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História Are you my clarity? - Today is the greatest day


Escrita por: itsmejubs

Notas do Autor


Tô in love com esse capítulo
Se apaixonem também <3

Capítulo 30 - Today is the greatest day


Não neguei. Dei um passo à frente e nos abraçamos. Forte, ele me manteve apertada em seus braços durante bons segundos, como se quisesse gravar meu corpo no dele uma última vez. Quando nos separamos, ele baixou a cabeça e voltou à roda do pessoal.

 

Procurei Sara e não a encontrei perto de nós. Olhei em todos os lugares e só fui encontrá-la fora da água, sentada numa pedra, com uma prancheta na mão e um lápis na outra. Parecia concentrada em alguma coisa no papel. Linda demais. Saí da lagoa e fui me sentar ao seu lado. Ela levou um susto, não esperava me ver ali, e baixou a prancheta no colo para eu não ver o desenho.

 

-- Que horas você saiu da água que eu não vi? -- perguntei a ela, colocando uma mecha de seu cabelo dourado e molhado atrás de sua orelha.

 

-- Faz alguns minutos já. Não resisti, esse lugar é lindo demais, tive que parar pra guardar um desenho desse momento.

 

-- E que desenho é esse que eu não posso ver? -- apontei para a prancheta de cabeça pra baixo no seu colo.

 

-- É que ainda não está pronto.

 

-- Não posso nem ver o rascunho? -- fiz um biquinho. -- Tenho certeza que deve tá lindo.

 

Sara levantou o prancheta e eu olhei o desenho. Meu queixo caiu. Eu estava desenhada no papel, perfeitamente capturada em todos os detalhes, até mesmo o brilho da água parecia real de tão bem feito que estava. Eu estava encostada em uma pedra perto da beira da lagoa, onde estava há pouco conversando com Eric. Mas ela havia desenhado somente a mim, de perfil, como se eu estivesse ali apreciando a paisagem. E que paisagem ela havia retratado. Parecia uma fotografia, dessas que você quer guardar pra mostrar aos netos no futuro.

 

-- Caramba -- só consegui falar isso. Ainda encarava admirada os traços perfeitos. -- Que lindo, Sara!
Você é linda, meu amor...

 

Num ímpeto, inclinei meu corpo pra frente, aproximando do seu, e quase encostei meus lábios nos seus. Ela arregalou os olhos e me empurrou na mesma hora. Aí me dei conta de que eu quase a tinha beijado ali, na frente de todo mundo.

 

-- Eita! -- exclamei, me recompondo e colocando a mão na boca. -- Desculpa... Meu Deus, nem sei o que deu em mim. Foi a emoção do momento.

 

Sara riu com vontade e eu fiquei mais vermelha ainda. Olhei em volta e, graças aos céus, ninguém parecia ter prestado atenção na gente.

 

-- Vai poder fazer isso mais tarde -- ela provocou, ainda rindo. -- Calma, aguenta aí um pouquinho.

 

-- Idiota -- sorri também. -- Você me faz perder a noção das coisas.

 

Ela olhou nos meus olhos, dessa vez séria, mas seus olhos brilhavam. Sua expressão era serena.

 

-- Não, eu gostei. De tudo. De você quase ter me beijado, de ter gostado do desenho, mas o mais importante...

 

-- O quê? -- fiquei meio confusa. 

 

-- Você me chamou de "meu amor". De novo.

 

-- Sério? -- senti meu rosto ficar rubro. -- Saiu sem querer. Foi o combo do beijo, eu acho. -- dei uma risadinha, estava sem graça.

 

Sara não disse nada, apenas sorriu e voltou a olhar à nossa frente. Me senti um pouco constrangida. Apesar de ela ter retribuído da primeira vez que eu a chamei de "meu amor", hoje ela nada disse, e eu não sabia interpretar esse seu silêncio. Será que eu estava indo rápido demais? Minha vontade era de dizer logo a ela que eu a amava e que queria oficializar aquilo que tínhamos, poder chamá-la de "meu amor" quantas vezes quisesse, a hora que quisesse. Mas ela ficou calada, então eu também não falei mais nada, apenas ficamos ali, juntas, admirando a paisagem. Logo nossos amigos notaram nossa presença ali e vieram se juntar a nós. Ficamos ali batendo papo e rindo, até que o sol começou a amenizar sua intensidade e o dia foi passando. Lá pelo final da tarde, já meio cansados e mortos de fome, voltamos ao acampamento para o tão esperado luau.

