História Apology - Vamos ser amigas?

Acordei sentindo dores por todo o corpo, parecia que tinha levado uma surra noite passada, mas eram só efeitos colaterais causados por um dia de faxina pelo apartamento. Eu havia me mudado ontem para Seul. Sempre sonhei em morar aqui, fazer faculdade, poder explorar novas oportunidades e melhorar a vida dos meus pais. Nunca fui uma garota com dons naturais, tudo que tenho hoje veio de muito esforço. Talvez eu já estivesse esgotada emocionalmente e fisicamente, mas a vida não para pra que eu possa descansar e por tudo no lugar.

Comi algo e fui para a faculdade a pés, afinal, não era tão longe assim. De repente começo a ficar nervosa, nem tenho amigos aqui. Como vou me virar por um lugar que eu nem conheço? Calma, Kim Dahyun. Você sempre se virou sozinha, não é agora que você vai arregar, não é? Resolvi encarar aquela realidade solitária.

Quando cheguei finalmente ao meu destino, fiquei encantada. Aquele era o lugar mais belo que eu já tinha visto. Enorme e ilustre, eu poderia descrever assim. Me sentia desconfortável com todos aqueles olhares sobre mim, como se eu não pertencesse aquele ambiente. Pra falar a verdade, concordo com eles, não estou aqui porque posso pagar ou sou digna de me misturar com essa gente. Ganhei uma bolsa de estudos, mas só duraria 6 meses, até renovarem novamente. Ou não. Como a pessoa sortuda que sou, sei que não durarei muito tempo neste lugar, por isso, tentarei aproveitar ao máximo e dar um pouquinho de orgulho aos meus pais.

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— Ei, moça. Acorda!

Me levantei atordoada enquanto aquela garotinha sussurrava algumas coisas que não estava prestando atenção. Merda, mil vezes merda! Eu perdi todas as aulas por conta do meu cansaço maldito. Nem sei o que tinham passado.

— O que aconteceu? — Perguntei, coçando os olhos e esperando por uma resposta que me fizesse me sentir menos perdida. Sim, PERDIDA. Palavra perfeita para descrever a minha atual situação.

— Você chegou, sentou e mal esperou a aula começar. Já estava dormindo e babando. Sorte sua que não ronca, seria constrangedor. — Ela riu divertida.

— Que grande cabeça de vento, eu sou! Perdi toda a matéria. Por que não me acordou antes? — Falei, triste e preocupada.

— Calma, é que você parecia estar precisando dormir mesmo, Não queria te incomodar. Mas eu anotei tudo, se quiser eu te empresto. — Falou, me entregando suas anotações.

— Obrigada, você é um anjo! — Sorri, agradecida. — Afinal, qual seu nome mesmo?

— Momo e o seu? — Sorriu. Ela tinha cabelos loiros e longos. Parecia que tinha saído de uma revista famosa de moda. Muito linda. Senti até um pouquinho de inveja, haha.  

— Dahyun. Kim Dahyun. — Falei. Me arrependi um pouco de ter perguntado o nome dela. Ela não iria querer ser amiga de alguém como eu, de uma classe tão baixa. Apesar de que por algum motivo estava sendo gentil comigo.

— Ah, espero que não se incomode, mas eu não vou mais largar do seu pé. Gostei de você. Vamos ser amigas? — Ela disse e eu olhei incrédula. Era isso mesmo que eu tinha ouvido? Ela queria ser minha amiga? Ok, só pode ser piada.

— T-Tudo bem. — Hesitei um pouco, ainda não acreditando. Mas ela parecia nem me ouvir. — Tá tudo bem?

— Oh, me desculpe. É que eu não consigo me concentrar quando ele está no mesmo ambiente. Para falar a verdade, ninguém aqui consegue.

Ele? Do que ela estava falando? Seria algum magnata malvado que pegava no pé das universitárias? Comecei a tremer de medo e aflição. Olhei pra ela e ela estava... Suspirando?

— Ele, quem? — Não me contive e perguntei.

