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História Aqueles Olhos - Terceiro capítulo


Escrita por: LizaLizaLiza

Notas do Autor


Eu peço perdão pela demora

Capítulo 3 - Terceiro capítulo


Fanfic / Fanfiction Aqueles Olhos - Terceiro capítulo

• …‘˜‹†ƒ†‘• …‘‡­ƒ”ƒ ƒ …Š‡‰ƒ” ’‘—…‘ †‡’‘‹• †ƒ• ‘‹–‘ Š‘”ƒ• ƒ …ƒ•ƒ †ƒ —ƒ A casa estava elegantemente decorada nada menos que a senhora Hyuuga planejara para a quela noite. Os convidados começaram a chegar pouco depois das oito horas na casa. Estavam lá alguns colunáveis, um príncipe do país da Areia  acompanhado por uma jovem  e todas as mulheres com quem Yono normalmente tomava chá. Os garçons, de black-tie, serviam champanhe em bandejas de prata, enquanto os convidados iam chegando. Hinata os observava, escondida, sentada no topo da escada. Ela adorava ficar olhando as visitas quando os pais davam festas. A mãe estava muito bonita com o vestido preto de cetim; e o pai elegante e charmoso no smoking bem cortado. Os vestidos das mulheres cintilavam quando elas entravam e as joias brilhavam sob a luz das velas quando apanhavam as taças de champanhe e pareciam deslizar para onde estavam as vozes e a música. Yono e Hiashi adoravam dar festas. Faziam-no com menor frequência agora, mas ainda recebiam com fartura, de tempos em tempos. Hinata adorava ver os convidados chegando e, depois, deitar-se na cama ouvindo a música. Hinata tinha acabado de completar sete anos. Não havia nenhum motivo especial para a festa daquela noite, apenas uma reunião com os amigos, alguns dos quais Hinata reconhecia enquanto espiava. Havia uns poucos de quem tinha sempre gostado e que eram bons para ela nas raras ocasiões em que a viam. Ela quase nunca era apresentada aos amigos dos pais, raramente era vista e jamais lhe dispensavam muita atenção. Ela simplesmente ficava lá, escondida na parte de cima da casa, quase esquecida. Yono não achava que as crianças devessem ser vistas em eventos sociais, e a existência de Hinata em suas vidas podia ser qualquer coisa, exceto importante para ela. Vez ou outra, uma das amigas perguntava pela menina, principalmente durante as tardes de chá, e ela descartava as indagações com um gesto gracioso da mão, como um inseto incômodo que cruzasse seu caminho e pudesse ser rapidamente enxotado. Não havia fotografias de Hinata na casa, embora houvesse muitas de Yono e Hiashi, em molduras de prata. Nunca tiravam fotografias da menina. Registrar sua infância não era de nenhum interesse para eles. Hinata sorriu ao ver uma mulher de cabelos escuros muito bonita chegando ao vestíbulo lá embaixo. Kurenai Yūhi usava um vestido de chiffon branco que parecia flutuar quando ela andava, conversando com o marido. Aquela era uma das amigas mais chegadas de seus pais, e o marido trabalhava com Hiashi. Kurenai usava um colar de diamantes, que brilhava em seu pescoço, e parecia combinar perfeitamente com os olhos rubis. Então, como se pressentisse algo, olhou para cima e parou quando viu Hinata. O rosto da mulher pareceu iluminar-se e, com o brilho das velas do candelabro, era quase como se tivesse uma auréola. Nesse momento Hinata percebeu que aquele fulgor vinha de uma fina tiara de diamantes. Para Hinata, Kurenai parecia a rainha de um conto de fadas. — Hinatinha! O que você está fazendo aí em cima? — Sua voz era suave, e ela dirigiu-lhe um amplo sorriso, acenando para a criança escondida no último degrau da escada, com a camisola rosa de flanela. — Shhh... — Hinata pôs um dedo sobre os lábios, com uma expressão preocupada. Se soubessem que ela estava ali, ficaria em apuros. — Ah... — Kurenai Yūhi entendeu de imediato, ou pensou ter entendido, e subiu rapidamente para ir vê-la. Usava sandálias de salto alto de cetim branco, mas não fez qualquer barulho. O marido esperava lá embaixo, sorrindo, observando a mulher e a linda criança que agora cochichava, enquanto Kurenai a abraçava. — O que está fazendo aqui em cima? Vendo os convidados chegarem? — A senhora está tão bonita! — exclamou Hinata, fascinada, enquanto balançava a