 

-- Certo, o esquema é o seguinte -- Gabriela entrou na barraca onde eu estava pegando minhas coisas para tomar banho em uma das cabines com chuveiro montadas ali perto. -- Quando os fiscais já tiverem ido dormir, você vai correndo para a barraca da Sara. Sem fazer barulho, sem acender luz nenhuma. Combinei com o Ítalo e o amigo dele vai dormir sozinho, ele vem para a nossa barraca. Captou o plano? Ajusta o celular pra despertar umas cinco da manhã, que é pouco antes de os fiscais acordarem para a ronda.

 

-- Captei -- demos um high-five. -- Você é ótima nisso de planejar os esquemas.

 

-- Eu tinha que ser boa em alguma coisa -- ela sorriu. -- Anda, vamos logo tomar banho, a banda do luau já chegou e já está se preparando.

 

Nos arrumamos e depois nos reunimos na clareira, onde estava sendo acesa uma fogueira enorme e bonita. O calor contrastava com o friozinho gostoso que fazia quando a noite caía ali. Os professores começaram a distribuir nosso "jantar": alguns sanduíches, frutas, bolos, frios, sucos que haviam levado. Um isopor enorme estava perto da mesa de jantar, mas só os alunos maiores de idade poderiam usufruir das bebidas alcoólicas. Eric foi um dos primeiros a ir lá e pegar uma cerveja.

Amanda surgiu ao nosso lado sacudindo um saco de marshmallow nas mãos.

 

-- Quem vai querer? -- ela perguntou, alçando as sobrancelhas e sorrindo.

 

-- Tá achando que tá nos Estados Unidos, é? -- Juliana. -- Vai assar isso na fogueira?

 

-- Lógico, né -- Amanda revirou os olhos. -- Fiz isso uma vez quando fui acampar com meus primos. Achei uma delícia. Tá reclamando agora, mas quando tiver pronto aposto que vai pedir.

 

-- Vai, me dá um desses aí -- Ju entregou os pontos e estendeu a mão.

 

Enquanto estávamos comendo e bebendo, a banda subiu num palquinho improvisado de madeira ali e os músicos começaram a afinar os instrumentos. A galera começou a se movimentar.

 

-- Primeiramente, boa noite gente -- o vocalista sorriu e falou ao microfone. -- É uma honra estar aqui com vocês hoje, porque eu já estive aí no lugar de vocês um dia. Eu também já estudei nesse colégio e adorava os momentos que eu passava nessa viagem. Espero que vocês aproveitem também. 

 

A música começou a soar pelo ambiente. A banda era boa, tocavam canções dignas de férias, acampamento, aquela vibe legal. 

 

-- Olhem -- apontei pro céu e todos olharam também. -- Essa lua tá linda demais hoje.

 

-- Parece que foi encomendada -- Sara concordou e sorriu. Ela estava linda usando um vestidinho floral.

 

-- Isso pede um brinde -- Cássio, que não estava conosco, apareceu, equilibrando nas mãos vários shots de alguma bebida.

 

-- O que é isso? -- Gabi perguntou. -- Como você conseguiu isso, garoto? Você nem tem 18 ainda.

 

-- Tenho meus contatos -- ele piscou e ofereceu pra cada um uma dose. -- Vamos virar!

 

-- Espera! O que é isso? -- perguntei, aproximando o copinho do nariz e cheirando. Inconfundível. -- Vodka? Não sei lidar com isso.

 

-- Anda, vamos virar logo! -- Amanda logo se animou e ergueu sua dose para o alto. Brindamos e viramos em seguida. Fiz uma careta.

 

-- Vou pegar mais -- Cássio anunciou e se retirou.

