História Aquela noite.... - Final de tarde.

Uma semana depois

Hoje o Natsu está estranho, ele parece ansioso e ao mesmo tempo desanimado e triste. Isso me incomoda, não sei como posso ajudar por não saber o que está acontecendo e também não quero parecer evasiva demais. 

- Luce... pode pegar um expresso de chocolate com creme pra mim por favor? -pediu manhoso.

- Claro. Quer alguma coisa pra comer? 

- Não obrigada. 

- Muito obrigada. -agradeci a moça da lanchonete e virei pra sair, mas me deparei com a Erza. 

- Buh! Credo Lucy, tô tão feia assim? Não precisa fazer essa cara. -falou brincalhona.

- Desculpa. 

- Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? Quer conversar?

- Bem, comigo não aconteceu nada, mas é que o Natsu tá estranho hoje. Pode ser só impressão minha, então não quero me intrometer demais. 

- Ah é isso então. Não é impressão sua. 

- O que aconteceu? 

- É que amanhã faz dez anos que a Miyuuki morreu. -ela explicou cabisbaixa, eu não fazia ideia disso. Natsu nunca tinha me dito quando ela morreu. E uma semana depois do aniversário dele? 

- Desculpa, eu não sabia... 

- Não se preocupe. Ele não ia te contar tão cedo... só peço que tenha paciência com ele esses dias, e não se preocupe e nunca vai ao cemitério. 

- Como assim? Nunca? 

- Ele foi só uma vez desde que saiu de casa, e foi porque Igneel pediu. 

- Mas, por quê ele não vai? 

- Nunca entendi. Quando ele era criança tudo bem, ele odiava ir lá, mas dizia que era porque queria que ela voltaria, mas depois disso eu não sei. Talvez ainda seja doloroso demais. Ou seja apenas uma escolha dele. 

- Entendo... -falou pensativa. 

- Mas, não se preocupe com isso. Apenas fique com ele, tá bom? Ah! E não estranhe, ele normalmente não chora. -se levantou em seguida dando um tapinha no ombro da loira. 

- Você demorou. Já estava indo atrás de você. -o rosado falou quando a mesma abriu a porta. 

- Desculpa. É que eu estava conversando com a Erza. -explicou forçando um sorriso. 

- O que aconteceu? -perguntou preocupado. 

- Nada... 

- Não minta pra mim. -pediu sério encarando-a. 

- Então não me esconda as coisas! -fez o mesmo com ele. 

- Ela te contou né? Olha Luce, eu sei-

- Não Natsu! Eu sei que é doloroso, pra mim também é, e muito! Eu entendo a sua dor. Mas, eu quero que confie em mim, eu quero te ajudar, estar ao seu lado, e se você não me contar como se sente, fica difícil. 

- Eu sei... desculpa. Vem. -apontou para seu colo. -Sim, amanhã faz dez anos que ela se foi. E sim, foi uma semana depois do meu aniversário, e é justamente por isso que eu não gosto muito de comemorar, porque depois vem a parte triste sabe? Mas, sou grato por tudo que eles, vocês fazem por mim todos os anos. Têm ajudado muito. 

- Você não visita o túmulo dela por quê? 

- Ainda não consigo. Eu sei que deveria ter superado, mas é mais difícil do que parece. Eu prefiro me lembrar dela viva, principalmente nesse dia. Igneel me pedia pra ir todos os anos, faz três anos que ele não fala nada. Mas, fico tranquilo em saber que eles estão lá por mim... -explicou calmamente entristecido. Ela nada disse, apenas abraçou o mesmo enquanto fazia cafuné em seus cabelos. 

                 NATSU ON

Acordei com uma dor de cabeça dos infernos, não dormi direito, e meu corpo tá só o caco. Pois é, tô acostumado. É sempre assim nesses dias. Agora deve ser umas oito horas e eu não deveria estar acordado, já que não vou trabalhar hoje. Me levantei devagar e fui em direção ao banheiro tomar um banho bem quente pra me sentir melhor. Reparei na Lucy e ela dormia profundamente. 

