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História Arrepio e Música - Sexta-feira, 23h42min


Escrita por: Minsk-

Notas do Autor


Às vezes acontecem coisas inusitadas na vida. Geralmente coisas simples. Esse tipo de coisa me marca. Eu sinto necessidade de escrever sobre isso. Então eu escrevo. Isso é tudo que eu tinha pra falar.

Boa leitura :)

Capítulo 1 - Sexta-feira, 23h42min


Algumas pessoas não lêem as placas, então eu mostro pra elas: em cima da porta do ônibus sempre tem um aviso que diz que é proibido ouvir música alto. Está escrito em outras palavras, mas geralmente cutucar a pessoa e apontar o letreiro faz ela desligar o som.

Eu sou o tipo de pessoa que se incomoda o bastante e cutuca as pessoas. Porque eu não acho que todas as pessoas com você dentro do transporte público precisem aceitar o seu gosto musical, que muitas vezes é horrível, diga-se de passagem.

A bateria do meu celular tinha acabado e eu guardei os fones de ouvido. Não tinha sido um bom dia, eu só queris ler um pouco e esvitar minhas músicas. Mas a bateria tinha que acabar. Claro. É o tipo de sorte que eu tenho. Continuei a ler o livro. Alguns segundos depois, eu notei que ainda tinha uma música tocando ao fundo, uma que eu conhecia e gostava mas não vinha mais do meu telefone.

Me virei na direção do som. O fundo do ônibus estava cheio. A música vinha de lá. Não consegui mais ler coisa nenhuma, porquue eu sentia uma necessidade imensa de cantar a letra da canção.

Mais duas pessoas estavam cantando comigo.

Imaginei que se a música em questão fosse uma mais conhecida, e em português, então o ônibus inteiro cantaria, e seria incrível. Mas era Oasis "Im Outta Time" e eu só escutei três vozes: a minha (baixinho), a de alguém com um inglês ruim e uma afinação pior ainda (normal) e a de alguém bastante intretido com uma voz embargada (alto).

Ninguém parecia estar incomodado ou mesmo escutando. Mas eu estava.

Fechei o livro, guardei na mochila e fiquei murmurando a música e prestando atenção no caminho. Fingindo prestar atenção na verdade, porque a chuva tinha embaçado os vidros das janelas e não dava muito pra ver lá fora.

Algumas pessoas desceram.

O som da música ficou mais claro. A música acabou, eu não conhecia a música seguinte embora pela voz do cantor eu soubesse com certeza que era dos Strokes.

Só uma pessoa cantava agora.

Eu olhei pra trás de novo. Não vi ninguém. A próxima música era Wonderwall. O próximo ponto chegou antes da introdução terminar. Muita gemte desceu. Com isso o ônibus ficou quase vazio, mas eu não quis mudar de lugar porque também já ia descer daqui a pouco. Não fazia sentido mudar de lugar só porque tem lugar vago.

— Meu Deus ele deve estar bem triste pra ouvir esse tipo de música - a moça ao meu lado comentou comigo. Eu sorri sem graça, porque eu estava cantando também.

Ela provavelmente não conhecia a tradução da música ou a música em si, mas não disse nada.

— Estou dizendo isso porque é o tipo de música que eu ouço quando estou sofrendo, sabe? Ele deve ter sofrido uma decepção amorosa e tanto - ela comentou. Eu olhei pra tras.

Tinha só um cara agora. Os olhos fechados, ele murmurava a música alto e como se fosse uma prece. Seus olhos se abriram, e eu virei pra frente logo, como se tivesse feito algo errado.

Eu conheço muita gente com gosto musical parecido com o meu, mas fiquei feliz de ter alguém ali naquele mesmo ônibus ouvindo as músicas que em geral eu chamo de "minhas". Sendo sincera todas as vezes em que alguém me incomodou ouvindo música em volume alto, foi porque estava escutando funk ou pop bem ruim. Era a primeira vez que alguém tinha o que eu considerava um bom gosto, então ainda que eu achasse errado, decidi não apontar nada.