cabeça afirmativamente, respondendo à pergunta da mulher. Kurenai Yūhi era tudo o que sua mãe não era. Bonita e agradável, tinha olhos grandes e vermelhos e um sorriso que iluminava tudo à sua volta. Parecia um ser encantado para a menina, que muitas vezes não podia deixar de se perguntar por que não tinha uma mãe como ela. Kurenai era mais ou menos da mesma idade de sua mãe e parecia sempre triste quando dizia que não tinha filhos. Talvez tivesse havido um erro, talvez Hinata tivesse sido destinada a uma mulher como aquela e tivesse ido parar com seus pais por engano... Talvez porque fosse tão má e precisasse de castigo. Ela não conseguia imaginar Kurenai castigando alguém. Era tão boa e gentil, e parecia sempre tão feliz, especialmente nesse momento em que se inclinava para beijar Hinata, que pôde sentir-lhe o perfume suave e delicioso. Hinata odiava o perfume da mãe. — Você não pode descer um pouco? — perguntou Kurenai, querendo tomar Hinata nos braços e levá-la lá para baixo. Havia alguma coisa na menina que parecia sempre tocá-la e apoderar-se de seu coração. Tudo na garotinha despertava em Kurenai o desejo de amá-la e protegê-la. Ela não sabia por que se sentia dessa maneira, mas Hinata era uma dessas almas raras e frágeis que enternecia as pessoas, e Kurenai experimentava essa sensação agora, enquanto segurava a mão pequena e fria, os dedos incrivelmente delicados. O aperto era firme e quase suplicante. — Não, não... Eu não posso descer... Mamãe ficaria brava comigo. Eu devia estar na cama — sussurrou ela. Sabia qual era a penalidade por sair da cama e desobedecer às ordens; ainda assim, não conseguia resistir à tentação de espiar as pessoas chegando às festas. E, vez ou outra, havia uma gratificação como esta. — É uma coroa de verdade? — Kurenai parecia a Fada Madrinha da Cinderela, e o senhor Asuma, esperando pacientemente pela mulher ao pé da escada, estava muito charmoso. — O nome disso é tiara — Kurenai deu uma risadinha. Hinata era obrigada a chamá-la de tia Kurenai ou de sra. Yūhi. Havia castigos rigorosos se chamasse os amigos dos pais, ou qualquer outro adulto, pelo primeiro nome, e ela sabia disso. — Não é uma bobagem? Era da minha avó. — Ela era uma rainha? — perguntou Hinata, séria, com aqueles olhos imensos e inteligentes que sempre tocavam o coração de Kurenai de uma maneira que não entendia muito bem, mas que sentia intensamente. — Não, era apenas uma senhora engraçada. Mas ela esteve com a rainha uma vez. Foi quando usou isto. Eu achei que seria divertido usá-la esta noite. — E, enquanto explicava, desprendeu a tiara cuidadosamente dos cabelos negros penteados com elegância e, com um único gesto, colocou-a graciosamente sobre os cabelos de Hinata. — Agora você parece uma princesinha. — Pareço? — Hinata sentia-se horrorizada com aquela possibilidade. Como é que uma pessoa má como ela podia se parecer com uma princesa? — Venha... Vou mostrar a você — sussurrou a mulher bonita, pegando a mão da menina e atravessando o corredor do andar de cima até chegar a um espelho grande e antigo. Quando Hinata olhou para a imagem refletida com olhos arregalados, sobressaltou-se com o que viu: a mulher bonita a seu lado, olhando-a com um sorriso terno, e a pequena e elegante coroa de diamantes tremeluzindo no alto de sua própria cabeça, enquanto Kurenai  a segurava. — Ah... é tão bonito... e a senhora também... — Era um dos momentos mais encantados de sua curta vida, um momento que se imprimia para sempre em seu coração, enquanto as duas permaneciam ali. Por que essa mulher era sempre boa para ela? Como podia? Por que ela e a mãe eram tão diferentes? Para Hinata, esse era um mistério para o qual não havia explicação, embora soubesse, havia anos, que jamais fizera qualquer coisa para merecer uma mãe como essa. — Você é uma garotinha muito especial — disse Kurenai, suavemente, ao se inclinar para lhe dar outro beijo; em seguida desprendeu a tiara delicadamente da cabeça da menina e tornou a colocá-la na sua, dando uma última olhada no espelho. — Seus pais têm