1. Spirit Fanfics >
  2. Apenas fique >
  3. Você sabe como vencer o medo?

História Apenas fique - Você sabe como vencer o medo?


Escrita por: Kinders

Capítulo 34 - Você sabe como vencer o medo?


Fanfic / Fanfiction Apenas fique - Você sabe como vencer o medo?

 “Olhe para o céu” 

Cosima terminava de mandar a mensagem para Delphine enquanto assistia o cair do sol e esperava que Siobhan voltasse com o café, aquele era um dos lugares favoritos de Cosima na cidade, a biblioteca e cyber café com o nome “Habbit Hole” era um lugar geek gerenciado por Siobhan, foi ali que Cosima fez as primeiras amizades após ter saído da casa dos pais, começou a se interessar por jogos e começou a jogar RPG, além de ser um ótimo local para tomar café da manhã ou fazer um delicioso lanche da tarde, Siobhan conseguiu criar um espaço e obter lucro ao mesmo tempo em que conseguia trazer jovens para o mundo da leitura e transformar o café em um local de acolhimento, os livros eram doados pela comunidade e Siobhan se orgulhava por ter tornado o local um dos pontos turísticos da pequena cidade.

— Estava pensando sobre Sarah — Siobhan colocou os cafés e os lanches em cima da mesa e se sentou ao lado de Cosima que olhava através do vidro da janela o incrível pôr do sol que fazia naquele dia —, o céu está um espetáculo hoje.

Cosima se virou para Siobhan e sorriu, bebericando um pouco do café.

— Humm, que saudades desse café.

— Cosima? — uma mulher se aproximou da mesa chamando a atenção das duas — É Cosima, não é? — Sorriu cumprimentando-a com um beijo na bochecha.

— Angela — Cosima disse surpresa por encontrá-la na cidade —, como vai?

— Estou bem — olhou para os lados e continuou a conversa em tom brincalhão —, é seguro conversar com você ou pode aparecer a qualquer momento uma loira querendo me matar? — Cosima sorriu abaixando a cabeça.

— Oh… essa é minha mãe, mãe essa é Angie, uma… conhecida minha.

— Tudo bem? — Siobhan cumprimentou Angie com um sorriso terno no rosto.

— Tudo bem sim — Angie respondeu e virou-se para Cosima —, que coincidência encontrar você aqui, não sabia que frequentava a região, uma pena que estou com um pouco de pressa, espero nos encontrarmos mais vezes.

— Ah, eu também! — Cosima tentou ser educada, mas não esqueceu que Angela forçou a barra na primeira vez que se encontraram.

— Então, tchau para vocês duas.

— Tchau Angie — Cosima fez um aceno com a mão e assistiu Angie ir para a saída, virou-se novamente para a mesa e encontrou Siobhan com um sorriso malicioso nos lábios — que foi?

— Creio que se o seu lance com a professora não der certo, o que não vai faltar são pretendentes para você. — Cosima revirou os olhos sorrindo ao ouvir a mãe.

— Continue... o que estava pensando sobre Sarah?

— Acho que vocês vão precisar se mudar para uma casa maior.

— Ahh, eu não ligo de dividir o quarto com Sarah, eu até gosto.

— Eu sei, mas quando a bebê nascer vai ser diferente, Sarah, assim como você precisa do próprio espaço, acho que podemos começar a procurar outro local, talvez um que seja mais perto da faculdade.

— S, não, por favor, já conversamos sobre isso, não quero que você gaste mais com a gente e não podemos pagar mais caro por um aluguel.

— Ah, menina, vocês se acham tão independentes, eu queria mesmo é que ninguém tivesse saído debaixo da minha asa — Cosima sorriu —, vamos procurar outra casa, talvez conseguimos uma melhor sem precisar pagar mais caro.

—  Eu estava pensando, Sarah ainda não se encontrou na vida, não sabe o que quer fazer e agora está grávida, vai ser bem difícil conseguir um trabalho, estava pensando que talvez eu pudesse trancar o curso por um semestre e trabalhar, pagar algum curso que ela queira fazer, e depois que Kira nascer e estiver um pouco maior eu volto.

— Sarah não vai aceitar e muito menos eu.

— Siobhan! Ninguém tem que aceitar, são minhas escolhas.

