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História Apenas um sonho - Sucumbindo


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


VOOOOLTEEEEEEI

SEI QUE FIQUEI LONGE, ASSIM COMO CERTOS LEITORES (INDIRETAS AQUI) MAS ESTOU DE VOLTA E ESPERO QUE VOCÊS CONTINUEM ACOMPANHANDO.
NÃO ESCREVI TUDO O QUE GOSTARIA NESSE CAPITULO, MAS FIQUEI SATISFEITA HAHA

Capítulo 56 - Sucumbindo


~*DOIS MESES DEPOIS*~ 

O tempo nunca esteve tão ensolarado naquela tarde, o céu de Wonderland estava divino, e aquela tarde merecia uma grande comemoração.  

Os bancos de madeiras estavam completamente preenchidos por convidados que eu mal conhecia, McTwisp distribuiu os convites de casamento para todos os habitantes dessa terra subterrânea, até mesmo os nobres do reino vizinho vieram prestigiar a Rainha. 

E o futuro Rei.  

Minhas mãos suavam como nunca ao segurar as de Stayne. 

Era o meu segundo casamento ''armado'', apesar de prometer a mim mesma que nunca mais faria esse tipo de coisa. 

Era o meu dever, na verdade, muito mais do que um dever. 

Era a minha missão. 

Eu quase não poderia olhar nos olhos das pessoas presentes ali, elas seriam testemunhas de um falso amor, um sentimento escondido em meio aos interesses de ambas as partes do conjugue.  

O sorriso que eu estampava em meus lábios não poderia ser mais forçado. 

Apenas torcia para que o relógio parasse os seus ponteiros, afinal, essa seria minha única escapatória para reverter essa situação. 

Voltar ao tempo.  

Virei o meu rosto lentamente para o lado, respirei fundo enquanto as palavras do padre (mais um dos muitos coelhos de paletó na cerimônia) fossem concluídas. Eu sabia que iria demorar, afinal, ele não perderia a oportunidade de fazer um belo discurso antes. 

Enquanto focava os meus olhos para o nada, os meus pensamentos teimavam-me a levar há poucos dias antes de tudo isso.  

Minhas pupilas cresceram um pouco ao encontrar um homem bem vestido sentado na última fileira de banco. O vento fraco que se instalou no jardim fez os seus cabelos perderem o penteado, enquanto o meu véu balançava a ponto de me irritar. Tarrant evitava olhar para mim, ele sabia o quanto estava deslumbrante no seu vestido. 

Eu pensava no que ele me disse. E no que fizemos. 

~*CINCO DIAS ANTES*~ 

Caminhava apressadamente por meus aposentos, estava ansiosa, mais ansiosa do que deveria. Estalava as articulações de meus dedos quantas vezes fossem necessárias. 

Eu não poderia mais esperá-lo.  

Depois de tantos meses junto ao Cavaleiro de Copas, tenho que admitir: Estava mais sádica a cada dia, e gostava de testar a paciência de meus servos. 

Um deles, em especial.  

Tarrant não tinha mais nenhuma saída a não ser aceitar todas as minhas ordens.  

Dei um jeito para que ele não deixasse o Castelo de Marmoreal. 

Afinal, eu não suportaria estar nesse lugar sem ele.  

Sosseguei de repente ao ouvir o som típico da madeira de minha porta, havia alguém no lado de fora esperando minha permissão para que entrasse, não demorei a ceder, nem mesmo perguntei quem era, uma vez que já tinha certeza. 

Aquele homem desequilibrado estava parado dentro dos meus aposentos, sorri de leve quando vi o seu olhar perdido, ele não sabia bem para onde deveria encarar. Segurava uma vestimenta branca que lhe caia dos braços.  

Parei em sua frente, esperando que pronunciasse suas primeiras palavras. 

