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História Apenas um sonho - Minha consequência 2


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


OS PERSONAGENS AUSENTES VÃO VOLTAR, EU PROMETO!
Desfrutem do capítulo, nos vemos nas notas finais!

Capítulo 62 - Minha consequência 2


Suas mãos me alisavam gentilmente, notei o seu sorriso curto e mesmo com os olhos bem fechados, a Rainha juntava o seu corpo ao meu. Nossas pernas mantinham-se embaralhadas uma nas outras e minhas mãos se atreviam apenas a tocar suas costas.  

Ouvia a sua respiração intensa e me perguntava se estava dormindo de fato.  

Arfou de repente, encontrando abrigo em meu tórax. – Rainha. – Sussurrei. – Está me ouvindo?  

Ela levantou a cabeça para me olhar. Ajeitei-me sobre o colchão. – Estou. – Disse suavemente, enquanto sorria. 

Retribui seu sorriso, mesmo nervoso. Não compreendia o que estava acontecendo e por quê Kingsley desejava estar comigo. – O que estamos fazendo, Majestade?  

Ela reparou o respingo de transpiração descendo por minha testa. -Eu... sei que prometeu ao Rei. – Pausava. – Ouvi o que conversavam mas não posso evitar. – Nossos olhares se cruzavam e nenhum de nós pensávamos em desviá-lo. -Desejo o seu amor.  

Eu me descontrolei um pouco mais com suas palavras. A expressão séria da Soberana me dizia que este era seu verdadeiro desejo.  

Aguardava uma resposta, ou até mesmo qualquer reação minha.  

Suas pequenas mãos tornaram a passear por mim, seus dedos me traziam constante arrepios por baixo das cobertas.  

-Majestade, apesar de... querer muito, nós não podemos.  

-Não entende o que é ter um marido como o Stayne. – Lamentava, no entanto, passou a sorrir, como se em sua mente nascesse uma luz de esperança. – Ele me disse que você ainda está apaixonado por mim. – Por puro impulso, aproximamos nossos corpos. Alice afastou seu roupão, revelando sua camisola de seda. Guiou minha mão por baixo das cobertas até a sua coxa, minha respiração pesava ao tocar na sua pele quente e macia.  

-Ainda me ama, Tarrant? – Deitou-se sobre minhas coxas, recostando sua cabeça em meu ombro.  

Eu não sabia mais por quanto tempo poderia suportar.  

Levantei-me desesperado. – Rainha... – Alice me olhava, certamente notando as lágrimas em meus olhos. Olhava-me em silêncio. – E-eu sinto muitíssimo! – Assistia me afastar.  

- Está dizendo então que não me ama? – Cruzou os braços.  

-U-uh, hum... Não! – meu nervosismo era aparente. Respirei fundo e resgatei um pouco de sanidade. – Eu te amo, Alice. 

-Só palavras não me bastam. – Puxou-me pelo braço, quase me jogando no colchão. – Eu preciso que expresse seus sentimentos.  

Toquei em seu rosto, seus olhos amendoados aguardavam. - Como eu gostaria, Majestade. - A respondi, breve e intensamente.  

Ela abaixou os seus ombros, como se desistisse. Era difícil mudar a ideia de um louco, ainda mais um servo que antes de tudo devia respeito e obediência ao Rei. Alice se acomodou nas cobertas, os olhos bem fixos no vazio do quarto, repleta de pensamentos sobre o amor que eu dizia sentir. 

Amor esse que ela só acreditava em raras noites. 

[...] 

~ Muitos dias depois 

Com o passar dos dias em Marmoreal... Me tornei algo muito além de ser simplesmente o Chapeleiro da corte. Eu era um capacho do Rei, assim como todos os Súditos ali presentes. Embora Ilosovic Stayne gostasse de me dar ordens muito mais do que aos outros. 

No entanto, ser o seu ''escravo particular'' me rendia observar seu matrimônio com a Rainha.  

-Me passe o açúcar, por favor. - Pedia a Soberana.  

Os dois tomavam seu café da manhã juntos, como de costume.  