Bastante tempo depois eu saí do banho só de calça moletom e a toalha no pescoço. Ela ainda dormia, então decidi preparar alguma coisa pra comer e brincar com o Happy. 

Não sei quanto tempo passei ali. Assisti vários desenhos e filmes, Happy continuava dormindo na minha barriga e eu já estava quase pegando no sono. 

Agarrei meu celular que estava na mesinha de centro para ler as mensagens que haviam chegado. Nada de mais, só gente falsa com mensagens falsas, que só falam com a gente nesses dias, Erza avisando o horário que eles estariam no cemitério, e outras coisas desinteressantes. Minha atenção logo foi voltada para uma cabeleira loira em cima da minha barriga. 

- Bom dia. -falou com um sorriso manhoso. 

- Bom dia. Descansou? 

- Sim. E você? 

- Mais ou menos. Eu praparei panquecas. Não estão tão boas quanto as suas, mas serve.

- Obrigada. E estão deliciosas.

- Você nem comeu ainda. 

- Mas, eu sei que está. Afinal, foi você que fez. -explicou sapeca. 

Ficamos assim quase o dia todo, deitados no sofá comendo besteira. Ela passou o dia me fazendo cafuné e carícias. Me sentia mimado, mas aquilo havia me confortado tanto. A Lucy me passava uma sensação de carinho materno. Era tão bom tê-la ao meu lado. 

Happy estava mais atencioso que o normal, mas ele sempre faz isso, ele sabe quando estou triste. 

Lucy estava dormindo profundamente no sofá, então peguei ela e levei pra cama. Não conseguia dormir, isso me irritava! Normalmente eu só queria dormir nesse dia, mas nunca dá certo. Deu uma vez, mas não foi muito legal. 

Dois anos atrás eu tomei um monte de remédio pra dormir e acabei morrendo o resto do dia todo, mas quando acordei, passando muito mal, tinha mais de cem ligações e mil de poucas mensagens do meu pai e dos meus amigos. Eles ficaram preocupados de verdade, e depois bravos de verdade. Depois disso Igneel mandou fazer uma cópia da chave do meu apartamento, pra cada um... 

- Ok... vamos lá. 

AUTORA ON

Sim, ele havia ido ao cemitério. Ainda era muito doloroso estar ali, lhe trazia péssimas lembranças, mas por algum motivo decidiu ir ali. Estava bem diferente, já fazia mais de três anos que não visitava o cemitério. Eles desceram do carro e foram em direção à grande escada que teriam que subir. Por mais que estivesse no verão, fazia muito frio e já estava quase escurecendo. 

- Tulipas? -ela perguntou vendo o buquê nas mãos do rosado.

- Sim. Eram as preferidas dela. E rosas também. Ela dizia que era porque, por mais que fossem flores frágeis e delicadas, passavam a sensação de firmeza e força. -explicou com um sorriso nostálgico. 

- Que lindo. Eu realmente queria ter tido a oportunidade de conhecê-la, mas mesmo assim, eu admiro tanto ela. Só pelo filho que ela criou. -falou carinhosa segurando a mão do rosado. 

- Eu sinto o mesmo pela Layla, mas acho que você deveria falar mais sobre ela. Acredito que ela foi uma grande mulher, e que tem uma filha maravilhosa também. -retribuiu depositando um beijo na bochecha da mesma. 

- Obrigada. -agradeceu corada. 

Não demorou muito para que chegassem ao topo e avistaram os inúmeros túmulos e dores ali enterradas. Andaram mais um pouco até a parte final do cemitério, era ali onde estava a sepultura de Miyuuki, logo eles avistaram Igneel e os outros ali, todos em silêncio e cabisbaixos, apenas Erza chorava, o que era raro de se ver, mas ela considerava Miyuuki uma mãe também, então Natsu entendia sua dor. 