Elas vieram a seguir, junto com uma certa hesitação e insegurança. - T-trouxe o que me pediu, majestade. - Sorriu um pouco, talvez forçado. Assenti em silêncio enquanto o assistia esticar os seus braços trêmulos, levantando o vestido volumoso que fez. - Será a noiva mais bonita de Wonderland. - Pude sentir um certo orgulho em sua voz. 

-Isto eu que constarei. - Respondi ríspida, pegando a peça dos seus braços e analisando os detalhes. 

Eram detalhes simples, mas juntando ao tecido certo, ficava divino. 

-Hum... - Sorri um pouco. - Está bom. - Tarrant sorriu também, gostava de ser reconhecido.  

Dobrei a peça e lhe entreguei por fim. - Isso não é o bastante. - Seus lábios se reprimiram com minha conclusão. 

Engoliu em seco. - Majestade, é um vestido de...  

-Casamento. - Interrompi, assentindo. - Quero um vestido melhor. - Caminhei até sua direção, alisando a saia enquanto lhe fazia uma careta. - Não gosto desse tecido. - Tarrant passou a estudar a saia. - Quero que a desfaça, e tire alguns laços.  

-A-Alice... - Balbuciou. 

-''Majestade'' - Cruzei os braços. 

Hightopp suspirou, e suas esmeraldas fecharam-se por alguns segundos. - O restante está bom. - Remexi minhas mãos. - Quero só que mude a saia e tire os laços. 

-Majestade, isso colocará em risco os tecidos da parte de cima, são panos frágeis que podem romper se eu descosturar. 

-Dê o seu jeito. - Apenas respondi, num murmuro. - É o meu servo, e terá que me obedecer. 

Ele abaixou sua cabeça para observar o que havia feito de errado. 

Absolutamente nada. 

Uma risadinha escapou dos meus lábios, ecoando lentamente por meu quarto. O Chapeleiro pressionou as sobrancelhas acobreadas ao me olhar, e apertando o vestido com seus dedos manchados, acusou: - Está fazendo isso só para me torturar, n-não é? - Ouvia a sua língua prender.  

-Por favor. - Balancei a cabeça. - Não me venha com essas conversinhas. Apenas sei que pode fazer um vestido melhor. 

-Sabe o quanto é difícil para mim... 

-Isso não me interessa. - O empurrei de leve para que saísse. - Quero experimentar o novo vestido antes de anoitecer. 

-O que?! - Mostrou-se admirado, eu o olhei parado a porta.  - Vossa majestade pensa que meu trabalho é fácil?! - Não tive tempo de retrucar. - Levará dias até que eu lhe faça um novo vestido! 

-Hum, considere que meu casamento é na próxima semana. - Cruzei os braços. - É melhor começar logo. - Sorri, e pude ver quando os seus olhos cerraram. 

[...] 

-Ora... - Era de tarde, meu noivo e eu tomávamos chá no jardim enquanto observávamos os súditos trabalhando para os preparativos da cerimônia. Levava minha xícara aos lábios depois de lhe contar o que havia acontecido pela manhã. - Eu faria muito mais! - Gabava-se o moreno, segurando minha mão solta sobre o pano de rendas.  

-Acho que lhe dar uma ordem de refazer a saia já é o bastante. - Ainda sentada, ergui meu rosto até o terceiro andar de meu belo castelo, era possível ver a luz de seu abajur acessa, junto com a sombra de Hightopp que trabalhava sem parar. - Eu não o vi o dia todo. - Balancei os ombros. - Esteve em seu quarto costurando um novo vestido. 

-Espero de verdade que não se agrade da nova peça. - Stayne se permitiu rir. - Imagino vossa Majestade ordenando que o Chapeleiro crie uma terceira vestimenta.  

Eu o olhei, séria. - Isso seria um absurdo, meu noivo. - Pausei. Pensativa. -Talvez até abuso de autoridade. 

-Bom... - ele tomou de seu chá. - Quando eu for Rei, tornarei a vida desse louco uma verdadeira loucura. - Sorriu com orgulho. 

