1. Spirit Fanfics >
  2. Areia e Ondas >
  3. Conto Um

História Areia e Ondas - Conto Um


Escrita por: dfcrosas

Notas do Autor


Então... Acho que não ficou muito bem porque eu tive que fazer esse capítulo meio corrido. Meu notebook deu pau e eu tô vivendo de pendrivers e da boa vontade dos familiares. É bem provável que eu não consiga mais postar essa semana. Mas ainda assim vou tentar, tá bem?

Como eu falei que ia acontecer, eu comecei com um conto sobre o Luke, a Thalia e o Anthony. Vai ter duas ou três partes e será baseado naquela história curta que o tio Rick escreveu naquele livro extra de Percy Jackson. Mas eu também vou inventar muita coisa então pode ser que fique uma merda só. Sorry antecipado.

Outra coisa... Eu escrevi um capítulo de Heróis do Olimpo e resolvi postar ele pra ver o que vocês acham. Vai ter o link lá no finalzinho, okay? Não esqueçam de comentar pra eu saber se ficou bom ou terrível.

PS: Eu andei lendo O Morro dos Ventos Uivantes então pode ser que eu tenha meio que roubado várias frases e feito do Luke e da Thalia, o Heathcliff e a Cathy. Sorry de novo.

Capítulo 2 - Conto Um


Fanfic / Fanfiction Areia e Ondas - Conto Um

Conto I - Do Que Almas São Feitas
        Parte I 
 

Fazia dias que Thalia estivera seguindo aquela cabra mágica pelo estado de Virgínia. Luke nunca achara que a cabra parecesse ser algo especial, mas Thalia ficava agitada sempre que o animal aparecia. Ela estava certa de que a cabra era algum tipo de sinal do seu pai, Zeus. E Luke não podia reclamar mesmo... Se não fosse pelo animal, eles jamais teriam encontrado o Anthony escondido naquele beco fedorento.

Aqueles dias seguindo a cabra foram um tanto complicados, mas Luke nunca estivera tão feliz quanto fugindo dos perigos ao lado dos seus amigos. Estes eram os momentos que ele lembraria no futuro. Essa cabra aparecia em momentos aleatórios, sempre à distância. Sempre que eles tentavam pegá-la, a cabra sumia e reaparecia mais a frente, como se estivesse os guiando a algum lugar. Até que era meio divertido, Luke precisava admitir, o olhar de frustração que Thalia fazia. Ele já tinha decidido que ela ficava ainda mais bonita quando estava braba: uma linha surgia entre suas sobrancelhas escuras e aqueles olhos brilhavam como se uma corrente elétrica estivesse passando entre eles. 

Já o Anthony nunca deu sua opinião sobre aquela cabra. Ele seguiu os outros, e parecia feliz em fazê-lo, e nunca reclamou do fato deles simplesmente não conseguirem capturar o bicho. Mas enquanto estivessem em Virgínia, ele continuaria olhando por cima do ombro, ansioso, seu olhar firme e furioso sempre que eles passavam por lugares que ele reconhecia. Ele queria ir para o mais longe possível da casa do seu pai, contou ao Luke uma noite. E Luke compreendia o que o amigo sentia. 

"Se escondam!" Thalia os puxou pra trás de uma fileira de roseiras. Estava de noite; a luz brilhava prateada lá no céu. Eles haviam adentrado num bosque em busca da cabra, mas ela conseguiu despistá-los e os três ficaram andando por horas sem saber pra onde estavam indo. Agora, a cabra decidira reaparecer por entre as árvores fazendo uma refeição noturna pelo matagal.

"É só uma cabra," Luke disse pela milionésima vez. "Por que...?"

"Ela é especial," Thalia insistiu. "Um dos animais sagrados do meu pai. Seu nome é Amalteia."

"Você nunca mencionou que ela tinha um nome antes," Anthony comentou. "Quantas vezes você já viu essa cabra antes?" 

Luke não entendia porque ela parecia tão nervosa. Thalia não tinha medo de nada. Era uma das coisas que ele gostava mais nela: era um grande contraste, considerando que ele sentia medo o tempo todo. Medo de morrer. Medo de ficar sozinho. Medo de ter que voltar pra casa. 

