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História Apenas uma história - Meu se-tudo-der-certo-futuro-noivo


Escrita por: Nana-chan99

Notas do Autor


Para as notas iniciais, apenas queria pedir desculpas por qualquer erro de edição, porque estou escrevendo no celular.
Peço que leiam as nossas finais!!! Elas são importantes!
De resto, espero que gostem :)

Capítulo 1 - Meu se-tudo-der-certo-futuro-noivo


- Tem certeza disso? - perguntei pelo que poderia ser a sétima ou oitava vez. 
- Claro! - Eren me respondeu com um sorriso confiante - Eu só acho que ele vai querer passar um tempo conosco antes, aí eu conto. Você não precisa se preocupar, Levi. 
Deixei um (outro) suspiro resignado escalar de meus lábios. Eu o conhecia bem demais e sabia que aquele sorriso não era verdadeiro, mas a escolha era dele, o que eu poderia fazer? O pai de Eren quase não o via, então era lógico que o pirralho fosse querer passar um tempo a sós com ele. Mesmo assim, não é todo dia que você conta pro seu pai que você é gay, e eu obviamente temia a reação de alguém que nunca tinha conhecido. 
Se as coisas fossem continuar como tinham sido até agora, ficaríamos bem. Quando Eren contou pra mãe, ela estava bastante concentrada nos acontecimentos de uma novela qualquer. Eu e Eren estávamos lado a lado no outro sofá, e o pirralho meio falou meio murmurou "Mãe, eu sou gay". A senhora Jaegar nem desviou os olhos da tela ao dizer "Mesmas regras que a sua irmã. Nada de garotos no seu quarto". E foi isso. Acho que ela nem percebeu minha presença ali, ou saberia que se qualquer outro garoto entrasse no quarto do meu namorado iria sofrer pelas minhas mãos. 
Depois vieram os meus pais, e essa parte foi um pouco inusitada. Minha mãe sempre foi bastante gentil, normalmente era calma, e meu pai era do mesmo jeito. Por isso, a origem de meu lado um tanto rude e sarcástico sempre me foi um mistério...que foi prontamente resolvido assim que eu vi a expressão de puro deboche nos olhos claros de minha mãe enquanto ela dizia "Jura, Sherlock?". O aperto da mão de Eren na minha afrouxou de repente e sua expressão era uma bela mistura entre a satisfação e a vergonha profunda. E as coisas não melhoraram nada quando papai lançou um "Bom, não é surpresa nenhuma considerando o barulho que vocês faziam quando Eren passava a noite aqui". Eu vi nos olhos dele que aquilo era apenas pra tirar sarro, mas meu pobre Eren era um pouquinho mais inocente. "Não pensei que fizéssemos tanto barulho...". 
Foi o que ele disse. 
A expressão de meu pai ficou surpresa por um instante antes dele gargalhar profundamente e levar a todos para a cozinha pra comermos pizza. Fim. 
Considerando isso, tudo correu bem, certo? Então eu não precisaria me preocupar com o pai de Eren, certo? Tudo bem que ele e a mãe do pirralho estavam quase se divorciando, mas ele não poderia ser tão drástico, certo? 
Isso nos traz de volta ao início. Depois daquele sorriso duvidoso, ele me deu um beijo rápido e saiu de minha casa pra voltar pra própria. Não era longe, éramos vizinhos, na verdade. 
Pelo que Eren me dissera, seu pai chegaria em poucas horas, o que se provou verdade quando, da minha janela, vi um táxi se aproximando e a figura alta e austera do senhorJeagar  caminhar até a casa. Ainda me intrigava e irritava o fato de Eren ter me pedido para não estar presente quando ele contasse pro pai. Nós estivemos juntos em todas as vezes! Por que essa seria diferente? Claro que fiquei inquieto durante a tarde inteira. Meus pais vez ou outra tentavam me acalmar, mas eu só pararia de andar pela casa quando Eren voltasse e eu a tivesse certeza de que tudo correra bem. 
Isso até eu escutar aquele barulho. Levei um segundo para reconhecê-lo. Era alto, grave e seco, como uma pancada ou...uma arma. Vinha da casa de Eren. E eu nunca corri tão rápido em minha vida e nem notei que meus pais vinham logo atrás. A única coisa que importava era ver se o pirralho estava bem, e eu tive que derrubar a porta da frente pra perceber que não, não estava. 
