História As coisas mudam - Alguns meses depois

Os dias passavam-se lentamente e pouco a pouco voltamos à rotina normal. Talvez alguns de nós já tivessem se acostumado, mas a verdade é que eu não conseguia esquecer tudo o que aconteceu. Como foi acontecer? Fazia três meses desde o coma da Magali e ainda não tinham dado nem sequer um explicação de como ela ficou assim. Não havia indícios, causas, doenças... nada. Ela simplesmente dormiu. Dormiu e não acordou mais. Como se já não fosse o suficiente, o Cebola está cade vez pior. Está fraco, cansado, debilitado. Não consegue mais jogar futebol, não se sai bem na escola, não se alimenta direito, não dorme bem. Não sabemos o que está havendo com ele. Nem ele mesmo sabe. Os pais dele já o levaram em vários médicos, mas nenhum sabe dizer o que ele tem. Nem mesmo o House. Por que? Eu realmente não sei. A gente tenta ajudar como pode, mas não temos muito o que fazer. Ei visito a Magali todas as semanas, o Cascão fica muito tempo lá. Já o Quim... fica o dia todo! O Sr Quinzão táh sempre reclamando que o Quim precisa ficar na padaria, mas ele se recusa a deixar a Magali. Carmem e Jeremias parecem estar de rolo, não sei como ele consegue! Mas, de alguma forma, ele está mudando ela. Isso é bom. Já a Isa estou mantendo um pouco de distância, mas sinto falta dela. Ela está andando com a tal garota e parece ter assumido o namoro. A moça é bonita. Clara, com longos cabelos rosa, olhos amba. Acho que se chama Melissa. Ou Raissa, ou Rafaela... nem sei mais. A Sarah anda muito sozinha ultimamente. Aliás, até falando sozinha, jogando xadrez sozinha... E por falar em xadrez, o Dc sumiu. Não aparece na escola nem sai de casa. O Nimbus disse que não sabe o que é. Ele só não quer falar com ninguém, só quer ficar sozinho. Sinto falta dele às vezes... da companhia. Mas não posso dizer que ainda gosto dele. A Marina não desenha mais. A Aninha e o Titi parecem ter voltado, mas andam mal que é uma maravilha. Os pais da Magali andam muito grudados no Licurgo. Tudo anda estranho. E eu, bom, nem sei mais o que fazer.
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   --- "Quando você volta?"
   --- "Amanhã, bem cedo. Mas agora tenho que ir."
   --- "Tudo bem, até mais meu badboy."
   --- "Até mais minha patricinha."
A porta se fecha
   --- "Quem estava na porta Carmem?"
   --- "N-n-ninguém mamãe."
   --- "Nunca minta pra mim!"
   --- "Eu n-não estou mentindo."
   --- "Então por que está gaguejando?"
   --- "E-e-eu..."
   --- "Carmem, você estava com aquele bandido de novo?"
   --- "ELE NÃO É BANDIDO!"
   --- "É melhor abaixar esse tom de voz pra falar comigo menina! Era aquele menino?"
   --- "Sim senhora."
   --- "Não já disse que não quero esse rapaz aqui?"
   --- "Mas mãe..."
   --- "Sem 'mas'! Esse rapaz é uma má influência! Ele vai influenciar você! Logo você, uma menina tão linda! Ele vai ti arrastar pra uma favela qualquer e fazer sabe-se lá o que minha filha!"
   --- "Ele jamais faria isso! Não trate ele como se ele fosse um bandido!"
   --- "O trato como ele merece! Sabe o que garotos como ele fazem com loirinha de olho azul como você?"
   --- "Não diga isso! Você nem o conhece!"
   --- "Eu não preciso conhecer! Basta olhar pra pele dele!"
   --- "Como você..."
   --- "Basta Carmem!"
   --- "Basta? Você..."
   --- "Eu falei BASTA! Talvez eu devesse ter lhe treinado um pouco mais! Acho que vou aumentar suas aulas com o Sr. Rotmaeir. Ele sim saberá como educa-la melhor."
   --- "NÃO! Por favor, com ele não!"
   --- "Vá pra seu quarto e espere a chegada dele."
   --- "Mas..."
   --- "Agora!"
   --- "Sim senhora."
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   --- "O que seus médicos disseram?"
   --- "Me passaram milhões de vitaminas! Estou mofando aqui nesse quarto!"
   --- "Você se sente tão mal assim?"
   --- "Eu me sinto... não sei. É como se, algo me destruísse por dentro. Como se eu estivesse... apodrecendo! Ai meu Deus! São vermes!"
   --- "O QUE? CEBOLA? RESPONDE!"
   --- "Hahahahhahahahahha!!! Ti peguei!"
   --- "Seu idiota! Sua cebola fedida! Não tem graça! Nunca mais fala isso!"
   --- "Hahahahahahha devia ter se ouvido!"
   --- "Tchau!"
   --- "Não! Mônica, espera!"
Tutututututututututututututu
   --- "Bolas!"
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   --- "Ai, esse Cebola me paga! Onde já se viu fazer uma coisa dessas comigo? Affs, não mudou nada!"
