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História Are you my clarity? - Discórdia


Escrita por: itsmejubs

Notas do Autor


O nome do capítulo já diz tudo kkkk Boa leitura!!

Capítulo 17 - Discórdia


Sara's POV

Jorge me analisava de olhos arregalados. Seu olhar era firme e inexpressivo ao mesmo tempo, não dava pra saber o que ele estava pensando. Mas uma coisa é fato: ele não esperava isso. Não esperava que eu, a filha que ele tinha acabado de conhecer e que tanto admirava, dissesse uma coisa dessas. Eu cheguei naquela casa tão quieta, tão na minha, que acho que aquela família não acreditava que eu houvesse batido um carro dirigindo bêbada.

-- Não. -- meu pai murmurou após um longo silêncio. Eric me olhava boquiaberto. Dona Miranda me fuzilava. Alison com aquela expressão tranquila de sempre. -- Eu não acredito. Está tentando encobrir o Eric. Por quê, Sara?

-- Não estou encobrindo ninguém, tô falando a verdade -- sustentei a mentira. O porquê eu não sabia. Eric continuava calado. -- Era eu quem estava dirigindo. O Eric estava no banco do carona. A culpa do acidente foi minha.

Jorge olhou pro Eric, que engoliu em seco, nervoso. Estava incrédulo.

-- É verdade isso, Eric? -- o pai perguntou, sua voz agora era mais calma. Mas dava pra sentir a decepção no tom.

-- É-é... -- ele vacilou um pouco ao responder. Me encarou com os olhos verdes, acho que esperando que eu mudasse de ideia. Mas continuei firme.

-- Como pôde, Sara? -- agora dona Miranda era quem falava. -- Eu esperava isso muito mais do Eric do que de você. Não parecia ser uma garota desse tipo. Parecia tão responsável...

Baixei a cabeça. Agora eu sabia que tava todo mundo ali me julgando. Mas o que eu faria? Eu estava me sentindo extremamente culpada por aquilo tudo. Se Eric e Renata haviam brigado, eu sabia que eu tinha minha parcela de culpa. Culpa na briga, no afastamento deles, naquela confusão toda. Tudo começou por minha causa. Eu queria reparar, de alguma forma, o dano que eu achava que tinha causado. A oportunidade apareceu e pronto, eu agarrei. Era minha forma inconsciente de pedir desculpas.

-- Bom, nesse caso, Sara... -- meu pai pigarreou e começou a falar, parecia sem jeito. Acho que ele não sabia o que fazer, o que dizer. -- Não sei se te cabe dar algum castigo... Você já é mais velha, não acho que eu possa te impedir de fazer alguma coisa... Você mal sai de casa. Eu...

-- Tudo bem, Jorge -- eu interrompi porque já estava ficando nervosa com aquilo. Como se dá um castigo numa pessoa que você sente que não tem muita autoridade sobre? Ele deveria estar confuso. -- Eu entendo a gravidade do que fiz. Não precisa me dar punição nenhuma, se não quiser. Eu me comprometo a pagar o conserto do carro.

Eric abriu ligeiramente a boca e ficou inquieto, parecia que queria falar alguma coisa. Mas meu pai olhou pra ele e ele ficou quieto outra vez.

-- Não será necessário -- ele falou. -- Você não tem condições de pagar, e o seguro cobre a batida. Não se preocupe. Bom, é... Acho que precisamos conversar sobre isso mais tarde, não é? Eu e você.

Em que momento da minha vida eu me imaginei ali, pela primeira vez, recebendo uma bronca do meu pai? Uma pessoa que nunca esteve presente pra me dá-las quando realmente precisei. Nem sabia o que dizer, na verdade senti vontade de rir. Seria até engraçado se não fosse extremamente trágico.

-- Com certeza -- afirmei. -- Pode me procurar quando quiser.

Jorge ainda me lançou um último olhar, carregado de decepção, e saiu da sala. Magoei meu pai. Uma pessoa que não esperava isso de mim. Dona Miranda foi atrás dele, ficamos eu, Eric e Alison pra trás.

-- Isso é verdade? -- Ali perguntou, quebrando o silêncio pesado ali.

-- É -- eu falei mais uma vez. A mentira já tava parecendo verdade de tanto que eu a contava.

Alison olhou pro Eric e ele nada disse. Então ela levantou do sofá e subiu as escadas. Ficamos eu e ele a sós. Nos olhamos. Ele com uma sobrancelha erguida.

-- Por que fez isso? -- ele questionou em voz baixa.

-- Porque ia ser pior se achassem que era você -- respondi no mesmo tom. Na sinceridade total. -- Eu não me importo de ficar de castigo, mas você ia se prejudicar muito.

-- Você tava super confiante de que não ficaria de castigo, não é? -- ele disse num tom acusador. O quê? Que papo é esse? -- Quer se fazer de boazinha pra mim,

-- O que? -- quem estava de queixo caído agora era eu. -- Claro que não, Eric! Eu tenho muito mais a perder do que a ganhar com essa mentira. Aliás, eu não ganho nada. Seus pais devem estar me odiando agora.

