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História As Artes Proibidas - Capítulo Dois


Escrita por: NecMizu

Notas do Autor


Está meio longo, e não teve segunda revisão... Ainda!
Espero que não comprometa muito tho.
Eu juro, eu vou trabalhar as outra duas ;-;

Capítulo 2 - Capítulo Dois


Anii havia perdido a noção de tempo desde a primeira vez que havia saído de Verônna. O burgo havia desaparecido e a chuva que o estava acompanhando há dois dias ainda não havia desistido de perturba-lo. Alguns centímetros atrás do corpo feminino que liderava-o pela estrada, não podia deixar de ficar encarando as costas de Jully, sua nova mentora. Repassando os eventos da noite anterior algumas vezes, continuava surpreso com a facilidade que foi encontrar alguém disposto a carregar um aprendiz inexperiente, e se tratando de uma mulher, então estava ainda mais surpreso. Felizmente a terra daquele caminho não engolia a ambos como teria feito caso tivesse pego a mesma estrada que havia utilizado para chegar na cidade em primeira estancia, mas mesmo assim não evitava eventuais tropeços ou esforços para livrar-se do barro.

-Ah... – disse sua mestra, parando e virando-se para trás – Anii, como você está ai?

-Estou bem, mestra. – disse, arrumando a bagagem e ficando ereto, mesmo com o peso em seus ombros –

-Estou cansada de ficar me esforçando nessa lama. Vamos parar.

Concordando com a cabeça, a maga ia retirando-se do caminho, mata adentro, sendo seguida por seu tutelado. Conforme afastavam o mato com os cajados, vieram a ter com árvore alta que as folhas eram densas e resistente o suficiente para segurar os pingos constantes e pesados. Jully aproximava-se do tronco e não hesitava em sentar-se e apoiar suas costas neste, suspirando de cansaço. O garoto fez o mesmo, aliviando os braços por ver-se livre das bolsas que carregava, ambas apoiadas no chão agora. Alguns raios cortavam o céu e ambos apenas ficavam encarando os arredores sem muita conversa. Anii não sabia o que sua superior pensava, mas em seu caso, tudo que podia pensar era na família que havia abandonado. Antes de ter escapado da academia de magia, pensou sobre eles, lembrando-se de seus incontáveis irmãos e irmãs e em seus pais. Foi muito sortudo de um teólogo local ter pago seu envio para o local, imaginando que o garoto iria interessar-se por magia branca. Como todos deviam estar decepcionados nesse momento. E mesmo que não fosse pelo roubo e fuga, o garoto havia se tornado um mago negro. Jamais iria entrar em casa novamente se conhece-se bem seus pais, tão supersticiosos como todos aqueles estranhos que o evitavam. Suspirando, o mesmo virava o rosto para a mulher ao seu lado. Jully, abraçando as pernas, ficava encarando o horizonte de árvores e arbustos sem comentários, porém logo notou o olhar deste e pareceu um pouco surpresa.

-Sim? – começou, virando-se para este –

-Perdão mestra, não é nada. – respondeu Anii, desviando os olhos para baixo –

Jully não respondeu de antemão, mas ergueu-se e ficou de frente ao menor, que ao tentar erguer-se também, não foi permitido quando o pé lamacento da jovem encostou em sua canela.

-Fique ai. – disse essa – Me deixe ver sua bagagem.

Com essas palavras, o garoto apenas sentiu um frio no estomago. O cajado era padrão demais para saberem se era roubado só de olhar, mas os livros eram carimbados. Os carimbos eram em páginas com letras, caso tentasse arrancar o papel, o conteúdo estaria comprometido. Engolindo, o mesmo tirou a bolsa de seu ombro e se encolheu contra a árvore, abaixando a cabeça e mantendo-se em silencio. Sua mentora se abaixou e começou a remexer nessa, retirando o livro de alquimia e começando a folheá-lo. Colocando-o de volta no lugar, Jully suspirava, escondendo um risinho que se formava em seus lábios, o que chamava atenção de seu aprendiz.

-Oh, ladrãozinho... – comentou – Você devia ter me contado quando nos conhecemos... Não iria ter lhe oferecido nada.

Engolindo outro punhado de saliva, Anii ia se arrumando no chão, ainda olhando para cima.

-Tarde demais porém... – continuou Jully – E eu não vou dizer que não iria fazer o mesmo se estivesse na mesma situação que você... – ao dizer isso, a maga pegou ambas as bagagens e deixou-as uma sobre a outra do lado direito do garoto, voltando a sentar-se a sua esquerda –

-Mestra... – começou, apenas para ser calado pelo dedo indicador da mulher –

-Nem tente. – começou, séria – Não me interessa. – ao dizer isso, a mesma remexia-se e se aproximava deste, apoiando seu corpo maior contra o menor, espremendo-o entre si e a bagagem – Fique quieto.

