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História Apenas um sonho - Minha consequência


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Postando com menos demora por que sim!

Seus comentários me trouxeram a tão bela inspiração que sinto falta!
Obrigada meus amores, curtam esse capítulo!

Capítulo 61 - Minha consequência


Sua respiração pesou como se algo o atingisse e pude perceber seu único olho sendo cerrado quando deparou-se com a cena, cena esta que para o meu marido não deveria ocorrer. - Vejo que se encontraram. - Disse o Valete, por fim assassinando o silêncio.  

Tarrant também parecia nervoso, nervoso e desconfortável. - Como você está? - Indagou meu marido para o Ruivo, e isso lhe rendeu um sorriso forçado.  

-Estou bem, estou muito melhor agora! - Exclamou o mesmo. Avistei o chão por alguns instantes ao relembrar o que havíamos feito minutos antes.  

-Alice. - Stayne virou o seu rosto para mim, precisei levantar a cabeça e encará-lo. Continuava com o seu sorriso tão forçado quanto a nossa relação. - Você pode me esperar em nossos aposentos? Preciso dar uma palavrinha com Tarrant.  

No momento, não sabia o que dizer e como reagir. Fitei os dois homens ali presente e Tarrant assentiu com a cabeça enquanto os seus olhos saltavam. - O-oh, é... Claro. - Respondi por fim, embora ainda sem reação, agachei-me rente ao sofá e o abracei com força, como se fosse a última vez que o fizera.  

Tarrant correspondia deitando a sua cabeça sobre o meu ombro. Pude sorrir quando os seus dedos tocaram as minhas costas. - Alice? - Chamou Stayne uma segunda vez, num tom mais rígido.  

Me levantei hesitante e obedeci.  

Passava por meu marido sem me importar com o seu olhar de reprovação para mim, assim que lhe dei as costas, abri o sorriso mais largo e verdadeiro que dei nos últimos dias.  

Toda a angustia desapareceu junto com a dor que sentia ao pensar que o Chapeleiro estava morto.  

Pressionei o corrimão de madeira da escada e dei uma última olhada em direção a sala de visitas. Parei ali quando notei que Tarrant estava em pé, e o Rei cutucava o seu peito. Mesmo de costas, pude ter a certeza que Stayne gritava.  

Desci os poucos degraus que me atrevi a subir e sutilmente, parei entre a grande porta do cômodo, arrastei minhas costas na parede lisa e sentei-me no piso frio, só para que eu pudesse dar aos meus olhos aquilo que eles insistiam em ver. - Você não entendeu, seu louco! - O tom grosseiro de meu marido continuava. - Eu disse que o queria fora daqui!  

-O-ora, Majestade! N-não tenho culpa alguma s-se Alice me viu! - Ele apertava seus lábios para não rir.  

-Não importa! - O Valete circulava pelo salão um pouco desnorteado. Eu me preocupava em me esconder para não ser descoberta. - Você desobedeceu a minha ordem, veio a procura da minha esposa e isso eu não posso permitir! - Ajeitava seus cabelos negros, ainda nervoso. - Pensarei em uma boa punição... - Sussurrava, cheio de vingança.  

Balancei a cabeça em negativa, era tudo o que eu poderia fazer, afinal... Ele era o Rei, o dono deste Mundo. - Soberano, c-creio que... 

-CALE-SE! LOUCO!  

-...- Os seus olhos verdes brilhavam com as lágrimas recém chegadas.  

-Devia estar morto, como prometeu a ela. - Aproximou-se, admitindo entre dentes. - Você não vai pegar o meu lugar, não tomará minha coroa! 

-D-de forma alguma, Stayne... 

-''Soberano''! - Gritava. - Dirija-se a mim como Soberano! 