— Eu não vou deixar que isso aconteça, você não vai trancar o curso, eu posso muito bem ajudar vocês.

Cosima revirou os olhos sabendo que aquela batalha estava perdida.

— Se Sarah quiser pode vir ficar aqui comigo, me ajudar no café, posso contratar ela — Siobhan sugeriu e assistiu a face de Cosima murchar —, eu sei que você a quer por perto, mas ela não vai gostar de ficar sem fazer nada, sendo sustentada por você, além do mais são só duas horas de viagem, você pode ver ela sempre que quiser.

— É, pode ser uma boa ideia.

— Eu vou adorar ter Sarah por perto, ainda mais que vem com um brinde — sorriu — e você e Felix com certeza começarão a vir mais vezes.

— Vou conversar com ela.

Cosima voltou a olhar para o céu e suspirou, o dia tinha passado estranhamente rápido, Siobhan nada perguntou sobre o que realmente tinha acontecido entre ela e Delphine, mas no fundo Cosima já sentia que a mãe sabia de tudo, era algo fácil de perceber pela forma cuidadosa que a tratava, Felix ou até mesmo Sarah já deviam ter ligado e contado que Adele era prima de Delphine. Siobhan só estava esperando que Cosima começasse a conversa e talvez, por mais que mínima, tinha esperança de que Cosima finalmente falasse sobre o dia em que sofreu a violência que quase a levou a morte. Cosima jamais falara sobre aquilo a não ser nas sessões de terapia, sabia que a mãe estava dando o espaço e o tempo que precisava para colocar tudo para fora e essa era uma das milhares de coisas que a fazia amá-la.

— Termine seu lanche e vamos para a casa, ainda temos alguns filmes para assistir e muita bobagem para comer antes de dormirmos empanturradas no sofá.

— Felix vai ficar com ciúmes.

Siobhan sorriu e deu um beijo na testa de Cosima se afastando da mesa e a deixando sozinha.

 

   

 

Cosima acordou com o corpo dolorido, como Siobhan disse que seria, dormiram no sofá, empanturradas de comida e filmes, não falaram nada sobre Delphine ou sobre como Cosima estava se sentindo. Cosima abriu as pálpebras devagar, ainda perdida sobre onde estava, localizou seu celular e rapidamente o pegou, já passava das 11:00 horas, ao notar o horário sentiu uma ansiedade enorme de ver a mensagem que Delphine teria mandado naquela manhã, mas ao abrir o aplicativo de mensagens percebeu que não tinha nada novo, as palavras de Sarah rapidamente invadiram sua cabeça, será que Delphine tinha cansado? Será que Delphine tinha desistido? Sentou-se no sofá com uma expressão triste no rosto sem notar a aproximação de Siobhan.

— Aqui amor, que bom que acordou — disse Siobhan entregando uma caneca com um pouco de café para Cosima —, seu café. — sentou-se no sofá ao lado assistindo Cosima deixar o celular de lado e tomar um pouco do café.

— Eu não sei o que fazer, mãe — depois de alguns minutos Cosima finalmente quebrou o silêncio —, eu não sei porque estou fazendo isso.

— O que você está fazendo, amor?

— Eu amo Delphine e estou afastando ela de mim todos os dias — Cosima mudou de lugar, aconchegando-se em Siobhan e deixando a caneca na mesa de centro —, Adele é para Delphine o que Felix se tornou para mim, ela é como uma irmã… eu não me sinto mais segura com Delphine...

— Por que, amor?

— É como se estar com Delphine poderia me fazer encontrá-lo, poderia colocá-la em risco…

— Cos, você está falando de quem te machucou? “Ele”? — Cosima fechou os olhos sentindo seu peito arder —, é possível que ele volte? — Cosima confirmou com a cabeça, não tinha certeza de que ele voltaria, mas a convivência com Delphine provavelmente poderia fazê-la um dia se esbarrar com o homem que nem mesmo sabia o nome — Delphine… a professora, ela sabe?