Anii fez um sinal positivo com a cabeça, não podendo ficar meio sem graça por ter seu corpo pressionado pelo da adulta. O silencio voltava, sua tutora indiferente e praticamente utilizando-o de travesseiro enquanto o garoto sentia um enorme desconforto. Jully era pesada e as bagagens eram duras o suficiente para incomodarem-no. Conforme o tempo voava e a chuva não diminuía, foi ficando mais e mais perceptível que isso iria durar por um período indeterminado. Se quer parecia valer mais a pena continuar a viajem, pois já estava escurecendo com a aproximação da noite. O mesmo cansou de manter-se quieto e olhar para os arredores, vagando os olhos e encontrando os pés de sua mestra uma vez mais, escapando pelos longos robes de trabalho. A pele pálida não era tão visível agora que a lama e pedaços de grama haviam se agarrado nestes, mas mesmo assim, não pode tirar os olhos roxos, sentindo um calor no rosto e um incomodo entre as pernas. Sua concentração foi cortada quando uma mão pálida lhe tomou o campo visual e estalou os dedos, fazendo-o erguer os olhos e fitar o rosto sério de sua mestra.

-Honestamente... – dizia esta, erguendo as sobrancelhas rosas – Você é bem abusado não é? Olhando para meus pés sujos e tendo uma ereção?

-Perdão mestra! – gaguejou, abaixando o rosto completamente vermelho –

-Anii não faça-me mudar de ideia sobre minha oferta. Mas sua libido me lembrou de uma coisa importante. – erguendo-se, a mesma batia algumas vezes nos robes e fazia um sinal para este se erguer – De pé. Vou te dar uma aula.

Sem questionar, o mesmo rapidamente se ergueu, observando-a ainda bem vermelho. A maga apenas deixou seu cajado apoiado contra a árvore e colocou as mãos na cintura.

-Agora, responda-me, você sabe a razão de sermos irmãos? Não digo só nós dois, mas sim todos os magos negros. – este respondeu negativamente com a cabeça – Foi o que pensei. Bem, preste atenção pois vou lhe contar apenas uma vez... Quando você chegou na academia eles certamente lhe disseram para tratar a todos os demais magos por irmão, correto? Bem, apesar de nós não fazermos isso com os magos brancos além dos anos na academia, nós magos negros temos de ser unidos, e isto inclui certo nível de indiferença uns com os outros. Eu sou sua irmã Anii, correto?

-Sim mestra. – concordou o mesmo –

-Pois bem. Isso quer dizer que entre nós, não existem segredos cruciais ou nem hostilidades destrutivas. Isso garante que mantenhamo-nos unidos perante os parasitas teólogos e os imbecis branquelos, além de ser necessário que sejamos honestos uns com os outros. – continuou, cruzando os braços – Seja honesto comigo então, entendeu? Você está querendo fazer sexo comigo?

-Não mes... – o rosto sério de Jully lhe cortou, fazendo engolir seco. Vermelho novamente, criou coragem para fita-la nos olhos rosas e falar baixo – Sim... Mestra...

-Isso pode ser arranjado. – completou Jully, dando de ombros e fazendo Anii se tornar um pimentão – Ei, ei. Acalme-se. Porque você não me conta melhor? Tenho certeza que tem uma história interessante atrás disso... E não me olhe desse jeito, já tive sua idade, sei muito bem o que é puberdade.

-Bem... – começou este, não podendo deixar de olhar para os pés de mentora – Não é só com a senhora especificamente... Eu... Eu só quero... Sabe? Mestra... – completou, alisando um dos braços sem graça – Eu já tentei com algumas prostitutas, mas todas elas me ignoraram... Depois de um tempo eu simplesmente comecei a tratar como uma brincadeira... Mas eu ainda tentava contratar toda prostituta que via pela frente...

-Isso é normal, e pra ser sincera, você não é muito diferente de todos os garotos por ai... Com exceção de sua profissão é claro. – dando uma risadinha, a maga dava as costas para este e fitava a chuva – Quantos anos você tem afinal?

-Eu já não lhe disse? – o olhar feio desta o fez lembrar-se – Digo... Quinze, mestra.

-Você é novinho. – deu uma risadinha, cobrindo a boca novamente – Poderia ser sua irmã mais velha de sangue não?

-Você é minha irmã, mestra.

-Sim, sim, mas não de sangue. Pois bem... – com um sorriso tranquilo, Jully abaixava-se e segurava as bordas das vestes, erguendo-as até a altura da cintura, revelando toda essa parte do corpo para o menor – Olhe bem...