-É melhor que... Mudemos o rumo de nossa conversa. 

-É claro... - Pegou em minha mão novamente, beijando-a com ternura. - Sobre o que quer falar?  

Eu não o respondi, estava ocupada observando a sombra de Tarrant pela janela, ele parecia tão agitado e desesperado para aprontar um novo vestido que pude sentir um pouco de pena.  

Acho que transformei o amor que ele dizia sentir por mim.  

Quem sabe, agora Tarrant me odeia. 

-... O que acha, minha rainha? 

Balancei a cabeça quando acordei dos meus pensamentos. - O que dizia, Stayne? 

Ele bufou, no entanto, não demorou para repetir. - Disse que gostei da decoração que fizeram para o nosso... Novo quarto. - Sorriu. 

Sorri fraco, era um assunto novo no qual eu não gostaria de entrar. - E o que você achou? 

-Ficou bonito. - Respondi bebendo mais chá.  

-Já que nosso quarto está pronto e nos casaremos daqui há poucos dias... - Ele se aproximava. - Podemos usá-lo essa noite. - Arrastava sutilmente sua cadeira branca para perto da minha, nisso me calei, sentia a sua mão afofando a saia do meu vestido, cedendo para tocar em minha pele quente.  

Eu não poderia permitir. - Por favor, vamos esperar mais alguns dias. - Pedi, um pouco constrangida. - N-não se arrependerá. - Corei. 

Consegui arrancar um sorriso seu. - Espero que esteja certa no que diz. - Retrucou. 

Suspirei mais um pouco, sinceramente não estava atenta a conversa e nem ao chá, que esfriava na porcelana da xícara. Permaneci no jardim só por mais alguns minutos, não havia me acostumado com o olhar cortante da Ratinha briguenta que passava a todo momento por nós dois, ajudando os soldados e McTwisp com os preparativos. Ela sabia de tudo, e não concordava com o tratamento que todos recebiam. 

A grande verdade é que eu já havia me acostumado a ser uma rainha bem diferente de Mirana, era respeitada e temida. 

E gostava disso. 

[...] 

Me despedi do futuro Rei na hora do jantar. Esse era o único momento dentro de Marmoreal que Stayne ainda não participava.  

Todos esperavam ansiosos a entrada da Rainha pela cozinha, afinal, não começariam a desfrutar da janta sem mim. Respirei fundo um pouco antes de dar os primeiros passos em direção ao cômodo, já era possível ouvir certa reclamação dos súditos quando levantei a barra da minha saia e segui em frente, descendo os degraus largos da entrada e erguendo o meu queixo, ignorando qualquer sorriso que eu poderia dar.  

''Ela consegue ficar mais metida a cada dia que passa! '' - Mallynkum não perdeu a oportunidade de me alfinetar, no entanto, ela era insignificante demais para que eu retrucasse. 

''A Rainha só está um pouco tensa, seu casamento será em poucos dias. '' - Murmurou McTwisp, afim de me defender apesar do meu comportamento pouco humilde.  

Eu os ignorei, puxando a cadeira principal e me sentando em seguida, todos mantiveram a postura diante da Rainha. Os soldados me serviam quando notei a ausência do único servo que não me era insignificante. - Onde está o Chapeleiro? - O meu tom saiu autoritário, era assim normalmente. 

McTwisp se embolou, ao ponto de quase gaguejar, derrubando um pouco de sua bebida pela mesa. - Ele disse que está ocupado, s-sem fome... Majestade.  

-Todos sabem que eu não gosto de ausências por aqui.  

-S-sabemos. - Respondeu o Coelho. - Eu o insisti, mas ele não quis descer.  

-Ele será castigado por sua teimosia. - Avisei, levantando-me de imediato para anunciar. - Se ele sentir fome durante a madrugada, não terá o que comer. - Todos se calaram, perplexos com a minha ordem. - Soldados. - Virei-me para os Soldados Brancos ao canto da cozinha. - Quero que vigiem a cozinha para que minha ordem seja executada, não deixem-o tocar em nada.  