muita sorte. Mas os olhos de Hinata tornaram-se desesperadamente tristes com aquelas palavras. Se Kurenai soubesse como Hinata era má, jamais diria uma coisa dessas. Ela sabia que a mãe poderia contar uma história bem diferente à mulher, e que o faria. — Acho melhor eu descer agora. O pobre do Asuma está me esperando. Hinata fez que sim com a cabeça, ainda maravilhada com o que Kurenai havia feito: o beijo, a tiara, o toque suave, as palavras doces. Sabia que se lembraria daquilo tudo para o resto de sua vida. Para ela, era um presente que significava mais do que a mulher podia saber ou suspeitar. — Eu gostaria de morar com a senhora. — Hinata deixou as palavras escaparem enquanto segurava a mão da mulher e as duas dirigiam-se lentamente ao topo da escada. Kurenai achou estranho que a menina dissesse aquilo e não podia imaginar o que a levava a dizer tais palavras. — Eu também — disse, de maneira suave, odiando ter de soltar a mão da criança, sentindo um aperto no coração e vendo algo de tão doloroso nos olhos dela que a afligia fisicamente. — Mas seu papai e sua mamãe iam ficar muito tristes se você não estivesse aqui para fazê-los felizes. — Não iam, não — disse Hinata com inocência, o que fez Kurenai olhá-la demoradamente, imaginando se a menina tinha feito alguma coisa errada naquele dia, ou se havia levado uma bronca dos pais. Para ela, em sua ingenuidade, era praticamente impossível que alguém brigasse com uma criança daquelas. — Eu vou voltar e acenar para você daqui a pouquinho. Posso vir aqui em cima até o seu quarto? — Prometer-lhe alguma coisa parecia o único jeito de deixá-la, de aliviar sua própria consciência por deixar aqueles olhos, aquela aparência de súplica que pesava agora em seu coração. Mas Hinata sacudiu a cabeça com gravidade. — A senhora não pode vir me ver — disse, séria. O preço a ser pago seria quase insuportável, caso a mãe viesse a descobrir. Yono detestava quando suas amigas falavam com Hinata. Seria ainda pior se descobrisse que alguém tinha ido lá em cima para vê-la. Hinata sabia que a mãe a culparia por incomodar os convidados e que sua fúria não conheceria limites. — Eles não vão deixar. — Vou ver se consigo dar uma escapulida mais tarde... — prometeu Kurenai, começando a descer os degraus, e então mandou-lhe um beijo sobre o ombro elegante. O vestido parecia novamente flutuar ao seu redor, à medida que ela se movia. Kurenai parou no meio da escada e olhou para a criança que a observava. — Vou voltar, Hinatinha... Eu juro... — E então, sentindo no peito algo estranho e desconfortável que não compreendia muito bem, desceu o resto do caminho correndo para o marido. Ele bebia a segunda taça de champanhe e conversava com um homem de terno verde com uma flor laranja muito engraçado. Vê-los conversando, rindo e depois dirigindo-se lentamente para junto dos outros convidados era como assistir a uma dança. Hinata queria descer as escadas correndo e grudar-se àquela mulher, para, nela, encontrar segurança e proteção. E, pressentindo os olhos da criança ainda fixos sobre si, Kurenai olhou para cima uma última vez e acenou, enquanto desaparecia de braços dados com o marido, enquanto o homem, dizendo algo engraçado, arrancava dela uma risada límpida. Hinata fechou os olhos ao ouvi-la e encostou a cabeça no corrimão por uns instantes, lembrando e sonhando. Ainda podia ver a pequena tiara em sua própria cabeça e sentir o olhar da mulher e o seu perfume delicioso. Mais de uma hora se passou antes que os últimos convidados chegassem, e Hinata, sentada em silêncio, ainda os observava. Nenhuma outra pessoa a avistou ou mesmo olhou para cima. Chegavam, sorrindo e conversando, deixavam seus agasalhos, pegavam o champanhe e se dirigiam ao interior da casa, indo encontrar-se com seus pais e os outros convidados. Havia mais de cem pessoas ali, e ela sabia que a mãe jamais viria saber como ela estava. Supunha que a menina estivesse na cama, como deveria. Em nenhum momento passou pela cabeça dos pais que ela pudesse estar espiando  as pessoas que