O que quer que tenha acontecido ali, o resultado diante dos meus olhos era aterrorizante. O homem que devia ser Grisha estava de pé no meio da sala, segurando uma arma apontada diretamente para Carla, que tinha uma marca de pancada enorme no rosto e estava agachada protetoramente sobre Eren...um Eren sangrando. 
No momento em que meu olhar cruzou com os verdes intenso do pirralho, vi que ele estava em pânico. 
-L-Levi fuj-
- É você, não é? - Grisha o interrompeu e se virou para mim - aquele que corrompeu meu filho?
Isso tudo aconteceu em míseros segundos e o que se seguiu foi mais rápido ainda. 
Aquele homem asqueroso fez menção de apontar a arma pra mim, mas Eren saiu da posição em que estava e com um grunhido inarticulado se atirou sobre o pai. A bala foi parar no canto da sala e meus pais aproveitaram a deixa pra intervirem. Foi uma confusão só. Grisha podia ser magro, mas não era fraco, então ele simplesmente despachou minha mãe com um soco e ficou disputando a arma com meu pai, se provando mais forte no final. 
Até aquele momento eu tinha ficado parado. Entre me preocupar com minha família e assistir a mãe de Eren tentar freneticamente estancar o sangue que escorria da lateral direita do pirralho, eu sequer tinha reagido, mas não ía esperar que aquele homem apontasse a arma para mim mais uma vez e muito menos voltasse a ferir Eren. 
Acho que esqueci de mencionar, mas eu pratico uns dois estilos de luta desde que tinha seis anos, então não foi muito difícil torcer o braço daquele homofóbico de merda até que ele tivesse que soltar a arma, para depois imobilizá-lo pelo pescoço. E eu ía quebrá-lo, com certeza. Não estava nem pensando sobre isso. Parecia apenas a solução mais óbvia. 
-Levi! - era a voz de Eren. O garoto estava praticamente inconsciente no chão, mas parecia ainda ter forças pra olhar fixamente para mim, e eu entendia o que ele queria dizer. "Não o mate". Se ele pedia isso por mim ou pelo pai, eu não sabia, só que não conseguia entender. Na minha cabeça, Grisha tinha ferido meu namorado, a mãe dele e meus pais. Merecia morrer e melhor que fosse pelas minhas mãos. Ah, mas se aquele pirralho não era convincente! Ele sempre fazia questão de me lembrar o porque de a muito tempo eu ter decidido que ele seria minha consciência. Os olhos dele não tinham aquele tom de verde tão puro à toa. 
Pois é. Eu mantive meu aperto firme no pescoço de senhor Jeagar apenas por tempo suficiente para que ele desmaiasse. Sem seus arquejos desesperados em busca de ar, a sala ficou em silêncio por três segundos inteiros...até eu escutar o lamento desesperado de minha sogra. 
-E-Eren! Fique acordado, querido, por favor! 
As pálpebras dele se fechavam lentamente e aquele maldito parecia determinado a manter um resquício de sorriso no rosto, como se quisesse me mostrar como era absolutamente perfeito até em seus últimos instantes. Como se eu fosse deixá-lo morrer fácil assim!
Nós já tínhamos nos aberto com nossa família há algum tempo, faltava apenas o pai dele. Eu estava apenas esperando isso para pedi-lo em casamento. Eu até já tinha as alianças. Que, aliás, tinha sido terrivelmente caras e de jeito nenhum que eu as teria comprado à toa. 
O pirralho iria usar e isso implicava que de modo algum eu o deixaria morrer! 
Em algum momento meus pais tinham ligado tanto pra polícia quanto para a ambulância, e agora eu fazia par com a senhora Jeagar na tentativa de fazer o sangue parar de escorrer. Para uma única bala ter feito aquele estrago tinha que ter sido um disparo de muito próximo à queima roupa. Eu costumava ser bem resistente pra maioria das coisas, mas ver a pessoa mais importante do mundo pra mim sangrar daquele jeito me fazia querer vomitar. 