 

-- Não vamos ficar bêbados, hein? A gente tem que lembrar dessa noite maravilhosa amanhã -- Felipe comentou.

 

-- Maravilhosa, é? -- Gabi, indiscreta, estreitou os olhos. -- Ainda nem começou, bonitão. Calma que as maravilhas ainda irão acontecer.

 

Todo mundo na roda captou a indireta, inclusive o próprio Felipe. Ficou vermelho que nem um pimentão, coçou a cabeça e olhou de canto de olho para Ju, que também parecia meio sem graça, mas esboçou um sorrisinho.

 

-- Vou ajudar o Cássio com as bebidas -- ele falou e saiu quase correndo dali. Gargalhamos.

 

-- Precisava disso, Gabi? -- dei um tapinha em seu braço. -- O menino saiu foragido daqui. Coitado.

 

-- Ai, deixa disso gente -- ela cutucou Juliana. -- E você, não se faça de desentendida. O que tá rolando entre vocês?

 

-- Nada, galera -- Ju, tímida, baixou a cabeça. -- Só somos amigos. Estamos passando mais tempo juntos, mas é normal, nada demais.

 

-- Sei -- Gabriela. -- Quero só ver se não vão trocar saliva essa noite. Sei que eu vou. Aliás, alguém viu o Ítalo? Esse menino tá sumido.

 

-- Ainda está se arrumando -- Eric quem respondeu. -- Ele foi o último dos caras a ir tomar banho. 

 

Eric me olhou depois de falar isso. Eu já havia reparado que ele constantemente me olhava nessa viagem. Não sabia o que isso queria dizer; se ele esperava aprovação minha em tudo que ele falava, se era mera coincidência que ele me olhasse toda vez que eu olhava para ele ou se faltava algo a ser dito entre nós. Quando percebeu que eu olhei de volta, ele deu um gole na cerveja e desviou o olhar. Sara observou isso. Seus lábios franziram levemente.

 

-- Vou pegar uma água, galera, já volto -- falei e segurei a mão da loira, virando para ela e sussurrando: -- E você vem comigo.

 

Não dei chance de ela responder e a puxei para sairmos da roda. Me dirigi à mesa onde estava a água e enchi o copo. 

 

-- Não é nada do que você está pensando -- tratei logo de falar a ela.

 

-- O quê? Não pensei nada. Você falando assim parece que tem algo para eu ficar pensando. Tem? -- ela ergueu uma sobrancelha.

 

-- Justamente! Não tem, mas eu sei que você tá pensando besteira. 

 

-- O que vocês estavam conversando lá na lagoa, quando se abraçaram? -- ela foi bem direta. Mas não parecia chateada. Mas eu sabia que estava com ciúmes.

 

-- O mesmo que conversamos mais cedo. Nossa amizade. Ele quer continuar sendo meu amigo, parece que está bem de boa agora. Nos abraçamos porque ele pediu um abraço, foi só. Eu juro, Sara, não tem nada entre a gente.

 

-- Ei, calma -- ela se permitiu um sorriso. -- Eu acredito. Não precisa ficar nervosa.

 

-- Fico aflita com esse assunto. Parece que nunca acaba. Mas parece que tá tudo se ajeitando agora.

 

-- É, espero que sim. Vamos voltar pra lá?

 

Concordei com a cabeça e voltamos para a rodinha. A banda começou a tocar um forró e o alvoroço foi geral. 

 

-- Caralho, eu adoro forró! -- Cássio exclamou. -- Preciso dançar com alguém. -- seu olhar recaiu sobre Sara, como se aquela frase tivesse sido ensaiada. -- Aceita dançar comigo, Sara?

 

A loira sorriu e estendeu a mão a ele. Juntos, se afastaram um pouco da rodinha e começaram a dançar.

 

-- Para de planejar a morte do Cássio -- Gabi sussurrou no meu ouvido. -- Eu sei que você tá pensando nisso agora. É só uma dança, amiga.

 

-- Quem disse que estou com ciúmes, sua louca? Não falei nada.

 

-- Não precisa falar. Eu te conheço. Sua cara feia já diz tudo.