Thalia começou a falar, relutante: "A primeira vez foi em Los Angeles, na noite em que fugi. Amalteia me levou para fora da cidade. E depois, na noite que eu conheci o Luke... foi ela quem me levou até ele. E depois nós encontramos você, Tony, também por causa dela."

Luke encarou Thalia. É, ele sabia que a cabra tinha-os levado até Anthony. Mas sempre julgara que seu encontro com Thalia havia sido um acidente. Eles literalmente esbarraram um no outro, numa caverna fora de Charleston. Seria possível que fosse mais que isso? Que fosse destino? Que algum poder divino os tivesse unido? Thalia não gostava de falar do passado, o que funcionava bem para ele, pois Luke também não tinha interesse nenhum em contar sobre sua vida. A conexão entre eles vinha de algo além desse tipo de conversa. Eles não precisavam contar tudo sobre si para saber tudo sobre o outro. Sabiam o que era necessário e confiavam um no outro. 

"Quando Amalteia aparece, algo de importante está para acontecer," ela completou. "Algo perigoso. Ela é como um aviso de Zeus, ou um guia."

"De quê?"

"Eu não sei... mas acho que vamos descobrir." Thalia tentou fazer a volta entre os arbustos sem assustar o animal. A cabra estava parada ali, a menos de cem metros de distância. Luke achou que Amalteia parecia estranha agora que estavam mais perto. O seu pelo cinza desgrenhado... estava brilhando? Fios de luz pareciam se agarrar a ela fazendo-a parecer desfocada e fantasmagórica.

"Devemos segui-la?" Anthony perguntou baixinho. 

Luke suspirou. "Quando Thalia coloca uma ideia na cabeça, não tem como convencê-la do contrário," disse indo atrás dela. Ele não falou em voz alta, mas também jamais a abandonaria. Por muito tempo, antes de Anthony, Thalia fora sua única amiga, sua única... família. E Thalia o entendia. Ela era como ele. Do que quer que almas fossem feitas, as deles eram iguais. Luke estava determinado a ficar com ela. 

"Ela está tentando nos levar a algum lugar," Thalia sussurrou quando os outros a alcançaram. "Temos que dar um jeito de descobrir onde. Vamos tentar capturá-la, mas se não conseguirmos, acho que devemos continuar indo atrás dela."

"Tem certeza?" Luke disse. 

"Amalteia me levou até coisas boas," Thalia falou seriamente. "Ela me levou até vocês."

Luke não poderia falar por Anthony, mas os elogio fez seus joelhos ficarem bambos. Ele era mesmo um otário. Thalia piscava aqueles olhos azuis, lhe dava uma palavra gentil, e então ela poderia o induzir a fazer praticamente qualquer coisa. De repente, a cabra ergueu a cabeça como se tivesse escutado alguma ameaça. Os três semideuses congelaram tentando não dar um pio. Então uma corneta de caçador pareceu acordar a floresta inteira. A cabra deu meia volta e saiu correndo por entre as árvores. 

"Não podemos perdê-la!" Thalia gritou e se apressou em seguir o animal. Anthony, sempre ágil, empurrou Luke pra frente fazendo o seguir. A floresta foi ficando cada vez mais densa enquanto eles corriam. E Thalia tinha saído muito na frente. Logo, os meninos acabaram perdendo ela e a cabra de vista. 

Sons de passos assustaram eles. "Aqui!" Anthony disse e empurrou Luke pra trás de um arbusto. Os dois se olharam, respirando pesadamente. 

"Thalia-" Luke sussurrou.

"Eu sei." Anthony parecia estar trabalhando em um ideia quando seus olhos se arregalaram. "Se abaixe!" ele gritou e Luke se jogou no chão. No segundo seguinte, uma flecha prateada atingiu o lugar onde a cabeça dele havia estado. 

