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História As cores e os sons - Os olhos da realidade


Escrita por: Freakazoid

Notas do Autor


Olá ^^
Mais um cap. saindo do forno hoje. Agradeço à todos que estão acompanhando, de verdade.
O capítulo de hoje é um pouco curtinho, mas bem Tash (eu acabei de criar um nome pra shippar Ted e Ash? SIM! muhauhauhauah), espero que gostem e deixem nos comentários se estão gostando do casal e da personagem.

Capítulo 6 - Os olhos da realidade


POV Teddy

 

                Observá-la tocar me trazia paz. Eu não sabia bem o porquê, mas cada som que saía de seu violão me deixava cada vez menos tenso. Ela cantava também, uma voz clara, límpida e melodiosa. De repente, toda a tensão de um dia inteiro desapareceu - só existia Ashley e sua música. Era como se estivesse submerso num transe magnífico, do qual eu não faria questão de sair tão cedo.

                Quando ela acabou, porém, senti aos poucos voltar ao mundo real.

                Bem, se a Sala Precisa pudesse ser chamada de "mundo real".

                - Bravo - aplaudi, admirado. Ela sorri, e desejo memorizar aquela imagem. Era raro vê-la sorrir daquela forma tão espontânea.     

                Naturalmente, seu sorriso se esvai tão rápido quanto aparecera.

                - Valeu, Ted.

                - Como assim "valeu"? Toca mais.

                - Preciso descansar os dedos também.

                Ela vira-se, reposicionando o violão no mesmo lugar que encontrou-o. Então, colocando as mãos nos joelhos, volta-se para me encarar, questionadora.

                - Estamos aqui porque precisávamos de alguma coisa, você disse.

                - Hum... é, é isso que a sala precisa faz. Não só isso, claro, mas digamos que você precise urgentemente de um lugar para, sei lá, esconder alguma coisa, ou para ficar sozinho, lembrar-se de casa, ou somente para relaxar...

                - É... eu precisava disso - diz, recostando-se na poltrona, espreguiçando-se e bocejando. - Aqui é bem tranquilo. Sem aquele monte de alunos sedentos por música.

                Ela franze o cenho, em claro desagrado. Não pude evitar rir.

                - Que é?

                - Você realmente se incomoda com esse pessoal?

                - Você também se incomodaria se a cada momento alguém lhe pedisse para tocar algo como se você fosse um DJ.

                - Um o quê?

                - Esquece. Então, eu precisava de um lugar para relaxar e ter paz. Mas e você? O que você precisa?

                Ela não deixava passar uma.

                Merda.

                Passei a mão pelos cabelos, um tanto nervoso. Eu realmente precisava falar com ela. Além de ouvi-la tocar, é claro.

                No entanto, eu não sabia como falar aquilo.

                Não poderia simplesmente dizer: "Não consigo controlar meus poderes de metamorfo quando estou com você."

                Ou "Victoire está cada dia mais ranzinza por ter ciúmes de você."

                Ou ainda "Tenho medo de que ela esteja certa."

                - Eu... é... bem, eu só estou meio... confuso. É, confuso.

                - Com o quê?

                Ela perfurou-me os olhos, impelindo-me a dizer a verdade. Geralmente eu desconversaria ou faria alguma piada qualquer.

                Mas aqueles olhos tragavam-me. Eram pertubadoramente grandes. Não o grande do tipo saltado, mas grandes tipo... grandes!

                Merda.

                - Ash, eu... eu não sei o que está havendo comigo.

                - O que quer dizer?

                - Meus poderes estão me fugindo do controle aos poucos.

                - Não compreendo.

                - Muito menos eu.

                - Já tentou falar com McGonagall? Talvez ela possa...

                - Já, falei com ela hoje pela manhã... quando deixei Vic irritada.

                - Ah, foi por isso que estavam meio distantes?

                É claro que aqueles olhos não perdiam nada.

                - É, acho que sim. Ah, cara, às vezes Vic é tão... grudenta!