-- É, estão -- ele estreitou os olhos. -- Pelo motivo errado, mas isso é só questão de tempo.

Soltou isso e saiu da sala. Como é que é? Que porra é essa? Ele achava que eu fiz aquilo pra "pagar de boazinha"? Em momento nenhum isso passou pela minha cabeça. Fechei os olhos, já arrependida de ter feito aquilo. Me fudi. É, eu tô mais fudida do que já estava antes.

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A segunda-feira chegou e com ela chegou junto a minha vontade de morrer. Passei o fim de semana achando que em algum momento eu acordaria e perceberia que tudo era um grande pesadelo, que nada aconteceu. Eric, por algum motivo estranho na mente dele, me odiava mais do que antes. Alison estava estranha comigo, embora eu achasse que ela sabia que era mentira que eu tinha batido o carro. Meu pai, que antes era super atencioso comigo, agora não mantinha mais do que a educação. O clima naquela casa agora estava insuportável. Ninguém falava comigo direito, mesmo eu não tendo feito nada. Era isso que eu temia desde que cheguei ali: ser rejeitada, me sentir deslocada. Parece que agora estava virando realidade.

Eu não tinha tido notícias da Renata também. Ela me mandou mensagem no whatsapp uma, duas, três vezes, mas não respondi a nenhuma delas. Ela me indagou porque eu tinha mentido sobre o acidente, o Eric já deveria ter contado pra ela sobre isso. Eu queria poder mudar de colégio. De sala. De vida. Só pra não ter que encontrá-la de novo. Meu peito doía em saber que eu ia olhá-la e não iria tê-la. Não como eu queria. Poderíamos dar uns amassos de vez em quando, ela me iludiria dizendo que estava apaixonada por mim, eu acreditaria mas nunca a teria de verdade pra mim. Nunca iríamos namorar, ficar juntas. Porra, me incomodava pra caralho pensar nisso.

Sentei numa cadeira no fundo da sala e baixei a cabeça. Na noite anterior eu havia telefonado para a minha avó no Rio Grande do Sul e desabafado com ela. Cheguei a chorar na ligação. Ela me disse que tudo ficaria bem, que as coisas iriam se resolver no seu tempo. Eu já não acreditava muito nisso.

Minutos depois ouvi o barulho de uma mochila sendo jogada pesadamente na cadeira ao meu lado. Não me mexi. Senti uma mão tocar meu ombro, eu conhecia aquele toque. Pelo amor de Deus, vai embora, garota. Vamos fingir que nem nos conhecemos, por favor.

-- Acha mesmo que me evitar vai ajudar? -- ouvi ela perguntar a mesma coisa que falei quando a empurrei na cabine do banheiro, pouco antes do nosso primeiro beijo. Meu coração doeu só de lembrar disso.

Ergui a cabeça pra olhá-la. Há algum tempo atrás estávamos em papeis diferentes; ela de cabeça baixa na cadeira e eu a chamando pra realidade. Como as coisas mudam.

-- Desculpa, passei o fim de semana ocupada -- menti bem descaradamente. Passei o fim de semana trancada no quarto, isso sim. -- Acabei nem olhando muito o celular.

Ela estreitou os olhos pra mim, sabia que eu tava mentindo. Aqueles olhinhos lindos que eu adorava quando ficavam bravos. Aquele biquinho que eu tinha vontade de beijar. Merda...

-- Você anda muito mentirosa esses dias, não acha não? -- ela acusou. -- Mentiu sobre o acidente e tá mentindo pra mim agora. Por que, Sara?

Abri a boca pra soltar mais alguma mentira, mas ela me interrompeu:

-- Eu sei que você falou aquilo pra livrar a barra do Eric, embora ele tenha me dito poucas e boas a seu respeito. Ele tá com um ciúmes enorme, acha que você fez isso para se gabar. Mas eu sei que você não é assim. Não fica mal com isso, Sara, eu já conversei com ele. Falei pra ele contar a verdade.

Olhei bem nos olhos dela, sem acreditar no que estava ouvindo. Acreditei fortemente que ela também ficaria chateada comigo, que ficaria ao lado do Eric, faria qualquer coisa menos me defender. Meu peito chegou a apertar de tanto que eu era apaixonada por aquela menina. Ela era muito perfeita.

-- Você acha que eu fiz mal em mentir? -- perguntei baixinho, estava aflita.

-- Acho que você teve boa intenção, mas o Eric não merecia. Aliás, VOCÊ não merecia. Se prejudicou por algo que ele deveria ter levado a culpa. O Eric às vezes é irresponsável, precisa de uns limites. Você tirou isso dele dessa vez, mas se fizer isso sempre ele vai achar que pode tudo no mundo.

-- É, mas agora já tá feito. Não vou desmentir nada.

-- Você não, ele sim. Já me prometeu isso. Mas estou chateada com outra coisa.

-- O quê? -- fiquei confusa.

-- Por que você me ignorou esses dias? Tá com raiva de mim? Foi por causa daquela nossa conversa na festa?

Ela tava achando que eu tava com raiva dela. Se Renata soubesse que eu sentia tudo de ruim naquele momento, menos raiva...