As jovens criadas e eu aguardávamos ansiosamente para que eles terminassem a primeira refeição do dia, todos estavam famintos. - Querido? - Alice o chamava, assistindo seu marido devorar os últimos pedaços de torta. - O açúcar. - Esticou o seu braço para alcançar sozinha, porém, não conseguia encostar nem mesmo a ponta dos seus dedos. - Stayne, pode pegar para mim?  

-...- Só o ouvia mastigar.  

Me aproximei da mesa longa em que se sentavam e não hesitei em tocar no frasco de alumínio.  

O Rei parou o que fazia por um instante, talvez só para observar o que acontecia ao seu redor. - Obrigada. - Agradeceu a Rainha, sorridente. Tudo que fiz foi assentir enquanto sua mão tocava a minha sem querer. Ela pegou o frasco de açúcar e adoçou o seu chá, como desejava.  

Voltei ao meu posto quando notei o olho raivosos do Rei, focando-se nos meus.  

Abaixei a cabeça embora pudesse perceber claramente a sua tentativa de iniciar uma conversa com a esposa. - Ora minha querida... Eu não havia lhe escutado. - Não tínhamos certeza se era realmente verdade. 

Alice o olhou. - Hum. Parece que nunca me escuta, na verdade, você me ignora quase que o tempo todo. - Acusou, ofendida. 

-Não diga absurdos, meu amor. - Riu de leve. - Eu estava mesmo pensando em conversar com você.  

Ela sorriu. - Tem algo a ver com a lágrima? 

-Penso que os dias tem se passado e ainda não fizemos o discurso de posse! Podemos fazer uma grande festa no castelo! - Propunha. - Só que devemos pensar para onde mandaríamos os... Súditos. - O Rei nos olhou. Mesmo sendo um breve olhar, era carregado de desdenho. - Para a masmorra, talvez. - Sussurrou. 

-Eu não concordo. Masmorra é como um castigo, por que ficariam presos?  

Ele não a respondeu. 

Acho que a ignorava. 

Alice estava certa, ele fazia isso quase que todo o tempo.  

Pensava apenas em si, suas ideias eram leis. Fechei os meus punhos pelo modo como ele a tratava, a Rainha tinha muita paciência em (ainda assim) ser amorosa com seu esposo.  

Stayne limpava a ponta dos seus lábios com o guardanapo quando o jogou sobre a mesa e arrastou sua cadeira para trás. - Nosso café acabou! - Decidiu anunciar, com autoridade. A Soberana se limitou a encará-lo sem entender, afinal, passava manteiga no seu pão pela primeira vez naquela manhã. - Vamos, minha esposa. Eu não quero deixá-la sozinha com certas pessoas. - Puxou o seu braço e a fez soltar a faquinha que segurava.  

-Stayne, mal me alimentei!  

-É para isso que serve a hora do almoço! - Retrucava, ainda sem largá-la. - Queridas, eu quero que preparem um banquete farto para a Rainha logo mais! - Foi tudo o que disse antes de ir.  

Esperamos que eles se ausentassem por completo para nos aproximarmos da mesa. Eu procurava ansiosamente pelo meu chá favorito, mas parece que o Rei não pediu que o fizessem só para me torturar. - Como ele pôde nos tratar assim? Se não fossem os súditos, esse castelo seria uma verdadeira bagunça! - Reclamava uma das criadas.  

-Esse Rei só pensa em si mesmo. - Murmurou a outra, entre sussurros que era possível escutar.  

Eu estava faminto, e só desejava desfrutar de um bom café... Ou ao menos o que sobrou na mesa.  

Pegava um pedaço de torta quando ouvi outra reclamação, vindo da súdita mais nova do Castelo. - Vocês precisavam ver o que ele fez comigo, meninas. - Ela encolhia seus ombros, a olhei brevemente e percebi as bochechas vermelhas. - Tive o desprazer de encontrá-lo no corredor, noite retrasada. 

-E o que houve? - Questionou uma das amigas, tão curiosa quanto eu. 

-Meninas, f-foi terrível! - Exclamava. - Ele deixou claro que queria... - Abaixou ainda mais o tom de sua voz. - Se deitar comigo.  

Todas se espantaram com a revelação. - Pobre de minha soberana, ela o ama tanto! - Opinou a mais velha, que cortava um pedaço de bolo. 