                Não acreditei que tinha dito aquilo. Eu evitava admitir até mesmo para mim. Afinal, eu gostava do jeito de Victoire. Gostava do jeito que ela cuidava de mim, me dava atenção, carinho... ela sempre esteve lá para mim, mesmo nos piores momentos, quando tinha pesadelos, quando ouvia falar dos meus pais... Vic nunca me deixara só. Nunca mesmo. Como se fôssemos parte do mesmo ser.

                Então porque agora eu estava reclamando?

                Ash ergueu uma sobrancelha, meramente surpresa.

                - Achei que você não se incomodasse com o jeito "grudento" - ela fez aspas com as mãos - dela.

                - E não me incomodo. Não, nem um pouco. É só que... - bufei, exasperado. Não sabia de fato o que estava acontecendo comigo.

                - Você está achando que é um pouco demais.

                Voltei os olhos para ela. Estudei sua expressão serena, a expressão de alguém que sabe o que diz.

                E estava certa.

                - Sim, é exatamente isso.

                - Já tentou, vejamos... falar isso pra ela?

                - Falar como?

                - Ah, qual é, Ted, vou ter que desenhar também? Falar, abrir a boca, articular palavras, mover os lábios, língua e maxilar de modo que...

                - Tá, tá, quer parar de sarcasmo? Já tentei conversar com ela sobre isso, mas tenho medo de... magoá-la.

                Ash revirou os olhos.

                - Não acho que vá magoar Vic se disser que gostaria de mais espaço.

                - Vá por mim, ela ficaria magoada.

                - É, eu sei. Droga, ela é um poço de sensibilidade.

                - Você deveria então dizer com mais cautela, sabe. - ela colocou os cabelos bagunçados atrás da orelha, como sempre fazia quando ia falar bastante - Quando eu e Miles namorávamos, bem, digamos que... não rolava muita conversa - ela corou sutilmente - e ele sempre foi bem mais grudento do que eu. É claro que eu falava na cara quando tava me enchendo. Quer dizer, eu não nasci colada com ele, né? Já dava um chega pra lá do tipo "tá bom cara, já chega, quer virar minha sombra agora?" Coisas assim. Ele, claro, ficava chateado, mas não adianta, sabe, ficar escondendo quando algo não te agrada. Ele pouco conversava comigo, só queria viver me beijando vinte e quatro horas... isso sufoca.

                Fiquei calado por alguns minutos. Compreendia bem tudo o que me dissera; era exatamente essa minha situação. Vic quase não conversava mais comigo, a cada segundo era um beijo, um abraço...

                - Por quê ele terminou com você? Quero dizer, o real motivo?

                Ashley pareceu surpresa com aquela pergunta, mas eu estava tanto quanto ela. Sei lá, simplesmente me escapou dos lábios.

                - Porque... ah, Ted, é difícil manter um relacionamento à distância. Quero dizer, ainda mais por carta, sem ao menos poder ouvir a voz do outro, ver o rosto... e Miles era muito caipirão. Eu o convidava para vir comigo quando eu ia ao Texas, mas era um martírio pra ele. Só queria que eu fosse até a casa dele, e então...

                Ela não terminou, mas eu entendi.

                - Ele era um folgado mesmo.

                - Demais. Às vezes acho que eu não importava muito pra ele... era mais pelo fato de ter alguém, sabe, pra preencher a carência. Conheço Miles desde a pré escola, passamos por muita coisa juntos... - ela agora não olhava para mim. Ao invés disso, encarava os dedos. - e, no fim, nem a minha amizade valia tanto assim pra ele.

                Observei-a, sem saber o que falar. Esperei que chorasse, mas ela não o fez. Vic já estaria se debulhando em lágrimas. Mas Ash era durona, eu sempre soube.

                E talvez por isso eu a admirasse tanto.

                Conhecia sua história de vida. Seus pais viviam em pé de guerra, nunca lhe dando atenção. O único lugar em que tinha um pouco de diversão era no rancho da avó. Demorara muito até que ela me contasse tudo.

                Ashley era solitária, apesar de ter uma família.

                E eu me sentia exatamente assim.        

                Porque eu tinha uma família que me amava e cuidava de mim, me dava atenção e tudo o que meus pais não puderam dar.

                Eu era feliz.       

                Mas estranhamente só.