Tarrant prendia a sua risada enquanto o via perambular. - Uma punição... - Resmungava Ilosovic, perdido em seus pensamentos. - Eu governarei... E meu herdeiro será o futuro Rei. - Apertava seus pulsos quando ouviu a risadinha do Chapeleiro. Ele o encarou de imediato, seus olhos semicerrados demonstravam todo o ódio que sentia pelo louco. - Se arrependerá de ter voltado. - Pausou. - Agora que Alice o viu, não posso pedir que se mude. No entanto, não vou deixar que ela volte a sentir algo por você.  

-Alice nunca nos amou de verdade, Soberano. - Respondeu o Ruivo.  

-CALE-SE! - A reação de Ilosovic quanto ao comentário veio em seguida: Acertava um soco em seu queixo, fechei os meus olhos com tal cena, no entanto, vi quando Tarrant caiu sobre o sofá da sala.  

Olhava espantado para o Rei e sabia que não poderia se defender do ato. Stayne o puxava pela gravata borboleta quando retirou a sua cartola e a lançou longe dali. - E-e-eu n-n-não v-vim atra-palh-ar s-seus pl-anos. - Estremecia com receio de outro golpe. - E-eu não tocar-rei em Alice... Ela é s-sua, Majestad-e. - Stayne se acalmava com tais palavras.  

O soltou, por fim. - Eu venci, não é mesmo? - Olhava para o Chapeleiro, que se limitou a balançar sua cabeça com tristeza. - E muito em breve, nossa querida Rainha me dará um herdeiro. - Pausou enquanto ajeitava a camurça meio amarrotada do seu traje. - Sabe, Hightopp... Você voltou. - Dizia. - Posso encontrar um ponto positivo nisto. Significa que é mesmo um servo fiel. - Sorriu. - Você se tornará meu novo criado.  

-S-sou apenas um chapeleiro.  

-Não importa! - O cortou. - Fará tudo que eu lhe ordenar! E serei misericordioso com sua vida, Tarrant... Pois minha punição seria ter a sua cabeça cortada. - Sua risada tão sádica me trouxe arrepios, eu não sabia se conseguiria permanecer ali e escutar a conversa, mesmo que insistisse minha curiosidade. - Deixarei que aproveite sua vida por enquanto, como o louco que és. - Murmurava. - E quando Alice tiver o meu herdeiro, e estiver completamente apaixonada por mim. Eu o matarei e será uma morte especial, com uma flecha certeira em seu peito. 

-C-c-como quiser, soberano. - Dizia com fraqueza, observei o seu rosto abatido por alguns instantes e Tarrant limpou as lágrimas que derramava sem querer. - T-tenho sua permissão para me retirar?  

Eu deveria sair dali o mais rápido possível, porém, os meus pensamentos quanto ao que acabara de ouvir não me permitiam ter outra reação. Me encolhi no piso quando escutei a permissão do Rei.  

Ouvia os passos lentos de Higthopp, fechei os meus olhos, a minha mente tão fértil desejava que tudo isso fosse apenas um pesadelo.  

Quando os abri, avistei os sapatos de couro do Ruivo e ergui devagar a minha cabeça.  

Nos olhávamos, ambos surpresos. Ele me enxotava com as mãos, com a tola esperança de me ver saindo daquele transe. - N-n-não posso a-apagar o que ouvi. - Sussurrei segurando o pranto. 

-M-maj-estad-e, n-não devia estar a-aqui. - Dizia entredentes. - V-vá antes que ele a veja! - Balancei a cabeça em negativa, permanecia em choque.  

''O que ainda faz aqui, seu maluco?!'' - Ouvimos a voz do Rei ecoando na sala. 

-Ele está vindo, e-ele me matará. - Balbuciava quando Tarrant retornou ao cômodo.  

-Tenho algo a falar, Soberano! - Aumentou o seu tom.  

-Pois diga. - Eu os olhava, na mesma posição de antes. Hightopp virou o seu rosto por cima do ombro e gesticulou sutilmente para que eu saísse. - Diga!? - Me ergui devagar, qualquer movimento bruto poderia levantar suspeitas, apesar do Rei usar um tapa olho ele tinha uma visão apurada.  