-Pois é. - A moça balançava sua cabeça. - A Rainha Alice foi a primeira pessoa que me passou pela cabeça. Sorte que McTwisp apareceu e ele me deixou em paz. 

-E o que fará? Contará a Rainha?  

-Nunca, jamais! Temo por minha vida, não imagino o que ele poderia me fazer se eu contasse!  

[...] 

-Ora, Mally! Assim você não me ajuda! - Passei a me irritar com a Ratinha. 

Ela fazia questão em criticar todos os meus vestidos. - Eu sei que eles farão uma festa, quero surpreender a Rainha com o meu melhor vestido!  

-Pois pra mim nem a roupa mais bonita mudaria aquela sonsa! - Esbravejou, ignorei sua ofensa, estava ocupado demais procurando o tecido mais adequado para a ocasião. 

-Pensei muito sobre o casamento deles. - Murmurei.  

-Lá vem... - Dormidonga cruzou seus bracinhos. - Não precisa me lembrar o quanto pensa nela!  

-Pare com isso, Mally! - A repreendi por um momento e retornei ao meu raciocínio, talvez o mais insano de todos. - Alice está interessada unicamente na lágrima de nosso Soberano. Ela quer que ele se apaixone por ela... Eu penso que devo ajudá-la!  

-Só os loucos se apaixonam por ela! - Retrucou Domidonga, nada satisfeita com a conversa. - Você me prometeu uma broa fresca por ajudá-lo! Vamos logo com isso!  

Meu raciocínio continuava intacto, apesar das lamúrias de Dormidonga.  

- Tenho certeza que minha Alice só pretende conseguir a lágrima certa. – Sorri. – E depois... Ela ficaria comigo, Mally! – a encarei, cheio de esperança. Recebendo em troca um olhar de preocupação.  

-Não quero que se iluda. – Avisava. – E se estiver errado? 

-Não estou. Alice me ama, só não admite.  

Juntei os três melhores vestidos e o joguei sobre os meus ombros. Sai do meu quarto as pressas, ouvindo Mallynkum se queixar da broa não recebida.  

[...] 

-Majestade. – Bati em sua porta após me certificar que o Rei se encontrava na sala do trono.  

Pela manhã, Alice gostava de ficar em seu quarto.  

E ela não demorou de me atender, possuía olheiras suaves, talvez estivesse com sono. – Eu lhe trouxe vestidos novos! 

A Rainha sorriu com a minha euforia, mas não se deixou contagiar por ela. – Entre. – Abriu sua porta um pouco mais.   

-Não pude deixar de ouvir o que conversavam.  

Assentiu, séria. – Stayne fez questão que todos ouvissem sobre a festa. Ele quer que vocês pareçam insignificantes diante dele. É um egoísta.  -  Me calei. – Mas prossiga. – Se sentou na cadeira mais próxima.  

- Eu trouxe meus melhores vestidos para Vossa Majestade. Veja se lhe agrada! – Os acomodei sobre seu colchão.  

Alice se aproximava, tocava na seda macia de uma das vestimentas. Sorriu de leve. – Está sendo gentil. – Me olhou. – Como sempre. – Parou de admirar as peças. – Mas não posso hesitar em questionar o por quê de sua boa vontade.  

Recolhi meu sorriso. – É meu trabalho, Majestade. – Pausei. – E... Quero que fique ainda mais bela... – Ela desejava uma explicação melhor. – Para o Rei. – Sua expressão confusa apontava que eu não era claro o bastante. – Se está em um matrimônio forçado com o Stayne por causa de uma lágrima de amor, talvez eu possa ajudá-la. Acredito que... hum, eu saiba os gostos de um homem.  

Ela se afastou, rindo sutilmente. – Não foi minha intenção constrangê-la, Majestade.  

Assentiu. – Só... – Me aproximei um pouco mais, por dentro eu me controlava para não tocá-la como gostaria. – Espero que consiga logo o que deseja, assim acabará com esse casamento infeliz o quanto antes. – Nos olhamos. – E Vossa Majestade poderá voltar para mim.  

Ela quase se engasgava com as palavras proferidas. -Eu não sei, Chapeleiro. – Corava. – Não está em meus planos acabar com esse casamento.  

Eu não poderia ficar mais decepcionado. Mas como servo, não deveria transmitir meus sentimentos, como erradamente fiz a pouco. – Perdão.  

