A última caixa da mudança pareceu a mais pesada. Como minhas mãos não estavam disponíveis, fechei a porta do carro com uma bundada. O porteiro teve a gentileza de abrir a porta da recepção pra mim mais uma vez. Eu sorri e fui até o elevador. Apertei o botão com certa dificuldade e o elevador estava descendo. Que demora. E a caixa a cada minuto pesava mais 40 quilos. E eu sentia o suor na minha testa. Foi uma péssima ideia ficar com essa blusa de manga jeans. Isso é Rio!
O elevador abriu e eu tive o desprazer de ver um casal se pegando. Qual é, são 11h da manhã. Eles, que não me notaram, continuaram aquele beijo barulhento e babado e eu tive que fazer algo. Hrã hrã. Fingi uma engasgada e eles me olharam.
– Que ânimo, hein.
Não poderia ter dito algo pior. Ele deu uma risada e ela me olhou com a pior cara possível, o puxando para fora. Ótimo, porque tudo que mais quero agora é chegar em casa. Apertei o botão do oitavo andar e subi.
Entrei no apartamento e praticamente joguei a caixa no primeiro espaço que vi livre no chão. Me joguei no sofá mas foi em vão.
– Filha! – minha mãe gritou.
Revirei os olhos e fui até ela, na sacada.
– Alto, né? – ela disse.
– Seu grito? Muito alto.
Falei e nós rimos.
– Gostou? – perguntou, ainda olhando a paisagem.
Além de vários prédios enormes, há alguns metros tinha a praia, que deixava a visão ainda mais maravilhosa.
– E como não gostar?
Falei com um sorriso no rosto, ainda admirando a paisagem. E foi aí que ouvi meu estômago falar mais alto.
– Mas acho que já tá na hora da gente conhecer a cidade, inclusive um restaurante que vi no final da rua.
Ela riu.
– Nós já temos compromisso pra esse almoço – olhei disappointed but not surprised. – A vizinha nos convidou pra almoçar. E falando nisso, daqui uma hora temos que estar lá. Por favor, não se atrase.
– E tem como se atrasar quando eu vou só pro apartamento da frente?
– Com você, tem.
(...)
Droga, estou atrasada. Como eu consegui cochilar por 1 hora? Me levantei depressa e corri pra tomar banho. Lavei o cabelo depressa, e quando sai do banho, penteei rapidamente. Sai do banheiro e já vi minha caixa de lingeries, logo peguei um conjunto preto que vi e fui procurar minha caixa com roupas. Porque ela some logo agora? Gritei minha mãe mas ela deve estar no banho, então continuei procurando. Deixei minha toalha no sofá e a caixa estava na cozinha, ufa.
Peguei uma camiseta branca e um short jeans desfiado, coloquei sobre o balcão mas decidi levar a caixa de uma vez para meu quarto. Mas que péssima ideia. Peguei-a de mal jeito e acabei caindo no chão, o que me fez levantar dando risada. Mas olhei pela janela e quase tive um infarto. O menino do elevador (também) estava rindo de mim, e, pera ai: que falta de privacidade é essa????? Nossas janelas são praticamente coladas. Isso não pode ser verdade. É um karma.
Puxei a cortina da janela sem pensar duas vezes senti meu rosto ardendo de vergonha. Ou raiva. Vesti minha roupa e fui para o quarto da minha mãe, dizer que eu estava pronta, mas tive uma linda surpresa: ela já tinha ido.
E como eu não me lembrava qual apartamento ela tinha dito, tive que ir na sorte. Como só tinham 3 no mesmo andar, eu tinha 50% de chance de acertar. Mas calm down, isso quer dizer que também tem 50% de chance de eu ter que almoçar com o idiota do meu vizinho. Puta que me pariu. Tentei calcular qual era o apartamento dele, que dava direto na minha cozinha, mas não deu muito certo porque minha barriga estava muito vazia para meu cérebro funcionar.
Fui até a porta do 803, e quando ia bater, escutei uma outra porta abrindo atrás de mim, me virei e você já imagina quem apareceu com aquele sorriso debochado no rosto.
– Apartamento errado, vizinha.
Revirei os olhos, e fui até ele.
– Você só pode estar me zoando.
Minha mãe apareceu atrás dele.
– Oi, filha. Eu ia te chamar mas o Rafael se ofereceu pra ir lá pra mim...
– Nossa, muito educado! – falei, passando por ele e entrando.
– Que nada, seria um prazer.
Olhei acirrado mas não queria discutir com ele. Fui apresentada à Raquel e ao João, pais do mala. Raquel pediu que Rafael chamasse o irmão no quarto, e ele foi. Quando chegou, era um gato. Os dois. Mas Rafael me faz raiva, então desconsidero. Nossos pais novamente foram pra cozinha, e ficamos sós na sala.