— Ela disse que sabe… Adele deve ter contado tudo… pelo menos a versão dela…

— Sinto muito meu amor…

Siobhan não sabia como reagir, a falta de informações sobre tudo a deixava sem palavras, se sentia demasiadamente culpada por Cosima namorar escondido por tanto tempo e nunca desconfiar de nada, sua filha era como qualquer outra adolescente, alguns dias estava de ótimo humor, outros dias se trancava no quarto, os dias ruins eram atribuídos a falta que a família fazia, jamais poderia imaginar que a filha estava em um relacionamento impróprio com uma mulher muito mais velha, jamais poderia imaginar que essa mulher fazia Cosima mentir todos os dias e isso era muito pior do que a diferença de idade das duas, se soubesse, sua intervenção certamente faria Cosima odiá-la por um tempo, mas a pouparia de ter sofrido tamanha violência, o relacionamento de Cosima com Adele estava intimamente ligado ao dia em que recebeu a ligação que a fez deixar tudo e sair correndo para o hospital em busca de informações sobre a filha. O que poderia fazer depois disso é ajudá-la a curar as feridas deixadas, mesmo sabendo que algumas ficariam abertas por um período maior.

Siobhan soltou um suspiro e puxou Cosima para o seu colo, a fazendo esticar as pernas e jogá-las em cima do sofá.

— Me conte sobre essa Delphine…

— Delphine... — Cosima abriu os olhos e saboreou cada sílaba daquele nome — eu acho que me apaixonei por ela desde a primeira vez em que a vi entrar na sala de aula, ela estava tão elegante e tão segura de si. Quando se apresentou eu percebi que estaria perdida na mesma hora — Siobhan sorria ao ouvir Cosima falar de Delphine com um brilho enorme nos olhos —, ela era a minha professora e eu sabia que seria uma péssima ideia, eu não estava preparada para me aproximar de Delphine, mas aconteceu e eu juro que tentei fugir, ela é tão diferente de perto, é doce, paciente, se preocupa comigo, tão diferente da pessoa egoísta que pensei que seria, ela é surpreendente e eu a amo — sorriu —, até agora não compreendo o que a fez se interessar por mim…

— Não fale bobagens Cos…

— Eu... — suspirou — eu tentei tantas vezes ficar longe pois algo me dizia que não ia dar certo.

— E o que te faz pensar que não deu certo, amor?

— O medo que estou sentindo…— olhou para Siobhan — o que eu faço?

— Você sabe como faz para vencer o medo?

— Você vai me dizer que é enfrentando...?

— Você precisa voltar no tempo Cos, precisa voltar no tempo e suturar a ferida que te impede de prosseguir com sua vida… com essa Delphine… não precisa fazer isso sozinha, ninguém precisa enfrentar o medo sozinho…

— Mas eu preciso fazer isso sozinha, eu sei disso.

—  Eu vou estar aqui de qualquer forma.

Siobhan e Cosima ficaram conversando por um bom tempo no sofá, o almoço veio tardio e o dia passou preguiçosamente devagar, Cosima ajudou a mãe a arrumar a casa e se preparar para a chegada de Felix e Sarah, mas em nenhum momento tirou da cabeça o conselho de sua mãe. Precisava enfrentar seu medo. Precisava parar de fugir das lembranças que atormentavam sua cabeça e invadiam seus sonhos e enfrentá-las de uma vez.

Já passava das 18:00 horas quando Sarah e Felix entraram falando alto e sorrindo na casa, Siobhan estava ansiosa para a chegada deles e para que sua casa fosse preenchida com o barulho daquelas risadas, Cosima saiu do quarto e desceu as escadas para encontrá-los, seu corpo estava febril, mas não era algo para se alarmar, Cosima apenas se sentia cansada. Felix veio em sua direção e parou no pé da escada esperando Cosima chegar.

— Oi Fee. — disse Cosima com a voz rouca e um sorriso forçado.

— Oi dona Cosima, espero que você esteja bem pois eu não estou.

— O que aconteceu?

— Minha cabeça está latejando, passei a manhã inteira no café tentando evitar que uma guerra acontecesse, por favor não coloque Sarah no seu lugar nunca mais — Felix riu e jogou a cabeça para trás —, vou colocar essa bolsa no meu quarto, já volto.

Felix subiu as escadas e Cosima foi ao encontro da irmã que conversava animadamente com Siobhan.

— Você e Krystal não tem jeito mesmo, né?

— Cos — Sarah a abraçou pelo pescoço —, eu não tenho culpa, a mulher não vai com a minha cara.

