Prólogo
7 anos atrás
A briga ecoava na casa e atravessava as brechas da minha porta. Papai e mamãe, viviam brigando, mas dessa vez está pior. Mamãe chegou em casa com os olhos vermelhos e mandou Miranda nossa babá embora. Isa quando notou a briga correu para o quarto e eu vim atrás. Agora Isa chora ao meu lado, desolada e a cada grito da mamãe o dou papai que chega, ela soluça.
Olhei para o lado e vi olhos assustado, as iris azuis destacavam bem com os vermelhos pelo choro. Olhei para o espelho a nossa frente e em meus olhos vi o mesmo, mas eu era forte, eu poderia aguentar mais uma briga. Somos idênticas em características, mas não em personalidade, me chamam de fria e Isa a sentimental.
-Você estava beijando sua cliente, porra, a sua cliente!- gritou mamãe.
-Gabriela, mamãe xingou.- sussurrou Isa como se nossos pais ligassem para nós, ou fosse brigar com a gente se ouvissem.
-É, eu ouvi.- respondi seca.
-Ela nunca xinga.
Não respondi. Isa tinha razão, mamãe nunca xingava, papai as vezes, mas ela nunca. Estava tudo errado, eu estava apavorada.
-Eu quero você fora daqui, agora!- berrou mamãe e ouvimos o primeiro vidro ser quebrado. Isa arregalou os olhos e me abraçou.
-Você está louca?- rebateu papai.
-Louca? Você me trai com aquela mulherzinha e eu sou a maluca? Só saia da minha casa, da minha vida. - outro vidro.
-Eu não saiu, minha filhas estão aqui.- berrou papai pela primeira vez.
-Vai embora, você não se importa com elas.
-Você não sabe o que diz, quer saber fica ai com sua loucura.- e mamãe jogou outro vidro.
Ouvimos passos e nossa porta é aberta. Papai aparece em nossa frente, sua mão sangra e ele chorava. Eu não aguento, lagrimas pedem passagem e eu deixo elas saírem. Uma cascata saia dos meus olhos enquanto nós abraçávamos a cintura dele.
-Minhas meninas.- disse meu pai com a voz cansada.
-Você e a mamãe estão brigando muito.- disse Isa.
-Eu sei, casal brigam e se separam.- ele nos soltou e sentou em nossa cama. Eu sentei e uma perna e Isa em outra.- Meninas escutem, mamãe e papai vão se separar.
-O que?- gritei e levantei.
Isa me olhou e voltou a chorar. Papai me olhava e seu olhar era triste.
-Amor, escute...
-Não pai, você irá nos deixar.- berrei e sai do quarto correndo.
Ouvi os passos do meu pai correndo, mas eu não parava, eu não queria. O George da minha escola era feliz e seus pais nem moravam juntos, mas eu não queria aquilo. Desejava que minha vida continuasse a mesma.
Mamãe estava na sala chorando. Passei por ela correndo e abri a porta do apartamento. Continuei correndo pelas escadas até chegar no térreo na casa da Samantha, minha melhor amiga, depois da minha irmã, é claro. Bati varias vezes na porta até que Irene sua mãe atende.
-Oh céus, Gabriela o que houve?
Irene é amiga de infância da mamãe, sempre soube diferencia Isabella e eu.
-Papai vai embora.- solucei.
Ela se ajoelhou em minha frente e me abraçou. Eu amava o abraço dela, era como está abraçando minha própria mãe.
-Acontece meu anjo.- disse tia Irene alisando meus cabelos cor de chocolate.
-Mas não quero que aconteça, não com a minha família.
-Docinho, por favor, me deixa conversar com você. -pediu papai.- me deixa explicar.
Ela se ajoelhou e enxugou minhas lágrimas.
-Você não pode ir embora! Isa e eu precisamos de você e mamãe juntos.
-Eu só não vou morar vocês, mas vou ver todos os dias, eu juro.
11 anos depois.
“Quem jura mente” quem disse isso está muito certo. No dia em que meu pai foi embora jurou voltar todos os dias, mas mentiu descaradamente, pois aquela foi a última vez que vi meu pai.
Ele casou com a “Porra de uma cliente” (palavras da mamãe), hoje tem um filho, um mimado provavelmente, já que ouvi falar com eles está podre de rico. Mamãe entrou em depressão e Isa chorou por mais de um ano. Eu odeio aquela família com todas as minhas forças.
Cinco anos depois mamãe descobriu um câncer de mama, ela estava se cuidando, eu e Isa cuidamos dela, mas ele se espalhou e ela faleceu ontem a noite depois de cinco anos de luta.
Samantha me abraçou, enquanto Isa chorava no braço de Irene. O funeral dala havia sido ontem a noite, agora estamos enterrando nossa mãe a sete palmos do chão.
-Vai ficar tudo bem, você pode vim morar comigo e o Felipe em São Paulo.- sussurrou Samantha.
-Não, eu posso ficar morando com a Isabella e a tia Irene aqui em Recife.
-Gabi...
-Está tudo bem amiga. - a confortei.
Ela havia se mudado para morar com o namorado. Foi aceita da Unifesp para o curso de direito. Samantha é dois anos mais velha que eu, então agora ela tem dezenove enquanto eu tenho dezessete. Felipe, seu namorado, cursa Medicina e já está até fazendo residência.
Quando ela ficou sabendo da morte da mamãe fez questão de vim ao enterro. Ela ainda cheirava a aeroporto, se é que uma pessoa possa cheirar a isso.
Depois do enterro tio Sandro, marido da tia Irene, nos levou embora. Isabella não falava nada, muito menos eu. Quando chegamos ao simples apartamento e entramos o cheiro da mamãe invade minhas narinas e mais uma vez a lágrimas invadem meus olhos.
-O que vamos fazer agora?- disse Isa me surpreendendo- ainda somos de menor precisamos de um tutor e o tratamento dela custou uma fortuna, vamos ter que vender o apartamento.
-Vamos fazer dezoito Isabella - resmunguei enxugando as lágrimas e levantei indo na cozinha beber água. - e podemos trabalhar e juntar dinheiro, ficamos com a tia Irene, por um tempo.
-Claro que vamos, em um ano ainda. Gabriela, a justiça não deixará a gente sozinha. Você sabe que ainda temos pai, provave...
Bati a porta da geladeira com mais força do que o necessário, sem ao menos beber água e olhei feio para a Isabella.
-Isabella, não vamos morar com esse homem.
-Mas ele é nosso pai e tem mais condições de cuidar de nós do que a tia Irene.- rebateu com razão.
-Não importa, eu não vou morar com esse homem. Ele nos abandonou- berrei deixando Isabella assustada e com os olhos cheios de lágrimas. Como sempre: A sentimental.
Ouvimos a porta abrir e fechar, imaginei que fosse Samantha ou tia Irene, eram as únicas que tinham liberdade para fazer isso.
Mas a figura que apareceu em nossa frente usava óculos, estava com os cabelos um pouco grisalhos e mais forte.Olhar para ele fazia com que eu lembrasse de quem herdamos o olhar penetrante e intensos. Bom, papai estava parado em nossa frente.
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