Não precisei responder porque a professora entrou na sala e pediu para todo mundo se organizar. Ela saiu da cadeira ao meu lado e foi sentar ao lado da Gabriela, lá na frente. Ufa. Pelo menos não teria que ficar sentindo seu olhar inquisidor a manhã toda. Pelo menos por enquanto.



Renata's POV

Não prestei atenção na aula em momento nenhum. Minha mente fervilhava em pensamentos. Primeiro de tudo, eu e Eric estávamos brigados. Quando ele foi na minha casa e conversamos sobre o que tinha acontecido, ele me contou que a Sara mentiu por ele na hora da briga com os pais. Eu fiquei encantada com essa atitude, me deu vontade na hora de sair correndo e ir encher aquela menina de beijos. Mas aí o Eric começou a jorrar reclamações, disse que o pai a tratava muito diferente de como tratava ele e a Alison, que a Sara só tinha feito isso para provar o quanto tinha poder naquela casa. Ridículo, fiquei boquiaberta ouvindo aquelas coisas. Depois brigamos e eu o fiz me jurar que desmentiria aquilo o mais rápido possível. Ela estava pagando por algo que não tinha feito, e ele ainda tinha coragem de falar daquele jeito dela.

E a Sara ainda estava me ignorando. Mandei várias mensagens, ela não respondeu, pensei até em ligar. Não imaginava porque ela estava agindo assim. Eu tinha feito algo errado? Será que ela não queria mais me ver, falar comigo? Queria acabar com o que nós tínhamos?

Ela fugiu de mim a manhã toda. Assim que o sinal para o intervalo tocou, ela saiu da sala praticamente correndo. Não a vi mais. Tive de aturar o Eric com uma cara fechada ao meu lado o tempo inteiro no pátio, a minha também não tava muito boa. Não demos uma palavra um com o outro. Toda aquela preocupação, aquele carinho que eu senti por ele no dia do acidente tinha se esvaído. Nós estávamos numa crise pesada no nosso namoro, eu me sentia cada vez menos confortável ao lado dele. Uma parte de mim só pensava numa loira, olhos azuis, o sorriso mais lindo e o beijo mais gostoso que já recebi na vida. E no quanto eu queria ouvir sua voz, seu riso, sentir seu cheiro e seu calor comigo. Queria estar com ela, mas ela não me queria. Isso me deixava ainda mais irritada, triste.

Na hora da saída, eu e Eric nos encontramos mais uma vez. Ele agora estava com uma expressão mais relaxada, diria que até triste. Me puxou pra um canto na porta do colégio e falou:

-- Rê, tô mal por a gente ter discutido. Sei que falei umas coisas que não foram legais, mas eu tava irritado. Queria pedir desculpas. Quero ficar bem com você de novo.

-- Não é a mim que você tem que pedir desculpas, Eric, é à Sara -- eu devolvi. -- Não foi a mim que você magoou.

-- Pedir desculpas a ela? Não, jamais -- ele deu um risinho sarcástico. -- Não tem porque. Ainda acho que ela fez de propósito. Mas não queria te envolver nessa briga, é por isso que me sinto mal.

-- Você deveria se sentir mal por ter tido essa atitude horrível, Eric! A Sara tá triste, se coloca no lugar dela.

Por falar na loira, avistei ela passando de longe. Estava indo embora a pé. A casa deles era ali perto, mas eles não foram juntos para o colégio naquele dia. E nem voltariam juntos. O clima tava sério mesmo.

-- SARA! Ei, vem cá! -- eu gritei e gesticulei, ela me olhou. Uma expressão desconfiada, ficou lá parada. Fiz um sinal pra ela vir até nós. Ela veio bem devagar, analisando nós dois. Quando se aproximou o suficiente eu disse: -- O Eric tem uma coisa pra te falar. Queria que fosse na minha frente. Vai, Eric, diz.

Ele jogou uma bomba em mim com o olhar. Se voltou pra Sara, com uma cara de puro desprezo. Engoliu em seco e disse:

-- Não tenho nada pra falar com você.

Sara não disse nada, só encolheu os ombros e ia saindo de novo. Eu segurei o braço dela e falei:

-- Não, espera! Eric, deixa de ser estúpido, garoto. Fala direito com a Sara.

-- Por que você defende tanto essa menina? -- ele rosnou. -- Não vou falar nada com você, eu não gosto de você. Você nunca foi, não é e nunca será minha irmã. Não adianta tentar. Minha vida só teve problemas desde que você chegou. Aliás, preciso sim te dizer uma coisa: queria que você fosse embora. E nunca mais voltasse.

Não sei quem estava mais surpresa com aquelas palavras, eu ou ela. Olhei pra Sara a tempo de ver seus olhos azuis arregalados ficarem vermelhos e lacrimejarem. Ela piscou várias vezes pra tentar espantar as lágrimas, baixou a cabeça e saiu andando rápido. Meu peito apertou de angústia porque eu sabia que ela tinha sofrido ouvindo aquilo. Meu Deus, me segura, eu vou matar esse garoto do meu lado.


Notas Finais


Vocês devem estar me odiando mas eu amo vocês, tá? <33


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