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História As Artes Proibidas - Capítulo Um


Escrita por: NecMizu

Notas do Autor


Espero que gostem, e sim, eu sei, estou atrasado nas outras duas...

Capítulo 1 - Capítulo Um


A chuva pesada atrapalhava cada passo do garoto; mesmo aquelas roupas pesadas, mesmo com a água dos céus sendo suavizada em grande parte e mesmo com o fato de encontrar-se na parte um tanto mais segura do feudo, este não podia deixar de sentir-se cansado e frustrado com os passos difíceis e marcha lenta. A estrada de terra havia virado um enorme amontoado de lama que engolia seus pés e a ponta de seu cajado, bem como sujava as bordas de suas vestes negras. O chapéu conífero preto escondia boa parte do rosto em uma sombra, e também lhe ajudava a não ter água pingando em demasia no rosto. Os muros do burgo estavam mais a frente, e a movimentação do caminho que percorria apenas o garantia mais onde se encontrava. Aos seus quinze anos, Anii era um aprendiz de feiticeiro “renegado”, porque tal? O garoto havia adentrado numa das várias escolas de magia do reino aos treze, porém diferente da maior parte dos garotos de famílias mais pobres, preferiu frequentar em maior quantidade as aulas sobre artes ocultas. A roupa que tinha no corpo era o uniforme de qualquer mago negro, o cajado de madeira vermelha era algo que também havia roubado antes de sair da instituição. Artes ocultas, por definição, eram coisas mais complementares e “controversas” nos corredores das academias, a primeira razão era pela quantidade de assuntos disponíveis aos alunos, a maioria destes eram aulas sobre magos e magas que haviam desvendados os poderes do Mana e do Deus Cruel, canalizando essas energias em seus utensílios de direcionamento, fosse um cajado; uma espada no caso de um mago de batalha; um artefato para os mais casuais e discretos; um livro para magos mais eruditos; n coisas, e direcionando está para causar efeitos que eram abomináveis de acordo com os teólogos e ignorantes.  A segunda pelo fato de que os melhores assuntos em artes ocultas serem (isso é, em sua maioria os assuntos mais clássicos da corrente) ilegais devido a não só a caracterizarem pecados de acordo com as Sagradas Escrituras do Deus Bondoso, mas também por serem vistas como desumanas e demasiado grotescas. Claro que está era a facção dos teólogos que, para infelicidade do jovem bruxo, haviam retomado o controle da sociedade. Magos eram seres muito mais curiosos por natureza, muito mais uteis também de acordo com a opinião deste, porém está mais sendo um juízo de valores. Eles no geral não sentiriam desgosto de utilizar magias e encantos proibidos caso tivessem ainda à liberdade para tal; vários dos tutores ou já haviam feito quando foi legal, ou continuavam em segredo, ou faziam as coisas grotescas que ainda não eram ilegais. Tal interesse pelo profano fez de Anii um aluno “estranho” para os demais. Não sabia escrever bem, mas podia escapar em leituras, com exceção dos mais técnicos. Apesar de as Profanas Escrituras do Deus Cruel serem uma série de livros complexos e cheios de simbolismo, pode lê-los nas geladas seções sobre artes ocultas da biblioteca do local, repleta