Os olhos dele mal se mantinham abertos agora e eu estava me desesperando. Carla já tinha feito isso a muito tempo, então minha mãe a abraçou com força e a manteve quieta. Meu pai trouxe uma grande quantidade de gelo dentro de um pano qualquer, dizendo que isso ajudaria a parar o sangramento, e eu não estava em posição de questionar muita coisa. Então só me restava esperar, e a maldita ambulância parecia nunca chegar. Na verdade, se parasse pra pensar, eu não devia estar na casa dos Jaegar a mais do que três ou quatro minutos, mas parecia uma eternidade. 
O sangramento diminuiu um pouco, mas Eren ainda parecia incapaz de manter os olhos abertos. Eu levei uma mão até sua testa e afastei os cabelos castanhos e macios que caíam em seus olhos. 
-Eren! Está me ouvindo, pirralho?! - eu gritava com ele, na esperança de que minha voz o mantivesse consciente - É melhor que fique acordado, entendeu? Você é onze anos mais novo então nem pense em partir antes de mim, ouviu? Não faça eu me arrepender de ter comprado aquelas alianças! 
Acho que foi mais ou menos isso que eu gritei, e podia ser coisa da minha cabeça, mas podia jurar que tinha visto um leve torcer de lábios dele, como um quase sorriso...ou os meus sorrisos. Os de Eren normalmente eram mais abertos e cheios de dentes a mostra. Era exatamente assim que eu o imaginava sorrir quando eu fizesse o pedido. 
...O universo devia me odiar muito...
Em algum momento daquela bagunça a ambulância chegou e os policiais vieram logo atrás. Felizmente eles chegaram antes que Grisha acordasse, porque eu nem tinha pensado em prendê-lo para o caso de ele voltar a si. 
Os paramédicos vieram socorrer meu se-tudo-der-certo-futuro-noivo e um deles ainda parou para checar os sinais vitais de Grisha, o que eu achava completamente desnecessário. Depois de garantir aos policiais que o homem estava apenas inconsciente e sem nenhum ferimento mais grave e deixá-lo sob os cuidados deles, os paramédicos se concentraram em Eren, pro meu alívio. 
Eu estava prestes a subir na ambulância junto com eles quando um policial tentou me parar por causa de alguma merda de "depoimento" e eu quase o espanquei por isso, mas Carla apareceu de repente e disse que cuidaria de tudo, me dizendo para ir. Eu tinha que agradecê-la por isso. Ela também devia estar desesperada para ficar junto ao filho. 
O trajeto até o hospital foi um borrão para mim, com os paramédicos fazendo coisas que não fizeram parte da grade de estudos de um graduado em Direito como eu. 
Eu apenas murmurava para mim mesmo que meu garoto ficaria bem. 
Já no hospital, ele foi levado às pressas pra algum lugar e uma jovem enfermeira me perguntou qual o tipo sanguíneo de Eren. Eu respondi e ela me disse para esperar numa outra sala. Eu calmamente andei até uma recepcionista e perguntei onde era o banheiro, ela me lançou um olhar triste e preocupado, me disse e eu fui. Lá, eu me ajoelhei à frente de um vaso sanitário e vomitei. Fiz isso até que só conseguia expelir bile, e então eu chorei como nunca tinha chorado antes. Acho que assustei as outras pessoas que estavam no banheiro, mas não me importava com mais nada. A adrenalina que tinha me mantido ativo até aquele momento estava perdendo o efeito e agora eu me encontrava em algum lugar perto do abismo do pânico. 
"Ele não vai morrer. Ele não vai morrer. Ele não vai morrer. Ele pode morrer. Ele quase morreu. Ele...não!!"