— Vou colocar a sua mala no quarto de visitas. — disse Siobhan saindo logo em seguida.

— Obrigada, S. — Sarah respondeu ao mesmo tempo que sentava no sofá — Cos, novidades?

— Ela não me mandou nenhuma mensagem hoje… ela ligou? — Sarah negou com a —  É, talvez esteja cansando, como você disse…

— Ou talvez esteja ocupada… ligue para ela Cos...

— Qual é a balada de hoje? — Felix gritou descendo as escadas.

— Mamãe fez pizza, essa é a minha balada hoje. — Cosima respondeu.

— Ah, qual é, vamos sair, dançar, você precisa se divertir. — Sarah sorriu e Cosima revirou os olhos.

— Eu apoio. — Siobhan apareceu e se juntou a eles.

— S, tenho uma coisa para você. — Sarah tirou um pequeno envelope de sua bolsa e entregou para Siobhan.

— Ora, ora, o que será isso? — Siobhan tirou do envelope a pequena fotografia do último ultrassom que Sarah fez — Oh, que perfeição.

— Sim, está formadinha, agora só precisa crescer.

— Que coisa mais preciosa!

— Quem diria — disse Felix —, Sarah, uma mãe.

—  Quem diria — disse Sarah —, Felix, correndo atrás de macho. — Fez uma careta e se esquivou da almofada que foi jogada.

— Crianças, venham me ajudar na cozinha, temos muito para conversar — Siobhan abraçou Felix pela cintura o arrastando na frente —, acho que você tem que me explicar essa história mocinho…

Naquela noite Cosima quase não falou, observou com muita alegria os diálogos entre eles, se deliciava ao ver a irmã falar da filha com um brilho enorme nos olhos, agradecia em silêncio por Siobhan também acolhê-la, com eles não se sentia sozinha, mas apesar deles não se sentia completa, se recolheu mais cedo com a desculpa de que sentia dores no corpo e queria descansar, subiu as escadas ainda ouvindo a conversa animada, entrou no quarto e trancou a porta.

— Como ela está? — Sarah perguntou para Siobhan assim que Cosima se retirou.

— Está bem melhor do que da outra vez, Cosima está mais madura, apenas precisa encontrar seu caminho — suspirou —, e você Felix, quem é o sortudo que você está correndo atrás? — Sarah soltou uma gargalhada e Felix virou de uma vez a taça de vinho.

— Não estou correndo atrás de ninguém.

— Ah não? -—Sarah o provocou.

— Colin é muito ocupado, só isso.

— Ah, então é Colin? — Siobhan perguntou.

— Ele não aparece há semanas e Felix está quase subindo pelas paredes.

A conversa durou horas até que Felix e Sarah decidiram sair, Siobhan se preparava para dormir quando ouviu a campainha da casa tocar, desceu as escadas esperando que fosse Felix por ter esquecido as chaves ou algo parecido, se surpreendeu ao abrir a porta e encontrar uma mulher loira e alta, que julgou ser Delphine.

— Olá.

— Olá… Delphine. — Siobhan a olhou dos pés a cabeça e a fez engolir em seco enquanto fazia sua pequena análise.

— Você deve ser Siobhan, muito prazer — estendeu a mão para Siobhan que a cumprimentou —, eu preciso falar com Cosima, é urgente.

— Urgente? É melhor voltar amanhã, Cosima já está dormindo, além do mais ela não estava se sentindo muito bem, não acho que essa visita será boa agora…

— Mas…

— Você pode voltar amanhã, eu aviso que você veio.

Siobhan não esperou a resposta de Delphine, fez o que seu coração de mãe mandou, fechando a porta e a trancando.

 

   

 

Após um demorado banho Cosima ligou o aparelho de som para ouvir qualquer música, o silêncio fazia seu ouvido doer e precisava ouvir outra voz que não fosse a dos seus pensamentos, talvez fosse mais fácil cair no sono dessa forma, abriu a janela deixando a brisa gelada entrar, deixou apenas a luz do abajur acesa, configurada em baixa luminosidade, seu coração estava inquieto desde a hora que acordou e Siobhan pediu que fizesse o que todos a vida inteira pediram e o que Cosima sempre deixou para depois: enfrentar seus medos.

