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História Are you my clarity? - Festa da Lagoa


Escrita por: itsmejubs

Notas do Autor


THE BITCH IS BACK!!!
Não vou nem ficar de papo, depois de receber até ameaça nesse site por ter sumido, vou deixar vocês lerem o capítulo hahahahha Nas notas finais eu explico tudo!

Capítulo 29 - Festa da Lagoa


Não me preocupei muito em organizar as coisas bonitinhas na mala. Meu nível de ansiedade estava num ponto em que eu não conseguia me concentrar em nada. Só pensava na viagem e no tamanho da expectativa que eu colocava que ela fosse boa.

 

-- Levo esse biquíni ou aquele outro? -- Gabi me perguntou, mostrando as duas peças de um tecido minúsculo com estampa floral.

 

-- Isso aí cobre alguma coisa? -- perguntei, rindo, me dando conta que eu também não havia escolhido um ainda.

 

-- Cobre até mais do que eu gostaria -- ela fez uma careta pensativa, olhou para o biquíni e falou: -- Decidi. Vou levar os dois.

 

-- Me passa aí esse perfume em cima da cômoda -- pedi, enquanto tentava enfiar mais roupas na mala que já não cabia mais nada. -- Você vai sentar em cima dessa mala enquanto eu tento fechar.

 

-- E eu que sempre saio de exagerada, né?

 

-- Gabi -- chamei, parando tudo que estava fazendo, um ar sério no rosto. Minha amiga parou também e me olhou, quase preocupada.

 

-- O que foi?

 

-- Tô com medo de o Eric ficar insistindo pra gente ficar nessa viagem.

 

-- Ele não vai. Relaxa com isso. Só aproveita. Se ele insistir, você dá o fora e pronto.

 

-- Você sabe que ele não leva as coisas assim tão fácil.

 

-- Então você dá um beijão na boca da Sara na frente dele e tudo se resolve.

 

-- Gabriela, tô falando sério! -- atirei um travesseiro que estava na cama na direção dela.

 

-- Ai, sério que vai começar com esse papo agora, Renata? Você deveria estar pensando na lingerie que vai usar com sua crush na barraca.

 

-- Não vamos ficar na mesma barraca -- fiz uma carinha triste.

 

-- Isso é o que veremos -- Gabi sorriu e piscou pra mim.

 

A propósito, a tal viagem pela qual estamos super empolgadas é a famosa Festa da Lagoa, organizada anualmente pelo nosso colégio. Os alunos viajam para um lugarejo próximo, onde há uma lagoa lindíssima, chamada Lagoa da Canção. Era cercada por uma reserva ambiental maravilhosa, cheia de árvores, e nós acampávamos numa clareira que havia próximo às águas. Era uma energia muito boa quando ficávamos reunidos em volta da fogueira, observados pelo luar num céu quase sem nuvens, as estrelas brilhando lá no alto. Lembrei dos momentos bons que passei ali com meus amigos. Esperava que, apesar dos problemas, esse ano também fosse legal.

 

Eu e Gabi ficamos até altas horas da madrugada, conversando antes de finalmente pegar no sono. A viagem era logo pela manhã, bem cedo, mas quando dormíamos juntas nunca conseguíamos dormir cedo. Gabriela acabou dormindo antes de mim, e eu aproveitei para mandar uma mensagem para Sara.

 

Renata: Acordada?

 

Não demorou muito e ela respondeu.

 

Sara: Ainda estou arrumando minha mala. Não faço ideia do que levar amanhã.

 

Eu sorri com a resposta.

 

Renata: Só sua presença já está ótimo. Animada para a viagem?

Sara: Muito. No meu antigo colégio não tínhamos muito isso de viajar.

Renata: Os tempos mudaram. Pena que esse é o último ano da gente lá. Você vai se apaixonar e não vai ter mais uma viagem dessas pra ir.

Sara: Quem disse? Não posso ir acampar lá depois? A área é exclusiva do colégio?

Renata: Vai lá sozinha? Não tem graça. A vibe com o pessoal é totalmente diferente.

Sara: Se você for comigo, não irei sozinha. Aliás, vamos ficar na mesma barraca ou é muito desaforo?

Renata: Eu acho que é muita tentação hahahaha

 

Já tinha pensado em inúmeros jeitos de dormimos na mesma barraca. As ordens do colégio era que homens e mulheres deveriam dormir separados, uma dupla por barraca. Essas leis só duravam até as onze da noite, quando os coordenadores fiscais iam dormir, e a gente aproveitava e saía correndo pelo gramado, cada um indo para a barraca do outro. Eu e Eric costumávamos fazer isso, ele saía da barraca dele e vinha dormir na minha. Lá pelas cinco da manhã, antes de os fiscais acordarem para fazer a ronda, ele voltava e ninguém nunca desconfiava.

