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História Are you my clarity? - Sensações


Escrita por: itsmejubs

Notas do Autor


É só comigo que o site tá super lento? Tá sendo um parto pra postar os capítulos.
Pra galerinha que tá comentando/favoritando: muuuito obrigada! <3

Capítulo 4 - Sensações


Eu disse pra mim mesma, internamente, que eu tinha de manter a calma naquele momento. O que eu tava sentindo era um turbilhão de sensações que tinha me deixado zonza. Me obriguei a me mexer, já que estava todo mundo ali esperando uma reação minha, e apertei a palma da mão de Sara estendida para mim.

 

-- Prazer, sou Renata -- eu disse, a voz saindo meio engasgada.

 

Sara afrouxou nosso aperto de mão e continuou olhando para mim. Seu olhar no meu me deixava muito inquieta. Por fim, ela sorriu. Pra quê, meu Deus?! O sorriso dela era muito lindo! Socorro, o que tava acontecendo? Eu já estava achando que tava admirando a garota um pouco além da conta. Isso nunca tinha me acontecido antes, ficar nervosa por ter visto uma garota bonita. Nunca. Aconteceu.

 

-- Bom, oficialmente apresentadas -- Eric falou, sorrindo, me chamando pra Terra. Eu ainda tava sustentando o olhar de Sara. -- Sara, a Rê é minha namorada.

 

-- Muito bom te conhecer. Mal cheguei e já ouvi falar de você várias vezes ontem -- Sara falou, alargando ainda mais o sorriso. Como assim, já tinha ouvido falar muito de mim? Eu ia matar o Eric.

 

-- Bom, vamos tomar café? -- seu Jorge levantou do sofá e veio até nós. -- Ninguém aqui comeu ainda. Vai se juntar a nós, Renata?

 

-- Não, seu Jorge, eu já comi -- dispensei, sorrindo nervosa. -- Mas posso acompanhar vocês.

 

-- Não quer ir lá pra cima um pouquinho? -- Eric sussurrou no meu ouvido. -- Não tô com fome agora, depois a gente come. -- ele tem essa mania de quase nunca tomar café da manhã.

 

-- Não! -- eu respondi rápido demais, ele me olhou com uma cara de interrogação. -- Quer dizer, eu acabei de conhecer sua irmã. Acho que é falta de educação a gente se trancar no quarto agora.

 

-- É verdade -- ele comentou, mas dava pra perceber que era da boca pra fora. -- Então vamos sentar lá na varanda enquanto eles tomam café.

 

E fomos para o lado de fora. Os pais de Eric, Alison e Sara foram para a cozinha. Ali fora, sem a presença dela, eu me sentia mais livre pra respirar e organizar o pensamento. Não tava entendendo o que tinha acontecido.

 

-- E aí, o que achou dela? -- Eric me perguntou enquanto sentávamos num banco de madeira que tinha na entrada de sua casa.

 

-- Parece ser educada -- eu disfarcei, fazendo cara de paisagem. -- Não tem como saber mais sem conversar com ela.

 

-- Vou chamá-la pra cá depois que eles terminarem de comer, tudo bem?

 

-- Por mim tudo bem. E você, já está à vontade com ela aqui?

 

-- Nem um pouco -- ele deu um risinho sinistro. -- Não tem como se acostumar quando uma estranha vem morar na sua casa da noite pro dia. Ainda mais quando só tem uma noite que ela tá aqui. Eu dormi de porta trancada ontem, sabia?

 

-- Credo, Eric! Que horror. A menina não tem cara de psicopata pra você ficar assim. E ela é sua irmã, de um jeito ou de outro.

 

-- Ela poderia ser uma freira que eu ia desconfiar do mesmo jeito. Eu não a conheço, amor. Não sei o que ela fazia da vida antes de vir morar aqui...