-Não que eu ame o Stayne... Mas depois de tantas semanas, passei a gostar dele. Acho que me acostumei, afinal.  

-C-compreendo, Alteza. 

Ela sorriu. – Sua ideia é louca. Ajudar-me a conquistar o Rei. Justo a mulher que diz amar. 

-O que digo sentir não deve mais valer para Soberana. – Retruquei.  

De repente, a tristeza de ambos quanto a esse assunto era explicita. – Não diga mais isso. -Ordenou com autoridade, sua atenção voltou aos variados vestidos sobre o colchão. – Qual gosta mais? – Questionou, alisando um deles.  

Sorri. – Mas... não é o meu gosto que importa.  

- Responda, por favor.  

Examinei os vestidos. – Este. – Apontei para o segundo. Eu a conhecia, e sabia que lhe devia uma explicação. – Esse tom claro de azul combina com Vossa Majestade, e... Tem muitos detalhes delicados, que só quem a reparar de verdade poderá ver.  

Alice reparava em todas as vestimentas. “E qual desses Stayne vai gostar?” questionava a si mesma.  

Alice e Dormidonga estavam certas, essa ideia era um completo absurdo. – Com licença, Majestade. – Afastei-me. Ela assentiu sem tirar seus olhos de meus trabalhos.  

Fechava a porta do seu quarto quando me virei, deparando-me com o Rei no corredor.  

-O que fazia ai? – Foi direto em perguntar.  

-Só pensei que a Rainha gostaria de novos vestidos.  

-Não achei que era louco o bastante para vir até o quarto de minha esposa, sozinho. – Pausou, ele dizia com calma mas sua raiva era visível. – Venha comigo.  

Gelei. – Venha comigo, Hightopp! Ou pisarei em Mallynkum assim que vê-la pelos corredores!  

-Não a machuque, Soberano. Mally nada tem a ver com isto... 

Sem paciência, apertou-me pelo ombro, puxando-me pelos corredores. Eu era arrastado como um prisioneiro até o destino que ele mesmo traçava. Meus dedos se mexiam por ansiedade, me atrevi a olhar para o meu lado direito, a expressão do Rei era séria e obsoleta.  

Com certeza chegava ao seu limite. 

Era orgulhoso demais para aceitar que sua nobre esposa teve um passado com um súdito, ou talvez um mero louco, como costumava dizer. - Pensei em uma boa punição, Hightopp. - Apressava seus passos, levando-me junto.  

Ele apertou o meu ombro um pouco mais, ao ponto de me fazer expressar certa dor.  

Paramos na última porta do corredor, engoli em seco com o seu nervosismo ao encontrar as chaves certas, enquanto isso eu tentava me lembrar que tipo de cômodo era aquele.  

-Verá, Chapeleiro... - Tremia. - Que eu tenho tanta criatividade para criar punições quanto você tem para criar chapéus. - Nos encaramos seriamente. - Ou desculpas para ver minha esposa.  

Por fim encontrou a chave certa, e me empurrou para dentro da sala assim que abriu a porta. Eu caia sobre o chão frio, gemi de dor na certeza de ter machucado o meu braço com a queda.  

Stayne ligava o lustre e passei a reparar em minha volta. Todas as paredes eram escondidas por várias estantes de madeiras, com inúmeras prateleiras.  

Cada uma lotada de tubos com poções mágicas. Encarei o homem a minha frente com certo desespero, Ilosovic Stayne sabia o quanto as poções de Wonderland eram perigosas. 

-Levante-se. - Ordenou rispidamente. 

Eu não tirava os meus olhos dele, não conseguiria.  

Tentava entender suas intenções quando por fim me levantei. Massageava meu braço dolorido. - Parece que... - Ele se aproximava, dei um passo para trás. - Ama mesmo a minha esposa. - Trincava os dentes com tamanho a ódio que sentia. - Eu deveria exterminá-lo como fiz com a sua família.  

Não pude poupar as lágrimas. - V-você os matou por pura maldade. M-m-matou meus pais... Matou c-crianças.  

-Eles deviam ter fugido covardemente como você. 

-E-eu estava protegendo a Rainha Mirana!  