Eles assentiram, voltei a me sentar. - Ora, tinha mesmo que ser irmã da cabeçuda! - Disparou Dormidonga. - Isso não se faz! 

Eu a olhei, sorrindo levemente. - Quer que o castigo também seja aplicado a você? 

Foi assim que a mesma se calou. 

Me sentia tão vitoriosa por dentro, sei que Stayne estaria orgulhoso de mim. 

Embora uma pontada em meu  peito me avisasse que eu estava passando dos limites. Às vezes esquecia os momentos que passamos e quantas vezes ele demonstrou que me amava, eu sabia que uma demonstração de amor era algo muito mais além do que apenas um ''eu te amo'', no entanto, ainda não conseguia entender como sua lágrima evaporou.  

[...] 

Escovava impaciente os meus cabelos, pelo reflexo do espelho eu poderia ver o quanto estava zangada, abdicava do meu sono para receber sua visita.  

Esperava as tais batidas na porta, como eu mesma ordenei. Queria que ele me entregasse o vestido naquela noite. 

E assim deveria ser. - É mesmo um incompetente! - Resmunguei ao jogar a minha escova contra a madeira brilhante da penteadeira. Me levantei, sem me importar se usava apenas um pijama. Deixei o meu quarto com uma raiva que não sentia há dias, talvez o sono tenha contribuído com isso. 

Atravessei os corredores tão apressada que nem reparei no silêncio do castelo. Cheguei até o seu quarto e o abri sem pedir permissão.  

Não precisei acender as luzes para concluir o que contestei. Hightopp era um incompetente. 

Enquanto eu lutava para não me render ao sono, meu servo estava estirado no chão, completamente adormecido. 

Bati meus pés descalços na madeira do seu piso, causando um som que fora ecoado em poucos segundos, no entanto, era o bastante para que ele despertasse, meio atordoado. - Minha Rainha? - Murmurou ele, coçando os olhos. Acendi o lustre e vi o quanto suas esmeraldas se irritaram com a luz. 

A pouca paciência que existia se esgotou por completo quando vi o meu vestido no chão, interminado. - Eu lhe disse que o queria essa noite! - Berrei, fechando os meus punhos enquanto Tarrant se ajeitava no piso. 

-E-e-eu ia terminar, A-Alice... Só p-pensei que pudesse descansar u-um pouco.  

Gargalhei, aproximando-me do modelo de vestido branco no chão. 

Eu não pensei no quanto era  bonito e no trabalho que havia lhe dado, só imaginei que o meu servo merecia mais um castigo. O rasguei sem hesitação, Tarrant arrastou seus joelhos e conseguiu pegar sua obra antes que eu rasgasse mais. 

Meus olhos enfurecidos o olharam, foi então que ele percebeu o tamanho do rasgo, não havia como recuperar, eu o rasguei na barriga e não havia remendos para isso. - Quero um novo vestido. - Respondi, com naturalidade. 

Reparei no modo como seus dedos se mexiam sobre a peça, ele a abandonou no chão enquanto eu esperava ouvir mais de suas conversinhas absurdas. Diria que eu estava o torturando, e que não suportava mais.  

Tarrant se levantou, sorrindo. - É claro, minha Rainha.  

Abaixei os meus ombros.  

Com boa vontade foi até a gaveta e retirou sua fita, passando a mesma por minha cintura.  

Eu não compreendia. Isso era para ser um castigo.  

No entanto, me calei. - Estique os braços. - Pediu calmamente o ruivo, com um ar cansado. 

Estiquei, olhando-me no espelho, ele notou então que minhas medidas não haviam mudado.  

Foi até seu guarda-roupa e procurou o mais belo tecido entre todos. 