 

Eu revirei os olhos para ele. Ele sorriu e me deu um beijo na bochecha, que logo se encaminhou para um beijo na boca. Ficamos assim, namorando um pouquinho, mas eu não tava 100% ali com ele. Volta e meia minha cabeça parava na lembrança daquela menina parada ali no pé da escada, me encarando. Aliás, menina?! Menina não! A Sara era uma mulher. Tinha rosto, corpo, voz e jeito de mulher. Quantos anos será que ela teria? Não deu pra ler muita coisa dela naquelas poucas palavras e num sorriso rápido. Ai gente, e que sorriso... Para com isso, Renata! Se concentra, você tá beijando o Eric. Ele mordeu meu lábio. Puxei ele pela nuca para aprofundarmos o beijo, ele correspondeu segurando meus cabelos com mais força entre os dedos. Ouvi um barulho da madeira do piso da varanda rangendo. Alguém tinha chegado. Nos afastamos rápido.

 

-- Desculpa -- Sara nos flagrou e disse, meio constrangida. -- Não sabia que vocês estavam aqui,

 

-- Não, tá tudo bem -- Eric se ajeitou e olhou pra ela. -- Não vai tomar café?

 

-- Já tomei -- ela respondeu. -- É que não tô com muita fome hoje. -- ela concentrou o olhar na rua, além do portão da casa.

 

-- Quer sentar aqui com a gente? -- meu namorado ofereceu, meio sem jeito. Ela olhou pra ele e depois me olhou, fazendo meu coração bater rápido de novo. Sorriu e se sentou no banco ao lado do nosso, passando por mim. Seu cheiro subiu e invadiu minhas narinas de novo. Ai...

 

-- Gostou dos aposentos de ontem? -- Eric tentava puxar assunto, o clima tava meio estranho ali.

 

-- Muito bom, de verdade. Aliás, a casa toda de vocês é linda.

 

-- Imagina, tá falando isso pra agradar... Onde você morava antes daqui?

 

-- Em São Paulo. Mas fiquei por pouco tempo, mais ou menos um ano. Era só enquanto minha mãe fazia tratamento contra o câncer. -- ela olhou pro chão depois da frase, parecia absorta.

 

-- Eu sinto muito pela sua mãe... Nem imagino o quanto deve ser horrível perdê-la assim.

 

-- Eu estou em paz -- Sara disse, num tom meio triste, mas sorrindo de leve. -- Ela tava sofrendo muito antes de morrer, acho que foi melhor assim.

 

O silêncio se instalou entre a gente. Eu tava ali só de enfeite, enquanto Eric e Sara conversavam. Queria entrar na conversa mas não arranjava coragem, a voz tava presa na garganta. Vasculhei rápido meu cérebro em busca de algum assunto pra puxar e não deixar os dois sozinhos no papo.

 

-- E onde você morava antes de se mudar pra São Paulo? -- eu perguntei, olhando pra ela. Ela voltou os olhos pra mim.

 

-- Goiânia -- ela respondeu, sem tirar os olhos dos meus. Eu nem piscava. -- Eu nasci lá e lá é meu lar oficial, mas eu já passei por vários lugares. São Paulo só foi mais um.

 

"Que garota misteriosa", eu pensei. Parecia que ela tinha um passado rico, quem vive viajando assim tem muita história pra contar.

 

-- Desculpa a pergunta, mas quantos anos você tem? -- Eric.

 

-- Tenho 20. Vocês têm 17, não é?

 

-- A Rê tem 17, eu já vou fazer 18 -- não escondia o orgulho de ser quase maior de idade. -- Tava fazendo faculdade lá em São Paulo?

 

-- Não. Ainda não terminei o colégio.

 

Ela respondeu de forma tranquila. 20 anos é muito tempo pra uma pessoa ainda não ter se formado no Ensino Médio. Sara não disse mais nada a respeito, e nem eu e nem Eric perguntamos, embora minha língua coçasse pra saber mais.

 

-- Então quer dizer que você vai estudar com a gente lá no colégio -- eu de novo, nas minhas tentativas vergonhosas de socializar.

 

-- Acho que sim... É o único colégio grande que tem por aqui, né? Dizem que é o melhor.

 

-- Você vai gostar -- Eric. -- O pessoal é legal.

 

-- Aposto que sim. Vocês estão no terceiro ano?

 

-- Isso. -- eu. -- Você vai entrar no terceiro também?

 

-- É o ano que me resta pra finalmente poder tocar minha vida -- ela sorriu. Quero tirar uma foto e emoldurar aquela boca sorrindo. Porra, que coisas são essas que eu tô pensando?

 

-- Deve estar ansiosa -- Eric. -- Já sabe o que quer fazer no vestibular?