 

Neguei com a cabeça. Eu sabia que Cássio era louco para ficar com Sara, mas sabia que ele não teria chances mesmo que não existisse nada entre nós.

 

-- Ele não tem o material que ela quer -- sussurrei de volta para minha amiga, sorrindo. -- Estou tranquilíssima.

 

Gabriela gargalhou. Ficamos ali, conversando, curtindo a música. Chegou um momento da noite em que fatalmente os casais começaram a se formar. A banda começou a tocar umas músicas mais lentas, perfeitas para dançar a dois. Felipe, desinibido pelos vários shots que havia tomado, tirou Ju para dançar. Gabi encontrou Ítalo e ficaram juntos. Cássio e Sara ainda dançavam juntos, mas logo vi quando Amanda se aproximou dos dois e falou algo com Cássio. Meio relutante, ele se afastou de Sara e Amanda começou a dançar com ela. Aí sim senti o ciúmes aflorar no meu corpo.

 

-- Parece que só sobramos nós -- Eric, ao meu lado, comentou. -- Então... Quer dançar comigo?

 

Olhei para ele para ler sua expressão.

 

-- É só uma dança, Rê. Não vai acontecer nada.

 

Me desarmei e peguei a mão que ele estendia para mim. Aproximamos nossos corpos e começamos a dançar. Por cima do ombro dele, eu observava atentamente Amanda e Sara dançando ao nosso lado. A mão da morena estava pousada no final das costas da loira, quase perto da bunda. Vez ou outra ela se inclinava e sussurrava no ouvido de Sara, que ria e concordava com o que quer que ela estivesse dizendo. Suspirei forte.

 

-- O que foi? -- Eric percebeu e se afastou para olhar meu rosto. -- Fiz alguma coisa?

 

-- Não, não foi com você, relaxa. 

 

-- Ah, tudo bem -- voltou a encostar seu rosto no meu. -- Você tá cheirosa.

 

-- Eric, não -- sei que era só um elogio, mas eu queria cortar qualquer tipo de conversa que parecesse uma investida. Sabia que ele estava bebendo e costumava ficar desinibido assim.

 

-- Foi só um comentário -- ouvi ele rindo. -- Pra quebrar o gelo. Tá tenso a gente dançando em silêncio.

 

-- Prefiro assim -- soei um pouco grossa, não tinha sido a intenção. Mas ele entendeu o recado e voltou a ficar calado.

 

Dançamos mais algumas músicas, quando o vocalista dedilhou alguns acordes conhecidos no violão. Logo sua voz meio rouca deu vida a uma música muito antiga, mas que eu me recordava bem e adorava ouvir quando era mais nova.

 

Quando conheci você

Logo me apaixonei pela cor do teu olho

Pela cor do teu olho 

Juro, eu não acreditei

Que tudo isso um dia pudesse acontecer

Eu conhecer teu bél prazer

 

Aquela canção imediatamente me afetou. Somente uma pessoa veio à minha mente. Olhei diretamente para ela, e ela pareceu sentir o mesmo, pois também me encarou no mesmo instante. Como se tivéssemos programado aquilo. Sustentamos aquele olhar por alguns segundos, senti meu corpo se arrepiar. Que vontade de sair correndo e me jogar nos braços dela. Era com ela que eu queria estar dançando, queria poder cantar aquela música no seu ouvido.

 

Sara falou alguma coisa para Amanda e se afastou dela, indo em direção ao isopor de bebidas. Decidi que era a hora de dispensar Eric também.

 

-- Vou pegar algo pra beber -- falei, desfazendo nosso contato.

 

-- Quer que eu vá com você? -- ele se ofereceu.

 

-- Não precisa. Já volto.

 

Fui na direção dela, que estava de costas para mim, pegando uma lata de cerveja que o professor responsável pelo isopor lhe entregava. Colei meu corpo no seu e sussurrei em seu ouvido:

 

-- Acho que Armandinho me representou nessa música.

 

Senti seu corpo estremecer junto ao meu. Discretamente segurei sua cintura com as mãos. Para quem olhasse de longe e achasse que éramos só amigas, nosso contato não parecia nada demais. Ela virou de frente para mim.

