Capítulo XVI
Harry — Londres, Inglatera
Acordei com o sol invadindo o quarto e me dando um ‘bom dia’ caloroso. Respirei fundo e me virei, passando a mão do meu lado e não sentia a Manu. Abri os olhos procurando por ela e logo pude localizar ela na ponta da cama, a ponta de rolar mais uma vez e cair. Levantei-me e a peguei no colo, colocando ela na posição certa. Sentei-me ao seu lado e peguei meu celular vendo algumas mensagens de minha mãe que logo tratei de responder.
Desliguei o celular e me levantei indo em direção ao banheiro, onde fiz minha higiene matinal. Vesti minhas roupas e logo tratei de sair do quarto. Desci as escadas e assim que fui me aproximando da cozinha ouvi um choro baixo. Abri a porta e entrei, vendo Noemi sentada à mesa olhando algumas fotos antigas enquanto chorava.
— Está tudo bem, Noemi? – perguntei me sentando ao lado dela na mesa. Ela me encarou e deu um pequeno sorriso em meio às lágrimas. — O que aconteceu?
Ela limpou as lágrimas e encarou uma foto que tinha uma menininha ruiva com alguns cachos sorrindo com o rosto sujo de sorvete. A menina estava esticando o sorvete, o oferecendo para alguém, enquanto sorri bem grande. Uma foto linda.
Noemi passou os dedos pela foto, admirando cada detalhe.
— Nessa noite eu fui embora, Harry. Abandonei a minha filha sem me despedir dela. Eu deveria ter ficado e cuidado dela, eu não deveria ter deixado de fazer parte da vida dela. Eu não deveria ter deixado o tempo passar. – disse baixinho, enquanto guardava a foto e pegava outra. — Eu devera ter sido uma mãe melhor, mais atenciosa e presente... Apesar de já ter passado quase 18 anos eu vou tentar novamente.
Dezoito anos? Ela já tem quase dezoito anos e ninguém me disse nada sobre isso? Respirei fundo, aguardando que ela falasse mais alguma coisa... Mas ela não o fez.
— Não imaginei que ela tivesse quase dezoito anos. – fui sincero. — Ela não aparenta tal idade. Mas quando será o aniversário dela? Poderíamos organizar algo.
— Daqui uma semana. – disse simples, tomando um gole do café que estava na sua xícara. Suponho que o mesmo esteja gelado. — Gostei da sua ideia, podemos amadurecer ela.
Emanuele — Londres, Inglaterra
Acordei com meu celular vibrando. Resmunguei e peguei o mesmo, ainda sonolenta, desbloqueei e pude ver que era uma mensagem da Sabrina. Praguejei-a mentalmente passei a mão em meu rosto, ignorando sua mensagem. Prendi meu cabelo em um coque, me espreguicei e me obriguei a sair da cama. Fui até meu roupeiro onde separei uma muda de roupa e peças íntimas. Caminhei para o banheiro onde eu fiz todas as minhas higienes pessoais bem devagar, por conta da falta de coragem e força de vontade.
Tentei sorrir olhando-me no espelho, mas não consegui. Abri a gaveta e pude ver minhas lâminas, que sempre me ajudaram em momentos de dor e sofrimento mental e físico. Peguei uma delas e passei em minha pele, vendo a enxurrada de sangue sair e cair no piso branco do banheiro. E, infelizmente, a sensação de alívio se apossou de mim.
Ouvi passos dentro do quarto e tratei de passar a chave na porta.
— Manu? Você está no banheiro?
Respirei fundo e enrolei a lâmina em um pedaço de papel higiênico. Caminhei até o box e o adentrei, abrindo o registro.
— Estou, mas não irei demorar.
Entrei embaixo d’água a sentindo passar por todo o meu corpo. A água entrou em contato com meus cortes e estava ardendo muito, porém não tanto como a minha alma. Minutos depois eu terminei meu banho e me vesti. Ajeitei meu cabelo e usei produtos de higiene pessoal.