Anii foi pego de surpresa com essa atitude, então recuou um passo para trás. A mulher era como todas as demais magas negras que conhecia. A pele havia ficado pálida, o corpo magrelo e aparentemente fraco e entre as pernas havia um tufo de pelos pubianos rosas. O garoto não pode deixar de ficar excitado ao ver essa parcial nudez da mais velha, que apenas deixou-o mais ansioso quando retirou o resto das vestes, o chapéu conífero indo junto e ficando completamente nua. Está tinha seios pequenos demais, quase como uma taboa. Comparada com as prostitutas, ela não era tão atraente, especialmente as costelas visíveis pela magreza. Mas diferentes destas, era uma mulher que estava se oferecendo de graça, e isso era mais do que podia pedir. Instintivamente levou ambas as mãos até a virilha, tentando esconder a ereção, mas Jully apenas pode dar de ombros e fazer um rosto de tédio.

-Nem tente esconder. – dizia, jogando suas roupas sobre a bagagem – Tire as suas.

Anii hesitou por um tempo, mas lentamente fez o mesmo, ainda com as mãos em sua intimidade. Estava muito frio agora sem as pesadas vestes, mas logo o mesmo teve de afastar as mãos de seu pênis quando Jully deu-lhe um tapa nestas. Fitando a ereção do aprendiz com um sorriso, a mesma apenas recuou e colocou as mãos na cintura novamente.

-Entende o que eu disse? Caso você tivesse o nível necessário de indiferença que nos é necessário, você não estaria excitado por algo tão simples como ver a nudez de uma mulher. Porém, vamos resolver isso de uma vez... – com outro risinho, a mesma apenas passou ao lado do mesmo e foi deitando-se com cuidado na grama – Vem... – e com uma mão, fazia um sinal com o dedo para o mesmo se aproximar –

Anii não esperou duas vezes e praticamente jogou-se sobre a mais velha, sendo envolvido pelos braços e pernas esguios de Jully.

A chuva não havia parado e já devia ser alta madrugada. Ambos vestidos novamente, encaravam-se o melhor que podiam no escuro, com a alegria de ter um ou outro raio para iluminar o local por completo às vezes. Tentaram fazer uma fogueira, mas os galhos estavam encharcados demais para pegar fogo, então simplesmente mantinham-se deitados na grama. Os corpos nus colados um ao outro. Anii sentia uma grande leveza, e apesar de os seios minúsculos da adulta, eles eram um ótimo travesseiro. O frio havia na maior parte desaparecido, provavelmente devido a ter se acostumado com o mesmo.

-Mestra... – começou, baixo –

-Hm? – questionou essa, as mãos ainda acariciando os cabelos roxos do menor –

-Porque a senhora fez sexo comigo?

Houve alguns segundos de silencio, mas eventualmente a maga dava um risinho e falava em tom de superioridade.

-Deixe-me responder sua pergunta com outra... Agora que você está nu e deitado comigo, por acaso, ainda está com dor no pênis?

-Não... – um puxão de orelha o fez corrigir-se – Não, mestra...

-Pois então. Agora que você teve sua primeira experiência sexual, o sexo oposto é bem mais trivial não?

-Sim... – antes que pudesse ser corrigido, Anii rapidamente concertou sua fala – Sim, mestra...

-Viu? Nada como uma transa entre irmãos para solucionar seus desejos virginais... – rindo de leve, Jully apenas remexia-se e arrumava o garoto sobre seu corpo – E diga-se de passagem, você vai ver como tudo torna-se mais simples a partir de agora. Como acha que seria caso tivéssemos que ver um ao outro nu e você continuasse um virgem recatado? Seria bem problemático não? Querido, eu fiz sexo pela primeira vez aos meus treze, dois anos antes de você, então eu posso te dizer com clareza à trivialidade que isso se torna cada vez que se faz mais, e sim, isso quer dizer que iremos fazer mais vezes... – voltando a ficar em silencio, a maga apenas suspirou e foi iluminada brevemente por um raio – Eu não imaginava que iria ter que fazer sexo com você entretanto... Em minha cabeça nós iriamos achar uma boa prostituta por ai, uma para lhe tornar um homem com estilo e com mais prazer que uma mulher deformada como eu poderia lhe oferecer... Mas essa maldita chuva... Hur... Bem... Você ainda pode deitar com prostitutas se quiser, não estou lhe limitando isso...

Anii escutou em silencio, mas sentiu-se um pouco incomodado pela maneira como a adulta falava de si. Esticando uma mão, tocava no rosto dessa, o que pareceu surpreende-la um pouco, pois afastava a mão do menor.