chegavam e sendo má, como de costume, desobedecendo às ordens. — Não saia da cama e não se mexa... nem mesmo respire - tinham sido as últimas palavras da mãe. Mas a sedução da magia lá embaixo havia sido mais forte. Ela gostaria de poder ir até lá e comer alguma coisa. Quando os últimos convidados chegaram, já estava morrendo de fome e sabia que havia muita comida na cozinha: tortinhas e bolos, chocolates e biscoitos. Tinha visto um presunto enorme ser preparado naquela tarde e também rosbife e peru. Havia caviar, como sempre, embora ela não gostasse. Tinha provado uma vez, mas o gosto de peixe era muito acentuado, e, de qualquer maneira, a mãe não queria que ela comesse. Estava proibida de tocá-lo, assim como em tudo o mais que era servido nas festas. Entretanto, adoraria provar um dos bolinhos. Havia bombas, tortinhas de morango e mil folhas, seus preferidos. Todos estavam tão ocupados aquela noite, que ninguém se lembrou de lhe dar o jantar. E ela sabia que era melhor não pedir nada à mãe quando esta estava se aprontando para uma festa. Yono tinha ficado horas no quarto, passando um longo tempo na banheira, fazendo o cabelo e a maquiagem. Não tivera tempo para pensar na filha, e Hinata sabia que era melhor assim. Sabia o que aconteceria caso pedisse alguma coisa. A mãe estava com os nervos à flor da pele antes de uma de suas festas. Hinata podia ouvir a música tocando mais alto agora. As pessoas dançavam no fundo do salão, e a sala de jantar, a de visitas e a biblioteca estavam abarrotadas de gente. Podia ouvi-los rindo e conversando e aguardou um longo tempo, na esperança de ver Kurenai novamente, mas ela não voltou, e a menina sabia que não tinha o direito de esperar. Provavelmente havia se esquecido. Hinata ainda estava sentada lá, torcendo para vê-la pela última vez, quando a mãe passou rapidamente no corredor lá de baixo, procurando alguma coisa, e imediatamente sentiu a presença da filha. Sem hesitar por um momento que fosse, olhou para o candelabro e, então, além deste, para o topo da escada, onde Hinata estava sentada de camisola rosa. A menina prendeu a respiração na mesma hora. Levantou-se de supetão, descalça, e recuou, tropeçando no último degrau e caindo sentada sobre o magro traseiro. A expressão no rosto da mãe lhe disse de imediato o que estava por vir. Sem qualquer som ou palavra, Yono subiu as escadas como se tivesse pés alados, uma mensageira do diabo. Usava um vestido de seda preto, justo no corpo, que revelava sua silhueta espetacular e brilhava como os cabelos escuros, presos num coque apertado. Tinha longos brincos pendentes de diamantes e um belo colar, também de diamantes. Mas, assim como o vestido e as joias de Kurenai pareciam deixá-la mais serena, cercá-la com uma aura de luz e suavidade, o que a mãe usava acentuava-lhe a aspereza e tornava sua aparência verdadeiramente assustadora. — O que é que você está fazendo aqui? — Ela cuspia as palavras num sussurro maligno. — Eu disse para não sair do seu quarto. — Desculpe, eu só... — Não havia desculpas para o que havia feito. Menos ainda por ter atraído Kurenai Yūhi só para vê-la... e pior ainda, experimentar a tiara... Se a mãe soubesse daquilo... Mas felizmente não sabia. — Não minta para mim, Hinata — disse, agarrando o braço da menina com tanta força que a circulação foi imediatamente interrompida e, quase ao mesmo tempo, a carne começou a formigar. — Não fale nada! — ordenou, entredentes, enquanto a arrastava pelo corredor, sem ser vista pelas pessoas que usufruíam de sua hospitalidade lá embaixo. Tivesse alguém presenciado o que acontecia ali, teria ficado chocado, sem palavras. E, embora soubesse disso, continuou sussurrando de forma perversa para a criança: — Não dê um pio, seu monstro... ou arranco seu braço fora. E Hinata tinha certeza absoluta de que o faria mesmo. Não duvidou por um momento sequer. Aos sete anos, tinha aprendido muitas lições sobre a mãe e sabia que toda tortura prometida era geralmente cumprida. Era uma das coisas de que se podia ter certeza em relação Yono.

