Ela estava na cama, o peito subia e descia lentamente, sua mão estava pousada ao seu lado e a outra sobre a barriga.
Antes ela se levantaria e diria pra mim ir comprar croissants, dourados por fora, era essa a exigência. Depois ela desfilaria com a minha camiseta e se espreguiçaria, daria um belo sorriso e diria pra mim ir logo.
Antes ela prenderia os cabelos em um coque mal feito deixaria as mexas teimosas ( tanto quanto ela) onde quisessem.
Não, ela não era um anjo. Era apenas ela dançando na chuva e depois tomando aspirinas. Era ela quem queimava a comida e ligava pro restaurante escondida. Dietas? Duravam dois dias!
Adorava pregar peças. Sim eu sabia que no meu aniversário a casa estaria cheia de gente com suas conversas e perguntas incessantes. Mas ela estaria lá, sorrindo lindamente com uma cara de "te peguei". Nunca vou esquecer do palácio e dos balões vermelhos.
Ela dançava lindamente, mesmo quando errava ou quando cismava em cantar. Que aliás era péssimo e se eu dissesse isso teria que suportar a famosa "cara emburrada", sem contar que ela jogaria isso contra mim quando eu menos esperasse.
Hoje ela esta ali, sorrindo levemente, o bip do aparelho ao seu lado era irritante, não mais do que os horários de visitas.
Ela abre os olhos e me olha docemente.
- compra croissant?- pediu com a voz arrastada.
Eu queria ouvir ela cantar agora.
Me levantei e soltei a sua mão mas ela segurou.
- eu sei, dourado por fora - falei e sorri.
Ela retribuiu.
Ela deveria se espreguiçar, desfilar com a minha camisa. Mas só ficava deitada ali, sorrindo docemente.
As ruas não são mais como antes, caminhar com as mãos nos bolsos é totalmente diferente de andar segurando a mão dela, que alias cismava em me arrastar pra varias e varias lojas.
- o mais dourado por favor - falei, roboticamente.
Um vestido vermelho numa vitrine, muito decotado mas ela ficaria linda.
O toque do celular, peguei esperando que fosse ela me perguntando por que estava demorando tanto.
Era do hospital.
Do outro lado da rua um homem vendia balões. Vermelhos.
Então a ficha caiu. Ela me surpreendeu pela ultima vez.
Ele caminhou até mim.
- balões moço, para o dia dos namorados!
Lá estava ela, com um sorriso. Dançando, cantando, dizendo pra mim não demorar muito, o sol contrastando seu sorriso.
Não, lá estava ela parada o vestido vermelho, seus olhos fechados. Não era festa, não era surpresa. Tinha pessoas em sua volta, segurando sua mão, mas ela não sorria.
Não.
Apenas hoje seria apenas ela e eu nas nossas antigas fotografias, nas minhas antigas lembranças.
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