Sua reação era inédita para mim, e eu precisava comentar. - Esperava que negasse. 

Ele se permitiu rir, a típica risada de um homem louco.  

Virou-se para mim, segurando o tecido branco. - Vossa majestade está certa. - Tombou levemente o seu pescoço, enquanto me dizia meigamente. - Eu mereço que me trate assim. É justo.  

-... - Abaixei a cabeça. - Não compreendo, a pouco não concordava com a minha autoridade e o meu tratamento. 

-Eu não ligo mais! - Riu novamente. 

Havia algo errado, e antes de lhe dar boa noite e me retirar, notei um papel muito bem dobrado sobre a escrivaninha. - O que é isso? - apontei ao me aproximar, Tarrant se virou para me dar atenção.  

-Por favor! - Deixou o que fazia para alertar. - Não mexa neste papel! 

-Como ousa me dar ordens?! 

Ele engoliu em seco. - Apenas perguntei o que é. - O olhei, estranhando ainda mais o seu comportamento tão incomum. 

Tarrant sorriu. - É uma carta para Mally.  

Torci os lábios. - Hum... E sobre o que se trata? 

-R-Rainha... - Riu, afrouxando a gravata borboleta que ostentava. - É particular. 

Olhei desconfiada para o papel. - Depois de tudo o que passamos, eu o conheço muito bem. - Respondi, pensativa. - Creio que essa carta tem algo a ver com o fato de aceitar as minhas ordens sem se importar.  

-De modo algum! E-eu aceito pois estou cansado de brigar com vossa majestade, s-sempre perco nossas brigas, n-não é?! - Cerrei os olhos.  

-Você não me engana, Chapeleiro. - Estiquei o meu braço de modo que eu alcançasse o papel.  

Ele deu alguns passos em minha direção, o semblante sério deixava escapar certa tristeza. 

-É para minha Ratinha. - Puxava o sotaque. - Não é certo ler. 

Ri. - Garanto que me difama nesta carta, é por isso que Dormidonga me detesta. 

-N-não! - Negou nervoso enquanto eu desdobrava o papel devagar. - Tudo o que está escrito é sobre mim! 

Minha curiosidade se aguçou, e o louco não poderia me confrontar. 

Afinal, eu era a Rainha dele. 

-Por favor. - Virei-me de costas, gesticulando com as mãos. - Continue o que fazia! - Ordenei, aproveitando a luz do abajur para a minha leitura. 

Pude ouvir o seu suspiro, eu o olhei ao virar o meu rosto e Hightopp havia retornado ao que fazia. 

A carta se iniciou, ele parecia tão formal na escrita que não poderia imaginar que era escrita por um louco. A formalidade também me dizia o quanto o conteúdo era importante e particular, algo entre amigos, talvez. 

Amigos.. 

Era o que ele dizia na carta, falava a Dormidonga o quanto ela era sua amiga mais louca e especial, quase pude sorrir com as palavras mas lembrei que se tratava daquela rata briguenta e continuei. 

Tarrant não mentiu, o conteúdo da carta era sobre ele. 

Falava sobre suas tristezas e o quanto não suportava mais estar aqui. 

Parei com a leitura, adivinhando o que viria a concluir. - Pretende deixar Marmoreal?! - Me permiti rir. - É tão idiota, é uma ideia tão idiota, você não deveria escrever em cartas!  

Ele não sabia o que dizer. Retornei a carta, tinha certeza que Hightopp estava inquieto. 

Talvez havia algo mais. 

Meus olhos seguiam todas as letras, eram vários parágrafos e quando cheguei ao segundo encontrei o verdadeiro tom de suas palavras.  

Um tom de despedida, uma despedida triste...  

Ele dizia que ele nunca mais a veria, e que daria o seu chapéu junto com uma pilha de pequenos vestidos rosas que fez.  

No final da carta, ele lhe contava um pequeno segredo.  

Contava exatamente qual seria o penhasco que se jogaria.  