 

Sara: Acha que não consegue dormir comigo sem tentar fazer nada?

Renata: Veremos, loira. Vai dormir, senão vai ficar cochilando amanhã e não vai aproveitar. Beijo, boa noite.

Sara: Vai me deixar sem a resposta mesmo? Tudo bem, então. Até amanhã.

 

Sorri uma última vez e bloqueei a tela. Decidi não responder. Mesmo que dormíssemos juntas, seria difícil tentar alguma coisa ali, com tanta gente em volta podendo nos ver, nos ouvir. Mas que seria complicado dormir ao lado dela sem fazer nada, isso seria.

 

 

 

Finalmente de manhã. Acordei Gabriela dando um pulo em seu colchão, ao lado da minha cama, quase matando-a de susto. Nos arrumamos rápido, tomamos café e levamos as malas para o carro. Minha mãe nos deixou na porta do colégio, já vimos o ônibus estacionado e alguns alunos se aproximando para guardar as coisas.

 

-- Juízo, hein? -- dona Sandra avisou antes de descermos.

 

-- Desde quanto não temos? -- sorri e dei um beijo em seu rosto. -- Quando você menos esperar, já estarei de volta. Não morra de saudades.

 

Minha mãe fez uma careta, bati a porta do carro e fomos em direção ao ônibus. Encontramos Ju e Felipe juntos, conversando. Gabriela me cutucou com o cotovelo e cochichou, antes de nos aproximarmos deles:

 

-- Eles são um casal lindo, né?

 

-- São sim! -- confirmei. -- Pena que acho que são tímidos demais para chegar um no outro. Eu tenho quase certeza que o Lipe sempre foi afim da Ju. Falta coragem.

 

-- Nós pensávamos a mesma coisa de você e do Eric. Até que um dia ele se embriagou e se declarou pra você. Podemos tentar o mesmo com o Felipe.

 

-- Mas espero que o final deles seja mais feliz do que o meu com o Eric.

 

-- Se a Ju não se apaixonou pela Sara até agora, então acho difícil que ela vá trocar o Lipe por outra mulher algum dia.

 

Fiz uma cara de surpresa e dei um tapa em Gabriela. Não valia nada mesmo.

 

Nos juntamos ao futuro casal e ficamos conversando, enquanto não dava a hora da partida e enquanto o resto do pessoal não chegava. Logo Amanda apareceu também. Cássio não viria no nosso ônibus, porque aquele era apenas para o pessoal do terceiro ano. Eu estava ansiosa, esperando que Sara aparecesse logo. Ela e o irmão estavam demorando. Quando faltavam apenas vinte minutos para o ônibus partir, eles chegaram.

 

-- Bom dia -- ela chegou à rodinha, cumprimentando. Linda. Os cabelos meio úmidos, tinha acabado de lavar. Não entendia como todo mundo que acorda cedo tem aquela cara de sono logo pela manhã, menos ela. Parecia que estava sempre disposta.

 

-- Um pouco atrasados, hein? -- Amanda gracejou. Eric vinha logo atrás de Sara, carregando uma mochila nas costas. Ele deu um sorriso meio graça. Desde que terminamos eu só o via assim, cabisbaixo, meio triste. Isso doía um pouquinho em mim, eu sabia que era a culpada.

 

Sara passou por mim para guardar as malas no bagageiro do ônibus. Não nos falamos diretamente, ela apenas me olhou de canto de olho e sorriu. Fiz o mesmo. Teria que me controlar muito nessa viagem para não beijá-la na frente de todo mundo.

 

Enfim, depois de todos se arrumarem, embarcamos. No início foi aquela bagunça, todo mundo gritando no ônibus, cantando, batucando; mas logo nos acalmamos. Primeiro porque era cedo e todo mundo deveria estar louco para dormir durante a viagem, segundo porque os professores insistiam para que calássemos a boca. Nosso grupinho sentou-se nas poltronas do fundo. Gabriela e Ju, uma do lado da outra; seguidas por Eric e Felipe, Amanda sentou-se ao lado de uma garota de outra turma (dupla que eu supus ser proposital, acho que Amanda queria pegar a menina), e por fim, eu e Sara.