Tarrant acertou seu rosto com um soco que o fez cair. Arregalei os meus olhos e mesmo desejando permanecer ali, corri depressa e subi as escadas quase tropeçando em meus pés.   

[...] 

- Não se mexa... – Pedi delicadamente, em seguida mergulhei o pano na água morna do balde, sentava-se na cadeira e escondia sua expressão de dor. – Essas pétalas preciosas vão amenizar o roxo. 

-Pare, pare de falar e faça as remessas! – Gritou impaciente.  

Aceitei. 

Por fora eu era uma doce e prestativa esposa. 

Por dentro, eu o xingava. – Tem certeza que Tarrant não tinha motivos para golpeá-lo? Meu amor?  

Ele olhou-me com desconfiança. – Já disse que sim. Ele é louco, acertou seu soberano a toa.  

Suspirei. – Acredito em você, meu marido. – Usava as compressas para disfarçar o tom que passou a possuir.  

Observei as poucas nuvens da janela. – Está uma tarde de sol, não concorda? – Stayne assentiu sem se importar. – Acho que você deveria admirar o céu, dizem que os raios solares deste mundo são capazes de cicatrizar feridas. 

-Não sinto dor. E me parece que está tentando se livrar de mim. – Dessa vez não discordei. – por quê?  

Me afastei, abandonando as compressas, pouco me importava agora a atuação de boa esposa. – Se estamos casados, quero um acordo.  

-Hum. – Pensava por um momento quando se levantou, tocando-me no ombro. – Prossiga, Alteza. 

Eu o olhei. – Quero ter posse do Oráculo! -Fora curta e grossa.  – Não quero mais ser vigiada por ele,  quero ter o direito seguir o meu próprio destino. – Pela sua expressão, Stayne não parecia aceitar. – Precisa confiar em mim.  

- é só o que deseja?  

Não hesitei muito. – Só.  

-Pois bem... mas também quero condições. – Seu sorriso me trouxe certa agonia. – Acho que precisa ser uma boa esposa.  

O olhei com repulsa. – Não sou perfeita, Stayne.  

- E por que Tarrant acha que és? – Retrucou. 

- Não sei ao que se refere... Ele nunca me disse isso.  

-Ele sempre diz isso com os olhos! 

Respirei profundamente. – Continuo sem entender.  

-Não seja tola, Alice! Eu estava presente quando você o abraçou! Vi como ele retribuiu devagar, torcendo para que não o soltasse!  

-... 

-Ele a olha como se fosse a única mulher do Sub Mundo! Você o esnobou, o maltratou e ele continua apaixonado por você. – Balançava a cabeça, sem acreditar. – Quero que seja comigo... Do mesmo modo como foi com ele.  

-Como pode me pedir isso?! 

-Seja assim e teremos um acordo. – Se aproximou; Me olhava fixamente, como se não me desse qualquer outra escolha. 

-Está bem. – Cedi com mais dificuldade que imaginava.  

Ele caminhou até um compartimento escondido em seu armário de roupas e me entregou o Oráculo. – É todo seu, Alice. 

Não pude ter a sensação de desenrolá-lo pois o ruído da porta do quarto não me permitiu.  

– Perdão. – Dizia a jovem criada que nos interrompia. 

Possuía cabelos castanhos em forma de caracóis, dava-nos um sorriso sem graça enquanto segurava um balde com novas pétalas. -Não queria interrompê-los. 

-Celina... É bom vê-la – O Rei se aproximava. 

Fiquei em silêncio enquanto notei como ele a reparava. – Não nos atrapalha, de forma alguma. – Estava tão simpático que nem mesmo parecia o marido rude que me casei. – Obrigado, deixe-me ajudá-la. – Pegava o balde de suas mãos que não parecia estar pesado. Ela cortava o seu olhar para qualquer outro canto quando vi suas mãos se esbarrando. O Rei aproveitava para acariciar o dorso de Celina sutilmente.  

-Com a licença dos soberanos. – Puxava a borda de sua saia que batia até o joelho e se curvou. 

Esperei o ruído da porta uma última vez. 

