era um avanço.

Foi só quando estavam no meio do trânsito de Nova York, que Prepon voltou a falar:

 - Então esse é o motivo para ter sido expulsa da fraternidade Orange? Alguém em especial decidiu ou foi uma votação democrática?

 - Vai começar com a sessão de ironias? Eu paro o carro e te deixo aqui mesmo. – Schilling fingiu-se de brava.

- Taylor, você tá muito diferente sabia? Onde foi parar aquela menina tímida que morria de medo de mim? – Laura ergueu as sobrancelhas como se quisesse intimidá-la. – Quem deixou você crescer tão rápido?

- Talvez você mesma tenha feito isso acontecer.

A morena passou alguns momentos pensativas, até voltar o assunto:

 - Poxa, garota, vamos falar sério? Eu achei que fôssemos amigas, mas desde que viajei você passou a me tratar de forma tão fria. O que eu fiz para você?

 - Laura, você realmente acha que deixar de vir pra festa, mentindo sobre um imprevisto porque preferia ir a um evento com seu namorado é demonstração de amizade? – como ela percebeu que Prepon ia falar algo, ela rapidamente prosseguiu: – Agora espera, deixa eu terminar. Você sabe o quanto a Natasha gosta de organizar festas no apartamento dela. Ela abriu mão porque você disse que naquela data não poderia. E ninguém se importou com isso, porque o importante era você estar presente também. Você tem ideia de quantas pessoas tive que responder naquela noite perguntando que horas você iria chegar? E depois pra quantas outras eu tive que dar uma explicação, que nem eu mesma sabia, sobre a sua ausência? Você consegue imaginar como a festa perdeu parte da graça pra mim quando eu soube que você não estaria lá? Você tem noção de como nós nos sentimos idiotas quando vimos a sua foto em Los Angeles?

 - Foto?

- Sim, você e Dylan. Você sabe como a Tasho é viciada nesse negócio de redes sociais. De alguma forma ela viu a postagem dele com a foto de vocês, tinha até data e o local.

- Acho que agora tô começando a entender o tamanho do problema. Mas eu juro que não tinha noção da proporção disso. Eu nem achava que minha presença era tão importante assim. Eu juro, Taylor, que na minha cabeça eu quem perdi deixando de vir. Vocês estavam juntas, eu fiquei de fora.

 - Agora é você quem tá de brincadeira né? É claro que sentimos sua falta.- Taylor desviou a atenção do tráfego por um segundo e olhando naqueles olhos verdes, fez a pergunta chave: - O que aconteceu naquele dia, Laura?

Laura passou o restante do percurso até sua casa contando em detalhes todo aquele dia estranho. Taylor não a interrompeu em nenhum momento, mas não pode deixar de achar muito esquisita aquela história da mala e do telefone. Foi impossível não se questionar se o tal Dylan não tinha feito aquilo de propósito. Mas ela que não ia levantar aquela possibilidade, as coisas entre elas já andavam estremecidas, não precisava de mais essa divergência.

Ao parar o carro na frente do prédio da morena, Schilling tinha dois sentimentos diferentes. O primeiro era um certo arrependimento por ter julgado a amiga de forma tão precipitada sem tentar pelo menos conversar sobre o ocorrido. Ela provavelmente ainda teria ficado magoada com o aparente descaso de Laura, mas o “monstro” era bem menor do que parecia a princípio. Aquilo não teria se estendido por tantos meses inutilmente. A segunda sensação que começava a preenchê-la era uma alegria genuína em saber que não tinha se enganado tanto assim sobre aquela mulher que estava ali ao seu lado. Ela não era a tal vaca egoísta que Natasha vivia repetindo. Também não era aquela mulher perfeita que Taylor pintara ao conhecê-la. Era somente alguém comum, como ela mesma, cheia de defeitos e qualidades.

- Bem, chegamos. Espero que você tenha entendido um pouco o meu lado. Eu, com certeza entendi o lado de vocês e vou ficar me culpando por ter sido tão descuidada. – Laura disse com a voz cansada.

 - Eu vou conversar com as meninas, pode deixar.

 - Não preciso de advogada de defesa.

 - Você que pensa. Se quiser voltar pra fraternidade Orange, como você resolveu chamar, vai precisar sim. E nenhuma será melhor do que eu. – Taylor fez uma careta pra ela.

 Laura ficou olhando-a por um longo tempo. Enfim voltou a falar:

 - Tay... obrigada.

Taylor sentiu seu rosto esquentar. Ouvir Laura pronunciando pela primeira vez seu apelido daquela forma carinhosa e íntima, era para acabar com qualquer resquício de mágoa que ainda pudesse existir dentro dela.

- Não precisa agradecer, garota. Meus honorários custam caro e eu vou cobrá-los, pode ter certeza.

Laura riu. Em seguida disse:

- Quer subir um pouco?

Foi então que Taylor se deu conta da hora. Ao olhar o relógio, percebeu que estava atrasada. Considerou a possibilidade de enviar uma mensagem à Chloe avisando que iria se atrasar. Mas antes que respondesse, como se tivesse percebido sua mudança, Laura continuou:

- Você tem compromisso né?

- Sim, tinha até esquecido. – Taylor disse em voz baixa.

- Quantos anos aquela menina tem, Schilling?

- Como é que é?

- Você continua com essa mania de fingir que não entende minhas perguntas pra ter mais tempo de pensar antes de responder. – Laura aguardou e como a loira permanecesse calada, resolveu repetir a pergunta: - Quantos anos tem a sua namorada?