Os pés da menina iam literalmente suspensos no ar, à medida que a mãe a levava para o quarto, quase a arrastando, e o resto do corpinho oscilava, enquanto tentava correr ao lado da mulher, para não irritá-la ainda mais. A porta estava aberta, e Yono jogou Hinata lá dentro. A criança caiu com um baque surdo, torcendo o tornozelo, mas sabia que era melhor não fazer barulho, deitada no chão do quarto escuro. — Agora fique aqui! Está me entendendo? Não quero ver você fora desse quarto novamente, está claro? — Se me desobedecer dessa vez, Hinata, eu juro que vai se arrepender. Ninguém quer ver você lá... ninguém gosta de você... as pessoas não estão nem aí se está sentada no topo da escada, como uma coitadinha, uma órfã patética. Você é só uma criança, deve ficar no seu quarto, onde não precisem olhar para você. Está escutando? — Na escuridão, apenas o silêncio. Hinata estava deitada, chorando baixinho da dor no tornozelo e no braço, mas era muito esperta e orgulhosa para reclamar com a mãe. — Responda! — A voz vibrou na escuridão do quarto, e Hinata temeu que a mãe fosse se aproximar para dar a mensagem de forma ainda mais sucinta. — Desculpa, mamãe — sussurrou. — Pare de choramingar e vá para a cama, que é o seu lugar.- disse Yono e bateu a porta. Ainda tinha o semblante carregado por causa do incidente ao precipitar-se para as escadas e, então, enquanto descia apressada, seu rosto pareceu transformar-se e a lembrança de Hinata, ou do que fizera com ela, havia desaparecido por completo quando Yono chegou ao vestíbulo. Três dos convidados estavam ali, vestindo seus casacos, e ela beijou cada um deles afetuosamente ao saírem, voltando em seguida para a sala de visitas a fim de conversar e dançar com os demais. Era como se Hinata jamais tivesse existido. Para ela, não existia mesmo. Hinata nada significava. Kurenai Yūhi pediu para que dessem um beijo na menina por ela, quando estava de partida. — Prometi que iria vê-la antes de ir embora, mas a essa altura ela já deve estar dormindo — disse, arrependendo-se ao ver a mãe da criança franzir a testa e parecer sobressaltada. — Espero que sim! — replicou Yono, asperamente. — Você a viu hoje? — perguntou, quase distraída, parecendo surpresa, mas não necessariamente preocupada com o fato. — Vi — confessou a bela mulher, envergonhada, esquecendo-se do que Hinata falara em relação a não ter permissão para ver os convidados, e não dando muita atenção àquilo. Quem poderia se zangar com um anjinho daqueles? Mas havia muita coisa que Kurenai não sabia sobre a mãe da criança. — Ela é tão adorável. Estava sentada no topo da escada quando chegamos, na camisolinha rosa mais encantadora que já vi. Subi para dar-lhe um beijo e conversamos por alguns minutos. — Sinto muito — disse Kurenai, parecendo um tanto irritada. — Ela não devia ter feito isso — disse, desculpando-se, como se a menina os tivesse ofendido de maneira aterradora e, aos olhos de Yono, tinha mesmo. Havia exposto sua presença, o que era um pecado imperdoável para a mãe; mas Kurenai Yūhi não podia imaginar. — Foi minha culpa. Não pude resistir a ela, com aqueles olhos imensos. Queria ver minha tiara. — Espero que você não tenha deixado que ela a tocasse. Alguma coisa nos olhos de Yono disse a Kurenai para não falar mais nada e, ao deixarem a casa dos Hyuugas naquela noite, Kurenai comentou o fato com Asuma. — Ela é extremamente dura com a criança, não acha, querido? Pelo modo como agiu, era como se a menina pudesse me roubar a tiara, se eu tivesse deixado. — Ela só deve ser muito conservadora em relação a crianças. Provavelmente estava com medo de que Hinata tivesse incomodado você. — Como é que ela poderia? — perguntou Kurenai, inocentemente, enquanto eram levados para casa pelo motorista. — É a coisinha mais doce que já vi... tão séria e linda. Ela tem os olhos mais tristes... — E então, desejosa: — Queria que