 

-- Tô preocupada só em ajeitar as coisas, o resto a gente vê depois -- ela desconversou. Olhou para o jardim da casa: -- Aquele longboard é seu? Você anda?

 

-- Sim! Você curte?

 

-- Eu aprendi enquanto morava lá em São Paulo, mas depois que minha mãe foi internada eu fiquei um tempão sem andar. Acho que desaprendi.

 

-- É como andar de bicicleta, essas coisas a gente nunca desaprende -- e engataram numa conversa lá sobre skate que eu não tava entendendo nada. Imaginei a Sara, com aquela carinha de boneca de porcelana, em cima de um skate, andando por aí. Não dava pra conceber esse lado radical dela.

 

-- A Rê também queria aprender uma época dessas -- Eric, como sempre, me puxando dos pensamentos malucos. -- Mas levou tanta queda que mudou de ideia.

 

-- Ei, eu não caía tanto assim! -- deixei escapar, ofendida. A Sara riu da minha reação. Fiquei vermelha na hora. -- Você que era péssimo professor.

 

-- Realmente, eu não sei ensinar essas coisas... É muito mais que prática, é talento. -- se acha esse garoto.

 

-- Meus parabéns, você é o campeão... -- eu disse, irônica.

 

Olhei para o lado e a Sara estava me fitando, me analisando. As borboletas estavam brigando no meu estômago. Por que ela tinha que olhar tão intensamente pra gente? E por que ela tava olhando pra mim? O que será que tava pensando? Que eu era boba, chata, feia, bonita, gente boa...?

 

-- Acho que você e a Ali ainda não conversaram direito, né? -- Eric voltando à conversa. -- Minha irmã não é uma pessoa muito sociável.

 

-- Ainda não tivemos oportunidades, mas teremos um dia desses. Ela parece ser legal. Não sei se gostou de mim, acho que tava sendo só educada.

 

-- Não se incomode, ela é assim o tempo inteiro. Você gostou dos meus pais? Quer dizer... Seu pai também, né... -- meu namorado totalmente sem jeito. Olhei pra ele e ele tinha corado.

 

-- É, eles são legais. O Jorge parece muito com você. Acho que nós puxamos os mesmos olhos, a semelhança é inegável. -- ela falava sobre o assunto tranquilamente, mas não chamava o pai de "meu pai". Chamar pelo nome era uma formalidade e tanto.

 

-- É, mas os seus são diferentes -- eu abri a boca pra falar merda, como sempre.

 

-- São? -- ela perguntou, um sorriso parecendo querer brotar dos lábios. A expressão curiosa. -- Como assim?

 

-- Não sei dizer... Um tom diferente, mais claro. Qual a cor exata do seu olho?

 

-- Indecifrável. Às vezes azul, às vezes verde... Depende da luz e do meu humor.

 

Do humor? Aquilo era novidade pra mim, mas decidi não perguntar. Não queria deixar o assunto mais estranho do que já tava.

 

Passamos o resto da manhã conversando, nós três. A maior parte do tempo quem falava era o Eric, contando mil coisas sobre a vida dele, e a Sara só ouvia atentamente. Ela não contava muito sobre ela, sobre a vida dela, só quando a gente fazia alguma pergunta. Ela era muito misteriosa, o que só me deixava mais atraída por ela. Aquilo tava me deixando louca, eu tava com vontade de sair correndo daquela casa, de voltar no tempo e dizer que não, eu não queria conhecer a nova meia irmã do Eric. Eu não queria que ela morasse ali, não queria que estudasse no mesmo colégio que eu. Como conviver com uma recém conhecida que mexia tanto comigo? Eu não tava me reconhecendo. Se fosse outra pessoa, eu já estaria tagarelando sobre mil coisas, mas ao lado dela eu me sentia inibida. Sara só me olhava agora quando eu falava com ela; quando não falava, ela prestava atenção no Eric falando. Meu namorado parecia à vontade na conversa, mas eu o conhecia e sabia que ainda estava um pouco receoso. Claro, era normal. Mas pareciam estar se dando bem, o que era um bom sinal. Talvez virassem amigos, talvez se aproximassem e agissem como irmãos como o tempo.

