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História Apenas Nós E As Estrelas - 2.


Escrita por: Hyghellzz

Capítulo 3 - 2.


O que levou Jimin a se interessar pela dança fora uma apresentação. Era show de talentos na sua escola, e o pequeno Jimin de 6 anos ia se apresentar tocando flauta doce com alguns de seus colegas. Umas garotas do ensino médio dançaram uma música em estilo contemporâneo, e foi aí que jimin se apaixonou pela primeira vez.

Era lindo, o jeito que cada centímetro do corpo transmitia uma mensagem, uma idéia. O jeito que junto com a música, se contava uma história. Era emocionante a ponto de chorar. Naquele dia Jimin não conseguiu se apresentar por causa das lágrimas que caiam repetidamente, mas ele se sentia mais vivo do que nunca.

Dança sempre fora sua primeira e única paixão.

Ainda é.

Ω

em que ponto tudo havia começado a desmoronar?

Jimin sabia que era uma má idéia. Sabia que iria se arrepender a partir do momento em que havia visto a data do dia, se lembrando do que essa data representava.

Hoje era o showcase anual do seu antigo estúdio de dança.

O showcase de final de ano não era apenas uma apresentação. Os dançarinos se preparavam meses antes, aprimoravam suas coreografias para tudo sair perfeito no dia, essas coreografias, além de serem usadas no showcase, também eram apresentadas em festivais e competições.

Produtores de canais de TV e empresários de empresas de entretenimento também compareciam, prontos para analisar e, se impressionados com a performance, escalar o dançarino para seu programa ou stage.

Jimin havia sido escalado três vezes, nos três anos consecutivos em que se apresentou, mas sempre recusou . Não era o que ele queria, todas as propostas que ele recebia era como dançarino de fundo para algum idol ou para algum show de TV, e ele não queria estar atrás.

Seu sonho era sempre estar na frente, ser o melhor, mas reconhecia que não era nem um pouco digno.

Se fosse, ele não estaria como está agora, não é?

Não sabia o que deu nele para querer ir naquele evento. Milhões de possibilidades passavam por sua cabeça enquanto se arrumava para sair, acabou vestindo um moletom preto simples e uma calça jeans aleatória que estavam no seu armário. Sabia que era uma roupa meio inapropriada para o clima de inverno de Seoul, mas não tinha forças para se importar.

Ao sair de casa para seguir aquele tão conhecido caminho, uma única frase se repetia na cabeça de Jimin, como um mantra.

Não vá para lá. Não vá para lá. Não vá para lá.

Todo o seu corpo gritava não, ele sabia muito bem que apenas reviver um pouco de seu antigo sonho faria mal para si mesmo.

Mas ele não tinha forças para se importar.

Ω

Quando chegou na frente do estúdio, um sentimento de nostalgia percorreu pelo seu corpo. O grande prédio a sua frente era o lugar em que ele ia praticamente todos os dias há seis meses atrás, o lugar onde ele descontava suas frustrações em meio ao ritmo da música e movimentos do seu corpo.

O lugar que ele mais admirava no mundo, estava ali, familiar e ao mesmo tempo irreconhecível.

E isso era culpa dele. Ele não merecia estar ali, não merecia seguir um sonho tão miseravelmente, não merecia fazer algo tão lindo.

Ele ama dança, ele ama dançar.

Mas ele não ama a si mesmo.

Sabia que havia chegado alguns minutos atrasados, vendo que já havia uma música alta tocando dentro daquele estabelecimento. Entrou no estúdio, sendo cumprimentado por uma jovem recepcionista, suspirando aliviado ao perceber que era uma pessoa nova.

Sem precisar de instruções, seguiu pelo corredor principal e virou a direita, evitando a todo custo olhar para as salas de aula. Ao final do corredor, subiu as escadas que davam direto para a entrada do mezanino do auditório.

Respirou fundo, abrindo a porta e entrando no ambiente escuro. O lugar estava lotado, como esperado para um estúdio famoso como esse. Jimin procurou um assento vazio, tendo que forçar os olhos para distinguir as cadeiras na escuridão.

Viu uma cadeira na última fileira, se dirigindo logo em seguida para aquele lugar. No palco, um grupo de crianças que haviam acabado de se apresentar fizeram uma reverência e se retiraram para dar lugar para outro grupo.

Jimin se remexeu na cadeira, vendo uma face familiar entrar no palco. Era seu ex-colega nas aulas de contemporâneo.

Kim Jongin.

Jongin era um dos melhores alunos da escola, sempre excelente em todos os estilos que dançava. Fazia parte de uma dance crew famosa chamada El Dorado, era um nome famoso entre os dançarinos da Coréia, senão da Ásia inteira, ele era incrível.

Jimin sempre ficava encantado com sua dança.

Ele queria ser que nem ele. Mas era impossível, pessoas defeituosas como Jimin não poderiam reproduzir algo com tamanha perfeição.

