História Apocalhaço Aterroriza Sociedade - No-Go News: Os Palhaços Atacam

Aquele era o quarto de um youtuber.

A câmera era ligada todas as sextas-feiras para gravar as maiores manchetes do jornalismo que um garoto de dezesseis anos poderia mostrar, as discussões pareciam eternas, mas geralmente duravam no máximo sete minutos, e então eram postadas em um canal relativamente pequeno comparado a muitos outros que há pelo mundo.

Mas naquela sexta-feira vinte e um, o garoto não estava na frente da câmera. Ela estava bonitinha, posicionada de um jeito gracioso, mas Byun Baekhyun, o criador do canal No-Go News – especialmente criado para enaltecer notícias que o resto do mundo não dá a mínima – estava na frente de seu notebook vendo algum vídeo qualquer em seu canal.

Na verdade, ele começou a fuçar o seu twitter procurando por alguma notícia que valeria a penas jogar em seu canal e discutir sobre ela pelos sete minutos costumeiros, mas então, viu um link de algum fã louco que ele adorava – pois todos os seus fãs eram loucos, isso não era necessariamente um problema – que o levou para um vídeo nem recente nem antigo, visto que o canal tinha apenas dois anos de existência, onde o seu melhor amigo, Park Chanyeol, um gigante com orelhas de abano, era obrigado a entrar em um balão de água. Então a busca por algum assunto interessante acabou aí, dando lugar a um show de risadas agudas que Baekhyun não se importava em abafa-las.

O vídeo durava exatamente doze minutos, e assim que Chanyeol conseguiu entrar dentro do balão – uma visão feita de um dumbo saindo de um ovo completamente azul, como um dinossauro – Sehun, seu outro melhor amigo, apareceu na câmera, jogando pedrinhas de gelo contra o ovo de plástico, estourando-o e fazendo o pobre garoto orelhudo escorregar junto da água. Foi uma cena divertida, mas Chanyeol ficou chateado por não ter conseguido tirar uma foto – mesmo que seja meio ridículo ficar chateado por isso, já que estava sendo gravado.

Depois de rir muito com aquele vídeo – e ouvir suas risadas agudas ensurdecedoras também – ele tratou de voltar a fazer algo útil e pesquisar alguma notícia inútil e incomum para que pudesse dar uma breve pesquisada antes de fazer o vídeo.

As notícias abordadas no No-Go News eram simples e fáceis de serem compreendidas, não havia muita coisa para explicar, Baekhyun sabia explicar muito bem as utilidades de uma notícia inútil, era assim que seu canal fazia sucesso, com seu humor fora do comum, as pessoas sempre iriam rir de algo em seus vídeos. Não precisava ser necessariamente uma notícia mundial, era necessário apenas ter sido publicada em algum jornal local, e então ele faria proveito daquilo para tirar uma onda – como “Park Shihye queima a boca comendo bulgogi em gravação” que, segundo Baekhyun, nos ensina que não devemos comer comidas quentes quando estamos trabalhando, ou “Fragrante de abelhas urinando em flores”, que nos ensina que insetos também querem ter sua privacidade e não serem fotografados nesses momentos, segundo ele – e, mesmo que pareça meio idiota, ele sabia disso, os seus inscritos adoravam! Era simplesmente a saída depois de uma semana cansativa, muitas pessoas mais velhas o assistiam e ele era reconhecido algumas vezes, não se considerava famoso, mas ficava feliz por seu canal trazer alegria às pessoas.

 A comédia do canal era algo curioso, não o tipo de comédia passiva onde há piadinhas sem graça ou com algum teor para maiores, Baekhyun fazia o tipo de comédia limpa, qualquer coisa que saia de sua boca, apenas pelo tom de sua voz, faria qualquer carrancudo sorrir. Segundo o criador do canal, a comédia era pesada – nessa linha de pensamento ele podia estar apenas um pouquinho enganado – mas que havia feito seu canal crescer e ter a companhia de vários inscritos e admiradores. E, na verdade, haters também. Eles estavam em todos os lugares.

Mas ele não se incomodava, afinal, tinha dezesseis anos, tudo o que queria era zoar com os amigos e, talvez, gravar suas notícias em paz sem ser importunado por amigos chatos que mandavam mensagens em horas inoportunas.