-Eu fui tola em acreditar que contratou essas meninas para serem suas criadas! – Não poderia aguentar tal humilhação. 

-O que insinua?! 

-Não insinuo nada! Tenho a certeza que deseja se deitar com ela! – Acusei, gritando ferozmente.  

Ele riu por seu nariz enquanto balançava a cabeça. - Vejo o quanto é ridícula! - Me calei. - E parece sentir ciúmes. 

Eu não poderia aceitar. 

-Isso não é ciúmes, é indignação! Como pôde tratá-la daquela maneira bem na minha frente?! 

-Eu tratarei todas como eu quiser! - Veio em minha direção e puxou a minha cintura com força, não tinha e não havia chances de escapar dos seus braços, e os socos que passei a distribuir em seu peito lhe fazia cócegas. - Mas se está tão indignada. Posso compensá-la.  

Aquele sorriso tão malicioso me trouxe a única alternativa que ele me dava. De repente, cresceu um desespero ainda maior de me soltar. - N-não quero! - Disse de imediato, me debatendo nos seus braços. Sentia seus lábios asquerosos em contato com o meu pescoço, meu corpo só desejava se livrar dos seus beijos o mais rápido possível, embora no fundo, eu tivesse a certeza de que isso jamais aconteceria.  

Ele passou a arrancar minhas roupas com brutalidade, rasgava até os tecidos mais fortes de minhas vestes. - Seja uma boa esposa, Alice! - Ordenou entredentes e juntou os nossos lábios para um beijo seco e sem sentimentos.  

Parei de lutar, o meu corpo relaxava quando me dei conta que não existia saída.  

Sempre serei mais fraca, como a minha mãe fazia questão em dizer: As mulheres eram como objetos de desejo de alguns homens.  Talvez dos mais perversos. 

-Tire minhas vestimentas. - Sua voz era rouca e seu sorriso era visível.  

Eu o olhei com a respiração meio desregulada e me desfiz de suas peças  de cima sem cuidado algum. -Oh, minha querida Alice. - Ele voltou a beijar o meu pescoço e o meu colo, rente aos seios. Eu disfarçava a expressão de nojo ao relembrar que deveria ser uma boa esposa.  

Me levantou pela cintura. - Lembre-se que será só minha. 

As minhas costas semi-nua chocaram-se com o nosso colchão. Ele voltou a mirar os meus lábios quando desviei o meu rosto. - Pare, por favor. - Ele me olhava quando pedi, calmamente. - Não estou disposta.  

Me livrei do peso sobre minha barriga, literalmente. 

Meu marido dava-me espaço para que eu me sentasse. Puxei o lençol de seda para me cobrir, um pouco envergonhada. Ele passou a admirar o céu, como lhe pedi.  

Às vezes, temia o seu silêncio.  

-... 

-... 

Seus ombros largos se moviam, sua respiração permanecia tensa. 

-Stay--- 

-SE FOSSE COM ELE ESTARIA DISPOSTA! - Se virou e jogou longe a cadeira de madeira próxima a mesa de escrita.  

Me levantei, levando o lençol. - Acho que precisa ficar sozinho.  

Mal tive chances de sair. Stayne apertava o meu braço. - Não ficarei. Você é o que eu quero agora, e eu a terei. Por bem, ou por mal.  

[...] 

Chorava por baixo das cobertas quando o soar dos ponteiros me interrompeu. Estava encolhida, e mesmo nua, me desfiz dos lençóis e avistei as horas.  

Quase meia noite.  

Olhei para o outro lado, e meu marido se encontrava em um sono profundo.  

Claro, depois de uma longa noite de prazer. Estava mesmo exausto.  

Vesti a primeira camisola que encontrei e joguei um roupão por cima. Precisava de um calmante forte para pegar no sono dessa vez.  

Descia as escadas com a ajuda de um lampião que ameaçava apagar. Cheguei até o balcão de mármore na cozinha.  

Não havia mais ninguém além de uma Rainha infeliz.  