não só de material mágico, mas coisas que os ignorantes também liam em outro tipo de instituição, aquelas chamadas universidades. Estes iam desde livros de introdução a escrita, coisa que Anii fez várias oferendas mais tarde por ter achado e conseguido ajuda com outros alunos, até avançados textos teológicos e papiros antigos sobre as ciências naturais, em especial, matemática. Magos eram também em sua maior parte estudiosos, caminhando pelos escuros corredores dos edifícios com livros, pergaminhos e outros utensílios, alguns querendo seguir uma carreira puramente intelectual, outros com delírios megalomaníacos, coisas tais como querer atingir aos céus ou as profundezas do Abismo, e tomar o lugar de um ou até mesmo de ambos os deuses. Anii nunca chegou a esse nível de narcisismo e ambição insana, mas conforme aprofundava no oculto e em outros assuntos mágicos, foi sendo levado inconscientemente pelo desejo de poder e pelo poder de controlar o Mana, com ajuda do Deus Cruel, ao qual cultuava com grande devoção. Os teólogos odiavam este deus, mas todo adorador deste via a estes com desprezo e até certo nível de ódio, preferindo evitar sermões hipócritas sobre modéstia e compaixão por homens e às vezes, raramente, mulheres, que usavam sedas de maravilhosa qualidade e tratavam até os fieis com a mais congelante frieza e até mesmo, nojo. O Deus Cruel não dizia estas coisas, e os “teólogos” deste apenas confirmavam-no ainda mais, com base nos diversos e longos textos sobre este e as forças da escuridão. Anii preferia este lado do conflito cósmico. Ele e muitos dos alunos e docentes das artes negras. Conforme estudava estes papeis, criou grande interesse em um campo especifico: necromancia. Uma área especifica dos estudos sobre os mortos nas artes escuras, focada na manipulação e controle daquilo que já restava no mundo físico após o evento inevitável, isto é, para a maioria das pessoas, pois segundo a tradição, não houve um ou dois que não só teorizaram, mas aprenderam a driblar a morte. Porém já fazia em torno de 100 anos desde a ascensão dos teólogos do Deus Bondoso que tal campo era altamente ilegal de ser praticado e por sorte (ou resistência das academias de magia) não ocorreu o mesmo com a teorização. Então o que restava sobre o assunto era a possibilidade de fazer longas teses sobre necromancia moderna, mas jamais coloca-las em prática. Isso se tornava mais um aprendizado decorativo e não era bem visto não só pelo assunto, mas também pela falta de aplicabilidade no dia-a-dia. Estudou com afinco todos os conteúdos profanos da biblioteca, mas nada se comparava com aquilo que falava sobre necromancia, a ideia de brincar com a morte era tentadora a seus olhos que, para por em prática tais teorias, resolveu sair da academia de magia, levando consigo alguns materiais. Ele seria morto caso fosse pego, mas, se os livros de história estivessem corretos, havia reinos onde a necromancia era tolerada e posta em prática. O desejo de se tornar um necromante venerável era mais forte que o medo de ser morto por delírios e fraquezas como a tolice que os parasitas do status quo chamavam de “pecado”, e com isso, sua bagagem abaixo na sacola eram cinco livros:

