História Apenas uma Fã - Capítulo LII

Capítulo LII

Ponto de Vista da Autora 

Dois dias haviam se passado desde do acidente de carro de Emanuele, no entanto, a situação estava tornando-se pior gradativamente. Durante esse tempo, Emanuele passou por uma cirurgia para a retirada de uma parte considerável de seu fígado, o que tinha sido atingido pelas ferragens. Seu tipo sanguíneo – AB – não é encontrado com facilidade, o que apenas atrasa as transfusões de sangue; dentro de seu grupo de amigos e familiares, ninguém era portador deste tipo sanguíneo.

O desespero estava batendo na porta, dando um ‘olá’ de forma sútil. As esperanças estavam fazendo as malas, como se fosse um ‘tchau’. E, inevitavelmente, a dor estava apenas aumentando.

A dor do jovem noivo aumenta todas as vezes que vai em casa, quando percebe seus filhos aproximando-se de si com sorrisos brilhantes na expectativa de ver a mãe e percebendo como eles desaparecem em frações de segundos quando ela não está ali para acolhê-los. Harry sempre era bombardeado com diversos questionamentos pelos gêmeos, nunca sendo capaz de ter uma resposta coerente para acalmar os corações em desespero; jamais diria a verdade para seus filhos, mesmo que sentisse que estava os enganando.

Sentado na sala de espera ele observava todos os movimentos atentamente, na esperança de ver algum médico que fosse portador de boas notícias. Sentia-se péssimo física e emocionalmente, a ponto de entrar em colapso, tendo total certeza de que, na maior parte das vezes, hospitais a única coisa que esse ambiente traz são dores que jamais irão cicatrizar-se. Estava com medo, indefeso e apavorado com a possibilidade de alguém trazer alguma notícia horrenda.

''Tentamos de tudo mas não conseguimos salvá-la. Ela se foi''.

Era a frase que ele rezava todos os dias para não escorregar da boca de algum médico. Estavam buscando de forma incansável algum doador compatível com ela mas, até o momento, nem uma busca tinha trago resultados.

Impaciente, ele ergueu-se e caminhou pesadamente até a praça de alimentação, deixando todo seu cansaço evidente. O local estava silencioso mesmo que houvesse pessoas alimentando-se ali; seus corpos estavam presentes, mas suas mentes estavam distantes. Apertando os olhos, no fundo do ambiente, ele pode observar uma moça sentada sozinha, observando todos que ali estavam; principalmente ele. Um sorriso suave enfeitou os lábios dela que acenou para ele como se fossem amigos de longa data.

— Oi! – ela o cumprimentou animada, assim que o observou parar em frente a mesa dela, curioso com a atitude dela. — Por favor, sente-se.

Mesmo achando toda a situação estranha, Harry sentou-se na cadeira de frente para a moça, deixando seu corpo descansar na cadeira de plástico. — Por que você estava me observando?

Rindo levemente, ela juntou as mãos. — Não é todos os dias que vemos um cantor famoso em um hospital, para ser franca. – os olhos dela voaram para o suco em sua frente, levando o canudo aos lábios e sorvendo um pouco do líquido avermelhado. — E, bem, você me parecia alguém que precisava de alguma ajuda.

Harry a encarou com uma certa surpresa no olhar, vendo os olhos azuis voarem em sua direção. Ele jogou os braços sobre a mesa, expirando todo o ar preso em seus pulmões. Observando atentamente os traços da jovem, podia sentir que a tinha visto em algum lugar, apenas não recordava onde.

— Fiquei sabendo do ocorrido com a sua noiva, sinto muito. – as palavras pareciam sinceras e tinham um certo pesar. — A propósito, meu nome é Laura Oris.

Como um clique, ele sabia de onde a conhecia; Laura Oris é uma modelo portuguesa com um futuro promissor na carreira. Sentindo-se mais confortável, ele cruzou os braços.

— Desculpe a intromissão mas, o que você veio fazer no hospital? Imagino que não seja por conta de alguma doença.

Sorrindo, ela inclinou a cabeça.

— Sou doadora de sangue, por esse motivo sempre venho aqui. – disse de forma simples, dando de ombros. — No entanto, hoje eu vim doar meu sangue para alguém que está extremamente necessitado, entre a vida e a morte. – os olhos azuis encaram os de Harry, deixando subentendido o que ela estava dizendo.

Era para ela.

Compreendendo o que ela havia dito, Harry ergueu-se de forma abrupta e a puxou para um abraço caloroso, permitindo que as lágrimas rolassem por seu rosto belo, agradecendo com toda a sua alma a doação. Assim que ela sorriu para ele, com toda a ternura que poderia oferecer, ele desvencilhou-se do abraço, correndo feito louco pelo hospital.

Assim que ele voltou para a recepção pôde vislumbrar todos ali, abatidos e com olhares distantes. Em passos largos ele aproximou-se de todos ostentando um enorme sorriso. 

— Conseguimos! – a voz saindo mais alta do que o esperado. Os olhos confusos estavam nele, esperando uma explicação. — Conseguimos uma doadora para a Manu. 

As lágrimas rolaram pelo rosto de todos, a felicidade em saber que as esperanças estavam voltando, desfazendo as malas e decidindo ficar ali com eles.