 

-- Essa música é muito velha, meu Deus. Lembro dela quando morava em Goiânia.

 

-- Odeio associar músicas às pessoas, mas dessa vez é inevitável. Agora toda vez que ouvir vou me lembrar de você.

 

Pega minha mão e abre o coração

Pro novo amor chegar

Pega minha mão, me leve para algum lugar

Deixe o amor entrar

 

-- Quer sair daqui rapidinho? -- ela falou baixinho, sorrindo.

 

-- Rapidinho, não. Quero sumir com você a noite toda.


 Ela mordeu o canto do lábio inferior. 

 

-- Vem cá.

 

Segui enquanto ela se afastava da multidão e seguia em direção às barracas. Nos aproximamos da dela. Ela abriu e entrou, olhei ao redor pra ver se alguém nos via e entrei junto.

 

-- Senti vontade de fazer isso a noite toda -- confessei, segurando sua nuca e a puxando para mim.

 

Nos beijamos. Que delícia poder provar daquela boca que eu já estava com saudades. Uma de suas mãos segurou minha nuca e a outra pousou na minha coxa. A barraca dela era um pouco menor que a minha, o que era ótimo, afinal nos obrigava a ficar mais juntas uma da outra. Mordi seu lábio inferior e me separei dela.

 

-- Se a Amanda não parar de dar em cima de você, vou acabar terminando nossa amizade -- falei brincando.

 

-- Sério que você vai falar disso agora? -- ela revirou os olhos. Sua boca encontrou meu pescoço e deu beijinhos leves e molhados.

 

-- Não faz isso... Se começar, não vou querer parar -- fechei os olhos e suspirei pesado.

 

Vou cantar 

Meu reggae mais bonito pra você dançar

Vou deixar

Minha porta aberta pra você voltar

 

Ainda que baixinho, ainda conseguia ouvir a música tocando lá fora. Clima perfeito. Sara voltou a encontrar minha boca. Trocamos outro beijo cheio de significados e nos afastamos. 

 

-- Vamos voltar, devem estar sentindo nossa falta -- ela falou, mas dava pra ver que era a contragosto.

 

-- Vamos. Mas não pense que a senhorita vai escapar hoje ainda.

 

Sara riu e me deu um último selinho. Saí da barraca primeiro e ela me acompanhou. Voltamos ao luau.

 

Sara's POV

 

Olhei em volta e notei que diversos casais já haviam se formado. Abri um sorriso, completamente surpresa, quando vi Felipe e Juliana se beijando. Finalmente ele tinha sido corajoso para chegar nela. Pensei comigo mesma no quanto eu gostaria de poder fazer o mesmo com Renata. Assumi-la ali, na frente de todos, do mesmo modo que eles fizeram. Suspirei com a improbabilidade daquilo. Mas mesmo com esses empecilhos no nosso relacionamento, eu tinha um desejo imenso dentro de mim que crescia cada vez mais, conforme o tempo que passávamos juntas ia se alongando.

 

 Gabriela veio na direção de Renata, que caminhava à minha frente, e falou algo em seu ouvido. Renata riu e Gabriela me olhou, uma expressão divertida mas que logo deu lugar a um ar sério. Então ela veio caminhando até mim.

 

-- Vem cá, loira -- ela disse, pegando na minha mão e me puxando para longe dali.

 

-- Vocês estão cada vez menos discretas, hein? -- ela falou, mas não parecia ser num tom acusador. Fiquei surpresa. Estávamos dando tanta bandeira assim? Para mim, estávamos tranquilas, agindo como amigas. -- Sumiram sozinhas durante um momento desse no luau. Eu vi muito bem pra onde vocês foram. 

 

-- Sério? Mais alguém percebeu? -- fiquei imediatamente nervosa. Não por mim, eu não dava a mínima para o que pensassem; mas por Renata. 

 

-- Acho que não. Era só porque eu estava de olho em vocês mesmo.

 

-- Poxa, Gabi, valeu pelo toque. Vamos tentar ser mais discretas daqui pra frente. -- cocei a cabeça, meio encabulada. 

