História Arrependimento - Capítulo único

-Arrependimento nunca fez parte da minha vida, Sherlock. E você sabia disso- A voz de John era o único som que quebrava o terrível silêncio que rodeava o grande e florido cemitério da cidade.
-Mas depois que te conheci me arrependo de muitas coisas-John finalmente tomou coragem, depois de um mês de pura angústia, para ir encarar a lápide que continha o nome de Sherlock.
-Me arrependi de cada vez que não estive presente, de não te contar que resolvia casos com você não só porque gostava, e eu gostava, mas porque, na verdade, queria estar com você; Te ver observar tudo, cada lugar, cada espaço com a devida concentração irritante que tinha, esperando que algum dia você me olhasse na mesma forma, com a mesma atenção. Me prender no emaranhado dos seus azuis era tudo que eu queria estar fazendo agora, invés disso estou a encarar sua lápide fria. Sofrer em silêncio e te der ao meu lado todos os dias é muito melhor do que me declarar e você nunca conseguir me ouvir. Ah, Sherlock se você pudesse me ouvir...-John fez uma pausa, as emoções agora preenchiam o espaço vário na sua garganta.
Ele sabia exatamente o que falar, tinha se preparado durante um mês para aquele dia, mas o que John não sabia era que Sherlock conseguia ouvi-lo, ah, e como conseguia, pois a sombra do mesmo se encontrava a alguns metros atras do médico, escondido nas costas de uma árvore. E, por mais recíproco que aquele sentimento poderia ser, Sherlock sabia que não deveria continuar lá, contudo, desobedecendo seus próprios princípios sobre o amor, ficou para ouvir o que John tinha à falar. 
-Em tese, seu idiota, frio e egoísta, eu me arrependo te nunca ter a coragem de te contar que eu foi, sou e sempre serei apaixonado por você. Apaixonado por sua frieza, por sua inteligência, pelo jeito irritante que você tinha de resolver tudo, de ter razão de tudo, de desafiar até Deus para ter a última palavra-O médico precisou parar novamente para se restabelecer. 
Sherlock, ao ouvir john falar daquele jeito, fechou os olhos como se fosse muito difícil aguentar aquelas palavras com as pálpebras abertas. Ele estava quase indo embora quando ouviu as palavras lagrimosas do médico.
-Só mais uma coisa...Mais um milagre, Sherlock, por mim. Não esteja morto, poderia fazer isso? Por favor
O médico continuou falando, mas aquilo já bastou para Sherlock se desconcertar por inteiro. Aquela sua frieza se derreteu, fazendo uma lagrima pesada escorrer pelo seu rosto, ele queria muito atender ao pedido de John, queria mesmo. Desejava correr até ele, abraça-lo, sentir o calor do corpo dele no seu, libertar todo aquele sentimento reprimido durante anos com um único beijo apenas e esquecer que o mundo ao redor existia, mas isso não seria possível. Aquele sentimento era verdadeiramente perigoso, o mal estava por perto, Moriaty não seria o primeiro e muito menos o último e ele não poderia submeter John a este perigo, a verdade é que não aguentaria perde-lo, embora nunca o teve realmente.
Sherlock sabia que estava condenado a passar a vida inteira sozinho, John foi somente a forma mais difícil de contestar isso. 
-Adeus John!- Sherlock sussurrou com medo do doutor ouvir- Se cuida e encontre alguém que será melhor para você do que eu jamais seria.
O detetive deu uma bela olhada no médico como se quisesse eternizar aquele momento antes de se virar e ir embora.
-Sherlock?-A voz de John refletia esperança ao vê-lo vivo, de costa bem na sua frente a pouquíssimos e, ainda assim, longos passos de distância.
O detetive se virou e sorriu para o doutor. John, como quem acaba de sair de um sonho ruim, esfregou os olhos para enxergar melhor, mas quando os abriu Sherlock não estava mais lá, foi apenas uma miragem, algo projetado pelo seu cérebro para amenizar a dor do seu coração. Parte de John aceitava essa teoria, a outra, mais teimosa, sabia que Sherlock estava vivo e bem, o problema é que só o tempo diria ao médico em qual das duas partes ele deveria acreditar. No momento o médico não decidiria nada, não era capaz de sentir outra coisa além de arrependimento.