-Eu gosto de seu corpo mestra... – completou este –

-Nem comece querido. – cortou Jully, dessa vez afastando seu discípulo, que ficava de joelhos tentando enxerga-la no escuro – Lembre-se sempre, Anii... Eu sou sua mestra e sua irmã. Não irei e nem posso lhe amar. Podemos fazer sexo. Sexo casual. Quando me vier a ser interessante... Mas não fique muito meloso ou sentimental para cima de mim... Fiz sexo com você por necessidade, não por livre espontânea vontade, agora, pegue nossas roupas, já passou da hora de voltarmos a sermos mestre e aprendiz, e não amantes no meio da floresta.

O jovem sentiu esse tremendo banho de água gelada e encolheu os ombros, apertando os lábios. Aquilo doeu demais e todo vontade de ser carinhoso com a adulta sumia num piscar de olhos.

-Sim... Mestra.

Completou, virando-se para a bagagem e pegando ambas as vestes. Logo ambos estavam cobertos outra vez. Ainda mantinham-se apoiados um no outro, Jully alisando os cabelos roxos do garoto enquanto este utilizava seu colo como travesseiro, porém não trocavam uma palavra pelo resto da noite, ambos eventualmente caindo no sono.

O dia foi amanhecendo, ensolarado para uma quebra de rotina. Anii pegava a bagagem e ia seguindo sua mestra novamente para a estrada. A noite anterior o havia mudado, podia sentir isso pois agora podia encarar os pés da mulher com grande indiferença. O garoto sentia que uma parte mais infantil sua havia morrido debaixo da árvore, porém agora sentia-se um pouco amargurado. Os olhos focados nas costas e chapéu a sua frente. Apesar de o chão ainda estar um pouco lamacento, nem de longe se comparava com o chão dos dias anteriores, e o sol estava fazendo um bom serviço para secar tudo e tornar o solo duro outra vez.

-Anii – dizia a maga, olhando por cima do ombro – como está ai atrás?

-Esta tudo bem mestra. – disse prontamente, arrumando sua bagagem –

-Pois bem, deixa-me lhe ensinar algumas coisas então... – colocando um dedo sobre os lábios de maneira reflexiva, a mesma ficou olhando para baixo – Então... Você entende como uma magia funciona?

-Sim mestra. – disse animadamente, sentindo uma pontada de orgulho até –

-Conte-me como então. E aproveite e me defina o que o Mana.

-Sim senhora, mestra. – Anii olhava um pouco para cima e logo voltava sua atenção para as costas de Jully – Mana é a energia primordial que forma e circunda a tudo e todos. Ele é resultado direto da interação divina com o mundo material, visto que são como resquícios dos deuses. Por esta razão ele tem maneiras únicas de interação com as coisas, de manipular e ser manipulado.  Uma mágica, nesse caso, é um processo de canalização de uma determinada quantidade de Mana, e seu direcionamento. O Mana responde a voz, porém, apenas se estiver em linguagem arcana, por está razão, se eu disser, “Ó poder ancestral, venha até mim e cumpra-me a meus desejos” em língua corrente, não possuíra efeito... Porém, caso eu utilize linguagem arcana... – ao dizer isso, Anii erguia o cajado e começava a repetir a mesma frase, o ar ao redor da dupla tornando-se mais denso conforme o Deus Cruel respondia a seus pedidos – Ele respondera, e será canalizado no objeto encantado mais próximo, nesse caso, meu cajado. – a magia pré-conjurada era desfeita, o ar voltando ao normal – Porem está é apenas uma maneira de acumular mana no objeto canalizador, o que se chama de “Concentração”. Existem níveis de concentração e tipos de mágica, estas com seus próprios níveis de concentração também. Algumas mágicas são difíceis demais para amadores, mas todas tornam-se mais poderosas e mais rápidas conforme a experiência arcana e prática do conjurador.

-Muito bom! – disse a superior, olhando-o por cima do ombro novamente com um sorriso de satisfação – Meus parabéns, acabou de tirar seu primeiro dez com sua nova professora.

-Obrigado mestra. – respondeu, corando um pouco e não podendo esconder o sorriso tímido – Eu não gosto de me gabar... Mas eu estudei bastante na academia...

-Eu vejo. Agora, irei lhe ensinar mais ainda. – parando a caminhada, a mesma virava-se para o menor que também deixava de andar para fita-la curioso – Deseja parar e escrever?

-Eu não gosto de escrever mestra...

-Não sabe escrever?

Anii corou um pouco novamente e desviou o olhar.

-Não muito... – confessou, voltando a fita-la – Mestra...

-Bem isto é um problema que iremos resolver de antemão quando chegarmos ao destino. Voltemos a caminhar, temos dois ou três dias de viajem logo à frente. – voltando a caminhar, Jully começava a gesticular com a mão livre, está sendo fitada com atenção pelo discípulo – Tudo que você disse está correto, querido, porém deixa-me aprofundar-te. O Mana de fato é resultado da interação divina com o mundo material, porém, ele não é um material separado da figura divina. O Mana é os deuses, por assim dizer. Por está razão que quando o mana reage à fala, ele está reagindo a seus fies. E tem mais, ele não reage apenas à fala... Porém isto fica para outra vez... Quanto à canalização, deixe-me lhe mostrar um truque. – ao dizer isso, a mesma parava e virava-se para trás – Faça qualquer mágica, deixa-me ver como você faz.