 - Ela não é minha namorada. E Chloe tem 23 anos.

- Oh, sério? Menos mal. Pensei que estava se metendo em encrencas. E quanto ao fato dela não ser sua namorada, elas nunca são, não é mesmo? Você tem problemas em assumir seus relacionamentos?

- Eu tenho mesmo que ir, Laura - ela não iria revidar aquela provocação - Podemos almoçar amanhã?

- Amanhã volto pra Paris.

- Você não veio de vez?

 - Não, vou ficar mais algumas semanas lá. – ela pegou a bolsa e a jaqueta que tinha deixado no banco de trás e completou: - Mais uma vez, obrigada. Pela carona, por me ouvir, por me esclarecer as coisas...enfim, por tudo. Nos vemos em breve, Taylor.

Prepon saiu do carro e deixou a loira pensativa, tentando relembrar cada parte da longa conversa que tiveram.

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Laura estava em Paris há uma semana e já tinha sido tempo suficiente para perceber que deveria ter seguido seu instinto inicial e ficado de vez nos Estados Unidos. Era noite e ela estava sentada sozinha em um bistrô na parte central da cidade.

Desde que chegara foi inevitável notar a mudança em Dylan. Ele não se mostrou muito interessado pelo período em que ela esteve longe e seu único assunto era o projeto do tal restaurante. Não tinham saído nenhum dia juntos desde que ela voltara, pois segundo ele, as reuniões diárias com a arquiteta eram inadiáveis.

Prepon tentou aguentar o máximo, mas naquele dia pela manhã, tiveram uma briga séria.         Ela sugerira que passassem o fim de semana na Côte D’azur para que eles relaxassem um pouco. Dylan dissera que era impossível. A discussão foi encerrada com ela saindo do quarto, batendo a porta e dizendo que iria mesmo que fosse sozinha.

Ela sabia que falara aquilo da boca pra fora, e no fim do dia decidiu voltar ao flat. Já estava tarde.

Chegou antes do namorado e resolveu esperá-lo lendo um livro. Acabou pegando no sono e acordou assustada às duas da manhã, quando Dylan chegou fazendo um grande estrondo ao derrubar algo no quarto. Levou pouco tempo para ela perceber que ele estava bêbado.

- Ah, você está aí... O que houve? Não disse que ia passar o fim de semana fora?- ele estava desabotoando a blusa e foi chegando perto da cama.

- Pelo visto você se aproveitou disso para beber além da conta. Não esperava me encontrar aqui?

Nesse instante, como ele estivesse próximo demais, Laura sentiu um perfume feminino extremamente enjoativo.

- Você estava com alguma mulher?

- Sim, com várias.

Laura piscou seguidas vezes, achando que estivesse sonhando. Quem era aquele homem ali na frente dela?

- Eu estava em um bar, várias mulheres, vários homens. – mesmo bêbado ele parecia se divertir com a cara dela.

- E porque será que só esse cheiro doce e enjoativo que ficou impregnado em você?

- Tô com sono, Laura. Vou dormir. Amanhã a gente conversa. - ele deitou na cama virando-se de costas para ela.

- Não, vamos conversar agora. – ela o sacudiu fazendo com que ele se virasse em sua direção - Eu vou perguntar de novo. Com quem você estava, Dylan?

- Uau... agora a poderosa Laura Prepon vai resolver fingir que se importa e que está com ciúmes?

- Eu me importo sim, e muito. Porque eu voltei pra cá unicamente por sua causa e se você está se divertindo com outras mulheres eu não preciso ficar. – Laura não estava acreditando no rumo que as coisas estavam tomando.

- E você se acha tão superior assim que não pode fazer nada por mim? Está tão acostumada que eu é que tenha que fazer tudo pra ficarmos juntos né?

- Nunca neguei que você sempre foi muito dedicado ao nosso relacionamento, Dylan. Mas se fez isso pra jogar na minha cara agora, era melhor não ter feito merda nenhuma. – ela perdeu a paciência e elevou a voz.

- Se eu não tivesse feito, será que estaríamos aqui hoje?

- É melhor a gente parar por aqui e voltar a conversar amanhã, ou as coisas podem ficar feias.

Por mais que ele estivesse bêbado, Laura sabia que ele estava colocando pra fora o que realmente sentia, o que realmente pensava. E começou a ter medo do que viria.

- Eu quis dormir, você não quis deixar, agora vai ouvir. – ele falava com a voz amargurada - Será que se eu não tivesse ido atrás, você já não teria se mudado de vez para Nova York? Será que se eu não tivesse insistido tanto, você estaria aqui comigo? Será que se eu não tivesse trocado a droga da mala e escondido o celular, como um maldito adolescente, você teria me acompanhado naquela premiação? Será...

- Para... para Dylan. Eu não quero mais ouvir. – ela estava tremendo de raiva – Sabe o que é mais engraçado? Eu não estou nem um pouco impressionada com essa sua última revelação. Talvez eu já soubesse desde o início, mas preferi ser covarde pra não ter que enfrentar isso que tá acontecendo agora.

Ela saiu do quarto e começou a juntar as coisas dela que estavam espalhadas pelo apartamento. Quando voltou para lá alguns minutos depois, Dylan tinha apagado. Ela pegou as malas e começou a guardar suas roupas. Não esperaria que ele acordasse. Iria para o aeroporto e pegaria o primeiro voo que conseguisse de volta pra casa.

Aqueles estavam sendo tempos difíceis para ela, mas teria que enfrentá-los de frente.



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