Profanas Escrituras do Deus Cruel; o texto teológico grosso e básico de qualquer mago negro.
Teoria Geral de Alquimia; um dos vários trabalhos concisos de alquimia universal escrita por experientes.
Necromancia Moderna, das Origens ao Presente; um livro não muito grosso, porém denso sobre a história, teoria, e rituais do assunto.
Rituais Avançados; um livro pequeno com detalhes de como realizar concentrações profundas e magicas mais fortes.
Necromancia; um livro base sobre a história completa da necromancia.

Apesar de sua bagagem ser um pouco pesada, o mesmo fazia esforço, pois era um conteúdo valioso que não deveria ser desperdiçado. Até porque, aquilo praticamente lhe custou a vida em um caminho sem volta.

Com cada passo, via-se mais próximo dos muros daquele lixo habitacional que certamente era o burgo de Vêronna. Uma cidade sem academia mágica, mas cheia de templos. Iria manter-se com um encantamento na ponta do cajado o tempo todo, uma vez que magos negros não eram bem vistos pela população, e caso estivesse tendo uma epidemia, poderia muito bem se tornar um bode expiatório. A lama engolia os pés descalços deste a cada pisada, libertando-os com um som de sucção em seguida, Anii anos atrás havia adentrado na academia de magia com uma coloração na pele ao qual refletia sua aparência saudável. De fato tinha vindo de grande pobreza, mas felizmente sempre tivera saúde perfeita; uma pele um pouco bronzeada devido ao trabalho na plantação, um par de olhos roxos vibrantes, combinando com madeixas de cor similar e até certo ponto um corpo com um ou outro musculo mais definido. Porém não demorou muito para essa aparência saudável morrer, em parte pela cobrança vital que eram as artes obscuras. A pele bronzeada empalideceu, parecendo a de um doente. Os olhos mantiveram a cor, mas criaram bolsões enormes de olheiras logo abaixo, devido a longas noites de estudo e pedaços de sanidade trocados por saber proibido. E por fim, o corpo atrofiando, ficando mais frágil, como o de uma donzela, e, segundo a opinião pessoal deste, não era estranho o fato de muitos o confundirem com uma garota. Não ligava muito mais para isso, porém também não era muito de seu agrado escutar provocações de homens e garotos estranhos. Finalmente, quando a chuva voltava a apertar e seu chapéu preto cônico lhe servir de proteção outra vez, via-se dentro das ruas de pedra e terra molhada de Vêronna. Havia guardas aqui e ali, e talvez um burguês ou aldeão fugindo da água, cachorros brigando por uma carcaça naquele canto e algumas pessoas na janela, certamente observando com receio conforme o aspirante a necromante ia caminhando pelas ruas que iam alagando. Subindo alguns degraus de uma casa próxima, empurrou uma porta de madeira podre e adentrou em uma taverna. Estava quase completamente vazia, com exceção de algumas claras prostitutas no canto, a espera de clientes, e o taverneiro. Aos quinze, havia muitos desejos carnais que, diferente dos tolos de magia branca, não tinha a menor intenção de se esforçar para escondê-los e/ou controla-los. Porém, havia por experiência aprendido como até essa espécie de trabalhadora reagia quando ouvia um pedido de um mago negro. Aproximou-se do trio de mulheres luxuriosas que pareciam se esforçar para ignora-lo, esperando que essa indiferença pudesse afasta-lo, porém Anii pode apenas parar de frente a mais bonita e ergueu um pouco o chapéu, para que esta e suas companheiras pudessem ver seu rosto afeminado.

-Quanto custa? – questionou com um sorriso leve nos lábios –

A mulher que havia sido direcionada ficou claramente incomodada. Erguendo um pouco o queixo, cruzando os braços e torcendo a boca.

-Muito. – respondia, tentando ainda parecer desinteressada – Mais que um pirralho como você pudesse ter na vida. Quer ver uma buceta? Vai pra debaixo das saias da sua mãe.

-Meu pau ta doendo. – retrucou este, divertindo-se em perturbar a prostituta – Eu tenho dinheiro, quer que eu mostre? Se eu te mostrar você levanta e vai no cantinho ali comigo pra fornicarmos um pouco, feito? – com a ponta do cajado, apontou para o outro lado do bar onde uma lona suspensa por um barbante não era capaz de esconder o quartinho destinado ao trabalho das mulheres –

-Hur! – dizia essa, virando o rosto para o mago – Eu prefiro morrer de fome a abrir as pernas pra um fedelho que gosta de envenenar o foço de água e de fazer todo tipo de depravação. Vaza.

-Vem trepar comigo ou eu te jogo uma maldição. – provocou, sem tentar esconder seu divertimento ao colocar uma mão sobre a boca –

-Sai daqui sua bicha do caralho! – recrutou está, batendo os pés descalços na madeira do assoalho, igualmente podre como a porta – Vai montar na sua mãe!

-Ei, você tá afim de trepar moleque? – intrometeu-se uma – Eu conheço umazinha que iria deixar você por. Ela é gorda como um porco, faz sons de um e talvez tenha até um rabo. Eu sei que vocês bruxos gostam dessas coisas nojentas, quer que eu a chame?

Com um risinho coletivo, Anii ia virando-se e afastava-se dessas, xingando-as por cima do ombro com um sorriso cínico.

-Espero que vocês apanhem bastante suas safadas...