Stayne riu, sua coroa lhe dava liberdade e confiança para dizer o que bem entendia. - Esqueço-me que o seu trabalho é proteger a Rainha, não? P-pois isso era com Mirana, Hightopp.  

-... 

-Mas parece que confunde as coisas. - Pausou, me olhando por um momento. - Eu não deveria esperar muito de você, afinal... É só um louco. - Sorriu, voltando-se as prateleiras... Nas estantes existia o que ele procurava. - Loucura... - Sussurrava para si mesmo. Seus dedos apontavam para cada frasco colorido. 

Até que encontrou um.  

Era um alaranjado bem forte, no qual eu mal conseguia olhar. 

Me lembrava mercúrio, e só de imaginar sentia minha lucidez me abandonar e vagar sem rumo por ai. - O que houve? - Fechei os olhos quando ouvi sua risada. - Sente-se desequilibrado?  

Meus dedos se mexiam. Abri os olhos quando o vi passar por mim e deixar o frasco que encontrara sobre uma mesinha redonda de madeira. Voltava a encarar as prateleiras, mas dessa vez não demorava para achar a poção que procurava.  

Um tubo com líquido vermelho e brilhante.  

Ele o deixava sobre a mesinha, junto ao tubo alaranjado. O Rei avisava, sorrindo: - O tubo laranja é a poção da loucura... E o tubinho vermelho é do amor. – Eu estava tenso o bastante para entender aonde tudo isso chegaria. -  Vou deixar que faça essa escolha sozinho. - Pausou, observando os frascos. - Escolha entre os dois sentimentos que, de certa forma, lhe fazem mal e você deveria evitá-los. A loucura que tenta esconder embaixo de uma falsa sanidade e o amor não retribuído que nem ao menos deveria existir. Amor esse que se tornará mais forte se tomar a poção... - Pegava o frasco, o admirando. -  Se tornará mais frustrante e doloroso... Saber que a única mulher que ama está com o homem que matou toda a sua família.  

As lágrimas voltavam, meu descontrole era óbvio. - O que s-sua esposa vai achar se descobrir que você tentou dormir com outra?  

Imaginei que Stayne teria algum tipo de reação quanto ao meu comentário, no entanto, ele me surpreendia ao balançar os ombros. - Você acha mesmo que vai me chantagear com isso? - Gesticulou para a mesa com as poções. - Escolha, Hightopp. Isso é uma ordem e eu não tenho o dia todo.  

Era a escolha mais difícil de minha vida.  

Ambos os tubos me levariam a Morte.  

No entanto, um deles seria uma morte menos lenta e desgastante.  

Peguei o tubo alaranjado de suas mãos. Tal cor me fazia revirar os olhos e estremecer como nunca antes. Stayne sorria, se deliciando com o prazer que eu lhe proporcionava. Eu tinha conhecimento que, com mais uma dose de mercúrio concentrado eu morreria em poucos dias.  

Estava pronto para sucumbir a loucura quando pensei que Alice poderia sofrer com o meu fim.  

Esse foi um dos motivos para eu ter voltado ao Castelo, afinal.  

Deixei o tubo alaranjado e peguei a poção do amor com certa confiança. O sorriso do Rei aumentou um pouco mais, talvez chegava ao seu limite. 

Levei aos lábios sem hesitar, manchando-os com o vermelho intenso. O gosto de sangue de um coração apaixonado era mais forte quando tomado em quantidades concentradas. 

Limpei meus lábios com o dorso das mãos, sua risada sádica fazia-me ferver de raiva. - Sua vida se tornará mais difícil e decepcionante para você, Tarrant.  

Meus olhos seguravam as lágrimas. - ...  

Ele saiu em seguida.  

[...] 

 Era inicio de entardecer. Passei o dia a evitar a soberana.  

E Alice passou a notar isso, claro que desejava uma explicação.  

- Chapeleiro? – Batia na porta do meu quarto.  

Só de ouvir sua doce voz, o meu coração disparou ao ponto de senti-lo na garganta.  

-Você está ai? – virava minha maçaneta de bronze.  

Abandonei as costuras e me aproximei devagar. – S-s-sim Majestade. – Não imaginei que gaguejaria tanto. Engoli em seco com a aflição que sentia.  