Minhas mãos trêmulas soltaram o papel, sentei-me no colchão, em choque. Os meus olhos produziram lágrimas imediatamente, Tarrant deixou o que fazia para me encarar enquanto eu levava minha mão aos lábios. - S-s-s-se m-mata-r?!!  

-Eu disse que não era para ler! - Riu, tocando em meus braços ao se agachar na frente do colchão. 

-V-você n-não vai se mat-ar!  

Ele estava tão convicto. - Essa é a única escolha minha que Vossa Majestade não poderá mudar, nem mesmo com toda a sua autoridade. 

De repente, era como se um peso de mil toneladas estivesse sobre minhas costas, encarar aqueles olhos melancólicos e pensar que a última página do Oráculo, a página que Mirana me mostrou era real me fazia gritar por dentro. 

Pior ainda era saber que a culpa era inteiramente minha. 

Eu o fazia sofrer, dia após dia, até sucumbir a tristeza. Engoli em seco, e sem pensar duas vezes, propus: - O que quer que eu faça para que mude de ideia? - Certamente Tarrant sentiu o meu desespero, os meus olhos marejados lhe dava a certeza de que estava convicta a obedecê-lo.  

Eu deixaria até mesmo o meu casamento para que ele não cometesse tal ato.  

Me deu um sorriso. - Estou decidido.  

-N-não está, é só um louco.. Loucos não tem certeza de nada!  

Ele se afastou depressa, um pouco constrangido. - Está com fome? - Me levantei, Tarrant virou seu rosto por cima do ombro, estranhando a minha pergunta. - Posso lhe preparar algo. 

Sorriu. - Seria muito bom.  

-Ótimo! - Retribui o sorriso, hesitando em me manter perto. - Então... - Alisei o seu braço, encarando os olhos fundos e tristes do mesmo. - Mudou de ideia? 

-Alice. - Ele tomou o meu rosto. - Vou cumprir com o que disse na carta. 

Cortei o olhar, estava em choque novamente. - É melhor que descanse, Majestade. E-e-eu me viro na cozinha se me permitir.  

Neguei, pensando em uma solução. - Jantaremos juntos. - Ele estranhou de inicio, mas o brilho dos seus olhos e o meio sorriso que me mostrou diziam que ele concordava com a ideia, talvez estava até mais animado.  

-Seria muito bom ter um encontro com minha Alice.  

-Isso, um e-encontro, e-exatamente isso. M-mas não posso deixar que nos vejam. - Reparei no tecido que ainda segurava. - Deixe isto e vá se aprontar. 

[...] 

Fiz um certo ruído ao arrastar a mesinha de madeira por meu piso. Jantaríamos juntos e escondidos em meu quarto. Tratei de me olhar uma última vez no reflexo, ajeitando uns fios despenteados no  canto de minha coroa após escutar o som da minha porta, girei a maçaneta quase de imediato e Tarrant estava do outro lado do corredor. 

Ele não carregava uma flor ou algo assim, nem mesmo sorria, talvez fosse a fome.  

Usava um terno escuro, seus cabelos estavam despenteados e suas olheiras me deixaram com a consciência pesada ao lembrar que o acordei tão rigorosamente. - Entre. - Sussurrei, e ele me obedeceu. 

Parou no meu quarto, olhava a mesa, reparando o quanto era baixa. - Desculpe. - Deixei algumas almofadas no chão para servir de assento. - Não tive tempo de preparar algo melhor. 

-Não é preciso. E-eu só estou com muita fome. - Riu de leve. 

Eu não conseguia retribuir o seu riso, só pensava na sua escolha. - Sente-se.  

Tarrant escolheu um lugar, coloquei minha almofada de frente para a sua e me sentei em seguida, ele se servia, despejando a bebida em seu copo. - Vinho? - Estranhou. - Ficará sonolenta.  