"Quem está atirando em nós?" Luke perguntou. Anthony não respondeu. Ele pegou Luke pelo braço e o puxou para o outro lado no momento em que mais uma flecha veio voando na direção deles. Ele continuaram correndo até que Luke não pode mais aguentar. Ele parou, colocou as mãos na boca em forma de concha e gritou o mais alto que pode: "Thalia!" Sabia que era uma péssima ideia mas precisava encontrá-la, precisava saber que ela estava bem.

Não houve resposta. A floresta pareceu ficar em silêncio absoluto pelo minuto seguinte. Então Luke ouviu um barulho, um galho quebrando sob os pés de alguém. Ele se virou, na esperança de ser Thalia. Então arfou. Tinha um arco-e-flecha apontado pro rosto dele. Uma garota alta, de cabelos e olhos escuros o encarava com raiva. "Semideuses," ela cuspiu. "Devem deixar esta floresta imediatamente."

"Por quê?" Anthony perguntou dando um passo a frente. A garota se virou, apontando a flecha pra ele de maneira ameaçadora. 

"A floresta não lhes pertence. Devem se retirar antes que as minhas Caçadoras resolvam puni-los." Assim que ela pronunciou aquelas palavras, umas cinquenta outras meninas apareceram por entre as árvores, todas apontando flechas pra eles. 

"Permissão para atirar, Zoë?" uma delas pediu. 

A garota, Zoë, que parecia ser a líder, abaixou seu arco. "São apenas dois semideuses," disse. "Se recusarem partir, vocês terão minha permissão."

"Olha, nós não temos interesse nenhum em ficar na tua floresta," Luke disse com honestidade. "Só estamos de passagem. E perdemos nossa amiga."

Os olhos de Zoë brilharam. "Uma amiga? Que amiga?"

"Thalia Grace," Luke disse. "Filha de Zeus."

Zoë o encarou pelo o que pareceu uma eternidade. "Esta é a tua amiga?" ela perguntou fazendo um sinal com a mão.

Uma Caçadora veio em frente, puxando Thalia pelo braço. "Luke! Tony!" ela exclamou se desvencilhando da Caçadora e correndo pra perto deles. Luke queria nada mais do que abraçá-la mas sabia que este não era o momento. 

"Você está bem?" ele perguntou. 

Thalia começou a responder mas Zoë a interrompeu. "A filha de Zeus foi vista por Ártemis. Nossa lady a recebeu em sua tenda. E a proposta foi feita para que Thalia Grace junte-se à nós. Então eu repito, semideuses, vão embora daqui."

Luke olhou para Thalia que baixou os olhos pro chão. "Por que você se juntaria à elas?" ele sentiu uma sensação horrível no buraco do estômago. Queria se dobrar e colocar o almoço pra fora. 

"És uma menina, não é?" Zoë se meteu de novo. "E lhe foi oferecida a chance de tornar-se imortal e caçar com tuas irmãs. Nós somos uma família, unidas pelo amor e proteção de Ártemis. Então a verdadeira pergunta é... Por que ela escolheria ir embora com vocês, garotos?" ela disse a última palavra como se fosse um palavrão horrível.

"Thalia..." Anthony chamou baixinho, mas a delicadeza dele não ia ajudar em nada nessa situação. 

Luke precisava tomar as rédeas. "Thalia está com a gente. Não vai nos abandonar," falou com uma certeza que não tinha. 

"É isso que Thalia decidiu? Ou é você que toma as decisões por ela, filho de Hermes?"

Luke congelou. Odiava ser chamado daquilo; era como uma maldição. 

Thalia ainda olhava para o chão.

"Thalia," Anthony chamou de novo, dessa vez mais alto. 

Ela se virou pra ele. "Elas me oferecem algo que nunca pensei que fosse ter," explicou-se.

"Não!" Luke exclamou sem conseguir se conter. Sabia que estava agindo como um louco, o que não estava ajudado em nada, mas não podia se controlar. Não perderia Thalia, não sem lutar com todas suas forças. "Nós somos uma família. Eu, você e o Tony. Nós três. E nada do que elas disserem poderá mudar isso, entendeu? Nada!"

