História Artemis Quest - A Menina Sem Memórias

*Katniss POV*

Fazia calor em Sacramento. Observei enquanto Prim ajudava sua mãe a preparar o jantar. Ela era tudo o que eu tinha, mesmo não sendo minha irmã de verdade. As memórias me invadiram.

*Flashback ON*

Acordei ensopada pela chuva, uma garota que devia ter 5 anos me cutucava enquanto chamava a mãe para me ajudar. Tentei me levantar e engoli um grito ao sentir a dor lascinante em meu joelho, devia estar torcido, no mínimo. Todos os meus músculos doíam como se eu tivesse acabado de sair de um triturador. Eu segurava uma planta com flores brancas.

Não lembrava como fui parar ali, não sabia meu nome, minha idade, sequer meu aniversário. Estava tão confusa. Minha mente estava vazia. Não tinha lembrança alguma, de nada. Quase como se eu tivesse passado a existir naquele momento.

Uma mulher se aproximou de mim. Provavelmente a mãe da criança.

– Ei, o que aconteceu? Quer uma carona para casa?

– Eu.. não tenho casa.

– E a sua família?

– Também não tenho. – Eu apenas sabia que não tinha, mesmo sem lembrar de nada. Como se pudesse sentir que estava sozinha no mundo.

– Então vem com a gente, vamos dar um jeito nesse joelho. Não posso te deixar aqui assim.

Ela me ajudou a levantar e me levou até o carro. Chorei de dor ao me sentar no banco. Logo ela deu partida e alguns minutos depois estávamos em sua garagem. Ela me levou a um cômodo vazio e botou meu joelho de volta no lugar, doeu em cada átomo do meu corpo. Logo depois me deu algumas roupas secas e me deixou tomar banho.

Fiquei de repouso por uma semana inteira. A sra. Everdeen foi na delegacia, em orfanatos, na internet, em todos os cantos possíveis procurando minha família, mas não encontrou nada. Era como se todo o meu passado tivesse sido apagado daquele mundo. A única coisa que havia restado era aquela planta que encontraram comigo. Depois de pesquisar, descobrimos que era chamada Katniss e esse passou a ser o meu nome.

Sua filha, Primrose, me visitava todos os dias para se certificar que eu estava bem. E eu até brincava com ela. Me afeiçoei de imediato. Ela era encantadora, o tipo de pessoa que não tem como não amar.

Quando finalmente me recuperei por completo, a sra. Everdeen veio falar comigo.

– Katniss, eu queria que você soubesse que não precisa sair daqui. Na verdade, você faz um bem enorme à minha filha. Não quer se juntar à nossa família? – Ela me olhou esperançosa, pude ver em seus olhos que ela me queria por perto, e sorri ao perceber que não estava mais sozinha.

Eu aceitei, claro. Gostava muito da pequena e não conhecia nenhum outro lugar do mundo que pudesse chamar de lar.

*Flashback OFF*

Nossa mãe era uma médica de sucesso e Prim parecia querer seguir seus passos. A única coisa que sabia sobre o pai da minha irmã era que ele havia morrido antes de seu nascimento.

Sentei-me à mesa e coloquei um pouco da lasanha em meu prato. Conversamos sobre o dia. Era um jantar comum. Fazíamos isso todos os dias.

Mas naquela noite alguém bateu à porta. A mãe de Prim foi atender e logo ouvi gritos. Corri até o local e encarei o gigante tatuado de dentes pontudos e amarelados que segurava bolas de fogo em suas mãos. Ele me lançou um olhar assustador. A sra. Everdeen correu para a garagem gritando para que a seguíssemos. Foi então que notei Prim ao meu lado, tão surpresa quanto eu.

Corremos com ele atrás de nós e trancamos a porta. Não que adiantasse muito, duvidava que ele levasse muito tempo para derrubá-la.

– Meninas! Precisamos sair daqui agora! – Disse retirando alguma coisa de um baú antigo. – Entrem no carro.

Obedecemos e esperamos. Logo ela entrou no carro segurando uma adaga, um arco e uma aljava de flechas. Deu a adaga à Prim e eu fiquei com o arco. Logo ligou o carro e arrancou dali.

O monstro nos seguia em uma Harley-Davidson enorme. Ela viu a confusão em nossos rostos pelo retrovisor e começou a explicar.

– Sei que estão confusas, nunca falei sobre isso antes para proteger vocês. Prim, seu pai é um deus, você é uma semideusa. Por isso monstros te perseguiram sua vida inteira, tudo aquilo que você achava ser apenas sua imaginação era real. E Katniss, apesar de não saber seu passado, tenho quase certeza que você também é. O pai de Prim me orientou a levá-la para o Acampamento Meio-Sangue quando sua vida corresse risco. É um local próprio para pessoas como vocês, estarão seguras lá. Fica em Long Island, New York. – Não surtei nem fiquei confusa. Na verdade, naquele momento tudo fez sentido. – Vocês precisam ir para lá.

– Long Island? Isso é do outro lado do país! – Não conseguia imaginar atravessar o país com aquele monstro em nosso encalço.

– Eu sei, querida. Mas vocês vão conseguir chegar lá. Vou levar vocês para Los Angeles e de lá daremos um jeito de ir.

Estávamos passando pela Ponte Golden Gate quando o gigante lembrou que podia atirar bolas de fogo. Uma atingiu o pneu dianteiro, fazendo o carro rodopiar. Quando paramos, ajudei Prim a sair e corremos. Nossa mãe atraiu a atenção do monstro para que conseguíssemos fugir.

– Katniss, proteja sua irmã! Vão para o Acampamento! Vou dar um jeito de atrasá-lo.

Não podia abandonar minha mãe ali. Lembrei-me do arco e posicionei uma flecha, apontando diretamente para o gigante. Mas foi tarde demais. Ele lançou suas bolas de fogo em minha mãe que ainda estava ao lado do carro. Ela desviou, as esferas acertando a tampa do tanque de gasolina. O veículo explodiu quase que instantaneamente, lançando o gigante ponte afora com o impacto. Vi o corpo sem vida da nossa mãe no chão antes que sumisse em meio às chamas. Contive as lágrimas e me lembrei do que ela me pediu. Eu precisava ser forte para proteger minha irmã. Consolei Prim e seguimos nosso caminho.

Precisávamos chegar em Los Angeles e de lá, ir para Long Island.