História As Chamas da Esperança - Doze

Doze

Mary

Está chovendo muito hoje. Raios atingem o solo e a cada um deles sinto que fico mais forte, de vez em quando os raios parecem verdes, mas deve ser fruto da minha imaginação. Estou voltando pro covil, roubei coisas o bastante para reabastecer os armários da cozinha. Além de ter roubado pelo menos três pistolas dos guardas que rondavam o mercado. Fazem algumas semanas que estou aqui, quase dois meses. Nesse meio tempo tenho lembrado de pequenos momentos que tento encaixar uns nos outros.  A mais impactante talvez, seja a memória de um beijo. Parecemos estar em algum tipo de Palácio, a música toca suavemente no fundo, estou dançando e ele me rouba um beijo. O menino é esbelto, alto, com o cabelo negro e tem os olhos como o fogo. Não sei porque mais sinto como se fosse um calor ou alguma coisa do tipo quando lembro dele.

Preciso parar de pensar e olhar para baixo, dois guardas estão passando. Me enfio no meio dos dois, quando acho que consegui pegar mais duas armas, um deles me derruba no chão, meu capuz cai. Reconheço um deles, seus olhos são verdes. Ele começa a me encarar e me dá tempo para fugir, antes dou uma carga de energia nos dois, não é o bastante para matá-los, só ficaram desacordados por algumas horas. Vejo o tumulto se formar e saiu correndo.

Chego a base, vou entregar as armas para Victor, tenho o direto da minha pergunta. Ele está dormindo na cadeira e acorda quando jogo as cinco pistolas em sua mesa.

-Bom trabalho menininha elétrica, soube que ainda teve tempo de eletrocutar alguns guardas pelo caminho.

Ainda me surpreendo com seu poder de aparentemente saber de tudo.

-Eu te entreguei as armas, agora você deve responder minha pergunta. Onde eu nasci?

-Palafitas, é uma cidadezinha descendo o Rio Capital, fica perto de Summerton. Agora saia daqui Mary, preciso voltar a trabalhar

Eu saio em silêncio, já descobri o que procurava, agora é só botar o plano em ação.

☆

Já está muito tarde, poucas pessoas estão acordadas, e quem está acordado está bêbado, então minha fuga será um pouco mais fácil. Nessas semanas que estou aqui, lembrei de uma casa, ela fica mais elevada na cidade, imagino que seja lá que minha família está. Agora sei que a cidade é Palafitas , e estou indo para lá agora.

Subi até o térreo e aparentemente Victor já sabia que eu iria fugir, já que ele colocou vários homens de vigia nas portas. A eletricidade vem e eles apontam suas armas para mim. É fácil derrubar os três primeiros, mas cada vez mais gente aparece. Sinto um raio caindo numa árvore a poucos metros de distância e isso me dá uma ideia. Envio mais cinco raios, só que estes são muitos mais poderosos que qualquer outro. Sinto eles se juntando no céu, o roxo domina tudo e ele vem como uma lança na casa, provavelmente Archeon inteira viu essa luz. Uma explosão, provavelmente a maioria das pessoas estão mortas, mas não ligo, sempre me trataram mal. Eu não sou atingida pelo raio, mas me queimo com o fogo que ele causa depois da explosão.

Preciso sair correndo, já sinto a movimentação de carros vindo pra cá. Estou com minha capa preta ainda, mas ela está um pouco queimada. Provável que não me reconheçam.

Começo a minha caminhada, seguindo o fluxo contrário do Rio Capital. Estou indo para casa.

☆

Cal

As semanas passam e as buscas por Mare ainda continuam. Estou distraído brincando com Cora, quando Farley entra no quarto, ela parece atordoada.

-Kilorn, ele foi atingido em uma ronda pelo mercado. Não foi uma bala, mas sim um raio.- ela faz uma pausa- Cal, ou temos outro sanguenovo desfilando por Archeon ou Mare está mais perto do que pensávamos. Ele parece não estar falando nada com nada, mas ele acha que a viu. Imagino que queira falar com ele.

-Estou indo Farley, pode cuidar da Cora por mim, tenho certeza que hoje vai ser um dia um pouco cheio.

Ela acena com a cabeça e eu vou em direção a ala hospitalar.

Sara já está lá e cuida dos ferimentos do outro guarda.  Kilorn me vê chegando é senta na maca.

-Cal, você precisa me ouvir. Eu estava no mercado, hoje de manhã. Vimos uma menina com uma capa preta e achamos suspeito. Fomos em sua direção e ela roubou nossas pistolas. Quando jogamos ela no chão, eu vi. Era a Mare, ela pareceu me reconhecer, mas não totalmente, ela parecia vazia. Sei que era ela Cal. Ela está viva. Precisamos ir lá. Ela está com traficantes, duvido que ela mesma saiba o motivo.

-Se acalme Kilorn. Vamos lá hoje a noite, não fique preocupado. Depois avise a guarda. Estamos indo.

☆

Estamos no carro, indo para o mercado do outro lado da cidade. Em algum momento vejo pela janela os raios roxos de Mare. Eles se juntam e uma grande explosão de luz ocorre. Ouço todos os carros freiarem bruscamente, quase batem uns com os outros. Outra explosão, provavelmente o raio encontrou o solo e agora está causando grande destruição. Já estamos bem perto e vamos a pé.

Está tudo um caos, as pessoas correm de lá pra cá, e um homem ao me ver sai correndo, mas alcançamos ele. Farley parece o conhecer.

-O que aconteceu aqui Victor?- Farley pergunta segurando nos braços dela para trás

-Ah!, é verdade. Esqueci de te avisar! A menininha elétrica estava aqui, ela é ótima em roubar as coisas e também é uma menina muito bonita- ele diz isso com um sorriso malicioso no rosto e isso me dá raiva.

Agora sou eu que agarro ele pela gola da camiseta. Sei que ele queria me deixar com raiva, e ele executou sua tarefa extremamente bem. Farley nem liga, ela também está exaltada.

-Olá pequeno Príncipe. Está com saudade da sua princesinha?- ele diz sarcasticamente e com uma careta no rosto. Dou um soco na cara dele.

-Onde ela está?- tenho vontade de socá-lo novamente. Só aperto ainda mais.

-Calma majestade, seu irmão tinha razão, ele me disse que você ficaria muito bravo quando descobrisse.- ele ri da minha cara de confuso- obviamente ela está indo para Palafitas. Hoje de manhã ela deve ter se lembrado de lá e está indo tentar encontrar alguma coisa.- mais uma pausa para rir, e mais um soco que dou nele- é meu rei, sua amada esqueceu de tudo. Boa sorte para fazê-la lembrar. E a propósito o nome dela agora é Mary, Mary Elara- de novo ele ri e agora Farley que dá o soco, ele desmaia.

Fico mais nervoso ainda, eles tiveram a audácia de colocar um nome dela que se refere ao monstro que era Elara. Kilorn aparece e põe a mão no meu ombro.

-Precisamos ir para Palafitas, ela vai demorar uma semana pelo menos para chegar lá a pé. Vamos conseguir recuperá-la Cal.

As palavras do homem ainda ressoam na minha cabeça. São como marteladas.

Agora sei até onde a loucura de Maven foi.