-Enfia esse pau no teu rabo! – gritou a mais bonita –

Sempre foi assim. Havia histórias de pessoas que não recusavam-se a ter qualquer relação carnal ou amorosa com magos negros, porém estas eram mais difíceis. Prostitutas odiavam magos negros, que tinham a falsa fama de fazerem sexo com demônios, animais e no geral iriam trazer coisas terríveis para aquela louca o suficiente para aceitar ouro. A primeira vez que criou coragem para se aproximar foi com uma mulher que hoje sabia ser bastante feia, querendo contratar os serviços dela, sem lembrar exatamente quanto tempo havia passado desde aquele evento. Naquela vez havia se instalado numa estalagem em lugar nenhum, e a mulher vivia e consumava seus serviços nos estábulos, perto dos cavalos dos viajantes e às vezes com o cavalariço do lugar. Uma prostituta desnutrida, roupa suja, cabelo curto e duro e que emanava um cheiro de falta de banho que era possível sentir-se de todo o bar, mas mesmo com essas falhas, havia muito desejo em sua cabeça. Quando tentou contrata-la, até mesmo está mulher de péssima aparência tratou-o com hostilidade, chegando a cuspir próximo a seus pés. No começo, ele se irritou, discutindo com essa e insistindo, por fim resolveu amaldiçoa-la com tuberculose. Não ficou tempo suficiente para vê-la definhar, mas conjurar doenças sobre os outros era bem simples, então não haveria duvidas que ou ela esteja de cama nesse momento, ou já tinha virado um defunto ainda mais mal cheiroso do que fora em vida. Apenas não o faria com aquelas mulheres pois estas eram mais bonitas e não o irritaram ao nível de tira-lo do sério. Ser recusado por prostitutas era algo divertido agora. Indo ao balcão, sentava-se e o taverneiro não saia do local, ignorando sua presença. Escondendo o rosto novamente, Anii encolhia os ombros e falava em tom bem audível.

-Eu existo, sabia?

E com uma reclamação inteligível, o taberneiro foi até o garoto, fitando-o com claro desconforto. O mesmo não possuía muito dinheiro sobrando, então pediu algo simples: uma sopa com pedaços de porco e um copo de amarga cerveja. Entregando cinco moedas de bronze e logo o taberneiro trouxe o pedido. A sopa verde e grossa, pedaços de carne flutuando nessa, acompanhado de um copo de vidro cheio um pouco acima da metade com o liquido escuro. Sua viajem até Vêronna havia sido difícil, então até mesmo aquilo que normalmente parecia desgostoso estava sendo atraente a seus olhos. Tomava grandes goladas da maçaroca verde com a colher de madeira, vez por outra beberricando a bebida ao seu lado. Se o cozinheiro havia batizado algum destes com um cuspe de catarro, não estava sentindo o sabor. No geral comerciantes não desafiavam magos negros, com medo de sua vingança ser muito pior que o desgosto de atendê-los. A chuva continuava a cair pesadamente, e alguns clientes apareciam vez ou outra, o garoto permanecendo sentado na mesa, lendo em silencio sua cópia roubada dos escritos profanos do Deus Cruel. Alguns entravam para falar com o taberneiro, outros para comer e beber, alguns até para dormirem com as prostitutas que o haviam recusado; os sons de sexo sendo audíveis do canto pouco isolado do bar. Não pode resistir e olhar por sobre o ombro algumas vezes, sendo possível ver pelos buracos do tecido a distancia algumas partes de corpos agitados e febris. Isso o excitava, mas eventualmente conseguia ignorar aquilo com força o suficiente para poder se concentrar em ler. Perdendo sua noção de tempo, o local ia enchendo e se tornando mais agitado, e quando percebeu, já havia anoitecido. Poderia passar a noite ali, mas não desejava faze-lo, imaginando que já estava sendo desgostado demais. Provavelmente seria mais seguro sair do burgo e dormir no mato. Guardando seu livro em sua bagagem novamente, o mesmo ia se erguendo, finalmente saindo e dando com uma rua que havia enchido com água de um dia de enxurrada. Até com a pouca iluminação, a movimentação desta  indicava que havia um rato aqui e ali nadando. Lentamente descia as escadas e voltava a caminhar com dificuldade, o cajado servindo de apoio e como objeto de exploração, uma vez que o liquido sujo lhe chegava à canela. Indo cada vez mais para o interior da cidade, a quantidade de água ia diminuindo, pois o relevo ia ficando mais e mais alto, chegando apenas a serem algumas poças parcialmente secas. Os pés do garoto já haviam se acostumado em andar em terra dura ou lamacenta pelo dia, a caminhada tornara-se mais simples e as dores de cada passo sumido praticamente.