tivéssemos uma garotinha como ela. — Eu sei — disse ele, acariciando-lhe a mão e desviando o olhar do rosto decepcionado da mulher. Sabia o que significava para ela o fato de em nove anos de casamento não terem conseguido ter um filho. Mas era algo que tinham de aceitar agora. — Ela é dura com Asuma também — afirmou Kurenai depois de uns momentos de silêncio, quando pensava nos filhos que jamais teriam e na garotinha linda com a qual havia conversado naquela noite. — Quem? — Aquela altura Asuma tinha a cabeça em outras coisas. Tivera um dia cansativo no escritório e já pensava no seguinte. Havia tirado os Hyuugas e os comentários da mulher sobre a filha deles do pensamento. — Yono. — Kurenai o trouxe de volta à noite em questão, e ele fez que sim com a cabeça. — Hiashi dançou várias vezes com aquela moça de cabelos curtos, e acho que Yono estava prestes a matá-lo. Asuma sorriu da avaliação que a mulher fazia da situação. — Quer dizer então que você não ligaria se eu dançasse com ela? — Ele levantou uma sobrancelha, e Kurenai riu. — A roupa da mulher mal lhe cobria o corpo. — Ela estava usando um vestido de cetim cor de carne que se ajustava ao corpo como uma segunda pele, não deixando nenhum trabalho à imaginação. Estava maravilhosa, e Hiashi Hyuuga certamente a achara muito interessante. Quem não achara? — Acho que não posso censurar Yono — admitiu Kurenai, envergonhada. E então, aparentemente sem malicia, voltou os grandes olhos vermelhos para o marido: — Você a achou bonita? Mas ele sabia que era melhor não dizer, e riu vigorosamente. Naquele momento chegaram em casa. — Não vou cair nessa, sra. Kurenai! Eu a achei horrorosa, uma verdadeira bruxa. Além disso, com um corpo horrível daquele jeito, nunca deveria ter se atrevido a usar aquele vestido.— Os dois riram da maneira como ele tentava se desvencilhar da pergunta da mulher, mas ambos sabiam que ela era de uma beleza admirável e bem mais do que levemente estimulante. Entretanto, Asuma jamais havia sentido interesse por outra mulher que não fosse sua linda esposa, e a ele não importava nem um pouco que ela não pudesse ter filhos. Ele a adorava. Sua única vontade agora era levá-la para o quarto, no andar de cima. Entretanto, o mesmo não era verdade para Hiashi Hyuuga, que nesse momento travava uma discussão parecida, mas muito mais acalorada, no quarto com Yono. — Pelo amor de Deus, por que é que não tirou logo as roupas dela? — perguntou Yono, com aspereza. Ele havia dançado repetidamente com a tão falada jovem de cabelos curtos e vestido de cetim cor de carne justíssimo, e suas danças apaixonadas não passaram despercebidas nem a Yono. — Minha nossa, Yono, eu só estava sendo educado. Ela bebeu demais e não sabia o que estava fazendo. — Muito conveniente para você — disse Yono, com frieza. — Quando a alça do vestido escorregou, exibindo o seio, era por puro acaso que, naquela hora, você estivesse praticamente beijando a mulher. — Ela andava em círculos pelo quarto, fumando, e ambos haviam bebido bastante durante toda a noite. — Eu não a estava beijando, e você sabe disso. A gente estava dançando. — Vocês estavam quase fazendo amor, bem ali na pista de dança. Você me humilhou na frente de nossos amigos. — Para Yono, ele precisava de castigo. — Talvez, se você se interessasse em dormir comigo, eu não precisasse dançar daquela maneira com uma completa desconhecida. — Não que ele ainda ligasse. Como poderia, depois de ver o que ela fazia com Hinata? Estava próximo a Yono, e ambos falavam alto, mas pelo menos dessa vez a menina não os ouvia. Dormia profundamente no quarto. O último convidado havia saído às duas horas, e eram quase três agora, no momento em que os dois brigavam. Estavam discutindo desde o término da festa, e as palavras tornavam-se mais e mais coléricas, assim como seus ânimos. — Você é nojento — disse Yono, o mais perto dele que ousava chegar.

