Seul, 30 de outubro de 2007 - 04.38pm
— Appa... — Jimin chama baixinho, adentrando o novíssimo cômodo de sua casa.
— Sim? — o homem o olha de soslaio, mantendo seu foco em alguns papéis repletos por palavras minúsculas.
— Eu queria saber se... bom... — aproxima-se timidamente, iniciando uma batalha entre seus dedos das mãos enquanto fita os próprios pés. É comum o desconcerto quando próximo ao pai, especialmente se o encontro ocorre com o intuito de lhe pedir algo, mas, ainda assim, suas bochechas insistem no velho rubor — posso me fantasiar esse ano?
— Sabe que não gosto disso. — abandona as folhas para ter uma melhor visão do garoto — Porém, irei abrir uma exceção desta vez. Somente por sua terrível insistência em todos os anos.
Os olhinhos do pequeno ganham um brilho descomunal, fechando-se em seguida para dar espaço ao largo sorriso que preenche seus lábios rosados rapidamente. Não contém a alegria e pula nos braços do mais velho, apertando-o da maneira desajustada que tornou-se um atrativo exclusivo. Este abandona a pose séria e permite que gargalhadas soem por todo o local, retribuindo o carinho na mesma intensidade. Chega a ser impossível permanecer carrancudo perante a face risonha de Jimin.
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Não é incomum a ocorrência de cenas semelhantes desde que entendem-se como uma família. Faz parte da rotina anual de Jimin reservar o dia anterior ao Halloween para convencer Jungkook a deixá-lo participar como seus amigos. De sua sacada, os observava baterem nas portas de toda a vizinhança em busca de doces, imaginando o quão divertido seria estar junto. Infelizmente, seu modelo de criação nunca permitira desfrutar de tal data.
Jeon Jungkook procura aplicar em seu filho o método de ensino que seus pais utilizaram consigo, especialmente para não ser alvo de decepção. Método esse que prioriza a religião.
"Faça com que ele seja o que você nunca foi.", sua mãe dizia. Bom, é possível afirmar que o objetivo está sendo concluído com êxito.
Jeon, apesar de todas as noites de domingos inteiramente passadas na igreja de seu bairro, fora um menino travesso. Não deseja que sua criança o tenha como exemplo. Começou a se relacionar com garotas muito jovem, e em uma de suas aventuras adolescentes, conhecera Park Shin Hye. Ou melhor, sua atual esposa.
Não há como esquecer a madrugada do dia 13 de outubro do ano 2000; o nascimento de Jeon Park Jimin. A responsabilidade de tornar-se um pai não pode ser considerada uma dádiva aos 15 anos, mas é sua maior alegria na atualidade.
Jimin, contrário ao seu progenitor, é obediente e casual, sendo esta a única forma de Jungkook enxergá-lo; meigo, carismático e amável. Sente tanto orgulho e amor pelo pequenino que deveria ser um crime. Assim se faz com o outro, que o ama incondicionalmente e é feliz por ser tão querido. A relação de ambos não poderia ser mais bem vista. Contudo, o mais velho acredita dispor de um tipo de posse sobre o menor, o que é um incômodo em certas ocasiões.
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— E também vou poder brincar lá fora? — desvencilha-se do abraço, desta vez carregando um sorriso esperançoso, ainda acompanhado pela pele corada.
— Resolvemos isso à noite, certo? — esboça um sorriso amarelo, aparentemente forçado, voltando sua atenção à pilha de papéis.
Logo o sorriso do mais novo se desfaz, ocultando seus dentes extremamente brancos. Sabe o que tal frase significa, e não é uma resposta positiva, porém contenta-se em seguir para a loja de roupas com sua mãe. Afinal, sabe que perderia um tempo precioso tentando convencê-lo mais uma vez e, no fim, seu pedido seria negado.
Já em seu destino, vitrines absurdamente coloridas pelos diversos padrões de fantasias infantis é o que os olhos avistam em primeiro plano, encantando o baixinho.
— Oh, omma, são muitas! — varre as inúmeras peças com o olhar, cintilando em deslumbre. É sua primeira vez em um lugar tão dinâmico.
— Leve o tempo que precisar para escolher. — a mulher sorri, sentando-se para deixar o filho à vontade.
Jimin vasculha todos os cantos, aproveitando para sentir a textura de alguns modelitos. Não demora para que seu olhar confronte-se com um em especial, vidrando-o rapidamente.
— Eu quero essa! — exclama, determinado. As íris acastanhadas se abrilhantam novamente.
Optou por um cowboy típico, e até aí tudo bem. Transforma-se em curioso no momento em que este indaga à vendedora sobre sua coloração.
— Tem rosa? — ergue sua cabeça para conseguir olhá-la nos olhos.
— Não temos. — responde simplista, modelando um sorriso piedoso.
— Mesmo assim, quero essa. — está certo de sua escolha.
— Então, vamos pagar.
Recolhem a opção selecionada, indo em direção ao caixa para finalizar sua compra.
No caminho de volta para casa, Hye não hesita em saciar sua curiosidade.
— Você gosta de rosa, Jiminnie? — tenta cultivar a normalidade em seu tom de voz, todavia é inevitável a transparência da preocupação.
— Sim. É uma cor bonita! Eu gosto de cores fofas, e rosa é uma delas. — sorri, recordando-se da bela combinação que lhe irá recobrir mais tarde.
— E qual o motivo de gostar tanto? Nunca lhe compramos roupas assim. — ergue uma das sobrancelhas, observando o outro atentamente.
— Não sei, omma. Só gosto.
Quem não está gostando da novidade é a própria mãe.
(...)
— Deixe ele ir um pouco, mesmo que seja só desta vez. Uma noite não o corromperá como eles dizem. — a mulher tenta persuadir o marido para que dê liberdade ao filho de juntar-se aos amigos no dia seguinte. Não aguenta mais ver o pequenino cabisbaixo por tal causa — Nem tudo o que é dito, é verdadeiro. Não há mal no Halloween, Jungkook. São boatos mentirosos. Além do mais, a fantasia não fará diferença se ele permanecer em casa.
— Não se trata apenas disso. Não gosto da ideia de deixá-lo sozinho no meio daquelas pessoas, podendo falar ou até mesmo fazer o que acharem correto. — senta-se no sofá encontrado na sala, bufando impaciente.
— Não vai estar sozinho, estará com os amigos. — aconchega-se ao lado do homem, pousando uma das mãos sobre a perna alheia — O que me diz? Definimos um prazo para voltar. Não existe perigo.
— Certo. Mas o avise que, no próximo ano, esse assunto estará encerrado. — o timbre denuncia o descontentamento, mantendo o olhar ao horizonte.
Definitivamente, Jeon desaprova ter seu Jimin à mercê de outros.
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