-Sente-se comigo, meu irmão. – dizia uma voz feminina em um beco que estava passando –

Virando o rosto para ver a direção da voz, ficou surpreso ao ver uma mulher claramente mais velha, mas também por ser outra maga negra. Está possuía uns olhos e cabelos rosa que pareciam roxos como os de Anii devido à escuridão da viela, porém sua coloração era tão doente e sem graça como a de seu colega de tradição. O mesmo não pensou duas vezes e se aproximou desta, sentada casualmente com as costas apoiadas em um barril e o chapéu lhe escondendo a maior parte da cabeça. Sentando-se ao lado da estranha, Anii apenas envolvia as pernas com os braços, como a outra, seu cajado apoiado em seu ombro e sua bagagem longe da maga. Ficaram um ao lado do outro em silencio, os dois pares de pés dentro de uma poça rasa de água barrosa, eventuais roedores correndo do outro lado da viela sendo o único som por alguns minutos. Foi ela que veio a quebrar o silencio.

-Diga-me, qual seu nome e porque está aqui?

-Meu nome é Anii, - disse este, dando de ombros e erguendo o rosto o suficiente para fitar os tornozelos pálidos de sua companhia – porém minhas razões são minhas. Elas não te interessam... Sua vez.

-Meu nome é Jully, - começava essa, notando o olhar atrevido do garoto e puxando seus robes mais para baixo, tentando esconder seus tornozelos – estou a trabalho... Mas também estou atrás de um parceiro de trabalho. Interessa-te?

-Não. – retrucou sem muito animo–

-Você mente mau irmão. Só pelo seu tom e atitude forçada sei que está inventando. Vamos... Da bom dinheiro... E a julgar pela sua idade, você está precisando de alguém para lhe ensinar coisas não? Eu tenho vinte e três, desses, oito eu dediquei-me a aprender tudo sobre os mortos.

Isso lhe chamou atenção, que ergueu o rosto para tentar fita-la, apenas encontrando o sorriso fatal de sua interlocutora. Não gostava muito da ideia de confiar cegamente nesta mulher, mas os magos negros eram um grupo muito restrito que, apesar de ter sua própria cota de intriga interna, era bem unida até, especialmente após a facção dos teólogos limitarem-lhes tanto, novamente, 100 anos atrás. Ficando em silencio por um tempo, erguia o chapéu para deixar o rosto e olhos a mostra, a outra fazendo movimento similar, revelou seus pigmentos rosados e suas olheiras, bem maiores que as de Anii. Encarando-a brevemente, logo falava baixo outra vez.

-Prossiga.

-Veja bem, querido... Eu sou uma mulher que arruma bons contratos e estou atrás de alguém que possa ser meu aprendiz. Você poderá aprender comigo como fazer magias maiores e melhores, bem como ser alvo de possíveis contratantes no futuro... Tudo que vou precisar é que você faça algumas coisas por mim...

-Tipo o que, irmã? – indagou este, batendo casualmente a sola dos pés na poça de água que ambos dividiam, fazendo um pouco de água voar pelos arredores –

-Coisas simples, irmão. – completou Jully, fazendo o mesmo – Carregar minha bagagem; chamar-me não de irmã, mas mestra; ficar de boca fechada; seguir minhas ordens... Entre outras coisas. Quem sabe eu te recompenso com um extra para você se divertir por ai. Sem falar que eu tenho uma coleção de mais de 500 livros ocultos para você estudar.

