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História Apenas um sonho - O que o destino reserva


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Vou adiantar aqui que pretendo diminuir o tamanho dos capítulos!

Capítulo 65 - O que o destino reserva


Olhava para o céu de Wonderland. As nuvens o encobriam, roubando a beleza de sua cor.  

Meus olhos estavam tristes, minha respiração ofegante. Ainda me recuperava do que tinha acabado de fazer. No entanto, antes mesmo de restaurar minhas forças, já havia um grande arrependimento em mim.  

Hesitava em olhar para o lado, desejava que por um descuido de minha insanidade, por um engano de minha mente, Alice ressurgisse meus braços. 

Mas apesar de acreditar no impossível, não havia chances disso ocorrer. 

-Tarrant... – Suspirou a mulher, alisando o meu braço que mantinha-se sobre o seu corpo. 

Fechei os meus olhos para que não me visse acordado. Embora suas mãos perseguissem a minha pele, passeando sobre minha barriga debaixo dos lençóis.  

Ela subiu em minhas coxas, misturando nossas pernas e deitando-se sobre o meu peito.  

Ajeitei-me, um tanto desconfortável. A morena exibia um sorriso que não fora retribuído. – Como está? – Questionava, após sentir que minha respiração não havia sido recuperada.  

Suspirei, estava pronto para dizer o quanto me sentia arrependido. – E-então... – Dei um sorriso curto. Ela segurou o meu queixo e me impediu de prosseguir quando uniu nossos lábios para um beijo demorado e cheio de esperanças. Ri um pouco quando ela me soltou, ainda alisava o meu rosto.  

-I-iss-o f-foi... – Hesitava, nervoso. Engoli em seco e observei a feiticeira nua. – B-bom! – Sorri, afinal, como eu poderia lhe dizer? 

Seria errado omitir meus sentimentos. 

-Enid... – Eu a toquei, ela retirou uma madeixa de seu cabelo, que a incomodava. – Eu gosto de você...  

Seu sorriso não caberia mais em suas bochechas queimadas.  

Ela retornou aos beijos, preenchendo cada canto do meu rosto.  

Afastei-me. – M-mas... – O meu sotaque era tão nítido e não havia como disfarçar. Seus lábios desceram até o meu pescoço. Puxei a coberta enquanto a mesma abria suas pernas sobre mim. – P-por favor, e... escute! – Insistia em me beijar, alisar e usar suas formas de provocação para que recomeçássemos. – N-não... – Dessa vez não estava dividido. Segurei o seu rosto, ela me olhava com ternura. 

-Sou a mulher mais feliz de Wonderland. – Me puxou para um novo beijo. – Você é o homem mais amoroso que poderia existir... – Ela gostava de minhas bochechas, pois suas mãos a tocavam sem cessar. – Tarrant... -Suspirou. – Você é maravilhoso, carinhoso... Nunca me deitei com alguém assim. Há tanto tempo desejei que isso acontecesse. – Olhou para o alto, como se agradecesse ao destino.  

Depois do que disse. Eu não tinha coragem para revelar meu arrependimento, mas como uma grande Bruxa que era, tinha certeza que ela sabia.  

-Devo voltar para os meus aposentos. – Mordi minha língua ao dizer.  

Ela se afastou e me deu espaço para que eu deixasse o seu colchão.  

Admito que inspecionei suas pernas entre os lençóis e retornei ao que fazia: Colocava minha calça de alfaiate, sendo igualmente bem notado pela mulher.  

Encontrei o meu cinto caído no chão e o peguei, vestindo a minha blusa social em seguida e tendo o cuidado de enfiar a barra da mesma para dentro de minha calça.  

Ela ainda não tirou seus olhos de mim. – Permita-me? – Queria me ajudar com as abotoadoras que enfeitavam o meu pulso. Estiquei o braço e permiti.  

Ela me trouxe para mais perto, porém não doava sua atenção aos meus botões prateados.  

-Saiba que ficarei o dia todo a sentir sua falta. – Revelou num sussurro.  

Lhe dei um sorriso, forçado como os outros.  

-Continua tão triste... – Notou ao me abraçar e deitar sobre o meu peito, amassando minha blusa. 

Retribui o seu abraço, alisando os seus cabelos longos e lisos. – Ainda pensa nela? – Sua pergunta era como uma afirmação.  

