História Apenas seja minha... - E Agora?

Achei que dividir o quarto com Thomas seria estranho, não dormíamos próximos um dos outro desde que minha mãe morreu, quando éramos pequenos ele roncava muito, mas dessa vez ele não roncou, o que me surpreendeu.  Acho que demorei um pouco pra dormir, mas, mesmo dormindo tarde acabei acordando cedo, eram 05h40min, Thomas não estava no colchão.       

                20 minutos depois resolvi levantar, tomei banho e me arrumei para a escola e fui até a cozinha, dona Lúcia tinha preparado o café da manhã, quando eu estava quase terminando de comer Thomas apareceu, ele parecia cansado como se não tivesse conseguido dormir.

                - Bom dia – ele disse esfregando os olhos.

                - Bom dia querido, toma logo seu café se não vocês vão se atrasar.

                Thomas se sentou e começou a se servir

                - Desculpa – ele olhou pra mim – Você não conseguiu dormir né? Não seria melhor se eu dormisse no colchão?

                - O que? Não, não precisa, não foi por causa do colchão que eu não consegui dormir – ele disse depois desviou o olhar, tive a impressão de que Thomas corou um pouco, mas deve ser minha imaginação.

                - Ah, Dona Lúcia, eu poderia pegar uma sacola e levar um pouco de comida pro meu pai?

                - Claro querida, mas sabe, ele não merece a filha que tem.

                -Obrigada Dona Lúcia.

                Enquanto Thomas se arrumava pra escola separei um pouco de comida que havia sobrado do café da manhã coloquei dentro da sacola e fui até em casa, destranquei a porta e entrei, meu pai estava dormindo na poltrona, deixei a sacola do lado dele e fui até meu quarto, na escrivaninha próxima da minha cama havia um porta-retratos com uma foto da minha mãe e do meu pai comigo quando eu era um bebê, os cabelos castanhos dela estavam ondulados ela olhava meu pai com tanto amor e o sorriso dela... era o mais lindo que eu já tinha visto, nessa foto eu tinha um soverte de casquinha na mão  mas o soverte em si eu tinha jogado na cara do meu pai, meu eu bebê tinha um sorriso brincalhão no rosto e meu pai ria.

                - Eu não podia deixar essa foto aqui, afinal é a nossa família não é mãe?

                - O que você ta fazendo aqui?

                Na porta do meu quarto estava meu pai que me encarava, estava bêbado.

                - Eu vim deixar seu café da manhã e vim buscar uma foto.

                - Que seja, pegue o que precise e na volte nunca mais, não preciso que cuide de mim.

                Peguei a foto e sai da casa, Thomas me esperava em frente pronto pra escola, entrei no carro com ele, durante o trajeto  ele não perguntou nada. Assim que chegamos na minha escola Thomas disse que me buscaria no fim do dia, agradeci e me despedi, quando me virei pra entrar na escola percebi Agatha me observando de longe, antes que ela viesse até mim corri pra dentro e fui direto pra sala de aula.

                Durante a aula de historia o professo disse que passaria um trabalho em grupo e começou a sortear os membros de equipes, passei a maioria do tempo concentrada no meu livro até ouvi meu nome.
                - Amélia, Diego e Isadora.

                Isadora pareceu chocada e foi até o professor implorar pra trocar de grupo, ela não havia mudado nada, talvez os cabelos loiros estivessem mais longos, mas os olhos azuis mantinham a mesma expressão distante. Diego colocou a mesa dele próxima da minha, um tempo depois Isadora se juntou a nós, seu plano pra trocar de grupo havia falhado, em nenhum momento ela olhou pra mim, pegou o caderno e começou a fazer o trabalho sozinha.

                - Legal que ficamos na mesma equipe né? – Concordei com a cabeça e peguei meu caderno. – Você não veio ontem pra escola, ta tudo bem?

                Vi Isadora levantando um pouco o olhar interessada na conversa.

                - Sim, ta tudo bem. – respondi secamente  tentando fazer com que Diego mudasse de assunto.

                - Então por que você faltou? – não funcionou.

                - Estava me mudando.

                - Ah legal, você e sua família estão morando onde?

                - Na verdade só eu me mudei, mas to morando no mesmo bairro.

                - Só você? E o seu pai e a sua mãe?

                - Desculpa, tenho que ir. – Peguei minha bolsa e sai da sala ignorando os chamados de Diego.

                Não sei ao certo porque fugi, quando ele perguntou da minha família a imagem da foto veio na minha cabeça, só consegui pensar na família que eu perdi, na família que eu não tinha mais, além disso, também tinha Isadora minha ex melhor amiga, ela não queria ficar perto de mim, depois que Aghata me marcou como alvo, Isadora parou de falar comigo por medo de também ser alvo, parece que esse medo permanece. O que me magoa muito, mas não posso culpá-la ela sempre teve medo de tudo e eu a protegia, de certa forma continuo protegendo ela.

                - Amélia

                Quando olhei pra trás vi Agatha vindo em minha direção.

                - O que foi Agatha?

                - Vi que você veio com o Thomas.

                - Sim.

                - eu acho que disse a você pra ficar longe Del não disse?

                - Disse, mas eu não vou fazer isso.

                - Ah é? E por que não vai?

                - Não vou deixar você me afastar do meu melhor amigo, isso não vou permitir.

                - Isso é o que vamos ver! – De repente Agatha veio pra cima de mim e me empurrou pra dentro de uma sala escura.

                - O que?

                - Essa sala não é mais usada, então é o lugar perfeito, se não me engano o seu amigo vai vir te buscar né? Será que ele vai ficar triste quando souber que você foi embora antes sem ele? Ah, e eu fico com isso – Agatha pegou minha mochila e fechou a porta da sala, trancando-a logo em seguida. – Sabe, eu tenho as chaves de todas as salas da escola, provavelmente só vão abrir essa sala amanhã então aproveite a estadia.