"Luke," Anthony disse, "acalme-se. Nós podemos resolver isso-"

"Esta será tua escolha, filha de Zeus?" Zoë perguntou. "Os rapazes? Pense bem antes de responder. Saiba que se escolher ficar, será retribuída em dor e traição. Mas se decidir que já teve o suficiente disto em tua vida-"

"Pare," Thalia pediu, finalmente se manifestando. "Apenas... Cale a boca, Zoë Nightshade. Você não sabe do que está falando. Você não sabe nada sobre eles. Sobre mim." Ela respirou fundo. "Eu sei que não é fácil. Mas... Mas algumas pessoas valem a dor."

Luke percebeu que sua boca estava aberta e tratou de fechá-la. A cabeça de Zoë parecia pronta para explodir. "Meninos atraem meninas com aquilo que elas desejam. Amor. Família. Aventura. Liberdade."

"Você está falando de mim ou de você?" Thalia perguntou destemidamente. 

Zoë fez uma careta. "Marque as minhas palavras, filha de céu e trovão. Ainda viverás para se arrepender desta escolha. Traição é pior que morte. Eu saberia."

Cedo de manhã, eles acabaram em Richmond. Depois do encontro com as Caçadoras, os três pareciam ter ficado ainda mais tensos. Nenhum deles havia dito nada a respeito daquilo. Ninguém comentou sobre o que foi dito ou sobre a escolha de Thalia permanecer com eles no final. Mas Luke estava agradecido e mais de uma vez ofereceu uma prece silenciosa aos céus em troca da companhia que queria manter. 

Lá pelo centro da cidade, eles passaram por bairros adormecidos compostos por casas grandes com varandas e jardins minúsculos. Luke imaginou todas as famílias normais que viviam por ali, invejando-as. Pensou em como deveria ser ter um lar e não ter que se preocupar em ser comido por monstros todos os dias. O calor estava intenso e Luke sentia seus pés derretendo dentro dos sapatos. Esperava encontrar um lugar para descansar. Ao invés disso, encontrou aquela cabra infernal, pastando na base de um monumento, no meio de um parque circular. 

"Deixa eu adivinhar," ele resmungou para a Thalia, "você vai querer ir atrás dela."

Thalia lhe deu um sorriso torto que fez seu coração acelerar. "Que bom que você me conhece. Assim não preciso trabalhar em te convencer. Além do mais, ela não está desaparecendo dessa vez. Devemos estar perto de onde quer que ela esteja nos levando." E Thalia lhe pegou pela mão. "Venha. Vamos tentar conversar com ela." Ela o para o outro lado da rua. Luke não protestou. Anthony os seguiu de perto. 

Eles se aproximaram da estátua; era de um cara montado num cavalo. A cabra não prestou atenção neles. Estava batendo seus chifres contra a base de mármore do monumento. 

"General Robert E. Lee," Anthony disse astutamente. "Ficou conhecido por ter comandado o Exército da Virgínia do Norte durante a Guerra Civil, de 1862 até que se rendeu em 1865." Ele fazia muito disso, largava fatos aleatórios sobre vários assunto diferentes. Luke nunca fazia ideia sobre o que ele estava falando. Era como ter um dicionário ambulante sempre muito intuitivo. 

Pela primeira vez, a cabra realmente deixou eles chegarem perto e não fugiu. Thalia ajoelhou-se perto dela. "Amalteia?" chamou de leve. A cabra se virou. "Amalteia, o que você quer que eu faça? Meu pai enviou você?"

A cabra olhou para Luke. Ela parecia um pouco irritada. Ele deu um passo para trás. "Hã, Thalia, você tem certeza que essa cabra é do teu pai?"

"Ela é imortal. Quando Zeus era bebê, sua mãe Reia o escondeu numa caverna-"

"Porque Cronos queria comê-lo?"

Thalia assentiu. "Então esta cabra, Almateia, cuidou do bebê Zeus em seu berço. Ela o amamentou." Ela voltou-se para a cabra. "Por que você nos trouxe até aqui, Amalteia? Para onde você quer eu vá?"