— Park Jimin, o homem mais lindo, maravilhoso, rico e desejado da faculdade. Sem contar sua terrível inteligência que é de dar inveja. — Falou apontando e fazendo uma cara de boba apaixonada.

Olhei naquela direção e o vi. Ele estava usando uma camisa social vermelha, calça preta que valorizava a sua... Bunda? Aish! O que eu já estou pensando? Não passo de uma pervertida. Jimin estava de costas. Comecei a dar uma crise de toses. Maldita hora pra isso acontecer! Assim que ouviu, virou-se na nossa direção e olhou com indiferença. Ele era realmente lindo, parecia um anjo.

Me despertei dos meus devaneios com Momo me cutucando. — Vamos, vamos. Meu motorista já está nos esperando lá fora. — Sussurrou baixinho e me puxando como se fossemos amigas de longa data.

— Como assim nos esperando?

— Você vai comigo para casa. Anda, me diz o endereço. — Sorriu amigável, parando na minha frente esperando minha resposta assim que chegamos do lado de fora da Universidade.

— Não, não precisa. Eu vou caminhando, minha casa não é tão longe. — Precisava arranjar alguma desculpa. De jeito nenhum eu iria ser amiga dela, não era certo. Muito humilhante pra nós duas. O que os pais dela iriam pensar em saber que ela tinha uma amiga tão sem recursos como eu? Sem chances, prefiro evitar.

— Tudo bem, então. Nos vemos amanhã. — Disse um pouco triste.

Fiquei esperando a Momo entrar no carro e ir embora, só assim continuei o meu trajeto até minha humilde residência. Meus pais eram tão bons comigo. Trabalhavam o dia inteiro pra ganhar um misero dinheiro que dava mal para pagar as suas próprias contas e ainda tinham que se virar pagando meu apartamento. Não era caro, mas aquele dinheiro certamente faria falta a eles. Eu sentia tanta saudades de casa. Meus olhos encheram de lágrimas, mas eu não podia chorar agora. Não ali, com todas aquelas pessoas ao meu redor, pareciam tão fortes, decididas e eu cada vez menor. Prometi que iria ser forte, que mudaria o meu destino.

Cheguei em casa, ainda tinha esperança de encontrar aquelas pessoas que eu amo tanto me esperando com um abraço. Mas só o que eu encontrei foi um cômodo “vazio’’ e silencioso. Já havia me acostumado com a solidão, ela era parte de mim agora. Então deixei lágrimas pesadas escorrerem pelo meu rosto. Por que estava chorando, afinal? Eu devia me sentir feliz por estar cada dia mais perto do meu sonho. Cursar Direito não era exatamente o que eu queria, não era a profissão dos meus sonhos, mas me parecia a opção mais viável no momento. Amanhã eu me esforçaria mais e com o tempo eu me acostumo a viver aqui. Sempre foi meu sonho vir pra cá, não posso me dar por vencida.

Caminhei até meu quarto. Coloquei os meus materiais sobre a cama. Peguei o celular que estava em cima do criado mudo e coloquei pra tocar minha playlist Apology de Ikon, aproveitando a vibe. Entrei no banheiro, comecei a tirar a roupa, e logo já estava sentindo a água fria escorrer pelo meu corpo enquanto eu sentia a letra.

             Você sempre esperou por mim

No mesmo lugar de sempre, mas

Eu tinha ido embora, tinha ido embora

Não confie em mim como uma boba

Eu disse que protegeria você para sempre

Mas isso era tudo uma mentira mentira

Por alguma razão, hoje os dramas que sempre assisti

Tem muitas cenas clichés que parecem rir de mim

Terminei meu banho, me sentindo um pouco melhor. Não importa qual situação era, sempre que eu estava triste, um banho sempre me deixaria melhor. Era como se todo o peso escorresse pelo ralo.

Vesti meu pijama e fiquei pensando em tudo que aconteceu hoje. Na minha amiga (ou quase isso), que foi tão gentil comigo e parecia ser solitária assim como eu. Mas deve ser só impressão. Também fiquei curiosa sobre aquele homem que todos pareciam colocar no altar. O que ele tinha de tão especial? Adormeci com esses pensamentos.