– Oi, prazer.
Prazer.
– Marcos – apertamos as mãos.
– Agatha – falei sorrindo.
Ele tinha cara de uns 16 anos, não que fosse problema. Não pra mim.
– É a gostosinha da janela que te falei – Rafael disse.
– Eu não acredito que você disse isso – falei olhando pra ele.
– Não liga, Agatha, esse dai só fala besteira.
Nem tinha percebido.
(...)
O almoço foi maravilhoso. Principalmente porque Rafael não estava na mesa. Ele saiu sabe-se lá pra onde. (E dane-se.) Quando acabamos, me ofereci para lavar as louças. Não que eu quisesse, mas quem sabe bancando a educada recebo mais convites para almoçar outras vezes. Mas eles disseram que não precisava, então tudo certo. Estávamos indo embora e minha mãe pediu que eu pegasse seu celular na cozinha. Quando ia, quase esbarrei em Rafael, no corredor. Ele ia dizer algo mas entrei na cozinha. Pegou um prato e se sentou, eu fiquei olhando do balcão.
– Veio me fazer companhia? – ele perguntou.
– Você merece – falei, sorrindo.
Ele sorriu.
– Mas se você quisesse companhia tinha vindo na hora, ao invés de ficar por ai com suas namoradinhas.
– Tá me vigiando? – perguntou irônico.
– Foi só um palpite.
– Por isso que você errou.
Peguei o celular da minha mãe e fui até ele.
– Para de me olhar pela janela!
– Nem se eu fosse cego.
Dei uma risada da frase idiota e fui embora. Eu e minha mãe arrumamos mais algumas coisas e ela me disse que ia sair cedo amanhã, no caso, domingo, para terminar os toques finais da sua nova clínica. Disse também pra eu arrumar algo pra fazer.
– Acho que vou à praia – falei.
– Ótimo. Se você quiser chamar o...
– Nem termina essa frase.
Ela riu.
– Mas ele disse que...
– Boa noite, dona Ana.
Falei, entrando no quarto. Me joguei na cama e só queria dormir por umas 20h seguidas. E foi o que fiz.
Acordei às 13h e tomei um banho rápido. Coloquei meu maiô vinho de crochê e um short jeans. Almocei num restaurante na avenida e atravessei para ir à praia. Coloquei a canga no chão e tirei meu short. Me sentei e fiquei olhando aquela visão maravilhosa. Além da praia ser linda, uns 6 garotos estavam jogando vôlei e era quase impossível dizer qual era o mais bonito. Mas eu tenho tempo para escolher.
O sol já estava forte então me deitei, também já estava na hora de bronzear minhas costas. Me deitei e fiquei sentindo aquela paz. Mas não demorou muito para fazer jus a frase: tava bom demais pra ser verdade. Rafael, Marcos e uma garota ruiva estavam chegando e caminhando em minha direção. Tapei meu rosto disfarçadamente com meu short e fiquei com a cara coberta. Ele não me viu, ufa.
Foi aí que senti uma bola caindo nas minhas costas. Tirei o short do rosto e me virei, os jogadores estavam me olhando, e um deles veio até mim. E com aquele corpo, tomar uma bolada valeu até a pena.
– Pô, desculpa – ele falou.
– Tudo bem.
Eu me levantei com a bola na mão e o entreguei. Percebi que Rafael estava nos olhando.
– Valeu – ele falou e sorriu. – Posso saber seu nome?
– Agatha – nos cumprimentamos.
– Arthur – me olhou. – Então, Agatha. Já estamos acabando o jogo, posso te pagar uma água de coco?
– Claro – falei sorrindo.
Ele voltou ao jogo e eu olhei para Rafael, que veio até mim.
– E então, é uma por dia?
Falei, olhando para trás dele, onde a garota estava. Ele riu.
– Se ela não fosse minha prima... Ou lésbica.
– Ah... Então tá explicado porque vocês ainda não estão se agarrando.
Peguei minha canga e sacudi, a guardando na bolsa.
– Já tá indo? – ele falou.
– É. Arrumei uma coisa melhor para fazer.
Pus meu short e ele continuou me olhando.
– O que você vai fazer mais tarde?
Eu fingi pensar em algo.
– Vou procurar saber dos lugares que você não vai e começar a frequentar.
– Tô falando sério – ele riu.
– Eu também.
Ele deu um sorriso torto.
– Então você é difícil? – ele se aproximou.
– Não é que eu seja difícil – aproximei nossos lábios –, só não sou pro teu bico.
Ele achou mesmo que eu ia beijá-lo, e aquilo me fez sorrir.
– Você tá enganado se acha que vai acontecer alguma coisa entre a gente - falei, e ele sorriu irônico.
– Você que tá enganada se acha que não vai acontecer nada.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.