-Você está bem? – Perguntou mesmo do outro lado. A maçaneta ainda se mexia. – Deixe-me entrar.  

-E-eu... – Mordi a ponta da minha língua. – E-estou m-m-muito atarefado, Soberana!  

Pude ouvir os seus passos, ela se afastava, vencida.  

Suspirei, cabisbaixo.  

-Olá Tarrant... – Surgia-se uma nova voz em meu cômodo. 

Junto com um sorriso ao ar, foi-se ganhando a forma de um gato com pelagem azul.  

-Olá Chessur. – O cumprimentei com fraqueza.  

-Eu sei que estou sumido... – Admitia o bichano, eu mal prestava a atenção em seu assunto. – Mas posso ajudá-lo com a nova Rainha.  

Seus dentes pontudos permaneceram no sorriso e seus olhos brilharam com a malícia.  

– Por favor, Cheshire... N-nosso amor não tem mais jeito! Ela casou-se com Stayne. – Murmurei tão deprimido que Chessur desfez seu sorriso. – ...  

Pude perceber a empatia do bichano. – Por favor, saia daqui... Bola de pelos!  

-Devo avisar que temos uma dama na cozinha... – Eu não lhe dava ouvidos, e o transmorfo sabia. – Ela está mexendo em muitas poções... – Voltou a sorrir quando o olhei. – Eu tinha certeza que ia se interessar, Tarrant.  

Destranquei a maçaneta com desespero, desejava me desfazer do amor que passei a sentir por Alice.  

Amor que me sufocava e matava aos poucos.  

Me apressava pelos corredores, apenas torcendo para que não fosse mais um dos jogos daquele bisbilhoteiro.  

Torcia também para não me deparar com Alice pelo castelo.  

Parei na cozinha com o susto que levei. Forcei um sorriso. – Olá, maluquinho! – A Bruxinha me exaltava com animação. 

-Boa tarde, Enid. – Me aproximei do balcão, notando um caldeirão borbulhante tomando espaço. – O que faz aqui?  

Ela sorriu, abandonando a colher de madeira. – Sentiu minha falta? – Pausou, suspirando. – O Rei ordenou que eu lhe fizesse um favor. – Jogava algumas ervas em seu caldeirão, se afastou quando viu borbulhar.  

Me sentei mais próximo. - E que favor se trata?! - Imaginei que era uma nova poção ou algo do tipo.  

A feiticeira limpou suas mãos com um pano e sorriu. - Ora, Tarrant... - Fazia um certo suspense. - É para a Rainha. - Me calei, admito que preocupado. Não sabia o que esperar do Rei.  

-É um remédio feito com ervas naturais... - Sussurrava. - Para torná-la fértil.  

Torci os lábios. - E-está dizendo que isso facilitaria uma gravidez? - A Bruxinha assentiu enquanto voltava a cozinhar sua fórmula especial.  

-Então Alice pretende mesmo ter um filho com o Valete? - Indaguei baixo.  

Enid ouviu o meu suspiro e percebeu a minha tristeza, tão evidente. - Eu sinto muito, Tarrant. - Dizia com sinceridade. - Mas é o meu trabalho. - Ela alisou minhas mãos, focando seus olhos nos meus. - Se isso o deixa melhor, é muito difícil ter um filho sem amor.  

-M-mas se eles tiverem... Significa que se amam.  

A morena torceu os seus lábios. - Eu concordo. - Alisava os meus cabelos. - Oh, querido... Que tal afastar a tristeza com um bom vinho? O Rei me deu carta branca para que eu bebesse e comesse o que quisesse.  

Aceitei sem hesitar. Ela pegava a garrafa mais empoeirada que encontrou, retirava a rosca sem muita dificuldade. - Aliás, depois que ele se tornou Rei... Ele ficou melhor comigo, devo admitir. - Dizia a mulher, enquanto enchia nossas taças. - Cheguei a cogitar se ele queria... - Parou por um instante e sorriu. - Esqueça. - Balançava a cabeça. - Estou aqui apenas pelos feitiços. - Bebemos juntos. Ela me olhou. - E... Para vê-lo novamente, Maluquinho.  

Sorri, ela tocava sutilmente em meu rosto depois de boas doses de vinho.  