E foi exatamente o que aconteceu.

Seu celular tocava e vibrava incansavelmente, Baekhyun soltou o ar, entediado. Sentou-se na cama e pegou o aparelhinho, adiando por uns minutos a busca por um assunto irrelevante o suficiente para aparecer no seu canal.

 

Sehun:

Baekgyj

Baekhyun* carakho

Baek me resonde

me respinde*

me responde*

O menino revirou os olhos depois de soltar aquele berro da pantera por Sehun não conseguir nem mesmo digitar direito.

 

Baekhyun:

fala Sehun, bateu a cara no teclado?

 

Sehun:

Os oakhacoa cara

palhaços*

tu viu a notocia

?

 

Baekhyun:

não vi :v

que notícia?

 

Sehun:

vai oesquosar

peswisar*

ah fodse

fala dos palhaços no teu canla

vai ganha muitos seguidore

 

Baekhyun:

cara, tu tá digitando com o nariz?

 

Sehun:

eu nao

minhs mso dieita tá toda melada

 

Baekhyun:

Ah vei :v

 

O olhar do garoto foi da câmera até seu notebook em cima da cama onde estava, uma ideia quase brilhante se passou pela sua cabeça. Posicionou tudo no lugar certinho e começou a gravação com o sorriso travesso costumeiro.

– Fala galera, aqui é o Baek e eu estava meio na merda mesmo pra falar aqui hoje porque o mundo tá ficando tão chato que ninguém mais faz besteira virar notícia, temo que esse seja apenas um passo para o meu fim – disse já com seu tom irônico que todos já estavam acostumados. – Mas graças ao meu amigo Sehun que já apareceu aqui no canal com o Chanyeol, eu vou deixar o vídeo nos cards pra quem quiser ver o dumbo se fodendo dentro daquele balão, é muito bom, eu nunca me canso desse vídeo. Então, graças a ele, Oh Sehun, dono das pedras de gelo poderosas – reprimiu novamente uma risada pela piada tosca – eu resolvi falar de um assunto que parece que todo mundo sabe, menos eu: doramas histórcos. Na verdade, não é bem isso, mas é quase a mesma coisa: palhaços.

Fez a expressão mais entediada para dar ênfase, era uma de suas expressões costumeiras.

– Sim, bom, Sehun me falou de alguns palhaços e eu acho que já ouvi falar disso também, tipo em circo, e talvez você também já tenha ouvido falar, se não, eu e você fazemos parte da porcentagem que está cagando pra esse tema e que prefere ver desenho do que dar importância a pessoas muito maquiadas. Enfim, eu vou pesquisar aqui bem na frente de vocês para ter o que falar nessa merda, ok? – então, sem ter mais o que falar, jogou “palhaços” na barra de pesquisa do Google e pressionou enter quase de olhos fechados.

O primeiro link que apareceu foi, na verdade, uma notícia real em um jornal local sobre palhaços macabros que estão vagando pelo mundo todo causando histeria nas pessoas. Baekhyun riu, teria que agradecer a Sehun depois, pois uma noticia daquelas em suas mãos marotas causaria uma grande repercussão. Não disse se é bom ou ruim.

– Bom, pelo que eu posso ver temos palhaços que perseguem humanos – começou dando um risinho interno. A brincadeira começaria aí – Acho que isso é um alerta, hein pessoal. Esqueça o tal Apocalipse Zumbi, o que teremos realmente é o Apocalhaço, vários palhaços devoradores de humanos planejando extinguir a raça de quem não usa tanta maquiagem no rosto. Eu recomendaria passarem duas boas camadas de BBcream na cara para ficarem mais seguros, beleza?

Aquele era seu jeito de fazer comédia, afinal, ele sequer sabia se aquelas notícias eram reais, afinal, palhaços são pessoas com muita maquiagem e que fazem os outros rirem. Baekhyun poderia se considerar um palhaço de vez em quando.