No fundo ela sabia... Mas assenti lentamente para que ela tivesse certeza. -Sabe... – Pensou. -Acho que sei como posso tirá-la de seus pensamentos.  

Me afastei da feiticeira, admito que temia sua ideia. Porém, deixei que prosseguisse.  

Ela se levantou do colchão, usava uma peça de renda para esconder (ao menos um pouco) de seu corpo quando pegou o meu terno e o vestiu. Eu ainda a olhava, em silêncio.  

Ela caminhou em minha direção e me roubou um novo beijo. – Veremos se a Rainha pertencerá ao seu futuro. – A pedra de esmeralda em sua testa brilhou com tais palavras. – Se não pertencer, significa que a esquecerá um dia e ela não reinará em seus pensamentos. – Suspiramos juntos, seu suspiro de alivio e o meu de angustia.  

Segurou minha mão, guiando-me facilmente até sua mesinha de madeira que sustentava uma grande bola de cristal: era roxa, com detalhes dourados. Enid se sentou e fechou os olhos, procurando a concentração que há muito havia perdido.  

Os meus olhos encaravam a bola um pouco incrédulo. Mas naquele momento, eu desejava em desespero que Alice abandonasse meus pensamentos.  

A Bruxa girava suas mãos sobre a bola. Seus olhos se abriram como duas cortinas pela manhã e fixou seu olhar para o núcleo do cristal. -Vejo...- Pressionava as sobrancelhas para ganhar mais concentração, me apoiei sobre a mesinha, quase tombando-a para o lado. – Em seu futuro... – Meus dedos martelavam sobre a madeira com ansiedade. – Uma criança...  

Eu não cairia mais nessas revelações, me endireitei: - Absolem me disse o mesmo! – Avisei, um pouco aborrecido.  

-Sch, amor... – Pediu a feiticeira, lutando para encontrar novas revelações. – Este ser inocente vai procurar sua companhia, vocês terão bons momentos juntos...  

Os meus lábios se esticaram com tal noticia. A feiticeira abandonou a atenção que dava a sua bola mágica e me olhou, por alguns segundos, imaginei que ela soubesse de muito mais detalhes do que aparentava. – E o que mais?  

Ela suspirou, ainda existia a desconfiança em mim. – O que quer saber? – Retrucou.  

Pensei um pouco. – S-sobre a criança! -Respondi, nervoso.  

Enid me olhou, usava suas habilidades para interpretar perfeitamente a minha reação. – Quer saber se essa criança será seu fruto com Alice.  

Meu sorriso se tornava algo que eu não poderia controlar. – E é? – Minha pergunta saiu quase como um sussurro, carregava esperanças de um futuro melhor.  

-Eu não sei. – Respondeu simplesmente, parecendo incomodada. – Pode ser... – Deu de ombros. – Ou pode ser filha da Alice com o Rei. – Voltei a suspirar, dessa vez a feiticeira notou e não fez nada para que aquela onda de tristeza e agonia tivesse fim. – Aliás.. Quem sabe... – Se levantou do seu banquinho, seus dedos perseguiam o meu tórax. – Depois do que fizemos... Possa até ser que eu lhe dê um filho.  

Espremi os lábios. – Ora! E-eu não s-sei o que dizer!  

Ela me olhou sorrindo e voltou ao seu posto, havia mais sobre o meu futuro que desejava revelar, embora a única coisa que me importava era saber se Alice pertenceria à ele.  

-Vejamos... – Ela disse, retomando a concentração. Respirou profundamente antes de gesticular com as mãos sobre a bola de cristal.  

Seus olhos estavam muito bem atentos a mágica diante deles, eu podia notar um certo brilho em sua íris obscura. Seus lábios se afastavam devagar, como uma expressão surpreendida.  

Mantinha os olhos no cristal radiante quando uma lágrima solitária percorreu por sua bochecha e ela afastou o rosto de sua bola.  

Eu não tinha como saber, mas por sua reação...  

Ela havia visto algo impactante.  

-M... – Se aproximou, hesitante... Sem conseguir me dizer. Arqueei minhas sobrancelhas, esperando que os seus devaneios levassem o espanto que demonstrara. – M-morte... – Derramou novas lágrimas.    

Ali nasceu um silêncio que certamente não demoraria para ceder.  