Deixou o corpo cair na cama e o sentiu ficar cada vez mais pesado, a medida que suas pálpebras fechavam a imagem de Delphine aparecia em sua cabeça, a pessoa com aquele sorriso provocador que Cosima tanto fingia detestar, foi pensando nela que se entregou ao mundo dos sonhos e foi por ela que voltou.

 

*

 

Cosima Bateu a porta com a coloração vermelha, criteriosamente escolhida por ela, seu coração pulava do seu peito e os segundos em forma de provocação demoraram horas para passar, fazia semanas que não via Adele e estava ansiosa por encontrá-la. Era o primeiro dia da sua “liberdade”. Depois desse dia correria para casa, contaria para Siobhan, ligaria para Sarah e depois de desejar a ela feliz aniversário compartilharia a sua mais recente (e antiga) felicidade, mostraria a todos o seu amor. Adele abriu a porta e Cosima não conseguiu esperar que ela dissesse nada, pulou em seus braços e a beijou matando a saudade dentro de si. Adele era a sua alma gêmea. Nada no mundo a faria pensar diferente.

 Um a zero para a ingenuidade.

Adentrou a casa com Adele colada em seus lábios, as mãos da professora gentilmente percorriam o seu corpo, fizeram o caminho tão conhecido por ambas e caíram no sofá, ao lado de uma mesinha com uma foto das duas, juntamente com um vermelho vaso de flores comprado meses antes em uma feirinha que visitaram juntas, algumas margaridas colocadas recentemente o deixava mais bonito. Adele sempre gostou de flores. Deixava a casa com um aspecto feliz, dizia ela.

Foi então que no meio dos beijos e carícias ele apareceu, arrombou a porta as surpreendendo, as duas ficaram em pé assustadas, mas logo Cosima percebeu que o homem não era um desconhecido para Adele, o homem de altura mediana e cabelos escuros gritava com Adele e a xingava deixando claro que a conhecia, mas foi quando a mais velha se virou para Cosima que finalmente a morena pôde entender quem era ele, Adele pedia desculpas e dizia que queria ter contado tudo, o coração de Cosima que outrora era inundado de amor e desejo, agora se despedaçava tomando consciência de que a mulher na sua frente não era real, aquela casa com aqueles móveis escolhidos pelas duas não eram reais, os últimos anos não foram reais, o sonho que viveram juntas jamais existiu e Adele nem mesmo a olhou nos olhos para lhe dizer.

Em um movimento impetuoso o homem exaltado partiu para cima das duas mulheres perguntando quem queria morrer primeiro, seu cheiro forte de álcool se espalhou rapidamente pelo ambiente e como há de se esperar por alguém mentiroso e frio, Adele colocou Cosima a sua frente, implorando para que ele não a tocasse pois carregava um filho seu.

Mal sabia ela que aquele homem jamais poderia matar Cosima, quando seu corpo deixasse de respirar, muito provavelmente nos minutos seguintes, sua alma já teria partido muito antes, sua alma morria lentamente ainda assistindo os lábios de Adele pedir desculpas. Outro ponto para ingenuidade, por Cosima um dia acreditar que alma fosse fácil de morrer.

Sua carcaça (que julgava já estar vazia) foi lançada contra a parede e Cosima sentiu a pancada na sua cabeça que a deixou tonta, naquele momento percebeu que mesmo com a alma morrendo o corpo pede socorro e por isso gritou, implorou por ajuda, mas Adele não se movia, apenas assistia chorando e com os olhos assustados o homem bater em sua namorada cada vez mais forte, Cosima que antes tentava em vão se defender, sabia naquele momento que nada adiantaria, seu corpo era fraco demais e já estava machucado demais para poder se defender. Foi quando pensou em Sarah que se tocou que não tinha ligado para ela, não a desejou feliz aniversário, não a disse que amava, nunca mais a veria. Não poderia morrer no dia do aniversário das duas, seria doloroso demais pensar que ela jamais poderia comemorar aquela data com alegria novamente, foi por ela que Cosima lutou para sobreviver e teve a constatação terrível de que talvez fosse tarde demais, seu corpo realmente já não tinha mais forças e Cosima não teve escolha a não ser se entregar a morte quando as mãos do homem se puseram a apertar seu pescoço.