Dito e feito, Anii abandonou sua bagagem e com o cetro em mãos, recitou as palavras que canalizaram a matéria na ponta de seu cajado e permitiram que ele conjura-se uma sombra “viva”. Esta magica transformou sua sombra numa entidade independente, que seguia seus comandos mentais, sendo uma ótima forma de espiar alguém ou de preparar algum susto. Cancelando a corrente de concentração, retomava as bagagens enquanto sua tutora fitava-o com uma mão no queixo.

-Huh... – começava essa, apoiando o cajado no chão – Sua técnica é ótima querido.

-Obrigado, mestra.

-Porém, não anime-se muito. Você ainda é novato e não terminou as técnicas avançadas, que iriam lhe deixar fazer coisas como essa que estou fazendo...

Anii estranhou por um segundo, porém, olhando ao redor, notou como a sombra da mulher havia sumido dos arredores e estava projetada em uma arvore metros à frente. Surpreso, a mesma voltava rapidamente para seu local de origem. O garoto encarou a mais velha que apenas deu de ombros com um sorriso.

-Como eu dizia, não é só a fala que permite a interação conjurador-mana. Conforme você fazia sua canalização, eu fazia a minha também. O ar ficou o dobro de pesado, mas você estava focado demais na recitação para perceber, isso pode ser letal, diga-se de passagem. Num minuto você esta tendo uma conversa amigável com alguém, no outro, você é atacado por uma nuvem de marimbondos. Você também canaliza o conjuramento sempre em uma das pontas do canalizador, nesse caso, você jamais iria conseguir lidar com um grimório, por exemplo. Se quer irei mencionar um orbe ou uma esfera então. Não fique ofendido com o que eu estou lhe dizendo também... – cruzando os braços, Jully fechou os olhos, abrindo levemente um destes para fitar o aprendiz com um sorriso cínico – Você tem potencial querido... A questão é: até que ponto eu posso forçar esse seu potencial... Vamos, já perdemos muito tempo conversando por aqui.

Assentindo, ambos voltaram à caminhada. Anii continuou encarando os calcanhares expostos de sua tutora, porém não sentia mais nenhum desejo fervente. Quando explicou a razão desta para ter deixado o mesmo deitar consigo, não acreditou muito, mas agora conforme voltavam a caminhar sem parar, pode experimentar em primeira mão a diferença que era. Já devia estar chegando umas dez ou onze da manhã, quando saíram da densa floresta e viram-se em enormes pradarias. Mares de grama, com exceção que ao horizonte, era possível ver um enorme corpo da água.

-Aquilo é o oceano mestra? – questionou este, apertando o passo para ficar ao lado da mulher –

-Mais ou menos... – respondia essa, gesticulando – Aquilo é o mar... Eu não sei bem quais os parâmetros, mas, sei que mares são como lagoas gigantes. Então da pra navegar, tem peixes e tudo mais, mas não vai te levar para muito longe.

-Iremos atravessa-lo?

A mesma não pode conter uma risada.

-Não seja bobo. – continuava, arrumando o chapéu – Iremos seguir pela margem por algum tempo e iremos chegar em uma vila chamada Auldoor. De Auldoor nós iremos pegar carona para um porto chamada Vâldéria e de Valdéria, talvez um barco possa levar-nos até o reino além mar, onde eu moro.

-Mas mestra... A senhora havia dito que era daqui...

-Eu sou, daqui. – pois ênfase na palavra “sou” – Porém, eu menti quanto aonde eu moro. Por acaso você fala para os estranhos onde mora?

-Mestra, não éramos irmãos? E também nos conhecemos há somente um dia... No máximo dois... – o mesmo encolheu os ombros, fazendo um bico e ficando suspeito – A senhora não precisa mentira para seu irmão precisa?

-A propósito... – cortou a mais velha – Eu te passei sífilis...

-Que?! – gritou Anii, parando a caminhada e fitando a superior em choque – Co-como assim?!

-Como assim o que? – indagou essa, cruzando os braços novamente e fazendo cara de paisagem – Nós fizemos sexo não? Sou uma mulher doente. Você está doente agora.

Anii ficou pálido e não pode evitar de levar ambas as mãos até os robes, erguendo-os até a cintura para fitar a virilha. Conforme tentava encontrar algo errado consigo, a risada feminina lhe chamou atenção. Erguendo o olhar novamente, Jully havia se prostrado bem de frente a este, uma cara de séria fitando-o por cima.