Por um momento esquecia de seu trabalho para se aproximar, podia ouvir o som contínuo da sua respiração, tornando-se próxima a cada segundo. - Enid. - Eu a chamei, ela assentiu. - Faça-me uma poção para me tirar o amor que sinto pela Rainha.  

Ela se afastou. - Por que me pedes isso?  

Me levantei, quase tonto. 

Era mais uma das ideias absurdas. - ... - Balancei a cabeça. - P-por nada! - Me apoiei no balcão. - E-es-queç-a! - Enchi a minha taça pela quarta ou quinta vez naquela noite.  

A morena voltou a me olhar, desconfiada. - Diga ou terei que adivinhar. 

Levei a taça aos lábios, tremendo. - Por que me pediu isso?  - Tocava em meu rosto. Alisei sua mão sobre minha bochecha, ela sorriu. - Nunca achei que renunciaria ao seu sentimento.  

Engoli em seco. - Deitado em uma cama de pregos, ela me faz esperar. - Retruquei mais lúcido.  

Suas mãos escorregaram até o meu tórax. - Oh, Tarrant... - Sussurrava a feiticeira. - Tem certeza? N-não acha que está apenas embriagado ou triste?  

Eu não a respondi. - Só... F-faça! E... - Peguei suas mãos. - F-ficaremos juntos se eu esquecê-la completamente.  

Ela agarrou minha nuca enquanto sorria abobalhada, sua mistura no caldeirão borbulhava como nunca mas a feiticeira não pensava em mais nada a não ser em minha proposta tentadora. - Não sabe o quanto seria maravilhoso! - Exclamava feliz, lhe dei um sorriso forçado.  

-Q-que cheiro forte é este vindo da cozinha?! - A voz familiar não nos deu tempo o suficiente para nos separarmos.  

Olhamos juntos em direção a dona da pergunta, só mesmo Alice para questionar o cheiro estranho de um feitiço. - Oh. - Ela parou na entrada, reparava em tudo a sua volta. 

Eu não conseguia esconder o meu sorriso.  

Alice alisou sua barriga. - Eu não sei o que faz aqui. - Dirigia-se para a Bruxa. - Mas acabe logo, esse cheiro está me enjoando. 

-Me perdoe, Majestade! - Pediu Enid. - O Rei me chamou para que eu fizesse uma poção e... 

A Rainha a ignorou ao atravessar a cozinha. - Achei que estivesse ocupado. - Dizia me olhando com indignação. - Mas vejo que degusta vinhos... 

Ri. - R-Ra-inha! - Os meus dentes ainda estavam a mostra, ela cruzou seus braços, olhando-me linda e seriamente. - Minha R-Rainha... M-me perdoe por minha m-má v-vontade! - Mexia os meus dedos, completamente nervoso.  

-Não importa. - Retrucou simplesmente. - Espero que sua má vontade tenha passado, pois estive o dia todo a te esperar para que ajeitasse meus vestidos. Ficaram apertados demais. 

Sorri. - N-não a-achei que t-terminaria a noite v-vendo-a provar v-vestidos.  

Alice corou.  - Lamento tê-lo que arrancá-lo de sua... - Direcionou o olhar para a morena. - Amiga. - Cerrou os olhos, segurando o meu braço e me trazendo para o seu corpo. - Mas como você mesmo gosta de dizer. ''Este é o seu trabalho''. 


Notas Finais


Vamos falar do capítulo? VAMOS! o/
Stayne foi cruel com a punição? E ele está se saindo bem como marido? E a Alice vai lhe dar um herdeiro?

Opa... o Chapeleiro e a Bruxinha haha São a favor de um romance entre os dois?

Leitores, vocês me dariam muito mais inspiração se... COMENTASSEM!
O dedinho de vocês não vai cair não!
Eu acredito que vocês devem pensar ''que autora chata, pede para comentar sempre''. Mas eu preciso, seus comentários são o meu combustível para prosseguir com a história e colocar mais qualidade!
Digam o que está bom, o que precisa ser melhorado, o que vocês gostam... POR FAVOR!

(não pensem nessa nota como uma exigência, mas um APELO de uma autora ocupada que dá o seu tempo para levar vocês ao Mundo da Fantasia!)


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