É terrível quando não conseguimos impedir os pensamentos ruins de invadirem nossa mente. Não a controlamos plenamente, e por isso a imagem de um funeral parecia marcada a ferro nos meus olhos. Um caixão grande para abrigar toda a figura alta e esguia de Eren. Todos que conhecíamos e que se importavam estavam ao redor. Choravam em silêncio. Meu garoto tinha os olhos fechado, o rosto pálido e um quase sorriso no lábios. Tal qual um elegante vampiro naquele terno fúnebre. Eu tinha as duas alianças em minhas mãos e nenhuma estava no dedo dele. E jamais poderia estar. Deixei minha imaginação me levar para muito longe, e deveria manter a calma, ou logo eu teria que ser atendido pelos médicos. Aliás, aquele não era o momento de me desesperar e ficar imaginando possibilidades. Era o momento de me manter firme. Dei descarga e só quando olhei para o espelho percebi o meu estado, que justificava a expressão no rosto da recepcionista. Eu estava descabelado, pálido e, o pior de tudo, sujo de sangue. Minha blusa acinzentada tinha manchas escuras na parte debaixo, os joelhos de minhas calças jeans também, e minhas mãos tinham um tom avermelhado até o meio do antebraço. 
"Não entre em pânico. Não entre em pânico". 
Meu lado frenético por limpeza se aliou aos meus pensamentos mais obscuros e esfreguei minha pele até que ela ardesse. Tirei a blusa e a lavei também, e teria feito o mesmo com as calças se pudesse. Olhei para a pia e vi a água levemente rosada sendo sugada. As náuseas quase voltaram quando me lembrei de que aquele era o sangue de Eren.  
Mantive a calma. A muito custo, mas mantive. 
Com a camisa molhada, voltei para a sala de espera e perguntei a enfermeira se ela tinha alguma notícia de Eren. Ela me disse que não, mas felizmente eu reconheci a mesma enfermeira que o encaminhara andando por um corredor. Corri até ela e fiz a mesma pergunta.
-Não tenho permissão de dar informações sobre pacientes para alguém que não seja da família.  Você é irmão dele?
-Sou namorado dele - respondi um pouco ríspido e receoso, afinal, era exatamente por causa daquilo que estávamos ali.
- Hm - a enfermeira resmungou e eu fiquei tenso - Acho que relacionamentos desse tipo não contam como família, sinto muito. 
- Desse tipo? - indaguei, a raiva evidente em minha voz. 
- Não legalmente reconhecidas, eu digo - ela se explicou - Se fossem casados, tudo bem, mas namorados não contam. 
Bufei. Pelo menos a enfermeira era sensata. 
- Eu pretendia oficializar...mas talvez não tenha a chance - isso foi mais um comentário interno do que qualquer outra coisa, mas acho que acabei abalando o emocional daquela boa moça. Ela fez uma careta meio sofrida e me olhou com pena. Nunca gostei muito que sentissem pena de mim, mas não reclamaria dessa pequena vantagem. 
- Tudo bem... - a enfermeira resmungou - Eu não sei muita coisa, de qualquer jeito. Só cuidei da entrada dele na sala de cirurgia. Ele teve que ser levado às pressas para lá, e isso só depois de checarem se seria possível realizar a cirurgia. 
- Como assim? 
- Não tínhamos muitas bolsas do tipo sanguíneo dele estocadas e tivemos que completar com O-, que estão em ainda menor número. No fim, tínhamos exatamente o mínimo suficiente para realizar a cirurgia, e isso é perigoso. Ele perdeu muito sangue. É uma situação delicada. 
Eu assenti devagar. Delicada era pouco. Eu definitivamente viraria doador de sangue quando essa merda toda acabasse.  
Acho que a enfermeira detectou meu olhar desolado, porque pôs a mão amigavelmente em meu ombro. 
- Hey, não se preocupe, ok? Ele está em boas mãos - ela me olhou com um par de olhos grandes, castanhos e sorridentes, emoldurados por madeixas castanhas e meio caóticas. 
- Obrigado, enfermeira... 
- Hanji. Me chame de Hanji. 
Ela sorriu e eu correspondi. Ou tentei, pelo menos. 
Pouco tempo depois disso, nossa família chegou. Contei a eles o que Hanji havia me explicado e disse que não tinha mais nenhuma notícia. Carla me agradeceu e foi falar alguma coisa com a recepcionista. Percebi que ela tinha trocado suas roupas que também deveriam estar sujas de sangue. De repente eu sentia a necessidade quase sufocante de fazer o mesmo, e felizmente meu pai me entregou uma trouxa de roupas limpas que ele havia trago de casa. Minha mãe se aproximou logo depois e colocou algo na palma da minha mão. Era a caixinha de veludo escuro que continha os anéis que eu havia comprado. Quase perdi o fôlego ao vê-la. Eu ainda não havia contado a ninguém desse meu plano, queria que Eren fosse o primeiro a saber, mas acabei berrando isso em alto e bom som enquanto me desesperava com o sangramento de dele. 
