História Às Cegas - Eu não queria admitir, mas...

Somin estava largada na cama há algum tempo já, era sexta-feira e pela janela ela ia acompanhando a passagem de tempo.

Não queria admitir, mas uma parte de si estava incomodada, e muito, mesmo que não quisesse admitir porque se sentia como uma menina mimada.

Mas... Caramba! Como não ficar chateada com o fato de que King tinha uma pessoa próxima de si para ajudar? E como lidar que fosse Taehyung? O namorado da sua melhor amiga Jiwoo? A pessoa que quase sempre estava presente quando Somin falava sobre seus sentimentos pelo King.

Somin estava magoada que, mais uma vez, ele tinha formas de saber coisas sobre ela, porém ela não conseguia saber nada sobre ele, e não foi por falta de pedir para Taehyung lhe contar algo, ela tinha pedido, mas ele tinha se recusado, dizendo que não podia contar.

E isso magoou mais do que deveria. Porque fazia com que ela sentisse medo, medo de estar se enganando. Quer dizer...

Até que ponto ela estava se entregando em uma relação justa?

Somin virou na cama, enroscando-se como um tatu de jardim. Era horrível aquela mistura nem um pouco compatível de sentimentos. Lógico que ela ainda estava ansiosa para ver o King, desistir não era uma opção.

Mas agora havia aquele peso da dúvida. Somin estava prestes a pegar o celular para ouvir alguma música animada que a tirasse daquela linha de pensamentos nada agradáveis, mas parou tudo ao ouvir som de correria no corredor.

-JEON SOMIN! –A porta se abriu violentamente, quase rebatendo contra a parede e se voltando novamente para a cara de Jiwoo, que fazia uma entrada nada discreta no quarto-.

E mesmo conhecendo a delicadeza da amiga, Somin não conseguiu evitar cair da cama, mais uma vez.

-MAS QUE CARALHO! –Somin gritou, agarrando-se de qualquer jeito aos lençóis para levantar, mas tudo que conseguiu foi que os mesmos caíssem sobre si, criando uma cena cômica que fez Jiwoo gargalhar-.

-Não reclame! Eu sei muito bem que se não fosse por mim, essa sua cabecinha preocupada e paranoica ia pensar em coisas nada agradáveis e eu não quero você indo toda cagada encontrar o boy magia. –Jiwoo despejou tudo de uma só vez, indo até Somin para retirá-la do bolo de cobertas que se formara-.

Somin suspirou, atraindo a atenção da amiga para si.

-Poxa, tá tão óbvio assim? -Mesmo Jiwoo a conhecendo bem, Somin ainda tinha esperanças de estar conseguindo disfarçar bem, ela não queria parecer chata, sempre insatisfeita com alguma coisa-. 

Bom de melhor amiga: Elas sempre sabem quando podem ou na brincar, se é o momento ou não.

Jiwoo sorriu, puxando a amiga de volta para a cama e sentando de frente para ela.

-Tá sim. O que aconteceu? Eu achei que você ia estar saltitando de alegria por finalmente conhecer ele. Tá certo que a gente fica nervosa, mas você tá muito aflita bebê, o que se passa nessa cabecinha? 

-Eu sei que posso estar brava sem motivo, mas sei lá. –Somin jogou-se no colo de Jiwoo, sorrindo quando a mesma começou um leve cafuné em seu cabelo-. Mas eu me sinto meio injustiçada nessa história. Parece que ele sempre tem formas de saber sobre mim, mesmo quando é por acaso e, no entanto, eu pareço ter zero forma de saber sobre ele. Nem o desenho eu consegui fazer ele me explicar!

Somin olhou de soslaio para o desenho que costumava deixar em sua mesa de estudos. A frustração parecia mais forte, agora que os pensamentos estavam de fato tomando a forma de palavras.

-Min, vai parecer meio egoísta perguntar isso. –Jiwoo ficou em silêncio durante alguns segundos-. Mas você não está brava com o Tae né? Eu juro que ele nunca pensou em fazer você se sentir mal.

Somin riu.

-Não estou brava com ele Woo, eu já sei o tipo de pessoa que ele é e entendo que ele estava ajudando um amigo, mas sei lá. Tô com medo de ter colocado muita expectativa nisso, de ter me afastado da realidade e eu me decepcionar com o que está por vir.

Ou ele se decepcionar comigo. Ela não queria admitir que essa era a parte que mais a assustava. Ver tudo acabar antes mesmo de poder dizer que começou. Medo que o King percebesse que a Somin que ficava sempre na biblioteca, era a mesma Somin de todos os lugares, não havia nada para ser descoberto sobre ela.

Os dedos de Jiwoo se afastaram de seu cabelo e Somin se ajeitou no colo da loira para poder ver seu rosto. Ela digitava algo em seu celular com um sorrisinho no rosto.

-Bom... Então precisamos fazer valer totalmente a pena! –Jiwoo empurrou levemente Somin para que levantasse-. Você vai dormir na minha casa e nós vamos deixar você mais gata do que já é! E eu não estou pedindo! Agora toma um banho e prepara sua mochila.

Sem esperar por resposta, Jiwoo disparou para fora do quarto gritando “Tia, a Min vai dormir na minha casa pra gente preparar ela pro Boy Magia”!

Somin ficou um pouco vermelha ao ouvir a gargalhada de sua mãe, mas fez conforme a “ordem” de Jiwoo, e não havia sentido nenhum em reclamar, porque ela sabia que estaria perdida e triste sem a escandalosa que havia escolhido pra chamar de melhor amiga.

-O que você tá fazendo? –Somin perguntou ao sair do banheiro enrolada na toalha e ver Jiwoo colocando as suas quase intocadas maquiagens dentro de uma bolsinha e guardando em sua própria mochila-.

A loira jogou o cabelo, mas não deu certo e ele virou uma bagunça, arrancando uma risada escandalosa de Somin e uma carranca dela própria.

-Estou garantindo que amanhã todos os olhares serão seus. –E os olhos de Jiwoo brilhavam, fazendo Somin pigarrear-.

Bom, se antes tinha medo que o King pudesse não se encantar com ela (afinal, querendo ou não ele já havia a visto na escola) agora tinha medo que ele pudesse se encantar demais.

-Jiwoo, olha lá o que você vai fazer... –Ela reclamou quando já estavam a caminha da casa da amiga-.

-Ah para, quando foi que eu te encrenquei?

Na verdade eram muitas as vezes, mas Somin queria acreditar que nenhuma delas tinha sido de propósito.