Isso fez o mago tossir, começando a rir, incrédulo do que havia acabado de escutar. Virou-se para a mulher, que, estava séria agora. O riso ia morrendo, mas está sabia muito bem o que havia passado pela mente do menor.

-Eu estou sendo honesta. – continuou – Pode não parecer, mas como eu disse, tenho bastante recursos... Estou a dias viajando por este reino em especial, mas veja você, estou voltando para casa após o meu serviço principal, fazendo alguns extras menores durante o caminho. – após alguns minutos de silencio, a mesma retornava sorridente – Irmão... Que você procura nesta sua jornada?

Olhando ao redor com cuidado, estava tão escuro que as roupas pretas destes não seriam distinguíveis naquele beco, então se aproximou mais da mulher que não recuou, pelo contrário, aproximou-se desse, permitindo-o sussurrar na orelha desta.

-Estou atrás de saber absoluto... – dizia – Quero tornar-me um necromante de renome e poder.

-Um necromante? – dizia a ouvinte, afastando-se e cobrindo a boca com a mão, escondendo o risinho – Eu posso lhe ajudar nisso, não só em questão de livros, mas também pois...

Calando-se, Jully erguia o olhar e fixava-o em um ponto no escuro: uma ratazana morta. Parte do corpo comida provavelmente por um gato, o resto abandonado e parcialmente aberto. Anii seguia o olhar da mulher e escutou alguns múrmuros baixos vindos desta. A mulher segurava seu cajado, simples como o do garoto, movimentando-o lentamente enquanto o apontava para o corpo do animal. O renegado reconheceu as palavras: um encantamento simples de necromancia. Como toda magia obscura, o ar ao redor ficava mais pesado, gélido, algumas vozes baixas se tornavam audíveis, sussurrando. Em questão de segundos, o corpo inerte estremecia e o animal erguia-se com dificuldade, as entranhas penduradas para fora e arrastando-se, conforme o animal se aproximava de sua conjuradora. Anii estava pasmo. Era apenas um rato parcialmente devorado, é fato, mas aquela mulher aplicou necromancia, em publico. Caso alguém pegasse-os, ambos teriam ou a forca, ou a fogueira, provavelmente a segunda. Jully eventualmente cortava a corrente do mana, o morto-vivo roedor caindo inerte a seus pés, novamente morto. O garoto afastou os pés que estavam praticamente colados com os dessa, que apenas virava o rosto para fita-lo com um sorriso cínico.

-Você é estrangeira? – perguntou este –

-Não, sou apenas uma necromante praticante.

-É ilegal...

-E você acha que alguém liga? – dando um risinho, a mulher chutava o cadáver a seus pés, fazendo-o voar de volta ao local onde estava antes – Muita gente ignora. Você devia fazê-lo também. Mas então? Ouro, conhecimento e contatos... Tudo se você escolher ser meu aprendiz... Que você me diz? Não lhe parece um bom negócio?

-Sim, irmã. – completava Anii – Estou as suas ordens... Mestra...

-Ótimo meu querido aprendiz. Faz-me feliz. Já está tarde porém, quer dormir em alguma estalagem por ai?

-Eu não faço questão...

-Tão pouco eu. É melhor dormir na sarjeta se me perguntar. Aqueles plebeus nojentos certamente iriam amar cortar a garganta de um mago negro enquanto dormia.

-Façamos tua vontade, mestra. – deu de ombros o garoto, aproximando-se da mulher outra vez, encolhendo-se para aquecer-se – Que deseja?

-Vamos dormir aqui mesmo... Pela manhã, caso você não se importe, pegamos a estrada.