Mamãe disse que a havia encontrado na minha gaveta de meias enquanto pegava minhas roupas e achou que fosse certo trazê-la. Mesmo que a simples visão da caixinha me deixasse depressivo, eu verdadeiramente a agradeci por isso. A próxima coisa que fiz foi correr para o banheiro e me livrar das roupas que estava usando. 
Alguns poderiam estranhar o fato de eu ainda estar morando na casa dos meus pais mesmo depois de um ano e meio de formado. A questão é que, por mais que tanto minha família quanto a de Eren terem uma boa situação financeira, não éramos ricos. Então planejávamos esperar que ele terminasse seu curso para irmos direto para um lugar que fosse só nosso. 
Falando nisso, ele estava terminando a faculdade de artes plásticas. Eu até hoje me surpreendia com as coisas que ele fazia, criava obras maravilhosas como se fossem mágica e fazia parecer fácil, prazeroso. Eu não tinha paciência para esse tipo de trabalho, mas sabia apreciar. Diferentemente daquelas pessoas irritantes que insistem em desprezar as escolhas de pessoas com o espírito mais livre. Eu mesmo tive que intimidar alguns desses que depreciavam Eren. 
E eu nem sei o motivo de todos esses pensamentos terem passado pela minha mente. Dizem que, quando se está prestes a morrer, um filme de sua vida se passa na frente de seus olhos. 
Essa analogia não me agradou nem um pouco. 
Apesar disso, essas lembranças também me faziam feliz. Eu querendo processá-lo na primeira vez que o vi, a primeira vez que o vi pintar, aprender sobre o "modelo de bolsa padrão", suas crises esquisitas de sonambulismo, a primeira vez que dormimos juntos. Tudo isso me causava um misto de nostalgia acalentadora e tristeza. 
Eu poderia perder tudo isso e muito mais...
Joguei todas as roupas sujas no lixo do banheiro e saí, sem me importar em saber se isso era higiênico ou não (sim, eu NÃO ME IMPORTEI!)
Ficamos eu, Carla e meus pais na sala de espera por mais algumas horas, até que eles decidiram que iriam para casa e voltariam no dia seguinte. Eu ficar no hospital sequer foi tema de discussão. 
Carla ainda ficou até o momento em que Hanji apareceu para dizer que, por um milagre a cirurgia tinha sido realizado com sucesso. Minha sogra chorou em meus braços por mais algum tempo antes de ter permissão de ver filho. Eu a deixei a sós com Eren, então a convenci a pegar um táxi e ir pra casa. Eu não queria que ela passasse uma noite desconfortável numa poltrona de hospital. 
Bem mais calmo que antes, eu fui agradecer a enfermeira Hanji. 
- Ora, não se preocupe com isso, querido. É o meu trabalho. Você deveria agradecer ao Dr. Mike amanhã. Ele teve que cuidar de outros casos e não pode se encontrar com vocês, mas fará isso em outra oportunidade. 
- Vou agradecer - respondi e soltei um suspiro aliviado que vinha segurando a muito tempo - Nem acredito que ele está realmente bem. 
- Bom, a cirurgia foi um sucesso, mas...  - ela se interrompeu sob meu olhar - Eu não queria falar isso na frente da mãe dele, ela não ficaria bem. Mas você parece ser mais forte e deveria saber. Quando uma pessoa perde muito sangue, podem haver algumas sequelas. Pelo que pudemos ver, os órgãos vitais deles estão ok, mas existem alguns tipos de danos cerebrais que não podemos prever. Se ele acordar, vamos poder avaliar melhor. 
E lá se foi minha noite de sono tranquilo. As palavras dela giravam na minha cabeça, desconexas. Ela ainda me acharia forte se eu desmaiasse naquele instante?
Um turbilhão de pensamentos me atormentava, mas só consegui pronunciar uma palavra. A mais importante. 
- Se? - não "quando". "Se". 