Ela passou a perambular por seu quarto, estava completamente perturbada com sua visão e desejava expor o que havia visto. – M-muito sangue... Direto em seu peito... – Embolava-se, nervosa. – Uma flecha certeira... E você cairá no chão sem ter o privilégio de dar o último suspiro. Depois escuto gritos altos, capazes de espantar qualquer ser curioso que vagava por perto. – Me olhou. – Gritos desesperados de uma mulher.  

-Diga-me... – Segurei os seus braços, ela notou os meus olhos marejados. – Acabe com a minha tortura, Enid... – Ela assentiu, concentrada no verde intenso dos meus olhos. – Esses gritos eram dela? – Pergunto triste. – Alice estará comigo? 

-Se é só com isso que se importa. – Pausou. – Sim. Os gritos pertencem a Rainha. 

Minha mão tampavam meus lábios depois de assimilar o que aconteceria em meu futuro.  

-É m-mesmo t-trágico, n-não? – Ri sem sensatez.  

Estava com medo, e temia a morte por sentir que ela se aproximava.  

– Tarrant... Tenho certeza que será morto, propositalmente. Você precisa lutar por sua vida! – Bradou a mulher, com tristeza.  

-Não imagino o que vem depois da morte... – Assimilei, pensava nas pessoas do meu clã, na minha família que finalmente reencontraria e apesar de não ficar só, eu sei que me sentiria vazio sem sua presença. – E-eu não me sinto bem. – Avisei para a feiticeira que me olhava com empatia. – E-eu... estarei em meu quarto, descansando.  

Passei por ela e saí, caminhava apressado pelos corredores. Minha mente perturbada não desejava encontrar ninguém, eu só almejava estar sozinho para repor meus pensamentos.  

Apoiei meu corpo na porta, assim que cheguei aos meus aposentos. Suspirei com um pouco de alívio e deslizei minhas costas sobre a madeira, percebendo que havia deixado meu terno e minha cartola com a Bruxa, embora isso não importasse no momento.  

Avistei sobre a maldita escrivaninha a solução que eu necessitava no momento.  

Eu sabia que os meus pensamentos insanos não me permitiriam descansar. E não era só o meu futuro que me preocupava.  

Pensava no que acabara de acontecer em poucas horas: Alice se foi, e eu tive uma atitude que jamais pensei em ter.  

Nunca imaginei que me deitaria com outra mulher.  

Afastei os cabelos do meu rosto. Meus olhos permaneciam fixados no pequeno vidro sobre a mesinha.  

Era como se ele me chamasse.  

Fui atraído a ele quando me levantei e o agarrei em desespero.  

A poção do sono 

Ela me levaria para outro Mundo, um Mundo que me fazia questionar se era real ou não.  

Eu a bebi sem hesitar. Cada gota até sentir os efeitos sobre o meu corpo. Repousei sobre o colchão e fechei os olhos vagarosamente.  

~*~  

Encontrava-me no mesmo lugar: Em meu quarto.  

Estava bagunçado como de costume, mas no sonho a minha cartola encontrava-se sobre a cabeça de um manequim feito de arame. Antes de apanhá-la, percebi o vestido deslumbrante que tirava a beleza dos demais.  

Era azul turquesa, uma cor tão exótica quanto Wonderland.  

Estava sobre o meu colchão, junto a outros vestidos que não me chamavam a atenção.  

Acima de sua saia volumosa, havia um pequeno bilhete.  

Eu o peguei, mas antes de ler, admirei uma outra vez a obra prima que chamava de vestimenta.  

Sorri, e os meus olhos se voltaram ao pedaço de papel um tanto amassado em minhas mãos.  

A grafia com letras trêmulas e a mancha de chá no canto do bilhete indicava que era um recado meu.  

“Entregar a Rainha.” – Apenas uma frase foi capaz de acelerar o meu coração.  

Me sentia perdido naquele sonho. Não sabia quando deveria entregar, ou se precisava de alguns ajustes.  

Somente existia a certeza dentro de mim que eu veria a minha Alice naquele sonho.  

Minha Alice...  

Eu só precisava entregar o vestido...  

“ Quem sabe, onde ela estiver agora... Possa estar sonhando comigo. “ – Sorri.  

Não perdi o meu tempo. Peguei o belo vestido, decidido a entregá-lo.  