– Então é isso pessoal, aprontem seus equipamentos contra o Apocalhaço, a palhaçada está cada vez mais próxima, e só se salvarão quem se inscrever no canal e deixar like, pra quem ainda não é inscrito, corre que você pode se salvar, ainda dá tempo! – deu aquela risada dramática e engasgada que alguém certamente faria um remix e respirou fundo para recuperar o ar – Pra quem chegou de paraquedas no vídeo, ou de paralhaço HAHAHAHA entenderam? Enfim, aiai, não leve a sério, beleza? Ou sim, faz o que você quiser, só não coloca a culpa em mim, valeu, até o próximo vídeo! TCHAU!

Ainda rindo, o garoto desligou a câmera e se jogou na cama, iria editar o vídeo para lançá-lo no ar naquela mesma hora, só precisava se preparar para as críticas sobre seu humor sujinho, ele sempre as recebia e não era uma surpresa muito absurda.

Horas depois, o vídeo “Apocalhaço Aterroriza Sociedade” já estava no canal com milhares de visualizações e Baekhyun sentia-se orgulhoso. Sabia que já haviam comentários e queria muito lê-los apesar do leve medo de ficar mal com alguma crítica mais séria, deixaria para ver logo depois de terminasse as tarefas de casa – era sua obrigação fazê-lo.

Mas mesmo assim, não importa quanto tempo ele levasse para ver tais comentários, aquele comentário esquisito de um usuário completamente desconhecido por si sempre ficaria lá.

Ah, claro, a não ser que alguém o apagasse. E isso não aconteceu.

 

//*\\

 

Baekhyun:

Chanyooo

Chanjyeol*

ChanYEOL* porra

 

Chanyeol:

falavaraio

fala caraio*

 

Baekhyun:

viu o vudeo novo do canal?

to nervosao

 

Chanyeol:

o do apocalhaço? Ahsuahsuah

achei viral

pq tá nervoso?

vai ficar famosao

 

Baekhyun:

não sei se tu lê os cemnfarios

mas teve um queme deu um cagaço

comentários*

o cara escreveu “primeira parada tua casa”

 

Chanyeol:

calma, eu vou ver

puta, baek

os palhaços vão te meter a porrada ahsuahsuahs

e o cara ainda errou sahuasuasuasu

que burrrrrrro

 

Baekhyun:

nem brinca com isso filhoda puta

 

Chanyeol:

quem brincou foi você

por isso eles vão te bater e não me bater

 

Baekhyun:

porra chanyeol

nãp tá ajudano

 

Chanyeol:

Ahsuahsuash

Tô é rino

 

Baekhyun:

ceronte

 

Chanyeol:

hã?

 

//*\\

 

 

O telefone tocava sem parar.

E o que tem de incomum? Bom, nada além de que eram três e meia da manhã de um sábado.

Baekhyun acordou com os olhos inchados e cheios de ranho tateando a escrivaninha do lado de sua cama para pegar o aparelho barulhento e desativar aquele despertador que fora ativado por engano – provavelmente. Sem conseguir fazer o toque irritante parar ele levantou na maior preguiça e sentou-se, pegou o celular e viu que era, na verdade, uma ligação.

O celular parou de tremer de repente, Baekhyun verificou as chamadas e era um número privado, ele não poderia – e nem queria – retornar a ligação ou mandar qualquer mensagem, então só ficou olhando seu aparelho, lembrando vagamente do que acabou de acontecer.

Num súbito, o celular voltou a tremer e o garoto quase o deixara cair, na tela ele podia ver “número privado”. Ele deixou um sorrisinho enfeitar os lábios antes de atender. Lembrara-se de uma pegadinha que Chanyeol o pregou, tempos antes, por ele ter jogado o card de sua bias no lixo “por engano”. Atendeu despreocupado esperando uma voz grossa, embargada e rouca falar, tentando o assustar.

Mas a voz não foi ouvida.

Baekhyun ouviu suspiros altos, e tinha certeza de que não conhecia aqueles suspiros. Não podia ser Chanyeol, ou Sehun... Chen, talvez? Mas o que ele fizera dessa vez para ter alguém tentando matá-lo de medo?

Ele não sabia.

A segunda-feira chegou se arrastando vagarosamente, principalmente para Baekhyun que estava um tantinho mais aterrorizado que a madrugada de sábado quando recebeu a primeira ligação. Nos dias que se seguiram, ele continuou recebendo ligações estranhas e algumas vezes podia ouvir tosses roucas desconhecidas.