Também, só restavam quatro pessoas no ônibus agora. E o motorista. Eu sou sempre a última a descer, não importa o horário. O motorista sabe meu nome, ele para fora do ponto pra mim, tudo certo. Minha rotina.

Esperei o ônibus esvaziar quando deixamos o ponto antes do meu, mas a música continuou lá dentro e tocando. O rapaz da música se moveu pelo corredor e sentou no banco mais alto na minha frente.

— Você estava cantando né? - ele riu. Eu sorri. Fiz que sim. Outra música começou. Eu não conhecia, parecia Oasis, mas acho que era daquela banda posterior feita por um dos irmãos Gallagher Beady Eye. Eu conhecia tudo do Oasis, então não podia ser. Ele aproximou a saída de som do celular do meu ouvido, e cantou a música num inglês enrolado. Eu ri. Nunca tinha o visto na vida. Seus dedos estavam roçando minha bochecha de leve e esse gesto tão singelo me deixou arrepiada. Como se várias borboletas pousassem em mim com suas patinhas o mesmo tempo. Eu olhava seus olhos e ele olhava os meus. A música não fazia sentido aos meus ouvidos, mas ele parecia cantar pra mim. Sorri, e ele sorriu. Queria saber o que ele dizia. Parecia bonito.

Esse é bem o tipo de coisa estranha que acontece comigo vez ou outra, e eu nunca me acostumo. Eu guardo essas coisas como memórias doces. Faço isso. Escrevo sobre elas.

Me levantei porque meu ponto estava próximo. Olhei pra ele. Tinha olhos bonitos que não diziam nada. Não me diziam se ele estava triste, sofrendo uma decepção amorosa, ou se aquele era seu estado crônico da vida.

Junto ao seu cabelo um pouco grande, e sua barba por fazer, seus olhos me diziam que ele era bonito.

— Depois do ponto? - o motorista perguntou lá da frente. Ele podia me ver pelo espelho.

— Isso! - gritei de volta as pessoas tinham ido, mas ainda havia a música e os motores - por favor! - pedi. Ele fez sinal de positivo com a mão e eu esperei perto da porta.

— Ah, você já vai descer? - o cara da música perguntou. Fiz que sim "vou" eu disse. Ele deu um sorriso afetado - É claro que eu ia ser o último. É foda. As pessoas sempre vão me deixando. Mas tudo bem. Só hoje não vou ligar. Porque eu estou um pouco bêbado, mas encontrei alguém que conhece as mesmas músicas que eu, e fiquei de bom humor.

Eu sorri de novo.

— Você é legal - ele disse e deitou a cabeça no apoio do banco de um jeito meio torto - tenha uma boa noite moça, um bom fim de semana - ele sorriu.

— Pra você também - eu disse, e ri achando graça.

— Nah, não precisa disso. Eu estou bem - ele afirmou. O ônibus parou, eu desci e observei por um instante as janelas todas passarem por mim e o cara me olhar. Eu vi dentro dos seus olhos, mesmo que rapidamente, que ele estava mentindo. Mas agora eu não podia falar mais nada por ele. Nem dizer um "vai ficar tudo bem", ou perguntar seu nome.

Desci a rua, na escuridão da noite. As pessoas e suas loucuras sempre me cativam. Engraçado.

Eu ainda tinha um sorriso indistinto, como se guardasse um segredo feliz e alguma preocupação.

— Eu nunca vou me acostumar com essas coisas - murmurei para mim mesma.

E sei que isso é verdade.

É só que as vezes quando estou triste, a vida parece que se mostra um pouco mais doce. Mesmo que por alguns instantes curtos, mesmo que de maneira tão singela. Eu acúmulo esses momentos como se fossem versos de uma poesia, e sei que falando assim ninguém mais vê beleza nisso. Mas eu vejo. As vezes eu acho que é isso que faz a vida valer a pena.

Às vezes.

Só algumas vezes.

Notas Finais


Obrigado por ler, possível leitor(a) :*


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