Saí do banheiro e me deparei com Harry sentando na cama. — Pensei que você tivesse descido... Bom dia, Harry.
Harry deu de ombros e se levantou e se aproximou. Ele me envolveu em seus braços em um abraço quentinho e aconchegante e logo depositou um beijo no topo da minha cabeça.
— Bom dia moça cheirosa. O que iremos fazer hoje?
— Acho que deveríamos passar o dia com a sua mãe e a sua irmã. – disse simples, saindo do quarto. Ele sorriu pequeno. — O que foi? Não gostou da ideia? Vocês estão bem?
Ele coçou a nunca e respirou fundo, me encarando.
— Você já pensou em dar uma segunda chance para a sua mãe? Sua mãe parece realmente estar chateada pela negligência dela. Ela se arrependeu. Eu a vi chorando vendo algumas fotos sua da infância, foi de cortar o coração. Sei que ela se foi e te deixou, mas não quer dizer que ela não te ama. Ela te ama muito, assim como eu.
O encarei, sorrindo enorme e vendo suas bochechas ganharem um leve rubor.
— O que você disse Edward?
— Eu? Não sei do que você está dizendo, Manu.
— Admita Harry, você disse as três primeiras palavras primeiro! – disse rindo e pulando em cima da cama, como uma criança. Fiquei feliz em saber que o sentimento é recíproco, mas fiquei com um pé atrás em relação a minha mãe. Harry se aproximou e me puxou pela cintura. Ele segurou em meus pulsos e se sentou comigo em seu colo. — Você ‘tá me machucando, Harry, me solta.
Ele me deu um beijo e logo me encarou, fazendo um biquinho.
— Por que eu deveria te soltar? Soltarei-te se você me der um ótimo motivo, mocinha. Quero ser convencido.
Harry beijou meu pescoço e eu pude sentir uma carga elétrica passar por meu corpo. Suspirei e senti os seus beijos descendo por meu corpo, mas a dor em meus pulsos estava ficando insuportável. Dei um gemido de dor e me afastei.
— É sério Harry, me solte, você está me machucando.
Choraminguei e ele me soltou, me encarando de forma estranha. Harry segurou meus braços e puxou a manga da camiseta. Ele respirou fundo e me encarou triste.
— Há quanto tempo você faz isso? Responda-me e sem enrolações, por favor.
— Não sei, mas muito tempo, imagino que desde meus 14 anos.
— Por que você se machuca assim, Emanuele? Por que você se fere?
— São diversos motivos... Acho que o pior e o maior deles é o fato de que eu não tive um núcleo familiar, amigos verdadeiros e tudo o que uma criança/adolescente almeja. Então me cortar era o meio mais fácil de me proteger e aliviar.
Algumas lágrimas estavam escorrendo por minhas bochechas. Eu me sinto fraca e sem forças para fazer algo. Harry me abraçou forte, me passando segurança.
— Por que você não procurou ajuda?
— Para que? Para ouvir que eu só queria chamar atenção? Só preciso de um tempo para me organizar novamente, não precisa se preocupar. Eu ficarei bem.
Harry suspirou fundo, passando a mão de forma delicada em meu rosto.
— Você já conseguiu ficar algum tempo sem se machucar? Se conseguiu foi por quanto tempo?
— Um mês. Foram os 30 dias que eu passei aqui, eu me senti bem e não senti necessidade de machucar. Sei que não é muito, mas foi o tempo que eu consegui ficar. Podemos mudar de assunto agora?
Ele segurou meu rosto entre as mãos, encostando nossas testas e fungando baixinho.
— Sempre estarei aqui com você, pode contar comigo sempre. Nós iremos conseguir passar por isso juntos, vamos superar tudo isso. Preciso que confie e que seja sincera comigo.
Concordei com a cabeça e Harry me abraçou passando uma sensação de proteção, carinho e amor e eu pude relaxar, sabendo que eu estaria a salvo de mim mesma.
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