História Arcano - Capítulo um: o Mago

— Há bastante tempo não via nada grotesco assim. Nojento mesmo, violento ao extremo. — o investigador da polícia, Pain Sato, disse.

— Nem eu, nem eu. E olha que já estamos lidando com isso há um tempinho. Vemos bastante mortes violentas, mas é a primeira em meses que consegue me deixar com o estômago ruim só de olhar. — a delegada Konan Shimizu respondeu.

Era uma manhã de segunda-feira, oito horas. Uma chamada na delegacia de Tóquio fez com que saíssem naquela manhã chuvosa e nublada de primeiro de novembro, em que uma garoa fina caía do céu, para atenderem a um chamado que, a primeira vista, parecia pouco peculiar, um homicídio. Homicídios não eram, de maneira alguma, crimes raros na capital do Japão e cidade mais populosa do mundo, mas aquele, em particular, parecia um pouco menos comum do que o normal.

— Não consegui fazer o homem que encontrou o corpo falar muita coisa, ele ainda está muito nervoso para fazer algum sentido, mas pelo que consegui entender, quando chegou do trabalho de manhã, encontrou esse homem sentado, com o rosto baixo, e achou que era alguém que tinha passado mal. Tentou falar com ele, o homem não respondeu, e quando ele se abaixou para ver, descobriu que ele estava morto pelas inúmeras facadas, e chamou a polícia. — o policial Itachi Uchiha explicou.

— Alguma pista de quem possa ser esse homem que morreu? — a delegada questionou.

— Até agora, nada. Mas talvez na autópsia tenhamos alguma pista. Pelo jeito, não morreu há tanto tempo assim.

A atenção dos três foi chamada para o corpo, que estava sendo retirado, quando tiveram que parar o trabalho por alguns instantes, alguém havia gritado "caiu alguma coisa aqui". Hinata Hyuuga, a legista que comandava o processo de retirada, pediu para que se afastassem por um instante, delicadamente: — Só um momento, não mexam o corpo, preciso ver o que é... — ela torcia para que não fosse nada demais, talvez um dente, ou algo do gênero, mas se surpreendeu ao encontrar uma carta de baralho no chão; nesse momento, a Hyuuga se virou para os três policiais — Acho que encontramos alguma coisa.

Os três se aproximaram e, a legista, que usava luvas, pegou a carta caída. — Acho que é uma carta de baralho. Estava dentro da boca dele.

— Não, é uma carta de tarot. O Mago, primeiro arcano maior. — Konan disse, lentamente.

— E o que uma carta de tarot poderia nos dizer, exatamente? — o ruivo perguntou.

— Bastante coisa, inclusive suspeitos. — ela falou, virando-se de costa — Vamos para a delegacia. Hinata, quando acabar a autópsia, esperamos o resultado com certa urgência. Não deixem que os repórteres encham esse lugar antes de arrumarem toda essa bagunça.

A outra assentiu, novamente dando ordens aos assistentes para removerem o corpo com mais cuidado, enquanto a polícia se dirigia de volta para a delegacia. A chuva começava a engrossar, mas não chegaram a abrir guarda-chuvas, pois a viatura estava estacionada ali perto. Uma certa aglomeração de pessoas já começava a se formar, e em breve, a mídia estaria ali, felizmente, depois da retirada do corpo, se tivessem sorte.

(...)

Assim que chegaram, a delegada foi até a sua sala e ao ligar o computador, começou a digitar freneticamente todas as pesquisas que precisava fazer para comprovar suas suspeitas. Outubro tinha sido um mês relativamente tranquilo, mas uma certa notícia de um projeto de lei estava deixando os ânimos agitados. Se sua hipótese estivesse correta, esse projeto de lei municipal podia ter deixado os ânimos agitados até demais.

— Bem, o tarot é, na Europa, um jogo de cartas, mas seu maior uso é para leituras esotéricas. E os mais conhecidos nesse aspecto de leituras são justamente os ciganos. Apenas se estivesse acontecendo alguma coisa relacionado a eles no momento aqui na cidade... — ela falou, em tom de ironia.

— A lei contra os ciganos. Isso é tão óbvio... — Pain respondeu — O vereador Orochimaru Taka fez um projeto de lei para tentar expulsar os ciganos de Tóquio, proibindo a atividade deles. É claro que ele não tem todo o apoio justamente por ser uma lei que vai contra a liberdade de culto e de expressão das pessoas, mas parece que muita gente quer se ver livre dos ciganos por uma razão ou outra e o apoia nessa loucura.

— Então podemos dizer que um cigano está por trás disso, como forma de protestar contra esse projeto de lei? Nós sabemos que eles já tentaram táticas mais violentas, como as pichações na Câmara dos Vereadores, mais especificamente, a União Romani. Ela quem ataca com unhas e dentes esse projeto, e com razão, é uma aberração. — Itachi concordou.

— Eu não iria tão longe assim... Não posso sair acusando pessoas por meras conjunturas. Se quer saber, eu acho que, com toda certeza, é alguém que quer fazer parecer que são ciganos. Não significa que é, necessariamente, um deles, pois pode ser alguém se passando por um para culpá-los. A carta deixa claro que o vínculo deve ser feito.  — a mulher disse, levantando-se da cadeira e andando pela sala, sem um destino em mente — A carta que encontramos é o primeiro arcano maior, o Mago. Não foi escolhida por acaso, representa o início da caminhada espiritual para os esotéricos. Se esse for realmente o início de algo maior, devo avisar que temos ainda outros vinte e um arcanos maiores, e mais cinquenta e seis arcanos menores. Em pouco tempo, se não fizermos nada, isso pode virar um verdadeiro banho de sangue.