Soltou um grunhido esperançoso quando antes de apagar viu os calcanhares de Adele se afastarem e ouviu sua voz gritando por socorro.

— Volte aqui, sua puta.

O Homem gritou e nesse segundo de distração Cosima usou suas últimas forças para alcançar qualquer objeto e o acertar na cabeça fazendo-o recuar. Se arrastou logo em seguida tentando em vão fugir, seu corpo a traia de tantas formas que a dor impedia sua locomoção.

— Onde pensa que vai? Você terá o que merece, sua vadia.

Cosima perdeu a conta de quantos chutes levou, mas sabia que o sangue que banhava aquele chão era seu e que aquele era o seu fim, o homem parou em sua frente com o pequeno vaso de flores em mãos, o vaso de flores escolhido por Cosima para enfeitar a casa delas, para que Adele pudesse colocar flores e assim deixá-la mais feliz. O homem jogou as margaridas em cima de seu corpo com um sorriso sarcástico, Cosima ouviu pessoas gritando do lado de fora, mais tarde entendeu que aquilo era a sua salvação.

— Conte a alguém e matarei primeiro Adele, depois irei atrás de sua família, você será a última.

O vaso de flores vermelho que antes enfeitava a casa que um dia chamou de lar foi quebrado em sua cabeça e Cosima mergulhou na escuridão desejando não voltar mais.

 

*

 

Acordou com o corpo tremendo e com muita dificuldade de respirar. O medo tomou conta de tudo novamente, Cosima buscou desesperadamente ar para os seus pulmões como se aquilo fosse uma atividade difícil de fazer, foi quando percebeu que o choro era mascarado pelo barulho do aparelho de som que ainda tocava na mesma música, aquilo foi um sonho ou foi real?

Não sabia dizer.

A mistura estava viva em sua cabeça, se era uma lembrança ou um sonho, agora não importava mais. Era assustador demais para que o enfrentasse sozinha. Jamais conseguiria. Alcançou seu celular no criado mudo e escreveu para a primeira pessoa que veio em sua cabeça, Delphine. Não foi Sarah, nem Siobhan, era Delphine que Cosima queria, era de Delphine que precisava, naquela altura do campeonato nem mesmo Cosima conseguia entender porque a mantinha distante.

“Quero você, preciso desesperadamente de você”

Enviou a mensagem e fechou os olhos, se entregou ao choro desesperador colocando seu corpo em posição fetal lutando para que não voltasse a dormir.

Minutos depois se levantou ao ouvir um barulho vindo de fora, eram resmungos, era uma pessoa, pulou da cama quando viu duas mãos se segurando na janela, será que era ele? Será que aquele homem descobriu que Cosima estava com Delphine e veio atrás dela?

Tentou gritar, mas sua voz estava embargada pelo choro. Talvez aquilo fosse outro pesadelo. Talvez Cosima tenha falhado na tentativa de ficar acordada.

Então a pessoa finalmente pulou a janela, deu alguns passos para frente onde finalmente a escassa luz do abajur pudesse a iluminar, era ela. Delphine estava em sua frente, talvez aquilo fosse realmente um sonho.

Ficaram alguns segundos se encarando, presas num discurso feito de olhar até que Cosima conseguisse fôlego suficiente para dizer qualquer palavra que não fosse mandá-la para longe outra vez.

— Delphine?

A mais velha que ainda estava ofegante com a escalada sorriu e se aproximou de Cosima, envolvendo seus braços em seu corpo trêmulo.

— Beth disse para eu seguir meus instintos, cá estou eu.


Notas Finais


Próximo capítulo:

- Maldita!
O resmungo saiu sem eu querer, logo me vi dando leves tapas em minha boca torcendo para que a mulher não tivesse ouvido, seu eu quisesse conquistá-la aquilo não seria um bom começo.
Respirei fundo pensando no que eu poderia fazer, definitivamente não voltaria para casa sem falar com Cosima, talvez fosse uma boa ideia procurar um hotel e aparecer pela manhã. Como ela estaria?
Siobhan disse que Cosima não estava muito bem e isso fez a minha preocupação piorar, eu sabia que tinha algo errado, descaradamente comecei a andar pelo quintal, procurando algum vestígio de ver Cosima pela casa, a escuridão estava a meu favor, embora seria muito vergonhoso ser pêga rondando a casa.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...