Sai do meu quarto e atravessei inúmeros corredores, o castelo parecia muito mais espaçoso naquele sonho. Talvez seja só uma pequena tortura de minha mente.  

Meus pés não cansavam de andar.  

O mais desesperador era ter a sensação de estar sozinho.  

Não se via o Coelho Branco ditando regras no corredor, nem mesmo Cheshire me perseguindo.  

Muito menos a voz de Stayne, ordenando qualquer coisa com autoridade.  

Parei no meio do corredor. Quinto andar...  

O Quarto Real era o último lugar do castelo que eu entraria. Mesmo sendo apenas um sonho.  

Mas nada me impediria de vê-la.  

Desci as escadas, tropeçava em meus próprios pés que se embaralhavam no degrau.  

Estava quase perdido quando cheguei ao terceiro andar.  

Ouvia gargalhadas.  

Vinha do penúltimo quarto do corredor.  

Apressei-me.  

E com a saudade, cometi um pequeno erro ao entrar sem bater.  

As risadas cessaram.  

Encontrei os irmãos Twedlees brincando com os travesseiros de pena da Rainha, subiam em seu colchão junto com uma menina de olhos escuros. 

Eles pararam para me olhar.  

Eu os olhava.  

Eu sabia que não eram reais.  

Mas aquela menina era minha.  

Minha filha.  

A pele era pálida mas com bochechas rosadas, seus olhos eram grandes e ela estava completamente despenteada. Mas havia uma tiara de pérolas em volta de sua cabeça.  

Os instantes se passavam e certamente, eles se perguntavam o que eu fazia ali.  

Balancei a cabeça para afastar os pensamentos. – E-e-eu e-estou... – Alice ainda era o “motivo principal” de minha presença. – E-eu procuro... – Deixaram de me dar atenção quando a pequena retornou a guerra de travesseiros que faziam. Algumas penas agarravam em seus cabelos avermelhados. Sorri. E sua gargalhada tão gostosa só me fez observá-la mais.  

Os meninos a batiam. Cada um com seu travesseiro.  

Ela se deitou rendida no colchão, enquanto permanecia sendo o alvo dos gêmeos.  – Por favor... E-escutem!  

Todos pararam.  

Balancei  o vestido sobre meus ombros. – Onde está a Rainha? Aliás... – Eu não cansava de encará-la. – O que fazem aqui?  

Aqueles olhos redondos inspecionaram o quarto, até que revelou: - Estamos brincando! – Disse a pequena desgrenhada.  

- O Rei vai nos castigar se ver toda essa bagunça! – Tweedlee-Dum era o mais medroso.  

Minha pequena atirou seu travesseiro após se recuperar, e todos recomeçaram a brincadeira outra vez. – P-por favor, me digam onde está a Rainha! – Suspirei, por um momento desisti de encontrá-la.  

Retirei do bolso o bilhete que eu lhe fiz. As risadas abafaram o meu suspiro. – Alice... – Sussurrei o seu nome, meu coração se apertava.  

“Toma essa!” – Fui acordado dos devaneios com um grito, vinha de um dos irmãos. No momento, não sabia qual.  

Ele arremessou o travesseiro sobre o rosto de minha pequena criança.  

E a beira do colchão, não teve tempo de se equilibrar.  

Me senti a pior pessoa por não ter tempo de impedi-la de cair.  

Ela parou no chão, seu rosto exibia sua dor enquanto suas pequenas mãos procuravam o lugar da perna em que mais doía. Joguei o vestido num lugar qualquer e corri para socorrê-la.  

Os Tweedles correram, sumindo do quarto rapidamente, essa seria a atitude mais realista que poderiam ter.  

Mas tudo não se passava de um sonho. Até mesmo aquela doce criança que se queixava de dor.  

– Não mecha... – Toquei em sua perna, ela parou de bradar, estava encolhida  e assustada quando viu um pequeno corte em seu joelho. O sangue escorria por sua perna e manchava seu vestido branco. Ela ameaçou chorar novamente. – Isso não foi nada... – Ri um pouco, afim de acalmá-la. Peguei um retalho qualquer em meu bolso e limpei sua ferida que não me era tão profunda.  

Ela me olhava, tão séria e linda.  

Eu procurava em seu rostinho alguma feição que me lembrasse a Alice.  

Mas simplesmente não conseguia encontrar.  