Hanji apenas me olhou de maneira tristonha e colocou mais uma vez a mão em meu ombro. 
- Levi...posso te chamar assim? Ouvi que era seu nome - eu assenti devagar, meio aéreo - Não se preocupe tanto. Essas sequelas são possibilidades. Como efeitos colaterais de um remédio. Provavelmente não vão acontecer. E, a não ser que queira parecer um morto vivo quando pedir a mão do seu garoto, sugiro que vá comer alguma coisa. Se quiser, eu arranjo uma toalha pra você e poderá tomar um banho no banheiro do quarto de Eren. 
Ela estava certa, é claro. Decidi que seguiria suas instruções sem pensar muito sobre isso, e ainda tive o bônus de saber que poderia ficar junto do pirralho.
Comer. Tomar banho. Colocar a mesma roupa que estava antes (agora sim, isso me incomodou). 
Arrastei a poltrona em que dormiria até o mais próximo possível de onde Eren estava deitado, tentando fazer o mínimo de barulho. Meio sentei meio deitei ali e não tive outra saída senão refletir. 
Teria que fazer alguma coisa em relação ao meu trabalho enquanto estivesse no hospital, mas tinha certeza de que Erwin iria me cobrir. No dia seguinte eu passaria em casa, pegaria mais algumas roupas e objetos de higiene pessoal (nem quando voltava pra casa bêbado eu dormia sem escovar os dentes) e faria questão de ir até o quarto de Eren para trazer suas coisas. Ele jamais me perdoaria se soubesse que o deixei ficar fora de casa sem sua bolsa-padrão. 
Olhando-o naquele momento, ele parecia dormir. Sua cor não estava mais com uma aparência doentia, estava quase tão bronzeado como sempre fora. Os cabelos continuavam rebeldes, o que o irritava, mas eu achava bastante sexy. As únicas coisas que faltavam eram os olhos verdes brilhantes e o sorriso largo. 
"Se acordasse". 
O "quando" já seria inquietante o suficiente, mas o "se"...
Naquela noite eu adormeci enquanto segurava sua mão. 
...
Eu acordei com uma inquietação. Algumas vozes pareciam murmurar ao meu redor. Lentamente, eu abri os olhos. 
O quarto estava estranhamente lotado considerando-se que estávamos num hospital. Havia alguns enfermeir@s, médic@s e até alguns pacientes. Todos assistindo algo que acontecia do outro lado do quarto. Virei a cabeça a tempo de presenciar a cena. 
Eren estava em pé em cima da mesa de cabeceira que ficava ao lado da cama, pintando a parede com o que parecia ser um pedaço de pano e...aquilo era pasta de dente?
-E-Eren! - eu chamei, completamente desnorteado. Oh, céus...eu deveria avisa-lo que camisolas de hospital são abertas atrás? - O que você está fazendo?!
- Ah, Levi - ele se virou e sorriu pra mim, a franja suja de pasta de dente vermelha - Bom dia. 
E ele agia como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Bom, o conhecendo como eu conhecia, não era tão estranho, mas ainda assim o infeliz tinha levado um tiro a menos de 24h! Como ele tinha subido naquilo?!
- Você acorda depois de tudo o que aconteceu e a primeira coisa que faz é sujar a parede do quarto do hospital?!
- Bom, eu não precisaria "sujar a parede" - ele deu ênfase nessa última parte e me lançou um olhar magoado - se alguém tivesse trago minha bolsa. Tive um sonho muito bom pra arriscar esquecer. 
Devo enfatizar que enquanto ele conversava comigo, continuava pintando? Acho que vocês já sabiam disso. Só então fui dar uma olhada mais atenta no que era aquilo. 
A parede branca do quarto estava decorada com a pintura de uma floresta na qual seres humanoides gigantescos se moviam. Alguns era bastante desengonçados, outros tinham um porte mais estável e um deles estava no centro, como se esticasse o braço para alcançar o outro lado. Já que a parede não devia ter mais de três metros, o ser gigante coberto de músculos se abaixava. Aquela cena toda em vermelho era um tanto inquietante, mas ela era bela assim mesmo. Todos os espectadores assistiam a tudo fascinados e sim, senhoras e senhores, meu futuro-noivo tinha feito tudo isso com um pedaço de trapo e...