 

-- Relaxa, loira, ninguém tá percebendo não. Metade desse luau quer te pegar e você não olhou pra ninguém essa noite. Suponho que minha amiga tenha feito algum chá de calcinha pra você, né?

 

-- O quê? Claro que não. Não percebi nada disso. 

 

-- Claro que não percebeu. Só ficava olhando praquela sardenta branquela. E eu vi também como ela olhava pra você. A carinha dela de felicidade quando vocês voltaram da barraca. Sabe, Sara, eu vi poucas vezes essa cara de boba na Renata. Uma delas foi quando ela ganhou aquela sandália horrível da Sandy que era moda quando nós éramos crianças, e a outra foi quando ela começou a namorar com o Eric. E ainda assim acho que não era nem metade da cara que ela faz quando te olha, hoje em dia. Sabe onde eu quero chegar?

 

Fiz que não com a cabeça. Ela estava me bombardeando de informações, falava rápido e eu tentava absorver cada vírgula do que ela dizia.

 

-- Não quero que você ache que eu estou pressionando ou algo do tipo, mas claramente a Renata está apaixonada por você. Muito. Tipo, muito mesmo. E não é coisa passageira, que a gente dá uns beijos e passa. O ponto que eu quero chegar é: você tem alguma intenção com ela ou isso é só uma diversão pra você? Não que eu esteja julgando, se for o caso... Longe de mim. É só que...

 

-- Não é só uma diversão, Gabi -- interrompi antes que ela destrambelhasse a falar e eu perdesse a oportunidade. -- Eu gosto da Rê. Muito. De verdade. Estou apaixonada por ela também.

 

Ela ficou em silêncio alguns minutos, me olhando nos olhos, talvez buscando algum indício de que aquilo fosse mentira. Sustentei seu olhar investigativo. Por fim, ela sorriu.

 

-- E vocês pretendem ficar nessa putaria até quando? Tipo, não pensam em namorar?

 

Eu sorri.

 

-- Você acha que ela aceitaria se eu pedisse algum dia?

 

-- Eu acho que ela compraria um vestido de noiva e escolheria o lugar da lua de mel de vocês.

 

Gargalhei.

 

-- Acho que gostei dessa resposta. 

 

-- Então...? Isso quer dizer que você vai pedir ela em namoro??? AI MEU DEUS! -- Gabriela soltou um gritinho fino e bateu palmas, colocando as mãos no rosto em seguida. Sorria abertamente. -- Ai, tô tão feliz! Minha amiga acabou de sair de um namoro e já vai engatar em outro. Saiba que eu aprovo. Já adoro vocês juntas. Mas vão assumir pra todo mundo quando namorarem?

 

-- Ei, calma... Um passo de cada vez. Não vou poder te contar nada agora. Mas prometo que vou te deixar a par de tudo.

 

-- Não acredito que você vai me deixar fora dessa! -- ela deu um tapa em meu braço. -- Loira, eu sou maravilhosa em juntar casais. Me deixa ajudar, a planejar o pedido...

 

Eu ri e balancei a cabeça.

 

-- Gabi, fica tranquila. Não vai ser nada demais.

 

-- Quando vai ser? -- seus olhos brilhavam de expectativa.

 

-- A qualquer momento. Talvez hoje... Amanhã... Mês que vem...

 

Gabriela revirou os olhos.

 

-- Tá, vou confiar em você. Mas não demora. Tenho certeza que a Rê sonha com esse pedido dia e noite, só esperando acontecer. Agora vamos voltar que ela tá de olho na gente desde que nos afastamos.

 

Olhei para onde o pessoal estava reunido e ela realmente nos encarava. Percebeu que eu vi e desviou o rosto. Era mesmo péssima em disfarçar as coisas. Sorri. Eu era mesmo apaixonada por ela.

 

Quando retornamos, a banda já estava se despedindo do público. Olhei para o relógio. Era quase dez da noite. Lembrei que o toque de recolher ali era às onze. Não nos era permitido ficar muito tempo acordados. Aproximei-me de Renata e sussurrei para ela:

 

-- Aquele momento em que a gente fica deitada na grama, só olhando a lua e pensando no quanto somos pequenininhas nesse mundo... Pode rolar agora?