Ambos pareciam enfurecidos, e a verdade é que ele adoraria ter roubado a garota para si, e talvez ainda o fizesse. Sua fidelidade e seus sentimentos para com Yono haviam desaparecido anos atrás. Cruel como era para a filha, e fria como era para ele, ela merecia aquilo, e ele não lhe devia nada. — Você é um canalha; e ela, uma vagabunda! — disse Yono, querendo humilhá-lo e feri-lo, mas sem conseguir. Ele não ligava mais para o que ela pensava ou dizia. Odiava tudo o que lhe dizia respeito, e ela sabia. — E você é uma megera, Yono. Já não é mais segredo nenhum. Todo mundo sabe. Não há nesta cidade homem que valha alguma coisa e queira você. — Ela não respondeu com palavras desta vez, mas recuou um passo e esbofeteou-o o mais forte que pôde, quase com tanta força quanto a dispensada ao bater na filha. — Não gaste sua energia. Eu não sou Hinata — disse, dando-lhe um violento empurrão. Ela caiu de costas sobre uma cadeira, derrubando-a. Ainda estava se levantando quando Hiashi saiu do quarto, batendo a porta. Ele não olhou para trás, não ligava e, por um momento de loucura, quase torceu para que a tivesse machucado. Ela merecia. Infligira tanta dor a ele e à filhinha, que merecia um pouco de volta. Ele não sabia para onde iria naquela noite e não se importava. Muitas mulheres estavam dispostas a ir para a cama com ele, e Hiashi tirava vantagem delas sempre que dispunha de tempo. Jamais hesitava em se agarrar à oportunidade de traí-la. Por que deveria? Desceu as escadas voando e chamou um táxi. Quando entrou no carro para ir embora dali, Yono dirigiu-se mancando para a janela, com apenas um sapato, e olhou para ele. Não havia dor em seus olhos, nem arrependimento pelo que dissera ou pelo que se passara. Só havia raiva e ódio em seu semblante. Ela ferira o lábio na queda e estava furiosa com ele. Tão furiosa, que a raiva precisava ser manifestada e havia somente um lugar onde poderia fazê-lo. Com um olhar desumano, tirou o outro sapato e lançou-o longe, saindo do quarto com passos silenciosos. Tudo o que sentia por ele, ou não sentia, estava em seus olhos no momento em que atravessava o corredor, dirigindo-se àquela porta familiar. E tudo o que sabia, ao entrar no quarto escuro, era que queria machucá-lo. Com um único gesto, acendeu as luzes para que pudesse ver o que estava fazendo e arrancou os cobertores da pequena cama. A aparência de que não havia ninguém ali não a deteve. Sabia que ela estava sempre lá, escondendo-se, má, nociva e repugnante como o pai. Era tão nojenta quanto ele, e Yono odiou-a com cada centímetro do seu ser, ao descobrir aquela forma pequena e cor-de-rosa, enroscada como uma bolinha na parte inferior da cama, agarrada à boneca... a maldita boneca que a mãe dele lhe dera e à qual estava sempre grudada... Yono estava tomada de uma fúria cega ao pegá-la e batê-la contra a parede, quebrando-lhe a cabeça. Hinata acordou num clarão ofuscante e viu o que ela fazia. — Não, mamãe, não! A Hanabi não!... Não... Mamãe, por favor... — Hinata soluçava, enquanto a mãe destruía a boneca que ela amara por tantos anos; em seguida, Yono virou-se para a filha com um ódio alucinado e começou a espancá-la. — É só uma porcaria de boneca... E você é uma menina mimada e má... Arrastou Kurenai até aqui em cima só para vê-la, não foi? E o que foi que você disse a ela?... Chorou para ela ver?... Contou a ela sobre isso? Falou que é isso que você merece? Que você é podre? Sua megera... Que você é uma vagabunda? E que eu e seu pai odiamos você por nos causar tantos problemas?... Contou a ela que precisamos punir você por ser tão má conosco? Contou? Contou? CONTOU? — Mas Hinata não podia mais responder. Os soluços foram abafados pelos gritos, enquanto