Sentei-me no banco giratório e apoiei minha cabeça no balcão. Estava livre para lamentar-me.  

Me perguntava o por quê do rumo da minha vida... 

E por quê ainda não havia desistido do meu destino. - Majestade?  

Saltei com o susto e olhei para trás. Tarrant também sofria de insônia. - O que faz aqui? - Limpei minhas lágrimas. 

-Está... - Se aproximou, observando bem o meu rosto, abaixei a cabeça. - Está chorando? 

-N-não é nada. - Sorri. - Aproveitando que está aqui. - Respirei fundo. - Eu queria pedir desculpas pelo... - Suspirei. Ele me olhava atentamente. - Pelo beijo... Beijos... - Corrigi. Corada. - Que te dei. E-eu não deveria, Tarrant. E-eu sou uma mulher casada agora. - Respirei fundo outra vez, era inevitável. - Considere isso como um ato de desespero da minha parte, a-achei que estava morto... - Terminei de limpar as minhas bochechas úmidas, Hightopp mantinha a atenção nelas. - E quando o vi... - Sorri levemente. - Fiquei feliz.  

-Não pensaria outra coisa de você, Majestade. - Pausou. - M-mas não me disse por que choras!  

O olhei rapidamente. - N-nada, já respondi. - Levantei, um tanto incomodada.  

-Stayne a fez chorar? - Interrogou preocupado. Não tive tempo de retrucar. - Ele soube que vossa majestade estava nos espiando? 

Neguei.  - Esqueça. Não foi por isso.  

-... 

Nos olhamos. - Eu sei que não me quer aqui. - Quebrou o silêncio. - Eu só vim por que tinha visto uma sombra vagar os corredores.  

Assenti. - Boa noite, Tarrant. 

-Boa noite, Majestade. 

Voltei a observar as estrelas. Eu sei que ele me deixaria, no entanto, ainda tinha a sensação de ser observada.  

Não me atrevi a olhar para trás, não queria que ele pensasse que eu o desejava por perto.  

Me aproximei da janela e suspirei, as lágrimas retornaram com mais força.  

A minha mente relembrava repetidas vezes o que houve nessa noite. O modo como Stayne me possuiu, eu era como um objeto sem valor, que só lhe servia para lhe dar satisfação e prazer de vez em quando.  

Ele não fazia a sua parte em nosso acordo, não se esforçava em se apaixonar por mim e pelas poucas qualidades que tenho.  

Deitei o meu rosto entre o vidro embaçado da janela. O brilho das estrelas era o único encanto capaz de me distrair por alguns segundos.  

Suspirei, sentia as lágrimas grossas escorrendo pela bochecha. - Posso n-não ser a Alice certa, afinal. - Chegava a essa conclusão que me trouxe mais tristeza.  

Tossi um pouco enquanto chorava, as estrelas não devolveriam o brilho de felicidade dos meus olhos. Cruzei os meus braços e deixei de observar o céu. Virava-me para o outro lado quando ouvi o bule ferver, balancei os meus ombros com o pequeno susto que levei: Tarrant mantinha-se parado ali.  

Me encarava com aqueles olhos gentis.  

-Sinto-me... Tão suja.  

Ele arfou quando me viu em prantos outra vez. - Stayne lhe fez mal? - Indagava, quase com a certeza da resposta. 

Balancei a cabeça em negativa. - Não entenderia. Não entende como são os casamentos armados. - Murmurei, sabendo que ele nunca havia passado por essa experiência e que por toda a sua infância presenciava  momentos de amor entre seus pais.  

O assisti preparar um chá. Separava duas xícaras.  

-Eu sei que se acostumará com companhias mais nobres! - Deu-me uma risadinha. - Mas acredito que podemos tomar chá juntos essa noite!  

Sorri. - É claro. Não haveria ninguém melhor do que você para um bom chá. - Arrastei a cadeira mais próxima e me sentei, ele se preocupava apenas em adoçar a bebida quente.  