Dando de ombros outra vez, o mesmo apenas pode fazer um sinal positivo com a cabeça e calou-se novamente, tentando relaxar para pegar no sono. A maga de cabelos rosados não pareceu demorar muito para apagar, caindo em sono profundo, sentada ao lado de seu mais novo aprendiz.  A noite passava tranquila, ambos acordavam aos primeiros raios do sol, o casal erguendo-se lentamente e esticando braços e pernas após a noite gélida. Os pertences estavam no local e nada faltava ou estava acrescentado. A poça de água que ambos haviam colocado os pés desinteressadamente havia secado. Jully apontou para uma sacola que havia escondido abaixo de si, olhando para o jovem.

-Carregue isto. – ordenava, batendo o cajado casualmente no chão –

Por um momento, o mesmo pensou em perguntar o que havia ali, porém repensando, imaginou ser algo indelicado e demasiado intrusivo. Sem comentar nada, apenas tomou a mesma e passou a corda por seu braço, o lado oposto de sua própria bagagem. Seguindo a mulher mais velha que liderava pelas ruas ainda parcialmente alagadas do dia anterior, o céu ainda estava bem nublado, então provavelmente haveria mais torrentes pela frente. O caminhar de dois magos negros enxia as pessoas de medo. Crianças ficavam chorosas e aqueles mais adultos, que normalmente apenas davam olhares feios para estes quando o estavam sozinhos, em maiores quantidades, deliberadamente se escondiam ou tentavam fugir da mesma rua onde estavam. Puderam sair sem interrupções da cidade, voltando a caminhar em direção a floresta que os lideraria mais para o norte. O mago não fazia ideia do que existia ao norte, mas sabia que segundo mapas, se andasse norte o suficiente, iria cair no mar, e do mar o céu era o limite. Talvez a mesma morasse na fronteira, ou até mesmo em outro reino. Ela poderia ser uma nativa do reino que havia arrumado moradia no exterior, mas isso não o importava, especialmente quando se afastaram o suficiente para já estarem caminhando pelas copas fechadas ao redor da cada vez mais deserta estrada de terra. Após horas de caminhada, uma chuva fraca apossava-se da situação e ambos paravam um pouco, sentando-se no meio da terra que ia ficando lamacenta. As roupas pretas já estavam destroçadas com manchas de lama seca que iam ficando moles outra vez, e como ambos andavam descalços, o mesmo era possível de ser dito de seus pés. Jully retirara da bolsa uns pedaços gelados de bacon, dando uma porção menor para seu discípulo. O breve descanso ia reenchendo-os de energia e o jovem aprendiz pode apenas imaginar o quão simples e, até certo nível, imprudente foi aceitar aquela oferta de uma completa estranha. Aqui estava agora: um fugitivo da lei que apenas conhecia o nome da outra que dividia uma profissão similar, porém todas as similaridades acabavam por ai.

O desejo de aprender tudo que podia para se tornar um prolixo necromante falava mais alto, e, como já estava em maus lençóis mesmo, arriscar-se daquele jeito não lhe parecia nada demais. Sem contar à tradição que todo mago tinha, de tratar seus colegas de profissão como se fossem da mesma família. Apesar de magos negros quebrarem muitas regras no geral e odiarem magos brancos, não podia deixar de haver uma pequena dose de desconfiança no ar. Eventualmente a mais velha se erguia e voltava a liderar o caminho, sendo seguida por seu novo aprendiz de quinze anos.


Notas Finais


Eu sinceramente torço para que gostem. Eu tive essa ideia recentemente, comentando outra fic sugerindo uma garota rica viciada em necromancia e magia negra. No geral eu creio que isso está dando espaço para algo que pode desenvolver-se bem, digam-me o que acham e que sugerem.
PS: Eu juro que vou cuidar de Anos de Inocência e Escuridão sem Fim. Saco. É complicado me focar só numa coisa, merda.
PSS: Foi uma péssima ideia escrever isso doente. Apesar de eu ainda estar um lixo, eu encontrei tantos errinhos de concordancia que eu tava afim de ragear. Eu corrigi, mas ainda a muito a ser feito... Acho.
Anyway. Espero que não tenha comprometido em nada.


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