a mãe a golpeava mais uma vez e outra e ainda mais uma. No começo, com o corpo da boneca que chamara de Hanabi e, depois, com o punho, batendo no peito, no corpo, nas costelas, dando pancadas, cortando-a, pegando os cabelos e quase arrancando-os da cabecinha, esbofeteando-a até que não conseguisse mais retomar o fôlego. Os golpes eram incessantes e não tinham fim, mais brutais do que se podia acreditar. Toda a raiva que sentia da criança e de Hiashi, a humilhação que sofrera naquela noite, quando ele fora atrás da garota, era descontada na criança, que não fazia ideia do que tinha feito para merecer aquilo, embora soubesse que, em alguma parte de si mesma, era tão má que certamente merecia o ódio da mãe. Hinata estava quase inconsciente quando a mãe a deixou naquela noite. Havia sangue na cama, e era como se uma faca a cortasse cada vez que tentava respirar. Nenhuma delas sabia, mas duas de suas costelas estavam quebradas. Não podia respirar ou mover-se, e precisava urinar desesperadamente, mas sabia que, se o fizesse na cama, a mãe a mataria de fato. Os destroços da boneca desapareceram. A mãe os havia levado e jogado no lixo aestava do quarto, exausta e um tanto saciada. A fúria em relação a Hiashi cedera. Tinha alimentado o monstro que havia dentro de si. Havia comido Hinata em seu lugar, devorado, mastigado e cuspido o que dela restava. Havia sangue emplastrado nos cabelos da menina, que continuava deitada, e os hematomas que apresentaria no dia seguinte seriam os piores que já tivera. Era a primeira vez que a mãe realmente lhe quebrava ossos, e Hinata estava apavorada, mas jamais duvidou de que aquela não seria a última. Deitada na cama, era incapaz de chorar depois que a mãe saiu: doía demais. Em vez disso, tremia violentamente. Estava desesperada de frio, e todo o corpinho sacudia. Os lábios estavam inchados, a cabeça doía, doía cada centímetro do corpo, mas o pior era a dor seca que sentia todas as vezes que tentava respirar e não conseguia. Pensou que talvez fosse morrer naquela noite e torceu para que assim fosse. Não tinha razão nenhuma para viver. A boneca estava morta. E sabia que um dia teria a mesma sina, nas mãos da mãe. Era só uma questão de tempo. Yono dormiu com o vestido preto de cetim, cansada demais para tirá-lo. E Hinata, deitada no próprio sangue, esperava que o anjo da morte viesse chamá-la. Tentou pensar em Kurenai e nos momentos partilhados com ela naquela noite, mas não conseguia, não podia pensar em nada. Sentia tanta dor e odiava a mãe de tal maneira... O ódio que sentia era maior que tudo. Quase tornava a dor suportável. E, naquele exato momento, enquanto estava deitada na cama, o pai se aconchegava nos braços de uma bela prostituta que conhecia muito bem. Hinata não fazia ideia de onde ele se encontrava, nem Yono, mas isso já não importava para nenhuma das duas. Yono disse a si mesma que não queria saber onde ele estava, queria que fosse no inferno e, com ela, era onde ele realmente estava. E Hinata sabia que, onde quer que estivesse, jamais a salvaria. Estava sozinha no mundo: sem salvadores, amigos ou mesmo sua boneca. Não tinha nada. Nem ninguém. Deitada ali naquela noite, incapaz de se mover, finalmente urinou na cama, tendo certeza absoluta de que, quando a mãe descobrisse pela manhã, iria matá-la. Ficou pensando nisso, desejando-o, imaginando como seria o fim, quanto mais iria doer... ou talvez não fosse doer nada... e, pensando assim, desejando a morte em sua vida, mergulhou numa escuridão misericordiosa.





Notas Finais


Peço perdão de coração pela demora do capítulo mas de agora em diante vou tentar ser mais pontual. Super beijao


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