 

Ela sorriu. Aqueles olhinhos apertados brilhando para mim.

 

-- Vamos. Mas vamos rápido, daqui a pouco vão nos enxotar para ir dormir.

 

Segurei sua mão e a guiei até um canto bem afastado do acampamento. A lua estava cheia, iluminava com força tudo que lhe era permitido ali embaixo. Parecia tão perto, como se fosse possível tocá-la ao estender as mãos para o céu. Encontrei um lugar que parecia perfeito, a grama macia e fofinha, e deitei no chão. Ela me acompanhou e deitou ao meu lado. De fato, fizemos jus ao meu convite e ficamos ali deitadas por alguns minutos, só observando o céu estrelado e pensando amenidades. Meu coração estava disparado, apesar de aparentar tranquilidade.

 

-- Ei -- ela me chamou baixinho. Virei de lado, apoiei minha cabeça na mão e fiquei olhando-a.

 

-- Oi...

 

-- Eu me sinto mais pequenininha aqui do seu lado do que comparada à lua.

 

-- Mesmo? Por que? -- aproveitei que estávamos a sós ali e fiz um carinho com a mão no seu rosto.

 

-- Sei lá... Não digo pequenininha no sentido de me sentir diminuída ao seu lado. Mas é que você parece tão... Vivida, entendida... Sabe de tudo um pouco da vida. Eu só sei admirar. Reparar que você é a pessoa mais fascinante que já conheci na vida.

 

-- Mas eu nunca fiz nada demais. Você falando assim parece que eu sou uma pessoa com grandes feitos no passado. -- deslizei com carinho a ponta dos dedos pelos traços do seu rosto. Nariz, lábios, queixo.

 

-- E não é? Eu não preciso saber de absolutamente todas as coisas que você na sua vida, mas eu sinto isso quando te olho. Quando olho nos seus olhos. É como se eu pudesse te ler inteirinha. Meio brega isso, né?

 

-- É permitido ser brega quando estamos apaixonados -- sorri. Ela sorriu de volta. -- Eu adoro ser lida por você. Em todos os sentidos. Porque parece que cada dia eu descubro uma coisa nova sobre você. 

 

-- Boas ou ruins?

 

-- Maravilhosas. Coisas que me deixam ainda mais apaixonada.

 

Seu rosto ruborizou um pouco, mas ela lutou para sustentar o olhar no meu, embora claramente estivesse sem graça. Ficamos assim alguns segundos, quando ela voltou a admirar o céu:

 

-- Esse momento é único.

 

-- Não tenho dúvidas. Para mim, é.

 

-- Sabe... Eu já vim aqui tantas vezes, já tive tantos momentos bons aqui, mas hoje... Hoje é como se fosse a primeira vez. Nenhuma viagem anterior parece com essa que estou tendo agora. Acho que é porque alguma coisa aqui dentro de mim mudou.

 

-- Dentro de mim também. Já mudei diversas vezes, por diversos motivos, mas dessa vez parece que finalmente eu me encontrei... Como se eu tivesse rodado muito tempo por aí e finalmente estivesse em casa.

 

Renata voltou a me olhar.

 

-- Sara... -- ela falou, num fio de voz, fazendo um carinho na minha bochecha com o polegar. Uma expectativa no ar.

 

-- Rê... 

 

Ela abriu a boca, prestes a dizer algo, mas depois fechou outra vez. Parecia travar uma batalha na mente com algo que estava decidindo se diria ou não. Não deixei que ela pensasse muito.

 

-- Olha pra mim -- pedi, segurando seu queixo e virando-o para mim. -- Nos meus olhos. Quero fazer esse momento ser mais único ainda pra você.

 

Percebi sua respiração acelerar enquanto ela me olhava. Sorri, embora estivesse nervosa como se fosse a minha primeira vez ao lado dela.

 

-- Rê, você quer namorar comigo?

 

 

 

 

 

 



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