- e então, quando Niko acordou, ele falou que não sentia mais as pernas – contava Pedro, só no tom dele dava pra perceber o quanto ele estava sofrendo; também sofreria se eu tivesse um irmãozinho.
- tenho certeza que vocês ficarão bem – falei tentando consola-lo.
- eu não tenho tanta certeza assim, com essa vaga de emprego... Eu não tenho certeza se eu vou poder ficar por perto.
- mas isso é só daqui uns seis meses né? – perguntei preocupada, se Pedro aceitasse a vaga do emprego que tanto procurava, ele teria que se mudar pra capital, o que seria muito ruim.
- sim, mas... Seis meses passam muito rápido Biatriz, eu não sei se aceito ou se fico com a minha família; eu já terminei a faculdade, mas...
- Pedro, eu não posso dar conselho pra isso, pois sou uma garota de 16 anos e você um rapaz de 22; temos seis anos de diferença; e seis anos é muita experiência que eu ainda não tenho – falei e de repente ele começou a rir baixinho – o que foi?
- nunca vi alguém falar tanto seis numa frase só – explicou – e tem mais uma coincidência com o numero seis... Faz seis meses que a gente se conhece.
- é... – respondi um pouco triste, pois também faz seis meses que eu e a Carol não nos falamos mais. Tá certo que um pouco da culpa é minha, mas ela também não devia ficar priorizando em juntar pessoas que não ela não conhece e esquecer-se da melhor amiga, fica parecendo que eu sou... Inútil na vida dela.
- você parece desanimada... – notou ele – desculpe – falou por fim, acho que ele se lembrou como nos conhecemos. Era um dia em que fiquei um pouco deprimida, desistir de um amor, brigar com a amiga que foi a responsável por você desistir dele e chegar em casa e saber que seu pai foi embora, não é algo que alegra as pessoas.
Nesse dia então, fui caminhar um pouco pelo bairro pra não começar a chorar, minha mãe já estava com muitos problemas e eu não queria ser mais um deles, então acabei notando que tinha uma lanchonete no meu bairro, ela era simples e o cardápio parecia ótimo, então eu entrei e pedi um Milk shake de morango, coincidência ou não, Pedro era o garçom que me atendeu. Como meu dia estava uma merda, quando eu tomei, meus olhos brilharam, e minha boca salivou mais ainda.
- meu deus... Isso é uma delicia – pensei alto, e notei que o garçom ainda estava do meu lado, sorrindo.
- obrigado – falou e depois foi embora, fiquei um pouco envergonhada, mas continuei tomando o Milk shake e fui embora depois de pagar, deixando uma gorjeta, porque sério, aquilo era uma dadiva.
Depois que saí da lanchonete, parecia que o peso que tentei retardar voltou em dobro nas minhas costas, e foi sufocante. Entrei novamente na lanchonete, parecia que aquele lugar era um refugio pro desespero que eu não queria sentir.
- moça? – dei um sobressalto quando uma mão pousou em me ombro, olhei pra trás rapidamente e vi o garçom me olhando preocupado – tem algo que a incomoda?
- não... tá tudo bem – falei automaticamente e me senti péssima por isso.
-... Você está mentindo – concluiu.
- o que? não, não estou.
- esta sim, da pra ver na sua cara – falou calmamente.
- não. Eu não estou mentindo, e dessa vez eu falo sério.
- então quer dizer que você estava mentindo até agora? – perguntou dando um sorriso de lado logo em seguida.
- SIM, EU ESTAVA MENTINDO, E ACHO QUE DEVERIA RECEBER UM PRÊMIO POR FINGIR QUE ESTOU BEM QUANDO NÃO ESTOU – gritei sem paciência, o garçom ainda ficava me olhando com um sorriso, mas agora estava com olhar sereno – o que foi?
- finalmente você disse a verdade – se explicou antes de se levantar, só neste momento que percebi que estávamos agachados – parabéns – falou me acariciando na cabeça e foi atrás do balcão – ah é, esqueci de falar, lindas mechas.
Nesse momento, senti minhas bochechas esquentarem.
- obrigada – respondi baixinho tentando esconder o rosto entre as pernas, mas eu sei que ele ouviu só por ver seu sorriso aumentando.
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