-Viu? – começou ela – Você acredita em tudo que te dizem. Você desconfia dos outros, mas da ouvidos para a primeira pessoa que você cria um laço. – dizendo isso, levando a mão até a testa deste, dando um peteleco, o que fez o mais jovem largar os tecidos e colocar ambas as mãos no local – Querido, como eu disse, você precisa confiar em mim, mas também estou te treinando para reconhecer quando estou inventando e sendo séria. Eu sou sua mestra, sim, mas o mestre e seu aprendiz não são meros dependentes, são parceiros, e temos outro agravante, sendo irmãos. Porém, deixa isto para depois, quando paramos para descansar, no momento pode ficar tranquilo, não lhe passei sífilis. O máximo que você pode ter conseguido foi algo que vai coçar por alguns meses, mas nada mortal. Vamos.

Ao dizer isso, voltava a caminhar, sem dar chance para o mesmo retrucar. Anii continuou a segui-la e eventualmente ambos paravam de frente ao enorme corpo da água que se alongava pela paisagem. A estrada de terra havia quase que completamente desaparecido, a maior parte dos trechos coberta por grama. O menor ficou admirando o azul sem fim, algumas gaivotas voando a distancia, uma brisa marítima forte. O mesmo nunca havia visto o mar, então estava muito animado, aproximando-se da água que ia e vinha e colocando os pés na mesma, movendo-os abaixo da terra mole e desenterrando um pequeno siri que debatia-se para voltar a enterrar-se. Com um risinho, Anii abaixou-se e pegou o animal por uma das garras, encarando-o curioso. A mestra se aproximava do menor e abaixava-se ao seu lado, fitando o que o mesmo fazia.

-Achou algo legal? – questionou, com um sorriso –

-Sim. – encarando a maior com um sorriso, o rosto sério dela o fez corrigir-se – Digo... Sim, mestra.

-Você nunca viu o mar?

-Não... Mestra. Eu passei toda minha vida no interior, e de lá fui pra academia... E da academia eu rondei por alguns meses e cai em Verônna, e o resto... Bem...

-Pois então... – com isso, a mesma resmungava e logo sentava-se na água, abraçando as pernas novamente – Vá brincar um pouco. Eu vou ficar aqui...

-Não mestra, nós temos de ir pra sua casa não?

-Querido... – resmungava, fitando-o com um olhar sério – Temos todo o tempo do mundo para chegar em seu novo lar, mas não é todo dia que você vê o mar pela primeira vez. Anda, pode ir se divertir, mas deixa as coisas aqui.

Após isso, a mulher apenas fincou seu cajado na terra mole e ficou observando o horizonte em silencio. Anii pensou em recusar, mas parecia mais uma ordem que uma oferta, então abaixou a bagagem com cuidado, repousando os pertences da superior por baixo de seus próprios, onde estavam os livros. Como esta não protestou, imaginou que não havia problema. Despindo-se, depositou seus robes sobre a bagagem e ajoelhou-se na água, sentindo o vento lhe tocar o corpo todo. Quando teve de se despir horas atrás para fazer sexo com sua mestra, sentiu uma enorme vergonha, mas agora, estava indiferente a ser fitado sem roupa. Com um arrepio, levantou-se e calmamente caminhou mar adentro, parando num local onde a mesma lhe chegava até o peito. Com um sorriso, o mesmo aproveitou para dar vários mergulhos, abaixando a cabeça abaixo da água e ressurgindo, com o cabelo roxo grudado por seu rosto. Vez por outro olhando na direção onde sua irmã se encontrava que estava encarando o nada, ou vigiando-o, o que o fazia acenar para a mesma a distancia, que retribuía o gesto com um sorriso. Determinado momento, quando cansou de tentar aprender a nadar sozinho, ficou encarando-a, submerso até a boca. Por um segundo, sentiu uma enorme vontade de chama-la para brincar consigo, mas não criou a coragem para tal. Com o passar do tempo, escutou um assovio e olhando para direção do mesmo, Jully estava ascenando para o mesmo voltar, o que fez prontamente, indo o mais rápido que o corpo de água lhe permitia. Na beirada, o vento frio o fez tremer e abraçar o corpo nu, encolhendo-se conforme parava de frente a maga.

-Divertiu-se? – questionou essa –

-Si-sim... – espirrou, corrigindo-se em seguida – Sim mestra... Obrigado...

-Não a de que. Porém não se vista ainda, tenho uma surpresa para ti...

-Hm? – ficou curioso, relaxando o corpo – Qual?

-Caham!

-Hm? Ah... Qual, mestra?

-Olhe ali...

