Querido Park Jimin,
Eu espero de todo coração que ao pegar este pedaço de papel amassado, esteja sentado com uma bebida quente, e um de seus edredons coloridos sobre o corpo relaxado.
Bem, você sabe como ninguém que as coisas não estão tomando o rumo que planejamos quando tínhamos nossos 13 anos. Sabe também como sou, conhece meu jeito livre e covarde, e ao ler esta frase, deve estar perguntando-se onde estou. Sim, eu voltei para a minha casa, minha cidade natal, e eu lhe explicarei o porquê.
Lembro-me que há alguns anos, fiz para mim a promessa de que quando deixasse de te amar, lembraria todos os motivos que me fizeram amá-lo. E acho que nada mais justo do que compartilhar isto contigo, por mais que eu não esteja mais aí.
Sabe quando você estava num dia ruim, e sentava-se para ler um dos seus livros, com a pior expressão possível?
Eu amava a forma com que suas sobrancelhas juntavam, fazendo parecer que o livro toda culpa tinha.
E quando aparecia de manhã cedo com o rosto amassado e os óculos na ponta do nariz. Era adorável a forma com que a luz sempre passava pela lente e deixava teus olhos cristalinos.
Você tem exatas 11 pintinhas nas costas, e eu contei quando você caiu no sono após termos feito amor. Sempre que tinha chance, pegava uma caneta permanente e ligava todas elas, pareciam constelações, e isso aumentava minha ideia de que você era meu universo.
Aliás, eu amava te observar dormindo, e amava também ver seu cabelo castanho em pura desordem caído sobre a testa. Não que as outras cores não fossem tão belas, mas você sempre soube o quanto eu amava seus fios naturais. Contudo, você é bonito de qualquer jeito, sabe disso.
Amava a forma que ria e seus olhos desapareciam, e junto deles sempre vinham os dentinhos desordenados. Amava o som que acompanhava eles.
Amava suas mãos pequenas e a forma que se encaixavam perfeitamente nas minhas. Pareciam fabricadas sob medida. E amava a forma que brincava com meus dedos magros.
Amava o frio, e a forma que as extremidades do seu corpo ficavam cor carmesim. Principalmente as laterais dos seus pés.
Amava seus lábios grossos e o atrito que fazia sobre o meus. Parecia beijar cetim.
Amava os fios espetados e ásperos da sua nuca, onde eram um abrigo para meu afago terno.
Amava suas panturrilhas e seus joelhos branquinhos. A dobra atrás deles também era leitosa e encantadora.
Amava sua clavícula. Que para mim, era um colo para beijos mornos.
Amava quando seu ombro ficava à mostra por estar usando uma das minhas blusas sociais, que eram grandes de mais pra você.
Amava a forma que você não sabia as abotoar, e sempre que te via na cozinha, nenhum dos botões condiziam com as casas. Aí você sempre cravava seu lindo sorriso no rosto, e aquele sempre era meu ponto mais alto do dia. Meu pico.
Amava a forma com que suas piadas toscas me faziam rir, e amava a forma com que sempre se emocionava em final de animações japonesas.
Amava o espaço entre suas pálpebras, e as suas linhas na palma da mão;
Amava seu maxilar definido e o fato dele ficar vermelho rápido;
Amava suas coxas fartas e seu tórax;
Amava a forma que respirava quando deitado;
Amava a forma que me fazia querer fundir nossos corpos e ser apenas um. Assim como nossos corações eram.
Acima de tudo; amava você, Jimin.
Amava até seu jeito desengonçado de tropeçar em tudo e estalar os olhos depois. Você nunca obtinha ideia do que estava fazendo.
Mas as pessoas mudam, e quem mudou foi eu. Já não sinto meu peito explodir em diferentes colorações de artifício ao degustar teu cheiro doce e caloroso, na curva do pescoço macio.
Também não sinto meus olhos brilharem e minhas palavras sorrirem quando você sorrateiramente me abraça por trás e apoia a cabeça nos meus ombros rígidos.
Não sinto meus lábios necessitarem de serem repuxados quando você me diz um “Eu te amo.”, apenas tenho a sensação dura de meu cérebro entrar num loop infinito, pensando nas possibilidades de te agradecer por me amar.
Você foi a obra de arte mais bonita que eu já vi. Mais belo que o mar e a lua em uma noite de verão. Mais belo que o sentimento de receber o sorriso de uma criança estranha. Mais belo que fechar os olhos em dia de ventania. Mais belo que o cheiro do céu, que a chuva trás em cada partícula d'água.
Mais belo que o próprio Sol. Todos podem ver, que tua luz essencial, é mais vital que a solar. Suas curvas refletem a sombra do meu corpo, e teu sorriso molda-te em cada átomo estelar.
E você vai encontrar alguém.
Alguém que passe horas te observando e decorando o formato das suas linhas de expressão. Alguém que seja um verdadeiro amante da arte, e te contemple com admiração. Que irá fincar e prender suas digitais nas dele.
Alguém que entre em combustão junto à ti. Pois eu já sou cinzas, e preciso encontrar um ser que seja vento, e me leve em suas ondulações aéreas para longe.
E eu ainda tenho carinho por ti, meu amor.
E de todas as inúmeras e incontáveis coisas que você sabe, que eu te amei além do amor, está dentre elas.
Eu espero que para a sua vida, você possa esquecer a minha. Eu te amo. Apenas não me encontro mais apaixonado por você.
E no museu da efêmera vida, você é a obra mantida em cofre, a história mais bonita que eu poderia proferir.
Porque você ainda vai ser arte.
Mesmo quando eu deixar de admirar você.
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