Aquilo estava enchendo sua cabeça com pensamentos macabros e completamente sem sentido.

Quando acordou naquela bela manhã ensolarada de segunda-feira – que estava fria, principalmente fria – ele encontrou uma bolinha vermelha em cima de seu celular, na escrivaninha ao lado de sua cama, demorou uns segundos para perceber o que era, mas não dava para ter dúvidas. Era um nariz de palhaço.

– Mas que... porra? – segurando aquele troço vermelho ele se perguntou como e por que estava nas suas coisas, estrategicamente posicionado em cima de seu celular, a primeira coisa que via ao levantar da cama.

Seria essa mais uma pegadinha? No período de halloween, ele e seu pai costumavam pregar peças um no outro. Será que o Byun mais velho começara mais cedo?

– Pai! – desceu as escadas correndo, ainda de pijama, segurando o nariz de palhaço com a ponta dos dedos. – Quem deixou isso aqui no meu quarto?

– O que é isso, Baekhyun? – o homem pulou, vendo a bolinha vermelha e já sabendo do que se tratava. – Ah, espere, há uma regra pras pegadinhas, filho, só a partir do dia vinte e cinco.

– Mas não é pegadinha! – bufou. – Pensei ter sido você me pregando uma peça.

O Byun mais velho olhou a bolinha com desdém e voltou a beber o chá, forçando uma cara de decepção exagerada. Baekhyun sabia do medo que o pai sentia por palhaços, era algo inexplicavelmente constrangedor para o mais velho, então Baekhyun apenas mudou de assunto sabendo que não iria conseguir descobrir nada com o seu pai.

Tudo começou a piorar.

– Ei! Pare aí mesmo poste ambulante! – na escola, assim que seus olhos bateram no melhor amigo tratou de tirar satisfações, nem que precisasse armar um barraco.

– Bom dia pra você também, Baek – Chanyeol abriu um sorriso de monstro, com todos aqueles dentes quase batendo na testa do amigo mais baixo.

– Bom dia o cacete, você que tava me ligando esse fim de semana? – foi direto ao ponto.

– Eu não, sabe que eu não gosto de te ligar – foi sincero. – Você sempre esquece que tá falando com alguém, deixa o celular em algum canto e eu fico falando sozinho me iludindo que meu amigo é um bom ouvinte.

– A culpa não é minha se você me usa como seu psicólogo – deu de ombros. – Mas então, eu recebi umas ligações a madrugada toda, cara.

– Vish, você colocou seu nome nos classificados de garotos de programa? – perde o amigo, mas não perde a piada, Park Chanyeol era desses.

– Ô filho da puta, eu tô me cagando aqui, vê se me ajuda – dando um “pedala Robinho” no amigo, Baekhyun cruzou os braços em seguida. – Só abre a boca pra falar merda, eu hein... fora que eu sinto como se estivesse sendo observado.

– Ah tá bom – num risinho, Park Chanyeol quase perdeu os dentes com o tabefe do amigo mais baixo. – Ah, mas então, qual o é o número que tá te ligando?

– É um número privado, cara...

– O que é que é privada? – Sehun, o mais novo da panelinha apareceu já entrando de cabeça, fazendo os dois revirarem os olhos.

– Baek está recebendo ligações de um número privado de madrugada – Chanyeol resumiu, se dependesse de Baekhyun, Sehun escutaria toda uma crônica sobre o assunto.

– Eu já recebi ligações assim – falou despreocupado. – Sabe a Hani? Do terceiro ano?

Os dois olharam cheios de expectativas.

– O irmão dela, Jackson, ficou me ligando uma semana sem parar me pedindo uma chance.

– E você?

– É deselegante recusar um convite – disse, na maior cara de pau que já inventaram.

 

//*\\

 

– Você realmente acha que pode ter um palhaço te perseguindo? – Chanyeol caminhava do lado do garoto na terça-feira, ele estava paranoico após o nariz vermelho desaparecer misteriosamente, dando lugar a uma peruca vermelha, desgrenhada e obviamente sintética.

– Eu não sei, eu tô com um puta medo de sair de casa, cara – os olhos caídos mostravam as olheiras mais roxas que alguém veria naquela manhã fria de outubro. – Eu sinto que tem gente me observando quando saio e morro de medo de ser palhaço, Chan, será que são haters do meu canal?