- Eren...por que pasta de dente? - isso ainda me confundia. 
- Esse desenho é grande em tamanho e força! Não caberia numa dessas folhinhas que eles têm por aqui e uma canetinha qualquer não aguentaria o trabalho. Só consegui pensar em pasta de dente então peguei as que encontrei pelos quartos. Se você tivesse trago meu material eu teria me contentado com uma folha A4 e com um material descente, mas...
- Ontem foi uma confusão. Eu iria trazê-la hoje - eu balbuciei, e só agora estava caindo a fixa. Eren estava acordado!
- Oh! Então tudo bem. 
Ah...ali estava o sorriso. Tão grande que deixava os olhos abertos apenas o suficiente para que eu ainda pudesse ver o brilho verde dentro deles. 
De repente eu estava muito ciente da quantidade de pessoas admirando o desenho, o sorriso e tudo do meu futuro-noivo que aquela maldita camisola não escondia. Me levantei num pulo e coloquei todos pra fora. Um enfermeiro ainda perguntou se eu queria chamar algum psicólogo ou algo parecido devido ao "comportamento incomum" de Eren. Eu garanti que ele estava bem. Apenas tinha tido uma ideia. 
Sozinhos, finalmente convenci o pirralho a descer da mesa e nós dois ficamos encarando sua obra. 
- Por que você não me acordou? - eu perguntei. 
- Você fica lindo dormindo - ele respondeu - não quis te perturbar. 
- Você faz alguma ideia do que eu passei?! - agora eu tinha ficado nervoso. Com Eren, com a situação toda - Você sabia que seu pai podia reagir mal, por isso não me queria junto, não é?!
Ele abaixou a cabeça, parecendo se sentir culpado. Mas eu o conhecia. Culpado, não arrependido. 
- Grisha sempre foi bastante extremista e mente-fechada. Eu suspeitava que pudesse reagir de forma negativa, mas não esperava que ele puxasse uma arma. Ainda assim, acho que tomei a decisão certa. Você seria a primeira pessoa em quem ele atiraria. 
- Eren! - eu o virei para mim - Você. Quase. Morreu! Se eu estivesse junto poderia ter impedido tudo isso!
- E se não desse tempo? 
- Mesmo assim-
- Mesmo assim, tudo aconteceria do mesmo jeito. Eu me atiraria na sua frente se fosse necessário! 
Nós nos encaramos por um tempo até que ele desviou o olhar. 
- Por que me impediu de matá-lo? - eu indaguei. Essa era a penúltima dúvida que eu tinha. 
- Você sabe muito bem - ele disse com firmeza - Não deixaria você ser responsável por isso. E... ele ainda é meu pai. Até Hitler tinha seus momentos de bondade, meu pai também teve. Não queria que tudo acabasse daquele jeito. 
"E eu queria que todas as pessoas do mundo fossem como você, moleque". 
Suspirei. Aquela altura, não havia nada que pudéssemos fazer. 
- L-Le-Levi - ele gaguejou e eu voltei a fita-lo, encontrando um rosto corado e que não me encarava de volta - o...o que você disse, naquela hora em que eu estava, sabe, morrendo...( não acredito que ele faz piada disso) ...era...s-sério? 
- O que eu disse? 
- Você sabe...aquilo sobre...a-alianças...
Sua voz foi morrendo até virar um sussurro e eu me lembrei. Minha última dúvida. 
- Ah...isso - eu respondi da maneira mais casual que pude, vendo a expressão dele ficar levemente desesperada. 
Com um sorriso debochado, eu tirei a caixinha aveludada do bolso, peguei sua mão esquerda e fiquei sobre um joelho. Sou um homem sério, sem muitas cerimônias, mas o amor da minha vida é a mais maravilhosa confusão que eu já vira. Uma confusão que eu não queria organizar porque a achava perfeita, e às vezes eu me dava a liberdade de ser um pouco dramático. Eis a minha postura ajoelhada. 
- Eren Jaegar! - eu comecei e vi o brilho de seus olhos aumentar junto com o rubor - eu, Levi Ackerman, tendo essas figuras sangrentas na parede como testemunha e no meio do quarto de um hospital, pergunto: quer casar comigo?