Eu tinha esperado a loira sentar primeiro e, como se fosse ao acaso, me sentei ao lado dela depois. Depois que Gabriela tinha nos flagrado na sala naquele dia, achamos melhor manter a discrição ao máximo. Não que alguém parecesse desconfiar de nós. Mas era bom prevenir.

 

-- Ansiosa? -- Sara me perguntou, enquanto eu estava perdida fitando a estrada passando por nós.

 

-- Um pouco -- sorri pra ela. -- Ontem eu estava mais. Acho que só de estar aqui agora, já no ônibus, a ansiedade passou um pouquinho.

 

-- Quero ver se vai ser isso tudo mesmo que vocês estão prometendo. Tô achando muita propaganda.

 

-- Você já parou pra observar a lua, deitada em um gramado macio, o som das águas da lagoa no seu ouvido, sem pensar em nada, só no quanto a gente é pequenininho nesse mundo? -- viajei um pouco imaginando a cena, mas olhar o céu era um dos meus passatempos preferidos. Eu era uma fã da lua.

 

-- Com toda essa emoção que você tá descrevendo, acho que não -- ela sorriu.

 

-- Então vai sentir isso hoje. É surreal.

 

-- Você vai deitar ao meu lado nesse gramado macio, enquanto olhamos juntas e pensamos no quanto somos pequenininhas nesse mundo? -- ela perguntou isso num tom mais baixo, para que só nós pudéssemos ouvir.

 

-- Só se você quiser.

 

Ela continuou sorrindo e revirou os olhos, como se a resposta fosse óbvia. Aproveitei que estávamos no fundo, que estava todo mundo quieto e sentado, e entrelacei seus dedos nos meus. Ela fez um carinho com o polegar no dorso da minha mão.

 

Ficamos assim quase a viagem toda. Não demorou muito, eram cerca de duas horas até o lugar onde o ônibus nos deixaria e seguiríamos a pé por uma trilha até a clareira. Gabriela travava uma guerra com a mala enorme que tinha trazido e não conseguia carregar direito enquanto andava. Felipe tinha se oferecido para segurar a mala de Ju, e eles iam juntos um pouco à frente do grupo, conversando e se olhando como se houvesse só o outro ali. Não sei como um dia Felipe quis pegar Sara. Acho que foi só atração, coisa de momento, porque era óbvio que ele gostava de Ju. Eric, meio solitário, vinha caminhando atrás de nós, de cabeça baixa. Não pude deixar de sentir novamente aquela pena que me corroía, embora soubesse que esse era um sentimento horrível que eu não deveria estar sentindo.

 

Deixei que o pessoal andasse mais à frente e fui diminuindo o passo até ficar ao lado de Eric. Sara olhou para trás, para mim, um ar interrogativo. Apenas olhei de volta pra ela, ela percebeu que eu tinha ido para o lado de Eric. Ele também me encarou com a mesma dúvida: o que eu queria ali, ao lado dele?

 

-- Oi -- falei, sorrindo de leve. Não tinha falado diretamente com ele até então. Ele ficou calado praticamente a viagem toda, logo ele que era sempre tão animado.

 

-- Oi -- ele sorriu de volta. Ficamos em um silêncio constrangedor durante alguns segundos.

 

-- Animado para mais uma Festa da Lagoa? -- perguntei só para quebrar o gelo. Eu não tinha segundas intenções em estar ali, puxando papo com ele. Na verdade, era só mais porque eu me sentia culpada por tudo e não queria que ele sentisse raiva de mim. Nós sempre fomos um grupo de amigos muito unido, e eu queria manter isso, embora soubesse que dali pra frente isso seria difícil.

 

-- Não muito -- ele baixou a cabeça novamente e continuou sua caminhada. Não deu muita corda ao assunto, então continuei:

 

-- Fiquei sabendo que o time de vocês ganhou o campeonato. Meus parabéns.

 

-- É, ganhamos. Mas não ajudei muito. Só fiz um gol.

 

-- Já ajuda bastante, né? Tá sendo modesto. Você sempre foi o craque do time.

 

Eric me olhou novamente, os olhos claramente me fazendo uma pergunta: o que é que está acontecendo? Mas não disse nada, literalmente. Continuamos andando lado a lado, em silêncio, até quase chegarmos perto da clareira.

 

-- Olha, Eric -- eu comecei, meio sem jeito -- Eu queria que você soubesse que, apesar do jeito como terminamos, eu não queria que você pensasse que sinto raiva de você ou algo do tipo. Não queria também que você sentisse raiva de mim. Acho que podemos prosseguir como amigos, colegas, qualquer coisa assim. Mas não queria que nossa amizade se desfizesse.