Sorria abobado para a pequena, que aparentava ter três ou quatro anos. – C-como... – Juntei as sobrancelhas, estava nervoso por não achar nenhuma característica que me lembre Kingsley. – Como se chama?  

Talvez tenha estranhado a minha pergunta. Pois fixou seu olhar para o meu terno. Algo chamava a atenção de minha pequena, passei a procurar o que tanto a distraia.  

Era um bolo de fitas de cetim presas ao meu bolso. – Você quer? – Ela assentiu e de imediato, a entreguei.  

Aproveitei sua distração para tocar nos seus cabelos, eram brilhosos e macios. Um pequeno sorriso escapou dos seus lábios, seus dedinhos se enrolavam nas fitinhas coloridas quando me olhou. – O que tinha perguntado?  

Talvez fosse só uma armadilha de minha mente insana.  

Mas sua voz era como a de Alice.  

Isso só me deixou mais abobalhado. – Eu perguntei como se chama! – Esperava por uma resposta ansioso.  

Não via a hora de descobrir o nome de minha filha.  

No entanto, ela abaixou sua cabeça e me devolveu as fitas que tanto lhe encantaram.  

-Me chamo Valentina. – Respondeu com certo pesar. Eu não compreendia sua atitude. – Você é o homem dos chapéus, não?  

Suspirei, assentindo. – Você é um súdito. – De repente, se afastava de minhas mãos que tocavam delicadamente seu rosto. – Não pertencemos a mesma classe social. Não podemos conversar.  

Eu não tinha reação alguma.  

Como uma criança poderia ter um pensamento tão abominável?  

Ela apoiou suas mãos no piso e se levantou, mancava um pouco mas parecia bem.  

Eu permanecia sentado, pensativo.  

~*~  

Voltava a minha triste realidade, mas o sonho que tive não saia dos meus pensamentos. Era para ser mais um daqueles sonhos que eu me pegaria relembrando dias depois, mas admito que não me sentia feliz com o que havia sonhado. 

Hesitei um pouco, até por fim bater em sua porta.  

Não demorei a ser atendido.  

A Bruxa sorriu ao me ver, usava um vestido roxo e o meu terno mantinha-se por cima dos seus ombros. – Eu sabia que retornaria! – Exclamou confiante, se jogando em meus braços e me roubando um beijo.  

Dessa vez consegui me soltar de imediato. – N-não foi para isso que vim! – Respondo constrangido, afastando suas mãos de meu pescoço. – Eu queria conversar com você.  

Ela limpava o canto de seus lábios quando me olhou maliciosamente. – é claro, Maluquinho. Entre. – Abria mais sua porta.  

Entrei.  

-Algo o perturba. – Murmurou a morena, cruzando os seus braços.  

Mais uma vez estava certa.  

Eu me sentei no seu colchão, olhava frustrado para a Bruxa quando suspirei. – Eu tive um sonho... – Sorri um pouco quando mentalizei o rosto da pequena. – S-sonhei... Com uma menina... – Enid me ouvia com atenção. – E ela... – Arfei. A feiticeira se aproximou. – Era minha filha.  

-Oh, Tarrant... Não diga? – Ela se sentou sobre minhas coxas, admito que não me sentia bem com isso mas decidi ignorar. 

Apenas assenti. – E como sabe que era sua filha? Ela lhe disse?  

Neguei. – M-mas... Era igual a mim! Seus olhos eram grandes, ela era ruiva... -Me forçava a lembrar de novos detalhes, porém, nada me vinha a mente. – Eu perguntei o seu nome.  

A mulher se ajeitou em meus braços, atenta as informações e aos meus olhos. – Deixe-me adivinhar. – pediu, tocando o meu rosto. – Ela se chamava Valentina, não?  

Me levantei espantado. – S-si-m. – Estremecia.  

-Bom... – Ela mexia em seus cabelos. – Sempre gostei desse nome. E creio que você também. Parece que temos algo em comum.  

Balançava a cabeça, enlouquecido. – Como sabia o nome dela?! 

- Não se exalte, amor. – Fez uma pausa sutil, aproveitando para me abraçar. – Era apenas um sonho, mas como eu lhe disse... Quem sabe posso lhe dar um herdeiro.  

- Não! – Ela se assustou com a minha reação. – Ela era da Alice!  