A cabra bateu a cabeça contra o monumento. Do alto veio o som de metal rangendo: o General Lee movendo seu braço direito e apontando para o outro lado da rua, onde havia uma mansão de tijolos vermelhos coberta de hera. Mesmo numa manhã ensolarada, o lugar parecia sombrio e assustador.

Anthony deu um olhar nervoso a Thalia. "A cabra quer que nós entremos lá?" Ele não era fã de lugares escuros. 

"Béééé."

"Então é isso que faremos," Thalia declarou bravamente.

A névoa engrossou e cresceu em torno de Amalteia até que ela desapareceu. 

O piso da varanda rangia sob seus pés. As janelas fechadas estavam se despedaçando. Thalia bateu a porta. Não houve resposta. Ela sacudiu o trinco, mas parecia trancado. Thalia olhou Luke com expectativa. "Você pode fazer aquela coisa?"

Ele cerrou os dentes. "Você sabe que eu odeio aquilo," ele reclamou, mas realmente todos os pedidos dela eram uma ordem. Luke colocou a mão na tranca da porta e se concentrou, sentindo os pinos internos que controlavam a tranca. Com um clique, o ferrolho deslizou para trás e a porta se abriu. 

"Isso é tão legal," Anthony sorriu. Ele já tinha visto Luke fazer isso uma dúzia de vezes, mas sempre ficava impressionado. Luke podia ver que a alto estima do amigo não era lá essas coisas, o que ele realmente não entendia. Anthony era definitivamente o semideus mais esperto de todos os tempos, mas ele parecia não consider isso como um poder muito legal. Ele queria poder abrir trancas magicamente ou lançar raios nos seus inimigos. 

A entrada exalava um cheiro azedo. Lá dentro se encontrava um salão a moda antiga. O lugar devia ter sido impressionante um dia, mas agora estava destruído. Na base das escadas estava uma pilha de latas, trapos e ossos humanos.

Thalia sacou sua lança. Luke agarrou o taco de golfe que vinha usando para se defender. Anthony puxou sua faca de bronze. A porta se fechou atrás deles. Os três trocaram um olhar. Luke foi até a porta e tentou abri-la de novo. Não teve jeito. Thalia correu para a janela mais próxima e tentou puxar as cortinas, mas o tecido preto se enrolou em suas mãos.

Ela gritou. As cortinas se liquefizeram em lençóis de lodo oleoso como línguas negras gigantes. Elas deslizaram por seus braços e cobriram sua lança. O coração de Luke estava tentando subir por sua garganta, mas ele e Anthony atacaram as cortinas, golpeando com o taco de golfe e faca de bronze. 

O lodo estremeceu e voltou a ser um tecido por tempo o suficiente para que eles conseguissem tirar Thalia dali. Sua lança caiu no chão. Eles a carregaram para longe e o lodo se aquietou e se transformou em cortinas novamente.

Thalia tremia. Suas mãos estavam fumegando e com bolhas. Seu rosto ficava cada vez mais branco. Luke apalpou a mochila até que achou a garrafa de néctar, mas a garrafa estava quase vazia. Ele derramou o resto nas mãos dela. O vapor se dissipou. As bolhas desapareceram.

"Não podemos ficar aqui," Anthony disse. 

Thalia ainda tremia, mas ela conseguiu se levantar. 

"Vamos achar outra forma de sair," Luke prometeu aos dois. Ele olhou para o corredor da esquerda e pode distinguir um par de luzes vermelhas brilhando perto do chão. Então as luzes se moveram, balançando para cima e para baixo, cada vez mais brilhantes e mais perto. Um grunhido fez os dois se assustarem. Anthony apontou para o outro corredor. Outro par de luzes vermelhas brilhantes os encarava nas sombras. Dos dois corredores vinha um som estranho como alguém tocando castanholas.

"As escadas parecem uma boa ideia," Luke falou baixinho.

Como em resposta, uma voz de homem os chamou de algum lugar acima: "Sim, por aqui." A voz estava pesada de tristeza, como se ele estivesse dando instruções para um funeral.

"Quem é você?" Luke gritou.

"Depressa," a voz chamou, mas ele não pareceu animado sobre isso.