– Considerando que seu vídeo já teve muito dislike, até pode ser – o grandalhão desengonçado especulou. – Mas se isso continuar você faz um B.O. por, sei lá, perseguição.

– Isso não tá me animando muito – ele apertava as alças da mochila com força, os nós dos dedos estavam brancos.

– Mas de onde foi que você tirou a maravilhosa ideia de zoar com algo que deixa todo mundo cagado de medo?

– O Sehun, poxa – fungou, fazendo drama. – Aquele merda deu a ideia e como eu tava com bloqueio pra pensar em outra coisa, eu fiz. Aish, não foi por mal sabe, eu faço isso sempre.

– Mas não é sempre que um palhaço assustador diz que vai aparecer na tua cara, ops, na tua casa, é? – riu alto enquanto passavam pelo portão imenso da escola.

– Mano, para de me lembrar disso, não sei se rio ou choro.

 

//*\\

 

Ao chegar em casa naquele dia, Baekhyun viu um bilhete amassado em cima da cama, tentou ignorar, mas era um menino teimoso, logo pegou o papel com a rapidez de um ninja.

“prepara que eu tô ino

dessa vez é pra valer

me espere e verá

acontecer”

Baekhyun soltou um berro de risada e quase caiu da cama quando se jogou, com a cabeça para fora do colchão ele notou um papel pardo dobradinho e rabiscado.

“eu tô falando sério”

O cu trancou.

Claro que Baekhyun não era do tipo que ficava assustado apenas por um simples bilhetinho que apareceu misteriosamente em seu quarto, mas quando ele viu aquela máscara pendurada na cabeceira de madeira da cama, ficou apavorado.

Claro que ele queria acreditar que era uma pegadinha de seu pai – apesar do Sr. Byun ter um cagaço por palhaços – então fechou os olhos, puxou a máscara com a ponta dos dedos e – mesmo morrendo de medo só por tocar naquilo – foi correndo de encontro com o pai que estava cozinhando o almoço.

– Olha, senhor Byun, eu acreditei quando negou de primeira, mas agora está indo longe demais – falou, sentando na banqueta, mantendo a máscara acima da cabeça. – Achei que o senhor tinha medo de palhaço.

– Eu não tenho medo, filho, é aversão, tem diferença – o homem falou sem se virar, estava muito ocupado amassando os ovos cozidos para pôr na salada.

– Sei, se tem tanta aversão, porque continua com a brincadeira dos palhacinhos assustadores? – tentou fazer graça, mas estava com um trocinho de medo no fundo da alma;

– Eu não entendo suas gírias atuais, Baekhyun – riu, terminando de ajeitar o prato de salada, ainda de costas. – Do que estamos falando mesmo?

O Byun mais velho se virou e só o que se pode ouvir foi um grito estridente, seguido por um palavrão.

– Por que fez isso, garoto?! Meu deus, caramba! Pombas! – colocando a mão no peito, o homem sentou todo torto devido ao susto, e tentou a todo custo evitar novos palavrões.

– Mas não foi você quem colocou isso na minha cama? – virou para o pai que ainda ofegava com cara de morte.

– Eu nunca iria encostar nisso aí – com a ponta do cabo da colher com que estava mexendo o arroz, ele afastou o objeto aterrorizante da mesa, fazendo a tadinha da máscara de plástico cair.

Baekhyun olhou no fundo dos olhos de seu pai e lembrou das crises que ele sempre tinha quando algo relacionado a palhaços entrava em sua visão.

É, definitivamente, não era uma piada da Byun Halloweek.

– Se não foi você... quem foi? – falou olhando a máscara no chão. Caiu tão perfeitamente que mais parecia um monstro com a cara pintada, emergindo para fora do piso de madeira pronto para atacá-lo.

– Ah, já sei – Sr. Byun virou-se para o filho sorrindo como o Joker. –Já é a semana Byunoween, não é? Você realmente está me pregando uma peça. Mas pegou pesado me jogando um palhaço, é melhor estar preparado.

– Não, pai – tentou permanecer sério mesmo lembrando do susto que o pai tomou por conta da máscara. Foi cômico – É sério, alguém colocou isso na minha cama, com dois bilhetinhos.