 

-- Tudo bem -- para minha surpresa, ele concordou fácil e rápido demais. Olhei para ele para analisar seu rosto. A expressão era vazia, um nada. -- Não sinto raiva de você, Rê. Se quiser continuar a amizade, por mim tudo ok também.

 

Embora desconfiada dessa aceitação repentina, sorri e assenti. Esperava pelo menos que ele estivesse realmente bem com o que estava dizendo. Quando finalmente chegamos ao local do acampamento, me afastei de Eric e voltei para o lado da Sara.

 

-- Primeiramente, não fique com ciúmes -- brinquei, passando meu braço pelo dela. Ficamos assim, de braços dados. -- Só estávamos conversando.

 

-- Não fiquei com ciúmes -- ela sorriu. Não parecia mesmo estar chateada. -- Sobre o que conversaram?

 

-- Disse a ele que não queria que ficasse com raiva de mim, queria que continuássemos amigos.

 

-- O que ele respondeu?

 

-- Meio que fugiu do assunto. Mas concordou. Acho que ele tá meio triste, nunca vi o Eric tão pra baixo. Isso me deixa mal.

 

-- Entendo que se sinta assim, mas não fique culpada. Você tomou a melhor decisão, se continuassem juntos iriam se magoar.

 

Encostei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos. Senti seu cheiro bem próximo ao meu nariz.

 

-- Não tenho a mínima dúvida de que tomei a melhor decisão -- confirmei.

 

 

Assim que chegamos, nossos coordenadores nos orientaram, nos dividiram e começamos a montar as barracas. Sempre deixávamos tudo prontos antes de começarmos as atividades. Eu e Gabi montamos as nossas juntas. Demos nossos nomes como uma dupla, ficaríamos juntas na mesma barraca. Enquanto arrumávamos nossas coisas, eu falei:

 

-- Vamos dar um jeito de trocar os pares no meio da noite. Você vai pra barraca da Sara e ela vem pra nossa. Ou o contrário. O importante é trocar.

 

-- Ela vai dormir com quem? -- minha amiga perguntou, franzindo o cenho. -- Vai ser complicado se for alguém que não conhecemos. A menina vai desconfiar. E eu não quero dormir com nenhuma desconhecida. E se ela roncar?

 

-- Ai, meu Deus. Nem perguntei com quem a Sara ia dormir. Vou resolver isso agora.

 

Saí da nossa barraca e procurei a loira em todas as outras. Fui achá-la quase no fim da roda. A dela já estava montada e ela estava colocando as malas dentro.

 

-- Bu -- tentei dar um susto quando entrei, mas ela pareceu nem ligar.

 

-- Se veio me ajudar a montar, chegou tarde.

 

-- Na verdade, vim saber com quem a senhorita vai dormir nessa barraca.

 

-- Tá com ciúmes? -- ela sorriu.

 

-- Claro que não, não tenho ciúmes de você -- revirei os olhos e ela riu, sarcástica. -- Na verdade, estava pensando num modo de você fugir para a minha barraca no meio da noite.

 

-- Isso não é permitido, é?

 

-- Não. Mas ninguém nunca nos flagrou. É fácil. Só precisamos combinar com a pessoa que vai dormir com você, porque ela vai ter que dormir com a Gabi.

 

-- A Gabi já tá sabendo dessa troca ou só vai saber depois?

 

-- Não, ela já concordou. Mas quer saber quem vai ser a nova companheira de barraca dela. Você sabe como ela é.

 

-- Não acho que isso vá ser um problema... Eu vou dormir sozinha.

 

Arregalei os olhos com a notícia.

 

-- Como você conseguiu isso? Nunca vi ninguém dormir sozinho numa barraca aqui, em todos esses anos. É até pecado vir pra uma viagem dessas e ficar sozinho.

 

Sara deu de ombros, pegando uma última mochila no gramado e colocando dentro da barraca.

 

-- Conversei com o coordenador geral e, por acaso, tinha um número ímpar de alunos esse ano. Então teria uma barraca com um trio ou alguém dormiria sozinho. Pedi autorização e pronto. Vou ser a pecadora da vez.

 

-- Você ia dormir sozinha e não ia me contar nada? -- cruzei os braços e estreitei os olhos.