Erguendo o cajado, a mesma apontava para uma direção onde o jovem havia ignorado. Este se virou para encarar o que a mesma apontava e viu um monte marrom no meio das calmas ondas, ao redor deste monte, alguns pássaros pretos, não demorou muito para este encolher os braços e voltar a fitar a mulher de cabelos rosas.

-Aquilo é um cavalo morto mestra?

-Sim. E um bom diga-se de passagem. – ria essa, começando a correr na direção do mesmo – Vem rápido!

O mesmo rapidamente agarrou a bagagem e tomou seu cajado e vestes, correndo na direção  do defunto e presenciando como Jully espantava os possíveis abutres com alguns gritos e agitações de seu próprio cajado. Quando chegou bufando, o mesmo deixou as coisas a alguns passos da dupla, voltando a aproximar-se de sua mestra que apoiando-se no cajado, mantinha um pé no corpo inerte a seus pés. Pensou em se vestir, mas lembrou-se do conselho desta e manteve-se nu, estremecendo toda vez que uma brisa batia. Encarou o cadáver e logo encarou o sorriso animado desta, que apenas começou a gesticular.

-Que benção não? O Deus Cruel está mesmo do nosso lado. Um cadáver fresquinho a qual ignoramos. Perfeito para eu lhe ensinar mais coisas. Já fez dissecação?

-Não... – recuou um passo, olhando o rosto desfalecido do animal que morreu para a língua de fora e os olhos estavam virados – Do que ele morreu?

-Provavelmente idade... Mas isso não importa. Ajoelha ai entre as patas dele, vamos abrir.

-Mestra... – começou a protestar, receoso – Isso é mesmo necessário?

-Você sabe qual é o maior problema de todo aspirante a necromante Anii? – resmungou está, séria – É que eles passam anos e anos lendo teoria, mas na hora da prática, eles têm medo. Oras. Ser um mago negro é justamente superar o medo irracional e tolo dos ignorantes e magos brancos, e isso inclui sujar as mãos com a carne mais decrépita e mais adoecida. Tivemos a alegria de achar um animal que se quer foi parcialmente devorado por aqueles malditos abutres. Se você quer controlar os mortos, não pode ter receios em mexer em um intestino ou em uma perna decomposta, agora, ajoelha, vamos abrir.

Engolindo um pouco de saliva, agora o mesmo compreendia a razão de não vestir-se, e obedientemente fez o que lhe era instruído, ficando com as costas bem eretas e as mãos descansando sobre as pernas pálidas. Sem dizer nada, sua tutora afastou-se brevemente e voltou com um grande pano surrado de sua bagagem. Arrumando este entre a barriga estufada do corpo e seu discípulo, jogou uma pequena adaga parcialmente enferrujada no pano agora molhado. Voltando a sua posição original, ficou encarando o garoto que trocava olhares entre as coisas a sua frente e a outra de pé, encarando-o.

-Ta esperando o que? – questinou Jully, claramente se divertindo – A pior parte é o começo. Quanto mais rápido, melhor. Vamos, por acaso esse seu pauzinho é só de enfeite?

Corando muito, tomou a adaga na mão direita e projetou-se um pouco sobre a parte de baixo do animal, a mão esquerda se apoiando no corpo deste enquanto a lamina se pressionava contra a pele coberta de pele. Hesitante, ficou dando algumas pontadas, sem sucesso.

-Força nisso! – gritou a bruxa –

Engolindo saliva novamente, Anii fechou com força os olhos e empurrou a adaga com força contra o inicio da incisão, a qual a lâmina adentrava com um som que fez o estomago do garoto reclamar.

-Agora desce... É tipo cortar pão, só que um pouco mais duro e barulhento. Você está conseguindo, não pare agora... – prosseguiu está –

Respirando fundo, o mesmo fez o que a mesma dizia e lâmina começou a afastar a carne uma da outra. Não demorou muito para um tanto de sangue começar a sair pela abertura que ia esticando-se conforme o mesmo prosseguia, sujando as mãos deste. Conforme prosseguia, mais fluido vermelho saia, e, chegando na metade do caminho, já estava grande o suficiente para parte das entranhas projetarem-se para fora. Foi nessa hora que uma brisa direcionou-se o suficiente para fazer o cheiro voar bem contra o rosto do dissecador, que começou a tossir e eventualmente soltou a ferramenta, levando ambas as mãos sujas de sangue a boca, o que apenas piorou.

-Vomita pra lá! – berrou a mulher, gesticulando –

Sem pensar duas vezes, o garoto erguia-se com pressa e corria alguns passos e debruçando-se e usando os joelhos e apoio, começou a colocar qualquer conteúdo estomacal para fora. A maré iria levar o vómito, então o mesmo tomou ar e voltou para onde estava, meio fraco após aquilo. Parando de frente, Jully parecia indiferente, pois apenas apontou para o local originário de Anii.