Era na ''hora do chá'' que surgia nossas conversas mais loucas. E era na ''hora do chá'' que, quando criança, passei a conhecê-lo melhor. Talvez aquilo não passasse de uma abordagem de Hightopp para descobrir o real motivo da minha tristeza.  

Eu observava o seu rosto, um tanto sério demais para a ocasião.  

Sabia que no fundo, ele se sentia preocupado. - Obrigada. - Sorri assim que ele me entregou a xícara. Eu a segurei com firmeza, com as duas mãos. Fechava os meus olhos com o vapor subindo e causando cócegas na ponta do meu nariz. O Chapeleiro se sentou do meu lado e não fez cerimônia para se deleitar da camomila. - Então... - Martelei os meus dedos sobre o balcão, admito que um pouco nervosa. Temia que Stayne nos encontrasse. - Onde esteve todo esse tempo? - Nos olhamos. 

-Oh. - Mordia a sua língua sem querer. - A bruxinha me deixou dormir em sua cabana, esperei a tempestade passar.  

Disfarcei o incomodo que não deveria sentir. - É bom saber que estava bem protegido. - Sorri. - Pedi para que os soldados lhe procurassem, todos faziam busca por Wonderland.  

Terminou de beber mais um gole de seu chá. - E... Como Vossa Majestade estava em... Marmoreal?  

Engoli em seco. - U-um pouco preocupada com você. - Pausei. - Fora isso... E-eu... - Evitava encará-lo. - Estava muito bem, Chapeleiro. - Nascia um silêncio ali, enquanto eu me pegava distraída, observando minha xícara de porcelana. - É melhor que... - Estremeci. - Que você vá embora. - Ele me olhava com as sobrancelhas juntas, numa expressão confusa. - Eu não quero que o meu marido desconfie de mim.  

-Não se preocupe! - Nos levantamos juntos. - O novo Rei também não confia em mim. - Pausou. - É engraçado, n-não?! - Riu, mudando o seu humor. 

Puxei os meus cabelos, alguns fios se colavam com minhas lágrimas e me irritavam profundamente. -  A questão é que quero ficar sozinha! P-pouco me importa se está preocupado comigo, Tarrant! Desejo ficar só! SÓ! E-entende?! - Não lhe dei tempo de responder. - Por que a solidão e a tristeza é o castigo que eu mereço por meu egoísmo. - Caminhei até a janela. Levava a mãos aos lábios, não queria voltar a chorar. - Terei que arcar com as consequências eternamente. Sou a pior pessoa que pisou nesta Terra. E... Não pensei em Wonderland quando permiti que Ilosovic Stayne se tornasse Rei. S-serei a pior Alice de todos os mundos.  

Após o meu desabafo, o silêncio retornava com força.  

Podia escutar a minha respiração, até mesmo a sua: Calma e distante.  

Eu me perguntava o que se passava por sua mente insana ao continuar ali. - Vossa Majestade pode pensar assim. - Dizia. Eu o olhei ao me virar lentamente, meu queixo estava na altura do ombro. - M-mas para mim... - Hesitou. Me virei por completo enquanto ele embaralhava seus próprios dedos, provavelmente pensando no que devia me dizer. - Você é perfeita, Alice Kinsgley.   

Assimilava aquelas palavras doces e carinhosas. O que mais me surpreendia era a sua sinceridade em dizê-las. Me apressei para abraçá-lo, agora minhas bochechas úmidas secavam com o seu terno aconchegante.  

Ele alisava os meus cabelos, como há tempos não fazia. 

Sorri com o estalo de seus beijos em meus cachos, embora não demorasse muito para tentar se separar, mesmo que sua verdadeira vontade fosse me ter em seus braços, era um servo leal ao Rei e prometera não tocar em sua esposa. - Não... - Sussurrei, sorrindo. - Não quero ser privada de abraçá-lo. - Meus braços subiram até a sua nuca, era uma posição mais confortável, principalmente por que podia escutar as batidas do seu coração. 

-Majestade... - Brincava com as pontas dos meus cabelos soltos. - Está tarde.  