 

-- Estava esperando a hora certa -- ela sorriu e eu me desarmei. Se aproximou de mim e ficamos a centímetros uma da outra. Meu coração acelerou. -- Tava planejando chegar em você, à noite, quando você estivesse distraída olhando a lua... -- se aproximou ainda mais, encostou a boca no meu ouvido e continuou, num sussurro: -- ...e diria que estou com saudades e que queria passar a noite inteira abraçada com você.

 

Fechei os olhos e suspirei forte, buscando forças para me controlar, e a empurrei de leve.

 

-- Você não tem limites, né? Me provocando aqui na frente de todo mundo, uma hora dessas?

 

-- Não é provocação, é verdade -- aquele sorriso deslavado no rosto. -- Vamos, acho que estão chamando as turmas para organizar a trilha.

 

Nos aproximamos de onde o pessoal estava reunido numa roda, enquanto alguns professores davam as instruções do que faríamos no resto do dia. O planejamento era fazermos uma trilha até uma outra lagoa ali perto, chamada de Lagoa da Canção, bem menor que a lagoa principal onde acamparíamos.

Depois de as instruções dadas, pegamos nossas mochilas e suprimentos, calçamos tênis e partimos todos juntos pelos caminhos de terra floresta adentro.

 

-- E aí? -- Gabi perguntou, se aproximando de mim enquanto caminhávamos. Eu ia desviando e empurrando com as mãos os galhos de árvores que insistiam em quase me estapear no rosto. -- Quem vai ser minha nova companheira de barraca?

 

-- Ninguém, Gabi! A Sara conseguiu com o coordenador e vai dormir sozinha, crê nisso? 

 

-- O quê? -- arregalou os olhos. -- Quer dizer que eu vou dormir sozinha? Nada disso, de jeito nenhum! Eu tenho medo dessa floresta à noite.

 

-- Calma, mulher! Agora é sua chance de tentar armar com o Ítalo pra vocês dormirem juntos. Te convidaria pra dormir na barraca com a gente, mas acho que você não iria se sentir muito à vontade.

 

-- Ai, nojenta. Não quero saber o que vocês vão fazer. Mas você me deu uma ótima ideia... Dá licença, vou ali atrás do boy.

 

Eu sorri com a loucura de minha amiga e continuamos andando, em fila, até chegarmos à lagoa.

 

-- Finalmente! -- Amanda praticamente gritou, jogando a mochila no chão e erguendo os braços pro céu. -- Não aguentava mais isso. Olha aqui, meu tênis tá cheio de terra. 

 

-- Para de ser reclamona, garota -- Gabriela alfinetou. -- Olha essa vista. Olha essa lagoa, que coisa linda. Queria morar aqui pra sempre.

 

-- Você não aguentaria uma semana com os mosquitos aqui -- dessa vez Eric quem falou. Estava tão calado até então. Olhei pra ele e ele olhou pra mim também. Sorriu e eu sorri de volta. 

 

-- Vocês me subestimam -- minha amiga revidou, jogando os cabelos pra trás. -- Anda, vamos! Tô louca pra cair nessa água transparente.

 

De fato, a água da lagoa era tão límpida que era possível ver as pedras que repousavam ao fundo. De várias cores, vários tamanhos. Algumas pessoas já não estavam perdendo tempo, tinham colocado seus pertences embaixo de uma árvore grande ali perto e estavam tirando as roupas, ficando com roupa de banho, para mergulhar na lagoa. Gabriela me puxou pela mão para fazer o mesmo, Amanda já estava praticamente correndo. Felipe e Ju, que não se desgrudaram até então, vieram mais atrás. Olhei em volta à procura de Sara. Ela era quase a última da fila. Sorri ao vê-la, ela sorriu pra mim também. Seus cabelos loiros estavam presos num coque no alto da cabeça, devido ao calor, e a claridade da luz do sol parecia deixar seus olhos ainda mais parecidos com a cor do mar.

 

-- Vem -- deixei o pessoal partir na nossa frente e me aproximei dela. -- Você vai adorar essa água. É uma delícia.

 

Deixamos nossas coisas na mesma árvore gigantesca. Tirei meus tênis e comecei a retirar minha blusa. Flagrei Sara observando discretamente enquanto eu fazia isso. Decidi tornar o movimento bem mais lento, só para provocá-la. Ela percebeu isso também e sorriu, balançando a cabeça. Coloquei a blusa dentro da mochila e comecei a desabotoar o short.