O rosado havia travado ali, sentia que se desse mais um passo desabaria. Igneel se surpreendeu ao ver o filho ali, mas logo se levantou e foi até o mesmo.

- Natsu... não precisava ter vindo. -falou terno, abraçando o mesmo.

- Tudo bem. 

- Olá querida. -cumprimentou a loira que permanecia ao lado do rosado. -Quer que eu coloque lá? -perguntou se referindo ao buquê. 

- Não precisa. Eu quero ir lá. -falou num tom mais baixo, porém o mais velho compreendeu bem o que ele disse. 

Em passos lentos, um a um, eles chegaram em frente a sepultura. Natsu depositou as flores ali, e se agachou junto aos outros. Erza se dirigiu até o mesmo e disse:

- Me desculpe... eu prometi... que não iria chorar mais. -falou em meio aos soluços. Ele abraçou a ruiva que aumentou ainda mais a intensidade do choro. 

- Tá tudo bem Erza. Não se preocupe com isso, não tem nada de mais em chorar. 

- Então por quê você nunca chora? 

- Não sei. Não sai. É torturante, mas não acontece nada. -explicou calmamente.

Algum tempo depois Zeref chegou ao lugar também, tinha se atrasado um pouco devido ao trabalho, também se surpreendeu ao ver o irmão mais novo ali, mas continuou andando até onde estavam. Primeiro cumprimentou o pai, abraçando o mesmo, em seguida fez o mesmo com o rosado. 

- Não sabia que vinha. 

- Nem eu. -deu uma leve risada sem humor. 

- Por que veio? 

- Não sei. Senti que precisava. Estranho não? 

- Sim. Mas, fico feliz que está aqui. -falou com um sorriso terno. 

- Nee... será que a tia ficaria orgulhosa da gente? -Gray perguntou choroso, e esse foi o ponto para fazer todos ali desabarem, inclusive Natsu, que sem perceber já derramava lágrimas uma após uma. A vida inteira, não só ele, seus amigos o ajudaram muito, para que ele se dedicasse ao máximo para orgulhar sua mãe. Sempre foram muito certos de seua objetivos, e se esforçaram para alcança-los. Sem atalhos. E quando parava pra pensar o que sua mãe diria à eles hoje, era doloroso não conseguir ouvir essas palavras. Quando se deu conta seu pai já estava o abraçando, e esse também chorava. 

- Eu tenho certeza que estaria. -foi o que ele disse para tentar confortar um certo vazio que ali ficará. -Eu estou orgulhoso de vocês. Cada dia que passa me surpreendo mais. E eu sei que eu não sou ela... talvez eu nem mesmo tenha cumprido meu papel direito, mas... eu amo vocês, e são vocês que me dão forças para seguir em frente. -continou, emocionado. Zeref e Lucy também se juntaram aos dois em seguida, um a um foram se aconchegando naquele abraço, um a um foram compartilhando e dividindo aquela dor. 

Aquela era uma ferida que não poderia ser cicatrizada, era uma dor que não poderia ser suportada, um fardo que não poderia ser carregado, não sozinho. Mas, eles sabiam que enquanto estivessem unidos, tudo ficaria bem. Naquele final de tarde chuvoso e gelado, ali foram libertadas muitas lembranças dolorosas, não apenas a morte de Miyuuki. Ali foram compartilhadas lágrimas de dor, sofrimento, arrependimento,superação, mas principalmente, saudade. Mas, ali também nasceu um sentimento de união e fraternidade.

A loira também chorava, na mesma intensidade de todos ali, toda aquela melancolia fez com que ela se lembrasse de sua mãe. Queria visitá-la em seu túmulo, mas era tão complicado. Só que uma voz dentro dela cantarolava calmamente... ela não estava mais sozinha, e onde quer que ela estivesse, Layla estaria ao seu lado. 

Uma coisa eles sabiam... aquele abraço era abençoado por todos que naquele momento estavam no coração de cada um.