 

-- Preciso subir pra me arrumar agora -- Sara falou, levantando. -- Seu pai marcou comigo ontem de irmos ao shopping hoje.

 

-- Fazer o quê? -- o Eric perguntou, de cenho franzido.

 

-- Não sei... Acho que ele quer comprar novos móveis pro quarto onde eu tô, mobiliar "com o meu gosto" -- fez aspas com a mão. -- Acho que ele só quer ficar mais a sós comigo mesmo.

 

-- Normal -- ele respondeu, desinteressado na conversa. Foi quase rude. Ciúmes?

 

-- Bom, foi muito bom conversar com vocês. Prazer, Renata -- ela estendeu a mão pra mim de novo e sorriu. Eu apertei e sorri de volta. -- Foi bom conhecer você.

 

E entrou na casa. Eric me olhou com uma expressão meio tensa.

 

-- Tá tudo bem? -- perguntei pra ele.

 

-- Tá -- suspirou. -- Quer fazer alguma coisa também? Sair pra almoçar, tomar um sorvete depois...?

 

-- É, pode ser -- me limitei a dizer. Ele pegou minha mão e levantamos do banco.

 

Saímos juntos para almoçar num restaurante, tomamos o sorvete e voltamos pra casa dele pra assistirmos um filme juntos. Sara e o pai passaram a tarde inteira juntos, fora de casa. Não os vimos mais. Eu não prestei atenção em quase nenhuma cena do filme que assisti, porque só ficava repassando os flashes da nossa conversa com Sara mais cedo. Ela passando a mão nos cabelos. Passando a língua nos lábios. Sorrindo. Passando a mão pelo pescoço. Me olhando, os olhos de um tom indecifrável... Eu ficava inquieta lembrando dessas coisas. Eric percebeu, me perguntou se eu estava sentindo alguma coisa e eu disse que não. Só rezava para as horas passarem logo e eu ir embora pra casa.

 

Quando minha mãe finalmente me ligou avisando que iria me buscar, eu dei um pulo do sofá da sala, onde estávamos sentados, e não consegui disfarçar muito meu alívio.

 

-- Não quer ficar mais um pouco? Eu peço pro meu pai te levar em casa quando ele chegar... Janta aqui com a gente... Dorme aqui... -- ele me abraçava e beijava meu rosto, tentando me convencer.

 

-- Não dá, amor, as coisas lá em casa estão complicadas... O Guilherme tá aprontando de novo, eu tenho que conversar com ele e intermediar a situação. Você já sabe como é.

 

-- Eu acho que você é paciente demais com seu irmão, isso que eu acho.

 

-- Ele tá na idade da rebeldia, não posso ficar brigando com ele toda hora senão ele se afasta. E ele já passou por muita coisa até agora.

 

Eric não falou mais nada, ele sabe que eu não gosto muito desse assunto. Quando a minha mãe chegou e ele foi me levar na porta, demos de cara com a Sara e o pai chegando na varanda. Eu e seu Jorge nos despedimos rápido, ele tava muito sorridente depois do passeio. Tentei ser indiferente na hora de me despedir de Sara, mas era missão impossível não reagir à proximidade dela.

 

-- Já vai? Tudo bem. A gente se vê no colégio, então -- ela se aproximou de mim e deu dois beijinhos no rosto, como manda o formulário social de despedida. Fiquei nervosa com essa proximidade nossa.

 

-- A gente se vê -- respondi e saí quase voando pro carro da minha mãe.

 

Cheguei em casa, tomei um banho, jantei e fui logo pro meu quarto. Deitei na cama e fechei os olhos, tentando organizar a mente pra tudo que tinha acontecido naquele dia. O que porra tava acontecendo? Eu tinha me sentido atraída por uma mulher? Pela IRMÃ do meu namorado? Eu tentava não considerar esse fato, tentava escapar pelo viés de que talvez eu só tivesse achado ela bonita demais. Normal, mulheres acham outras mulheres bonitas. Mas não era só isso que tinha acontecido, eu sabia mas negava. As coisas vão se normalizar, é o impacto de tê-la conhecido hoje. Nervosismo pela primeira conversa. Ela era legal e só. Dava pra gente tentar ser amiga. É, dava. Eu tentaria ser amiga dela e isso tudo ia acabar.



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