   --- "Falando sozinha filha?"
   --- "Sim! Acho que vou pra varanda pra aliviar o stress."
   --- "Há, filhota. Acho melhor você relaxar lá no parque!" 
   --- "Ué, mas por quê?"
   --- "Bom, a última vez você quebrou 8 vasos de plantas, rasgou 4 almofadas, atirou o sofá pela cerca e furou um buraco na parede. E aí, quer mais ou tá bom pra você?"
    --- "Tudo bem, tô indo!"
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   --- "Oi."
   --- "Cascão?"
   --- "Que foi? Eu moro aqui!"
   --- "Está indo ver a Magali, não está?"
   --- "Sim, e você?"
   --- "Cascão, seja sincero. O que aconteceu entre você e a Magá?"
   --- "Não vou mentir, eu gosto da Magali. Nunca houve nada entre a gente, nem mesmo um beijinho. Nunca! Juro! Mas, quando estou com ela tenho vontade de cuidar, proteger, dar atenção, carinho. Não gosto como gosto da Cascuda, é um tipo diferente."
   --- "Como assim?"
   --- "Bom, eu gosto de ficar com a Cascuda, de passar os dias com ela, de abraçar e beijar. De namorar! Ela me faz falta e me completa. Já a Magali eu gosto de ter por perto, de dar carinho, de cuidar. De conversar. Ambas são o oposto, talvez por isso eu goste das duas."
   --- "Então Cascão, você pode me procurar quando tiver certeza de quem ama!"
   --- "CASCUDA!"
   --- "Surpreso? Eu estou mais!"
   --- "Você sabia disso Quim?"
   --- "Não!"
   --- "Cascuda, volta!"
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   --- "Toni! Eu preciso conversar! Tô fora!"
   --- "Por que? Amarelou? Ou será que foi por causa daquela puta loira?"
   --- "Nunca mais fala assim dela!"
   --- "Você não vai sair! Preciso de você aqui!"
   --- "Não me importa! Não vou fazer seu trabalho sujo Toni! Não vou mais cair nessa!"
   --- "Vai sim seu cachorro, porque você é minha propriedade! Enquanto aquela vadia e você viverem na miséria, você vai depender de mim. Vai fazer o que eu quiser! Acha que pode decidir quando sair? Eu não ti dei essa oportunidade! Se não fizer o que eu mandar eu entrego ela e seu irmãozinho! E você também! Agora suma daqui e vá trabalhar otário!"
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   --- "Olá Carmem, o seu tutor chegou. Comprimente o Sr. Rotmaier."
   --- "Olá senhorita Carmem, é um prazer vê-la novamente."
   --- "Vou deixa-los à sós."
   --- "Na-na-ni-na-não senhorita Carmem! Não se escreve com a mão esquerda! Isso é muito feio!"
   --- "Sou canhota, eu uso essa mão!"
   --- "Não! Vai aprender que mão usar."
...-...-...
   --- "E então senhorita Carmem, já está acostumada coma mão direita?"
   --- "Vou ti denunciar! Seu maníaco!"
   --- "Não faça drama! Com a mão esquerda amarrada á cadeira você não terá como usa-la e aprenderá a escrever com a mão direita."
   --- "Minha mãe saberá disso!"
   --- "Sua mãe não se importa com isso, só com sua educação. Aliás, você cresceu!" - disse o homem enquanto olhava diretamente para o decote da menina
    --- "Tire seus olhos de mim seu pervertido!"
    --- "Não são modos de uma dama insultar um cavaleiro. Não tenho muito interesse em você queridinha, embora você esteja muito bem dotada isso não teria mais tanta graça quanto antes. Sabe, gosto de garotas... como posso dizer... mais novas que você! Muito, muito mais novas! Hahahaha!!!!"
    --- "Você é um crápula!"
    --- "Pode até ser, mas tenho a total confiança dos donos da casa e, se você der um pio, acabo com você e com a gata da sua mãe." - disse apertando as bochechas da menina
   --- "Me larga!"
   --- "Vamos fazer um trato, vamos deixar o que aconteceu no passado, no passado. Nem eu e nem você tocamos no assunto e claro, não os revivemos. O que acha?"
   --- "Sai daqui." - disse Carmem tirando as cordas da mão e se levantando.
   --- "Eu voltarei senhorita Carmem, eu voltarei. Afinal, sou seu tutor!"
Tic toc toc tic tic toc tic tic
    --- "Jerê? Posso ti ver hoje? Preciso falar com você!"
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   --- "Titi, tenho uma coisa pra ti falar."
   --- "Que coisa?"
   --- "Estou grávida!"
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"Nem sei mais a quanto tempo estou presa aqui dentro. No escuro, sozinha. Não vejo nada, não ouço nada, estou sozinha. Sozinha e perdida. Não consigo me mexer e a dor... a dor é insuportável! Eu só queria... ajuda! Droga, alguém me tira daqui. Alguém aí, por favor... alguém... SOCORRO!!!"

         --- "AAAAAAAAAHHHHHHH!!!! Droga! De novo isso! Por que será que eu escuto a Magali dentro da minha cabeça?"