Cada movimento de Jongin faziam Jimin se remexer na cadeira, seu corpo respondendo a música que tocava. Ele podia sentir em seu corpo a emoção que o dançarino repassava, ele podia sentir o desespero, a angústia, o amor. Tudo retratado em uma só coreografia.

Incrível.

Tão, tão incrível.

Ele nem notou as lágrimas descendo pelo seu rosto, nem seu corpo tremendo. Ele apenas focava nos movimentos de Jongin, cada giro, cada pulo, cada respiração.

Poderia ser ele ali, encantando as pessoas com sua dança, produzindo algo lindo.

Deus, ele se odeia tanto.

Fraco. Ruim.

Mordeu seu lábio inferior, tentando suprimir os soluços. Óbvio que ele choraria, é a única coisa que ele poderia fazer ao realizar o grande fracasso que ele é.

Ele fez isso à si mesmo.

A música acabou, sendo substituída por palmas e gritos. Jongin cumprimentou o público, saindo do palco logo em seguida.

Pressionava suas unhas na palma da sua mão, não forte o bastante para perfurar a pele mas suficiente para não o deixar cair em pensamentos.

Não era esse o plano. Ele não deveria estar onde está. Ele deveria estar ali no palco, ou na TV. Em programas de música, nas paredes do quarto de seus fãs, em fansigns dando autógrafos. Não ali.

Sendo ninguém.

As apresentações foram acontecendo, uma por uma, Jimin já havia se perdido nos números. Não prestava atenção, focado apenas em sua respiração, sua mente confusa e transbordando.

Conseguia sentir o gosto das lágrimas em seus lábios, Jimin sentia falta desse gosto. Ele gostava de chorar, gostava da sensação de dormência e de vazio que vinha logo após das lágrimas.

Mas ele ainda não havia parado de tremer, ainda não havia parado de chorar. Ainda doía, ainda era difícil respirar, ainda era difícil se concentrar em outra coisa a não ser aquela dor que se alastrava pelo seu corpo.

O público a sua volta aplaudiu novamente, e logo após isso, uma música familiar começou a tocar, fazendo Jimin sair de seu transe e focar no palco.

Era a mesma música que ele ensaiava com Hoseok. E o mesmo também estava ali, no centro do palco, na posição inicial.

Desde que havia saido do estúdio, não falava com Hoseok. Ele era um dos seus poucos amigos, na verdade, o único. Ele era brilhante, tanto como dançarino quanto como pessoa. Amigável, radiante, um grande amigo.

E obviamente, Jimin não merecia ele.

Nunca havia iniciado alguma socialização com as pessoas do estúdio,  muito concentrado em seu próprio mundo para se importar.

Mas Hoseok sempre estava ali, conversando com ele, o ajudando. Ficavam horas a mais no estúdio dançando juntos,  e essas eram as únicas horas do dia de Jimin que passavam rápido demais.

Também sabia que Hoseok havia notado seu comportamento. Afinal, com os muitos pedidos de almoços e jantares negados, as perguntas como quer um pedaço? seguidas por uma resposta negativa, os quase desmaios (e desmaios),  e a falta de estamina de Jimin, uma pessoa só poderia ser cega para não perceber.

A vida de Jimin era muito miserável, ela girava apenas em torno disso, nessa constante luta consigo mesmo e sua fome. Hoseok, sendo próximo dele, eventualmente iria perceber.

E para ser honesto, Jimin realmente não parecia alguém normal. Suas maçãs no rosto e clavícula provenientes demais para ser algo saudável,  e suas olheiras profundas apenas confirmavam mais ainda.

Mas isso realmente não era um problema,  ninguém se incomoda ao ver uma pessoa magra, e maquiagem existe para isso não é?

Ele sabia cada passo,  sabia a coreografia, sabia de cada direção em que seu corpo deveria seguir.

Ele sabia cada verso da música, cada respiração do artista, cada sentimento transmitido em cada verso.

Ele estava perdido.

Não podia mais estar ali, não podia mais ver aquilo que era seu mundo a pouco tempo atrás. Não podia observar seu sonho destruído, doía.

Com um nó na garganta e dificuldade para respirar, Jimin se levantou correndo de seu lugar, não se importando em atrapalhar a visão de alguém. Ele só precisava sair dali, só precisava voltar a esquecer.

Se encontrou no corredor das salas de aulas, na frente da mesma porta que entrava todos os dias a um tempo atrás. Suava frio, lágrima ainda saindo de seus olhos. Trêmulo, abriu aquela porta, uma onde de nostalgia percorrendo seu corpo.

Ainda se ouvia a música, e apenas isso. A musica, a batida. Jimin sentia em seu corpo. Era como se ele precisasse disso, e não gostava nem um pouco dessa ideia.

Ele não precisa de nada, não merece nada.

Mas ele estava dançando, cada movimento feito com maestria, Jimin se sentia vivo, vivo.

Um leve sorriso apareceu em seu rosto.

E então, ele caiu.


Notas Finais


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