Fechei os olhos. - Tem razão. - Trazia meu corpo para mais perto do seu. - É por isso que desejo descansar em seus braços. - Nos olhamos, Tarrant não concordava, tinha certeza disso. - É uma ordem. - Encaixei minha cabeça em seu ombro, sentia o aroma dos seus cabelos, eles me acalmavam. 

Suas mãos limpavam as últimas lágrimas quase secas em meu rosto. Os meus olhos ganharam um peso surreal. - Parece que o seu chá me surtiu efeito. - Murmurava, aproximando o meu lábio de seu pescoço. Ele disfarçava o arrepio que sentia.  

-D-disse que... Stayne pode nos ver, Majestade. N-não quero que se indisponha com ele.  

O observei quando (com dificuldade) abri os olhos. Tarrant me deu um sorriso curto.  

Pensar no Valete me trouxe a agonia de volta. - Não pretendo deitar-me ao lado do meu marido, esta noite.  

Hightopp engasgou-se. - M-mas m-maj-estad-e... - Alisou o meu rosto. - E-eu vou levá-la para o seu quarto, s-sim?  

-Confio em você, Tarrant. - Com seriedade, retruquei. - Sei que não me tocarias. Quero apenas descansar de um dia desgastante. - Avisava. - E ao mesmo tempo, desejo sua companhia. - Sua expressão de abatimento me trouxe a certeza que estava tão exausto quanto eu. - Não atreva-se a discutir comigo. - Murmurei uma última vez antes de fechar os meus olhos, ainda no abraço reconfortante.  

A última parte que me lembro daquela conversa foi ter lhe ordenado com autoridade que me levasse para o grande quarto do terceiro andar de meu castelo, o quarto dos antigos Reis. Pais de Mirana e Iracebeth.  

O típico barulho das chaves encaixando-se com perfeição na maçaneta me fez abrir os olhos. A visão turva não me enganaria: Conseguiria reconhecer aquelas cores e estampas em qualquer lugar. Tarrant certificava-se de que não seríamos pegos.  

Notei que estava no colchão.  

Abracei sua cartola, que encontrava-se descansando ao meu lado. - Por quanto tempo apaguei?  

Hightopp se virou para mim, um pouco assustado. - Só... Alguns minutos, Majestade. Eu não quis acordá-la.  

Observei aquele quarto, tão sofisticado... As paredes, os móveis, o lustre enorme que enfeitava o teto. 

Percebi que nós dois já havíamos nos deitado aqui antes, a única diferença é que dessa vez apenas dormiríamos.  

Talvez por isso estivesse tão desconfortável. 

Me encolhi, agarrando as cobertas. - O que dirá ao Rei se ele perguntar onde esteve? - Se aproximava. 

-Pensarei em uma boa desculpa. - Pausei. - Mas Stayne tem um sono profundo, ele não acordará. - Puxei o seu braço. - Deite-se, por favor, me parece cansado... - Seus olhos fixavam nos meus quando ele permitiu que eu me deitasse sobre o seu peito. 

Suas mãos envolviam a minha cintura. Sua respiração não era mais calma e distante, e sim profunda e tão próxima que me enchia de pensamentos.


Notas Finais


PERCEBEM A DIFERENÇA QUANDO ESTOU INSPIRADA? auhshuashu
Eu super amei escrever este capítulo, espero que também tenham gostado.

*
Sei, fui cruel em parar logo nessa parte. Mas não posso ser muito reveladora huashuauh
Comentem o que acharam sobre este capítulo, houve algumas revelações sobre o Oráculo na primeira parte do cap.
Vocês acham que a Alice vai seguir com o plano de ser uma boa esposa?
Será que o Valete está se apaixonando por ela?
E Tarrant vai cumprir com sua promessa leal de não tocá-la?

Mistérios...

*

Leitores lindos e maravilhosos, se manifestem! Por favorzinho! <3
Obrigada a todos que comentaram, estarei respondendo todos daqui a pouco! Beijinhos!


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