-Ora, e como tem tanta certeza?  

-Ela disse que não éramos da mesma classe social... – Revelei com tristeza. – E não poderíamos conversar. Essa com certeza foi a pior parte daquela fantasia.    

-Não devíamos mesmo, Tarrant. Você é um plebeu e eu sou uma bruxa; - Admitia. – Mas não posso ficar sem você.  

Apertei seus pulsos, a Meretriz parecia gostar de minha violência repentina. – Não tente me confundir.  

Eu a olhei, mas admito que os seus olhos eram tão escuros quanto os de Valentina.  

Não podia imaginar nem mesmo por um descuido, ter filhos com outra mulher.  

-Devolva o meu terno. – Pedi com certa rigidez.  

Ela abaixou seus ombros mas não relutou em devolver. – Chesur pegou sua cartola. Não pude evitar.  

Assenti, enquanto o vestia.  

Enid permanecia a me admirar em segredo. – Por favor, ao menos me deixe ficar com ela. – Seus dedos pousaram em minha gravata borboleta, ainda frouxa. – Como lembrança do que fizemos, Tarrant.  

O que eu deveria fazer? Ela parecia sentir por mim algo que jamais sentiu por outros.  

Puxei minha gravata colorida, ela a pegou, deixando o cetim tocar em suas bochechas.  

Pensei em Kingsley, ela nunca abandonara meus pensamentos.  

Wonderland estava um caos e era o meu dever procurá-la.  

## 

“Alice acordou. “ – Ouve-se a voz de minha irmã mais velha.  

Eu me escondia atrás de uma coluna, perto do corredor.  

Margareth sorria, mas não era retribuída com a mesma reação positiva. Hamish afrouxava sua gravata quando levantou o seu rosto, sério. “E como ela está?” – Não havia um pingo de preocupação em sua pergunta, apesar de parecer.  

Eu só podia sentir o interesse de Ascot por trás do meu despertar.  

“Ela está bem. “ – Revelou dando de ombros. “ disse que teve uns sonhos. “ – O Ruivo arfou com aquela frase.  

“Sonhos e mais sonhos! Alice certamente está mais louca do que antes!”  

“Schiu, não diga isso... “ – Margareth se calou por uns instantes. “ Mas admito que..  Ela me disse algo que me fez estranhar. “ – O olhou. – “Disse que está grávida...” 

“Impossivel!” – Zombou Ascot. “Eu pedirei o divórcio, Alice passou meses sem cumprir sua obrigação como esposa. Não deveríamos casar. Foi um erro” – Era severo ao dizer.  

“Mas e o acordo com a minha família? Vamos a falência se terminarem com o casamento. “ 

Hamish sorriu. “Você sempre foi mais sã, e está divorciada. “ – Pegou em sua mão.  

Minha irmã sorriu nos primeiros instantes, ambos olharam para o lado, procurando se não havia ninguém a espiá-los. – “Depois de todos esses meses, passei a amá-la Margareth. Você esteve sempre por perto... Encontrei suas qualidades...“ – Minha irmã abaixou a cabeça. “Aceite se casar comigo.” 

“Não...” -Hesitava quando o olhou. “ Não sei... “  

Sorriram. 

Eu não poderia jamais sentir repulsa pelo o que ouvi.  

Apesar de ser o homem destinado a mim por anos, nunca nasceu nenhum afeto por minha parte.  

Eu nunca o amei.  

[...]  

-Entre! – Pediu ao escutar batidas do outro lado.  

Entrei, era um pouco mais de nove da noite. Margareth preparava a sua cama quando parou ao me ver. – Como está, minha irmã?  

Ocultei a parte do enjoo ela não acreditaria mesmo.  

– Estou bem. – Afofei o seu travesseiro. – Imagino o quanto está cansada, por que não se deita?  

Ela aceitou, rendida. Puxei a coberta para aquecer seu corpo. – Posso lhe contar uma história?  

Margareth estranhou. – Você me contou tantas quando eu era pequena, eu preciso retribuir.  

- Pois bem. – Ajeitava-se. – Adoraria ouvir uma boa história.  