 – Ah, é? E quem foi? – voltou a prestar atenção no seu arroz.

– Eu não sei, ué.

– Bom, o jantar está pronto – disse por fim, colocando tudo em cima da mesa. Baekhyun sentindo o cheiro da comida, decidiu esquecer seu drama por enquanto, e aproveitar enquanto não recebia a visita dos famigerados palhaços.

 

//*\\

 

– Chanyeol, tu não tem ideia – dizia naquela quinta-feira tenebrosa, onde recebeu mais duas máscaras. – Eu não estou conseguindo dormir.

– Cara, relaxa – riu do desespero do amigo.

– É sério, filho da puta, eu tô tentando, mas não dá – ele bagunçava os cabelos com o nervosismo. – Fico com medo do palhaço aparecer na minha casa e me matar.

– Fica calmo que é coisa da tua cabeça – Chanyeol não conseguia mais prender o riso. Seu amigo era um louco exagerado.

– Ontem eu vi uma sombra na janela da sala, Chanyeol – os olhos do menos estavam quase pulando para fora das órbitas.

– É coisa da sua cabeça, você ficou obcecado – abriu um chocolate e ofereceu ao melhor amigo. – Respira fundo e come, você não é você quando tá com fome.

– Muito engraçado, mas na vou recusar porque não se recusa comida – pegou o tablete do doce e comeu em três mordidas, se sentindo um pouco mais leve.

– Então, o que vai gravar pro canal amanhã? – perguntou na maior inocência, o menino Yoda.

– Puta, não sei – quase bateu a mão na testa. – Acho que vou pedir perdão aos palhaços.

– Sério? – conseguiu rir ainda mais.

– Sim, e você vai gravar comigo como prova de que não estou ficando louco – decidido, apenas cruzou os braços e andou até a sala de aula. Novamente com a sensação de estar sendo observado.

 

//*\\

 

Naquela sexta-feira a tarde, Baekhyun e Chanyeol encontravam-se posicionados em frente a câmera do youtuber, depois de falarem várias merdas como introdução do vídeo, Baekhyun decidiu ir logo para o assunto principal.

– Então, galera, eu trouxe esse poste aqui pra não pensarem que eu estou louco quando falar os fenômenos sobrenaturais pelos quais eu estou vivenciando esses dias – falou num tom terrivelmente sério fazendo o maior dos dois revirar os olhos. – Desde o vídeo passado, que eu falo sobre os palhaços assassinos e tudo, eu venho recebendo visitas de alguém que eu não conheço e me entregam bilhetes com ameaças e me dão máscaras horríveis de palhaços ridiculamente assustadores!

– O que ele tá querendo dizer é que acha que tem um palhaço assassino procurando ele, sabe – Chanyeol resumiu tudo com um risinho. – pra matar e essas coisas.

Logo levou um cutucão do melhor amigo que logo tomou a frente do assunto.

– Sim, e isso está me deixando maluco, então senhor palhaço que está me perseguindo...

– Isso se realmente foi um palhaço – intrometeu-se.

– Cala a boca, Chanyeol – empurrou o amigo para finalmente arregalar os olhos. – Então senhor palhaço que está me perseguindo, ME PERDOA CARALHO!

– Acho que isso não é uma boa maneira de pedir desculpa...

– EU NÃO QUIS OFENDER SUA PROFISSÃO SABE, apesar de achar que ser assassino não é bem uma profissão legal, MAS SE VOCÊ TIRA SEU SUSTENTO DISSO EU PEÇO MIL DESCULPAS!

– E esse foi o vídeo do ano, espero que saia no Treta.com – Chanyeol fez um joinha com a mão enorme enquanto o amigo recuperava o ar.

Baekhyun estava vermelho como um pimentão e, ao recuperar o ar ele tornou a berrar.

– E ISSO FOI MEU DESABAFO, é sério cuidado com o que falam sobre os palhaços, ELES SÃO REAIS! – empurrou o menino Chanyeol e ali estava feita o encerramento com chave do ouro do vídeo. Muito dramático, do jeitinho que ele gostava.