 

Perdi no meu próprio jogo quando Sara começou a tirar sua blusa também, não sem antes soltar os cabelos de uma forma completamente sexy. Notei que eu não era a única a observá-la fazer isso. Alguns meninos ao redor praticamente babavam, quase quebrando o pescoço. Ela tirou a blusa e, sem muita pressa, tirou também o short, ficando apenas de biquíni. Minha respiração falhou. Apesar de já tê-la visto com muito menos que isso, ainda me afetava.

 

Para me provocar mais ainda, ela nem sequer olhou em minha direção. Andou em direção à lagoa, onde nossos amigos já estavam, e entrou na água como se fosse uma sereia voltando para seu habitat. Me livrei correndo do resto das minhas roupas e caí na água também.

 

-- Sabe uma coisa que eu sinto muita saudade de quando éramos mais novos? -- ouvi Juliana falar quando me aproximei do lugar onde a galera estava. 

 

-- O quê? -- Amanda.

 

-- Disso! -- ela exclamou, rindo, jogando água na nossa direção e se afastando rápido.

 

-- Ai, filha da mãe! -- Gabriela soltou um gritinho. -- A porra da água tá gelada. 

 

Eric revidou, mas como ele é desses, a água se agitou como se fosse um tsunami. Amanda começou a jogar nele também e logo estávamos numa guerra de água, feito um bando de crianças. 

 

-- Não é justo! Volta aqui, sua puta! Isso não vale! -- Gabi, indignada, tentava nadar atrás de Amanda, que quase a tinha afogado.

 

Ficamos nessa brincadeira por alguns minutos, até que cansamos e relaxamos um pouco. O resto da turma parecia estar tirando as férias da vida, todos sorrindo e se divertindo, alheios a qualquer coisa. Sorri involuntariamente com a energia boa do lugar.

 

-- Tá pensando em quê? -- me assustei quando Eric chegou ao meu lado.

 

-- Em como é maravilhoso estar aqui agora -- ainda sorrindo. -- Você não acha? A gente tava merecendo esse momento de paz.

 

-- É verdade -- ele encarou as pessoas ao nosso redor, animadas, e depois me encarou. -- E você? Tá se sentindo em paz também?

 

-- Sim. Você não?

 

-- Vou ficar.

 

-- Eric...

 

-- Não, Rê, eu sei o que você vai dizer. Sei que você deve sentir pena de mim. Mas não sinta. Eu já pensei muito, já aceitei, essas coisas acontecem. Se você estiver disposta a manter a amizade, por mim tudo bem também.

 

-- Que bom ouvir isso. Então estamos bem?

 

-- Sempre estivemos -- ele deu um sorrisinho fraco. -- Mas quero que você saiba que faço isso por você. Porque ainda te amo e seria muito mais insuportável ficar longe de você do que simplesmente aceitar os fatos e seguir em frente. 

 

-- Isso um dia vai passar, Eric -- falei séria. -- Nós vamos nos ajustar, você vai ver.

 

-- Iremos. Mas eu vou continuar gostando de você, sabe. Você foi a primeira garota que eu amei de verdade. Mas não queria que você se sentisse presa a isso... Sei lá, que ficasse com pena de, algum dia, aparecer com outro cara. Você é livre. Eu não vou atrasar sua vida.

 

-- Sei que não, Eric. -- senti meu coração apertar. -- Sei que não...

 

-- Posso te pedir um abraço? -- ele perguntou, virando de frente pra mim e estendendo os braços.


Notas Finais


Galera, sei que vocês merecem uma explicação pra esse meu sumiço de quase três meses. Aconteceu muita coisa na minha vida nesse final do ano passado... Perdi meu pai, uma pessoa que era muito importante pra mim, e fiquei muito mal mesmo. Quase não saí de casa, quase não comia... Quase ao mesmo tempo, minha madrinha, que é quase uma segunda mãe pra mim, descobriu que tá com câncer e iniciou a quimio, foi uma barra aqui na família. Além disso, várias outras pequenas coisas aconteceram, mais fáceis de administrar, mas que ainda assim tomaram umas energias minhas que eu já não tinha muito. Mas o final das contas é: a vida segue em frente, eu tô me recuperando, tá tudo indo bem... Tive o apoio de muita gente querida pra passar por isso e tô bem. Parece que pelo menos 2017 chegou com uma energia boa pra mim. Peço imensas desculpas pelo sumiço, não me matem hahaha. Enfim, tá aí o capítulo tão esperado. Tive que dividir em dois porque ficou e n o r m e. Meio atrasada, mas ainda valendo: um feliz ano novo pra vocês! <3


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