Sorri. – É sobre dois seres mágicos, que nós, mortais... Sempre ouvimos  falar. – Pausei. – Um era a Vida. E o outro... A Morte. A Vida sempre se esforçou para cumprir os seus deveres, ela cuidava dos pássaros, insetos... Até mesmo das plantas. Mas nunca fora reconhecida por seu trabalho. – Margareth me escutava. – Ela se sentia inferior por não ouvir os animais lhe dizendo o quão bela era a Vida... Não existia nem mesmo um agradecimento por ela. Logo ela, que era responsável por toda a linda natureza.  Mas mesmo triste, ela realizava o seu trabalho. – Suspirei. – A Morte também tinha o seu dever, mesmo não se orgulhando do que fazia, ele complementava o trabalho da Vida quando chegava a hora de levá-los. Ele era responsável por toda a rosa que se murchava... E todo o animal que caia sem Vida na terra seca. Apesar do seu trabalho ser odioso. Ele era muito respeitado e reconhecido. – Suspirei. – Todos falavam da Morte! Todos sabiam de sua existência, apesar de não vê-lo... – Balancei a cabeça. – A Vida, é claro, invejava o mérito que a Morte recebia. Mas no fundo, ambos se amavam em segredo.  

-E o que aconteceu?  

Sorri. – Uma hora eles tinham que se declarar um para o outro. E foi o que fizeram, a Morte revelou o seu amor pela bela Vida e descobriu que era retribuído. No entanto, o sentimento deles era perigoso para a natureza, pois naturalmente, eles deviam ser inimigos imortais.  

-E o que decidiram?  

-Lutar pelo amor... A Vida estava apaixonada, e esse sentimento era tão bom para ela que sua existência ganhou mais sentido. Eles sempre se encontravam no bosque, eles faziam juras de amor, prometendo jamais abandonar um ao outro. – Pausei. – A Vida era importante, afinal, ela precisava estar presente em todos os momentos especiais de seus seres. Foi em uma bela tarde que a Vida se fazia presente em um casamento real, num lindo jardim, como ela não era vista, decidiu se fazer presente na primeira fila de bancos, ela observava os convidados, a maioria portava lencinhos de papéis para limpar as lágrimas, os olhos do noivo também marejavam com a emoção que sentia. Tudo corria bem quando a Vida ouviu as palavras do Padre. 

-Que palavras? -Envolvia-se Margareth, curiosa.  

-“Promete amá-lo e respeitá-lo, até que a Morte os separe. “Disse o Padre. – Pausei. - Naquele momento, A Vida percebeu então que... - Um sorriso melancólico se formou em meus lábios sem perceber. - A Morte mentiu, que ele jamais... - Balancei a cabeça, olhava para a minha irmã. Ambas muito envolvidas com a história. - Jamais poderia amá-la. Pois depois da Morte, não  há mais amor. 

-O que fizeram? - Uma lágrima escorreu por suas bochechas.  

-A Morte se desesperou, ele foi até sua Vida, clamando para que ela acreditasse em seu amor. Mas era tarde demais, a Vida tinha o seu coração partido e mesmo querendo acreditar que estava errada, jamais poderia. - Suspirei. - Ele era um assassino de sentimentos e não poderia possuir amor. A vida estava arrasada quando relembrou o que viu na cerimônia. - Me aproximei de Margareth e molhei os meus dedos ao tocar sutilmente ao redor dos seus olhos. -  Ela queria a representação mais sincera de sentimentos. O que havia visto ser derramado dos olhos do noivo, no altar. 

-Uma lágrima. - Sussurrou. 

-Uma lágrima de amor. - Complementei. - E foi isso que a Vida pediu a Morte, esperando conseguir o que almejava. No entanto... Ela ficara surpresa quando a Morte revelou que não havia luto na Morte, nem lágrima... Nem pranto algum. No fim, a Vida... Tão orgulhosa... Não admitiria outra forma de amor que não fosse as gotas salgadas e preciosas de uma alma apaixonada. Até os dias de hoje, a Morte procura uma lágrima de amor verdadeiro. 

Margareth secava os seus olhos e regulava sua respiração, meio pesada. - De onde tirou essa história?  

Me levantei, séria. - É apenas uma fábula qualquer.  

-Não parece ser... - Murmurou minha irmã, ainda tocada.  

-Mas... - Me aproximei. - Se eu lhe pedisse a sua opinião quanto ao o que acabou de ouvir. - Ela assentiu. - O que faria se estivesse no lugar da Morte. C-como conseguiria a lágrima certa, minha irmã?  