Abri a caixinha, revelando um par de anéis negros polidos (podem nos julgar, mas preto é uma cor linda e ambos concordamos nisso) sendo que o dele tinha um pequeno diamante incrustado e o meu tinha uma esmeralda. 
Lágrimas escorreram pelos olhos dele, um sorriso bobo nascendo em seus lábios. Ele assentiu com força, provavelmente sem conseguir falar direito. 
- Eu juro ficar ao seu lado até minha morte, nos melhores e nos piores momentos. E você?
- E-Eu ju-juro - ele respondeu. Deslizei a aliança em seu dedo e ele fez o mesmo comigo. Eu tentei resisti, juro que tentei, mas não consegui. Enquanto me punha de pé, voltei a perguntar. 
- E...você jura nunca mais sair por aí mostrando sua bunda pra quem quiser ver?
- Eu- O QUE?!
Ah, agora ele estava da cor exata da pasta de dente. 
- Não sabia, amor? Camisolas de hospital são abertas atrás. Sua plateia de agora a pouco quase babava. 
Ele levou as mãos para as costas, percebendo seu erro. Eu deslizei as minhas até o objeto da discussão e do meu desejo, puxando Eren para mais perto de mim. 
- Pois é, meu bem - eu nem sabia mais onde fora parar a caixinha dos anéis, estava muito concentrado em constranger meu noivo - toooodo mundo viu. Acho que você merece ser castigado por isso. 
O encarei com o máximo de intensidade e com o meu melhor sorriso sedutor. Ele começou a suar. 
- L-L-Le-Levi! Estamos nu-num hospital! 
- E daí? Eu tranco a porta e nós transamos num lugar quase tão limpo quanto meu quarto. 
Eu podia sentir os indícios, na sua postura, nos seus olhos e sob o tecido fino daquela camisola. Nós daríamos um show àquelas figuras sangrentas...Claro, se nossos pais não tivessem irrompido no quarto naquele instante. 
- Eren! - essa era santíssima dona Carla, minha sogrinha querida, empatando minha foda...outra vez - Eren, meu am-AHHH - e esse foi o grito da santíssima dona Carla ao ver a obra de arte do filho. Ela fez o sinal da cruz e absorveu a imagem caótica dos vários tubos de pasta de dente vazios no chão e seu filho corado, choroso e levemente assustado - Misericórdia, garoto! O que você fez?!
Acho que a partir daqui eu posso resumir. 
Depois de todas as explicações necessárias, inclusive convencer o Dr. Mike de que meu noivo não precisava de assistência psicológica, e todos os exames, Eren foi liberado (um dos exames, inclusive, era para saber como ele estava todo serelepe e saltitante menos de um dia depois de levar um tiro. A resposta jamais foi encontrada, mas eu fiquei muito aliviado por não termos transado
naquela hora). Ah, antes disso a enfermeira Hanji se apaixonou pela obra do pirralho e uma estranha amizade surgiu ali. Nem preciso dizer que meu noivo foi obrigado a limpar aquela bagunça toda, mas não sem antes de ele e Hanji  tirarem algumas fotos. 
Eu pessoalmente tomei garantias de que Grisha seria preso. Eren terminou seu curso e a festa de formatura foi bastante...única. Deixar um bando de bacharéis em artes organizar um evento dá nisso. Por fim, nos casamos e nos mudamos para um aconchegante apartamento na área comercial da cidade. 
O resto vem depois daquela ladainha de "Felizes para sempre", então não posso contar. 



 


Notas Finais


E aí? Gostaram?
Devem ter percebido que eu deixei umas brechas na história e isso foi de propósito. Se a inspiração bater irei escrever uma outra one que esteja relacionada a esta.
IMPORTANTE! Sabem as reações maravilhosas dos pais e da mãe do nosso casalzinho favorito? São baseadas em fatos reais que eu encontrei enquanto navegava pelo Pinterest!
O uso de @ em alguns lugares é pra indicar tanto o gênero feminino quanto masculino ao mesmo tempo, sem dar preferência a nenhum dos dois. Acho que isso é até convencionado ou sei lá.
Enfim, era isso!!


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