-Que foi? Anda. – disse essa –

-Mestra... – gaguejou, sentindo o cheiro de entranhas do cavalo novamente – Eu... Eu não quero...

-Cala a boca e termina de abrir essa merda. Ou você pode pegar suas coisas e nos separamos agora. Eu não arrisco meu pescoço nesse maldito feudo carregando um projeto de pseudo-necromante que nem coragem tem pra abrir um cadaverzinho de animal... Quero saber como você vai lidar com um corpo já parcialmente decomposto. É muito pior! O cheiro é infinitas vezes pior! E quando você tentar montar um zumbi? Ou quando você se encontrar no meio de um campo de batalha? Durante ou depois, vai estar cheio de cadáveres. Antes você não vai fazer isso, mas é bom saber como a merda das tuas conjurações funcionam. E pra depois, se você precisar erguer um exército de mortos vivos? Ou arrumar pedaços saudáveis para um ghoul ou sei lá? Se você não tem a coragem pra abrir um cadáver, você pode desistir de necromancia, e nos separamos aqui, e agora. Agora... – erguendo o cajado, a mesma cutucava um dos cantos da barriga do animal, fazendo mais sangue, entranhas e fedor saírem da enorme ferida – Continua! Tem muito mais pela frente.

Anii engoliu outro punhado de saliva e afastou-se dois passos, abaixando-se para tomar um pouco de água limpa e lavar suas mãos ensanguentadas e lavar o rosto. Percebeu que o frio que sentia não era devido aos ventos, mas ao suor que havia gelado. Respirando fundo, virou-se e calmamente voltou a se ajoelhar, tomando a lamina e voltando o laborioso serviço. Finalmente, com um outro som úmido, a terminava o procedimento e uma parte dos interiores do cavalo caiu sobre o trapo que a maga havia posicionado. Ofegante, o mesmo apenas ficava encarando sua supervisora séria que endireitava as costas.

-Estica as mãos. – ordenou essa – Quero checar uma coisa... – o mesmo fazia o que lhe era pedido – Tsc... Você suas mãos tão tremendo...

-Perdão mestra...

-Não se preocupe. Você vai precisar de mais prática... Anda, puxa as entranhas do bicho pra fora.

Sem questionar, o mesmo assentiu e criou coragem para colocar os braços franzidos entre os órgãos e ossos do defunto, começando a puxa-los para fora. Como precisava se projetar para poder alcançar mais e mais fundo, a cabeça de cabelos roxos estava parcialmente no interior do animal, o cheiro atingindo suas narinas e seu cabelo ficando encharcado de fluido vermelho. Eventualmente, a maior parte das entranhas estavam no tecido, e voltando a se ajoelhar bem ereto, o desfalecido aspirante respirava profundamente, o rosto já pálido agora parecendo uma neve de branco e gélido que estava, o corpo todo tremendo e tendo espasmos aqui e ali e as olheiras pareciam ter piorado. Forçou um sorriso triunfal para sua mestra, mais parecido com a risada de alguém prestes a perder o ultimo parafuso.

-Quer tomar um ar? – indagou Jully – Não quero te piorar, mas isso é só o começo do seu treino. Quero te acostumar com essas coisas. Dizem que é errado brincar com comida, mas eu discordo... Isso ai vai ser nossa comida e algo para vendermos na vila, mas eu também vou fazer você ficar deitado com isso sobre o corpo... – o rosto de Anii perdeu o sorriso, o mesmo voltou a encarar a monteira de órgãos a seus joelhos – Ei, relaxa. É meio nojentinho no começo, mas ninguém disse que era simples ser um necromante... Não gosto da ideia de fazer um ritual durante o dia, mas aqui é um puta lugar nenhum, e se alguém aparecer, bem... – dando uma risadinha, Jully apenas dava de ombros – Só mais carne pra vender e brincar. Quando você estiver se sentindo confiante, diga-me para jogar os conteúdos no tecido sobre você.

-Tá... – virou o rosto de olhos marejados para a mulher que ficou séria – Desculpa... Sim, mestra... – Anii engoliu um punhado de saliva. A boca estava amarga, mas não tinha mais nada para sair – A-agora...

-Tem certeza?

-Sim, mestra.


Notas Finais


Espero que gostem, e espero que a "corpse party" do final não tenha dado flashbacks da aula de biologia em ninguém (mentira espero que tenha dado sim -q). Como disse, tomara que gostem s2
Mas acima de tudo, vai ter muito mais tripa pela frente, então espero que não fique gore barato, mas algo mais... Sei lá... "Normal"? Se tratando de brincar com as tripas de cadáveres, é só com a opinião dos leitores pra saber se está saindo de um jeito "agradável". De todo modo, talvez em futuras revisões fique melhor, e espero que fique só melhor conforme eu comece a jogar mais e mais tripa -q


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