Se permitiu pensar. -Diria que... A Vida foi egoísta. O amor precisa ser sentido, e não necessariamente, mostrado. Ela pediu a ele algo impossível só para que ele mostre a ela, não há lágrimas na Morte pois o pranto é só uma dádiva dos vivos. - Levantou, confiante. - Dos que tem Vida. A lágrima que restauraria o amor deles, viria dela. Da Vida. - Fechou seus punhos, com a certeza das suas palavras. - E quando ela por fim, percebesse que ainda há amor, valerá a pena lutar por esse sentimento.  

Me calei.  

-Ela não era reconhecida por seu trabalho, Alice. Porém, também não reconheceu o quanto o amava e deixou que tudo se perdesse.  

-... 

-Ela é a culpada por tudo.  

-Margareth... - Juntei as sobrancelhas, admito que intrigada. - Há pouco, acabo de rasgar minha certidão de casamento.  

-Alice...? - Me chamou com espanto, enquanto levava a mão ao peito.  

-Por favor, case-se com Hamish. Salve a nossa família. E-eu... tenho uma missão a cumprir. 

Ela pegou em minhas mãos, como se não quisesse me deixar escapar desta realidade. Não de novo.  

- Por favor... – A abracei. – Não me procure. – Sorri. – Voltarei um dia, Margareth. – Sussurro no canto de seu rosto. – Boas lonjuras.  

[...] 

Havia retornado.  

O céu de Wonderland estava encoberto por nuvens, eu me encontrava em um das centenas de bosques do Pais Das Maravilhas.  

Ao longe, ouvia a marcha dos soldados, certamente a procura da Rainha perdida.  

Embora eu pensasse apenas em uma pessoa, em especial.  

O homem que me agraciou com um ser que passei a carregar em meu ventre.  

Eu não poderia gritar por seu nome, não gostaria de ser encontrada.  

Ao menos, reconhecia aquele lugar, principalmente a caverna úmida a minha frente.  

As lenhas que ele carregou ainda estavam aqui.  

“Alice!” – Ouvi sua voz, não muito longe. Soava um desespero incomum.  

Corri, me desviando das árvores altas. Meu coração acelerava e havia uma pequena festa interior em meu ventre.  

Me guiava por sua voz.  

-Tarrant. – Sussurrei ao parar em meio as folhas e lamas pelo chão.  

Ele estava de costas, mas não tardou a se virar. – Alice? – Sorria.  

Por um momento me esqueci que era casada.  

Que era a Rainha desse Mundo.  

Agi por impulso ao correr em sua direção.  

Eu o abracei com força, como nunca havia feito antes. Enlaçava minhas pernas no tronco de seu corpo enquanto suas mãos seguravam parte do meu traseiro e minha cintura. – Me perdoe por ir embora, Tarrant! – Solucei.  

E calei sua futura resposta com um beijo.  

Ele apertou a minha nuca e nossos lábios se encaixaram mais perfeitamente. Nossas lágrimas salgavam aquele beijo quando Hightopp me pôs no chão, de pé.  

Ajeitou os meus cachos emaranhados enquanto eu observava sua boca pequena e carnuda. Voltei a beijá-lo e sorri entre o beijo quando vi os seus dedos se remexerem, mania sua que há muito não se via. Ele puxou minha cintura e nossos corpos se juntaram.  

Segurei sua nuca, seus cabelos se misturavam entre os meus dedos quando os soldados nos separaram daquele beijo.  

Voltei a realidade, eu era a nova e muito bem casada, Rainha de Wonderland. 


Notas Finais


Achei que aconteceu muitas coisas nesse capitulo... pode ter ficado confuso pra vocês!
Mas vamos lá... Sobre o futuro do Tarrant, será que ele vai ser morto mesmo?
E a confusão com a bruxinha... Isso pode dar um problema para Chalice hahahaha já que adoro uma tretinha.
O que acharam da Valentina? Gostaram do sonho? Admito que faz muito tempo que não escrevo cenas de sonhos, espero que tenha ficado bom!
E sobre a resposta da Margareth quanto a lágrima...
Será que ela está certa? será que essa é a resposta???

Por favor, peço que comentem! como eu disse antes, a fanfic está chegando ao fim e eu preciso do apoio dos meus leitores, não quero um novo bloqueio criativo.


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