Logo que desligou a câmera, Baekhyun tratou e editar o vídeo o mais rápido que conseguia, sendo assistido pelo melhor amigo que, após algum tempo sem ter o que fazer, ligou o vídeo game do garoto e tratou de jogar qualquer coisa sozinho,

– Você sabe que não achar que é combinado, né? – Chanyeol falou depois de um tempo jogando.

– Eu nem quero saber, quero mais que esse tal palhaço veja isso e me deixe em paz – seus olhos estavam esbugalhados olhando a tela do computador, restava apenas mais uns segundos para o vídeo acabar de ser enviado na rede.

– Nossa, você tá mesmo obcecado – o menor nem respondeu, só queria acabar com aquela sensação de estar sendo perseguido vinte e quatro horas por dia.

Aquilo estava acabando com a elasticidade da sua pele.

 

//*\\

 

Depois de dois dias, Baekhyun concluiu que pedir desculpas a palhaços que ele nem sabia se existiam era uma PERDA DE TEMPO TOTAL. Ele continuava sentindo-se observado e parecia que tinha pares de olhos o observando o tempo inteiro.

O tempo inteiro mesmo.

Na manha do dia trinta e um não haveria aulas, todos os anos a escola propunha um dia para os alunos vestirem-se das fantasias que quiserem e montar grupos de jogos, canto, dança e outros que não tinham realmente um nome próprio.

Aquele era o segundo ano Baekhyun naquela escola, o seu grupo ficava exatamente no mesmo que Chanyeol. O grupo não possuía nome, mas os alunos ficavam deitados no chão, as vezes dormindo, as vezes apenas morgando. O grupo dos faz-nada. Yixing, um chinês do terceiro anos, foi o primeiro a montar aquele grupo, não era uma coisa válida, mas como ocorria apenas uma vez no ano, a direção decidiu acatar.

Andando por aí com uma varinha na mão, Baekhyun sentia olhos sobre si – não aqueles normais que você sempre sente quando está andando em público – aqueles olhos.

 

Baekhyun:

Chanyrol

onde tu ta?

 

Chanyeol:

to cjegando

eapera nop poetao

e qir eu tp corento

corrwndo*

 

Baekhyun:

tá :v ashuahsuahs

 

O Byun retornou o caminho até o portão e viu o amigo chegando todo verde, numa fantasia clara de Shrek. Aquilo encheu os nervos do garoto.

– Cara, pensei que a gente tinha combinado Harry e Rony  e não Harry e Dobby – falou, quando o maior chegou desengonçado, perto dele.

– Muito engraçado, seu horroroso – mostrou a língua para o amigo, mostrando ser maduro – eu comprei essa fantasia de Shrek pro Halloween do ano passado pelo AliExpress, chegou ontem eu tive que usar – disse, exibindo metade das canelas finas para fora dos pés enormes de ogro.

– E o Sehun? – falou o nome do mais novo do trio e logo depois Baekhyun viu uma máscara de palhaço horrenda surgir bem perto de sua cara. – AI, CARALHO!

Com um único tapa, Baekhyun derrubou a máscara, mas o que menos esperava era ter derrubado também, a pessoa que a usava.

– Baek, você estapeou o carinha – Chanyeol pôs a mão na boca arregalando os olhos. Ele era um ogro fazendo carinha de princesa.

O tal carinha havia caído no chão, mas poucos segundos depois, já estava de pé, afastando a máscara do rosto infantil e sorrindo quase que insanamente em direção ao garoto vestido de Harry Potter.

– Eu queria falar que eu te assisto e te amo muito – a voz era baixinha, mas Baekhyun conseguiu entender tudo mesmo que seu coração estivesse dando um pitaco.

– Oi? Ah, você vê meu canal? – ele sempre ficava sem graça quando um inscrito o reconhecia, aquela vez não seria diferente apesar de, sim, ter tudo de diferente. Nenhum inscrito havia aparecido vestido de palhaço mutilado na sua frente.

– Sim, eu ando querendo falar com você há dias – os olhos quase sem piscavam. – você gostou dos presentes?

– Presentes? – Chanyeol falou, intrometendo-se na conversa.

– Eu deixei aquelas máscaras pra você, pensei que gostasse de palhaços... aquele vídeo... – o menino falar com tanta inocência que Baekhyun duvidava muito que ele possuía internet em casa.