Ele brincava tanto. - ... - Ele não levava a sério o que disse na carta. 

Será que tudo não se passou de uma farsa? 

Eu o olhava. 

Não poderia ser, ele não seria tão louco de me deixar desesperada por uma farsa. 

-É o que pretende? - Não hesitei, Tarrant deixou seus talheres e me olhou, dessa vez sério. Os meus olhos se encheram de lágrimas. - O que mais eu posso fazer?  

-... 

-Posso deixar o Stayne. Abdicar o trono. 

-Mirana não ficaria orgulhosa em saber disso, Alice. - Pausou. - Aliás... - Sorriu. - Sei que está acostumada com as mordomias da realeza.  

-Então eu só deixarei de me casar. - O olhei. - E você ficará feliz.  

Ele me serviu o vinho. - Ficarei feliz quando tirar essa dor de meu peito.  

Puxei a minha almofada e então nos aproximamos. Pousei lentamente minha mão sobre a sua, aproveitando que a mesma estava sobre a mesa.Ele era um homem louco e sensível. - Coma. - Pedi.  

Pegou o garfo por fim, e começou a comer. Estava faminto.  

Eu o impedi até mesmo de se alimentar.  

Acabei por virar um monstro, e esse monstro o agredia todos os dias com palavras e insultos.  

É, realmente eu transformei o amor de Tarrant em um coração cheio de tristeza, e a sua única saída era dar um fim a si mesmo. 

''Abraçou'' sua taça com as duas mãos e assim bebeu do vinho, manchando as bordas dos seus lábios. Ele me olhou como se pedisse permissão para pegar mais. - P-por favor... Fique a vontade. - Pedi fracamente, rodeada por pensamentos torturantes.  

E ele pegou, degustando o sabor da uva.  

-S-sabe o que também me entristece? - Indagou, sua voz falha.  

Neguei em desespero. - Diga e resolveremos.  

Seus dedos martelaram na mesa e ele bebeu mais do vinho. - Que não pude te dar um filho. - Não me olhava ao dizer. 

Esse assunto de fato mexia com ambos. - Isso me deixa frustrado, Alice. E-eu não queria que sofresse por minha causa. - Calei-me. - M-mas eu lhe avisei sobre a intoxicação...  

-Não se culpe. 

-Se não fosse o mercúrio, e-eu... 

-Por favor, não se culpe. - Nos olhamos. Suspirei. - Stayne colocou uma substância que... - Pausei. - Era fatal para... -Engoli em seco. - Nosso filho. 

Abaixamos a cabeça juntos. - F-foi ele. - Afirmou o louco. 

-E-espero que eu tenha lhe tirado essa culpa, ao menos. - Alisei o seu rosto. - Você precisa descansar para esquecer essas ideias absurdas.  

-Eu não vou esquecer. 

-Pare! - Berrei. - Pare, por favor! Você não fará isso!  

-Ainda prefere que eu continue sofrendo nessa terra, Alice? 

-... 

-Está sendo egoísta. - Acusou, com seus olhos marejados. 

Eu o abracei, sem nem mesmo perceber que havia me aproximado tanto. Deitei minha cabeça no seu peito e aquele abraço era uma forma de aceitar a sua escolha. Felizmente, ele era sensível o bastante para entender. Afagava meus cabelos com calma e ternura. ''Minha Alice...'' - Ele repetia de vez em quando. 

 


Notas Finais


Opa, lembrem do oráculo... Tarrant morreria de acordo com ele.

Bom, eu espero que eu tenha feito vocês chorarem, ao menos. hahaha pq eu me emocionei, estou sensível hoje.

Aguardo comentários, quem sentiu falta da fic se manifeste! Não quero sumir de novo mas se não ganhar inspiração o bastante vou dar mais um tempo novamente.
É sacanagem? Claro que é, eu sei :c
Mas não posso escrever sempre, e não ter o retorno nos comentários

Agradeço aos meus leitores lindos!


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