À direita, a mesma voz ecoou: "Depressa."

Então a mesma voz chamou do corredor da esquerda: "Depressa."

Ele já tinha enfrentado algumas coisas assustadoras antes, mas algo sobre essas vozes ecoando ao seu redor, os olhos brilhantes e os barulhos estranhos de estalo, faziam Luke sentir como se fosse um cervo cercado por lobos. Cada músculo de seu corpo ficou tenso. 

Foi Anthony quem tomou a decisão: ele agarrou seus dois amigos pelo pulso e disparou para as escadas. 

"E se for outra armadilha..." Luke começou.

"Sem escolha!"

Anthony subiu as escadas, praticamente arrastando Thalia e Luke com ele. Luke sabia que poderiam estar correndo direto para suas mortes, mas também sabia que precisavam dar o fora daquelas coisas do térreo.

Ele estava com medo de olhar para trás, mas podia ouvir as criaturas se aproximando - rosnando, pisando e fazendo barulho. No topo das escadas, eles mergulharam em outro corredor. Luke pulou por cima de uma pilha de ossos, acidentalmente chutando uma caveira humana.

Em algum lugar acima deles, a voz de homem chamou: "Por aqui!" ele soou mais urgente que antes. "Última porta a esquerda! Depressa!"

Atrás deles, as criaturas ecoavam as palavras: "Esquerda! Depressa!"

Eles seguiram em frente. O corredor tornou-se mais dilapidado. O carpete estava em farrapos e cheio de ossos. Luz passava por debaixo da última porta a esquerda. Atrás deles, o som de cascos ficava mais alto. Eles alcançamos a porta e Luke se lançou contra ela, mas ela se abriu sozinha. Thalia, Luke e Anthony caíram para dentro, com o rosto plantado no carpete.

A porta se fechou. Do lado de fora, as criaturas grunhiram em frustração e se esfregaram contra as paredes.

"Olá," disse a voz de homem, muito perto agora. "Me desculpem."

A cabeça de Luke estava rodando. O cara usava botas de couro de cobra e um terno malhado de verde e marrom. Ele era alto e magro, com cabelo grisalho espetado. Seus ombros eram caídos. Seus olhos verdes eram sublinhados com bolsas.

Ao contrário do resto da casa, o quarto estava em boas condições. Havia uma cama de casal, uma mesa com um computador e uma janela coberta com cortinas escuras como as do térreo. Ao longo da parede direita ficava uma estante de livros, uma pequena cozinha e a porta de um banheiro. 

Anthony disse alguma coisa que Luke não entendeu. Ele olhou para a esquerda. Havia uma fileira de barras de ferro como uma cela de prisão. Dentro, o chão de cascalho estava cheio de ossos e pedaços de armadura, e rondando de um lado para o outro estava um monstro com um corpo de leão e pelo vermelho ferrugem. Ao invés de patas ele tinha cascos como um cavalo, e sua cauda açoitava como um chicote. Sua cabeça era uma mistura de cavalo com lobo - orelhas pontudas, focinho alongado, lábios pretos que pareciam perturbadoramente humanos.

O monstro rosnou. No lugar de dentes, haviam duas ferraduras em forma de placa óssea. Quando estalou a boca, as placas rangeram, fazendo o clack, clack, clack que eles ouviram no térreo. O monstro fixou seus olhos vermelhos brilhantes em Luke. Saliva pingava das suas estranhas cristas ósseas. Luke queria correr, mas não havia para onde ir. Ele ainda podia ouvir as outras criaturas - pelo menos duas delas - rosnando no corredor.

Thalia encarou o velho. "Quem é você?" exigiu bravamente. "O que é essa coisa dentro da jaula?"

O velho homem fez uma careta. Sua expressão era cheia de miséria. Ele abriu sua boca, mas quando ele falou, as palavras não vieram dele. Como um horrível ventríloquo, o monstro falou por ele, na voz do velho: "Eu sou Halcyon Green. Eu sinto muitíssimo, mas vocês é que estão na jaula. Foram atraídos até aqui para morrer."


Notas Finais




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...