– Uou, espera aí – interrompeu. – Você que deixou aquelas coisas na minha casa? Como assim?

– Tem uma arvore perto da sua janela, é bem fácil subir e geralmente sua janela fica aberta...

– Você está invadindo minha casa? – gritou bem agudo. Seria aquele dia que ele faria um barraco? Vestido de Harry Potter e tudo? Ele poderia ter se inspirado e se vestido de Murta-Que-Geme.

– Sim, mas foi por um bom motivo... – aqueles olhinhos enormes e assustadores eram fofos, mas Baekhyun estava mais era horrorizado com aquela história toda.

– Não, não, cara, não precisava ter feito tudo isso, pelo amor... – quase passou a mão pela testa suada, desistiu quando percebeu que sua cicatriz de mentira sumiria se fizesse isso. – Que tal só chegar e falar um “oi”?

– Oi? – repetiu, confuso. – Mas você disse que aconteceria um Apocalhaço, pensei que se nos fantasiássemos de palhaços teríamos mais chances. Como ele disse.

– Olha, carinha... – Chanyeol falou novamente.

– Kyungsoo.

– Isso, tanto faz – continuou. – o Baekhyun é uma máquina de falar bosta, você não tem que levar a sério tudo o que ele fala não, ok?

– Isso é mentira! – protestou o pequenininho de olhos grandões.

– Não, não é – o próprio Baekhyun riu. – Olha, Kyungsoo, não precisava levar a história do palhaço a sério, ok?

– Então... vai me devolver as minhas máscaras? – perguntou com certa expectativa e brilho nos olhos. – Mas se quiser ficar com elas, pode...

– Não! – falou quase que imediatamente. – Quer dizer, vai ser um prazer devolver todas as suas coisas – falou aliviado.

– Então o carinha do comentário era você, né – Chanyeol abriu a boca, ainda rindo. Baekhyun riu sem graça, olhando o amigo com todos os dentes a mostra. – Baekhyun ficou um cagaço lendo aquilo.

– Verdade, cara, você quase me matou de susto com aquele comentário no vídeo – fez uma careta.

Ele riu de nervoso junto do melhor amigo poste que já estava encarnando o personagem Shrek e enviava o dedo no nariz para limpar o salão.

– Mas... eu não comentei o seu vídeo – ele falou sério, com os olhos ainda mais abertos. – Eu... na verdade tenho vergonha de comentar, mas eu amo muito todos eles.

Baekhyun quase corou com a confissão fofa do carinha olhudo, era sempre bom alguém o bajulando pelo canal, ele não queria admitir isso para não parecer egocêntrico, mas se sentia com o ego inflado quando alguém o elogiava demais, mesmo ficando sem graça.

Mas então o cu trancou quando lembrou do terrível, mas nem tão terrível comentário em seu vídeo.

– Bom... não foi você quem comentou, mas era você quem me ligava de madrugada, não era? – Baekhyun perguntou, torcendo internamente por um sim. Mas o garoto apenas negou com a cabeça.

– Caralho, Baek...

– Então quem...?

Olhou para Chanyeol, Chanyeol para o carinha, o carinha para Baekhyun. Com aquele silêncio entre os três, logo perceberam Sehun se aproximar. Era o terceiro da panelinha, estava vestido de banana e já chegou abalando.

– E aí, bro – olhou para o intruso e sussurrando, perguntou. – Quem é ele?

– Eu sou o fã número um do Baekhyun e do No-Go News – tratou de se apresentar. Sehun bufou, abafando a risadinha.

Logo depois de encher Baekhyun de elogios desnecessários e exagerados dizendo que o Byun havia nascido para liderar o YouTube e que merecia muito mais inscritos do que tinha e também tinha um horário do dia em que ele se dedicava apenas em dar view para certos vídeos, o carinha, vulgo Kyungsoo, foi para o seu grupo – incrivelmente óbvio, o de teatro – deixando os três amigos meio na merda. Principalmente o YouTuber.

Aquele comentário poderia ser facilmente ignorado por ele, mas as ligações... Quem poderia estar o importunando àquele horário?

Os olhinhos varreram o grande pátio da escola e percebeu que estavam distribuindo gelatinas e pudins em forma de abóbora.

Ele deixaria para pensar nisso depois.