Naquela madrugada fria, a noite estava lá fora junto à neve que caía com um silêncio apático. E as horas não pareciam passar. Prendendo-se apenas a si.
Era o mesmo cenário fúnebre de um ano atrás. Com seu colchão puído, fino e com um leve cheiro de mofo que não chegava a incomodar se não pensasse tanto.
A realidade não se assemelhava a nada com seus sonhos de juventude. Tudo o que se pôs a sacrificar, impondo um esforço além do imaginado, perdeu-se no tempo que não parece mais passar.
O cansaço é real.
O fracasso é real.
Todo o medo era real.
E antes do temido futuro, com ansiedade no peito e sorriso não contido, Jongin só sonhava. Tudo parecia ser bonito demais na sua mente e seu interior ardia em animação.
E Jongin jura. Jura que tentou ser bom pra si mesmo, bom pro mundo, bom para ser bom, mas tudo o que conseguiu foi um trabalho numa farmácia, uma televisão quebrada e um apartamento velho alugado.
As contas acumulam-se do lado da porta, embaixo da mesa, e Jongin apenas fecha os olhos com aquela seriedade que o mundo e a rotina enfadonha lhe trouxeram.
Lembra-se de uma quarta-feira, onde o cansaço pesava-lhe as costas e a falta de dinheiro o incomodava mais do que de costume, e não pensou muito em seus atos antes de decidir ir a uma boate qualquer.
A música estava absurdamente alta e em algum momento começou a sentir uma leve dor de cabeça, o suor nas costas. Mas a sua risada ecoava no lugar e os corpos roçavam-se ao seu de uma forma tão boa que não queria sair dali. O amanhã não chega.
Havia bebido alguma coisa alcoólica com um gosto ruim que nem chegava a recordar-se. E era fraco para o álcool, apesar de as consequências não lhe assustarem.
Estava o mais perto do que chegava a ser considerado felicidade. E talvez nem fosse, mas isso não importava. Não enquanto havia alguém apertando-lhe a cintura e impulsionando o quadril contra o seu em uma fricção tão gostosa. Nada parecia ser relevante ao seu redor.
A música torna-se apenas uma lembrança distante, ecoando por sua mente.
Sente o pulso ser puxado e, aos tropeços e risadas, é levado para algum canto escuro. Tudo parece estar bem.
As costas encontram a parede e Jongin fecha os olhos, esperando, consciente demais do contato da pele do outro na sua. Percebe nada acontecer e o membro latejar, e olha para quem está a sua frente. O rosto parece conhecido, mas Jongin quer apenas senti-lo dentro de si. Fundo, gostoso, rápido. Morde o lábio em antecipação, impaciente.
- Oh Sehun - murmurou o outro, sorrindo sorrateiro.
Depois disso, não recorda-se de mais nada. E não eram lembranças realmente boas.
Sehun aparecia constantemente em seu apartamento. À noite, de madrugada, durante o dia. Qualquer hora.
E talvez Jongin tivesse deixado de lado toda responsabilidade por influência de Sehun, que chegava enfiando-se debaixo das cobertas, puxando o mais velho para perto e cantarolando uma música aleatória.
Jongin acha que não deveria, mas se sente bem ali. Abraçado, vendo o mais novo dormir tão tranquilo. Quente.
O amanhã chega, mas o moreno ainda está li. Os minutos passam. Sabe que precisa ir trabalhar, porém sente que tudo está bem. Sem preocupações.
E os sonhos da juventude não são mais sonhos. Jongin pensa que vive por viver e espera o dia chegar, as horas passarem. Viver.
Às vezes, quando tudo parece impossível, grita, dizendo tudo aquilo que cobria sua mente por dias.
E talvez ele tenha dito muitas coisas e feito muitas, contudo, Sehun pensa que na ausência do sorriso do outro, tudo parece certo também. Com o choro, a frustração. É. Tudo bem.
Jongin sabe que o loiro é mais alguém cansado, com contas a pagar e um emprego de merda.
É. Tudo bem.
• • •
Por entre as frestas da cortina, a luz brilhante do motel em frente, entra. Na mente de Sehun tudo é alucinante, e os dedos roçam os cabelos ressecados de Jongin. Quando entreabre os olhos de forma lenta, o mais velho não sorri. A fumaça de Sehun toca a pele do moreno, em um contato quente. E um dia Jongin jurou.
Mas enquanto o loiro inspira mais da substância e o cigarro fica entre os dedos gordinhos, ele sela os lábios preguiçosamente nos do outro, e a sensação sufocante desce pela garganta e envolve o pulmão de Jongin.
De noite, de madrugada, durante o dia, o mais alto bate na porta apenas para desaparecer e corroer Jongin com a sua fumaça branca. Enchendo-o de calma e de uma alegria momentânea.
Frequentemente, Sehun não é suficiente para fazer com os pensamentos ruins desapareçam, nem para aliviar o peso nos ombros, e o moreno acaba precisando de uma tragada ou duas.
E Sehun tenta manter-se forte, seguro, ignorando a realidade de que um dia não poderá mais estar ali de madrugada nem de noite, nem durante o dia.
Jongin não tem objetivos, planos. Nada. Apenas sonhos esquecidos, umas músicas escritas em seu caderno antigo. Nada.
- Jongin - o loiro sussura.
O mais velho o fita com calma, embalado pelo sono, e sorri. Anda devagar, arrastando-se, sentindo o chão gelado trazendo-o um friozinho estranho no pé e aconchega-se ao peito de Sehun. Quente.
Esconde o rosto da curvatura de seu pescoço, roçando o nariz naquela região. Pensa um pouco no que quer falar e suspira, cansado.
- Acho que você deveria ficar por hoje.
"Nos conhecemos
Seguindo o mapa
Procurando pelo ouro
Mesmo que as razões mudem
Nunca vão congelar de novo
Mesmo que os assuntos mudem
Todos vamos permanecer os mesmos
Mesmo se encararmos o fim
Pensamentos vão permanecer como células
Tudo isso, é o que eu quero
Através de outro rio,
Alcancei o oceano antes do pôr do sol
O bombardeio começou com um rugido,
Ainda nós estamos tranquilos, indiferentes
Nós permanecemos calmos,
E procuramos outros detalhes,
Embora não seja fácil
Tudo isso, é o que eu quero."
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