                Só, porque todos pareciam ter pena de mim. Pena por eu ser o "pobre órfão de Ninphadora Tonks e Remo Lupin."

                E, acredite, não era nada agradável estar perto de pessoas que sentiam pena de você. Era mais fácil manter-se um pouco afastado. Para mim, era fácil lidar com o deboche, a algazarra, o falatório constante. Mas não a pena.  

                Talvez seja por isso que não está sendo fácil lidar com Victoire.

                - Ted?

                - Oi.

                - Estão saindo asas de morcego das suas costas.

                - Quê? - virei-me, só pra ver que ela tinha razão; duas asas ridículas de morcego saíam de minhas costas, abanando preguiçosamente - Ah, droga. - recolhi as asas e fiz com que desaparecessem. Aquilo estava ficando ridículo. - É a primeira vez que me acontece na frente de alguém.

                - Acontece o quê?

                - Isso! Isso de não conseguir me controlar. Já acordei com uma tromba de elefante, com chamas no lugar dos cabelos e um bico de pato. Mas é a primeira vez que me acontece com alguém por perto.

                - O que McGonagall lhe disse?

                - Ela não sabe. Diz que talvez eu esteja muito nervoso com alguma coisa, me mandou me concentrar mais nos estudos pra me acalmar.

                - Como se estudar acalmasse alguém.

                - Foi o que eu disse a ela.

                - E você não conhece mais ninguém que possa lhe ajudar? Algum outro metamorfo?

                - Não. Às vezes penso que se mamãe estivesse aqui, talvez pudesse...

                Deixei a voz morrer. Falar dos meus pais me dava um nó na garganta.

                Ela compreendeu, e, sem avisar, me abraçou. É claro que já tínhamos nos abraçado antes, mas dessa vez fora diferente. Senti-me mais leve, e o calor que ela tinha nos olhos parecia também ter no corpo inteiro. Ela era quente, calorosa, e me aquecia por dentro. De repente, percebi que não era a música dela que me acalmava.

                Era ela.

                Separando-se de mim, ela me olhou nos olhos uma vez mais. Meus problemas pareciam ter-se apagado; eu mal sabia onde estava. Só sabia que aquela garota, minha melhor amiga, mexia comigo. E, caramba, como eu nunca tinha percebido o quanto ela era linda?

                Quero dizer, Victoire era belíssima. Uma deusa, eu diria. Tinha sangue de veela, e às vezes parecia que seu encanto me dominava por inteiro. Eu nunca conseguira olhar para outra garota e comparar as belezas.

                Vic era surreal. Um sonho.

                Mas Ash era a realidade.

                Uma garota descolada, que pouco se importava para o que pensavam dela. Seus jeans surrados e sapatos encardidos, suas camisetas de banda, os cabelos castanho-claros completamente desalinhados, bagunçados.

                Ela sempre fora assim, nunca mudara. Era forte, decidida.

                E tinha os olhos mais belos que eu já vira.

                - Quero te mostrar uma coisa. - ela dissera depois de um tempo.

                - Mostre.

                - Não sei se funciona desse jeito, mas não custa tentar. Hã... feche os olhos.

                Fiz o que ela me pediu, ainda atordoado pelo fluxo de pensamentos inesperados sobre minha amiga.

                Ela segurou minha mão e levantou-se. Fiz o mesmo. Do nada, um brisa leve começou a soprar. Franzi a testa, mas não abri os olhos. Esperei seu comando, que aconteceu no segundo seguinte;

                - Pode abrir.

                Obedeci.

                O que vi me deixou surpreso mas, ao mesmo tempo, maravilhado.

                Estávamos num campo aberto, bonito, de vegetação rasteira. O solo era um tanto árido, e havia uma cerca mais à frente.

                Mas o que mais me maravilhara fora o céu.

                Nunca em toda minha vida vi tantas estrelas.

                - Gostou?

                - É... caramba, Ash. Como foi que fez isso aparecer?

                - Bem, você disse que a Sala Precisa se transformava em tudo aquilo que precisávamos... achei que precisava um pouco do céu noturno do Texas.            

                - Aqui... aqui é o Texas?

                - Não, é a Sala Precisa, duh.

                - Engraçadinha.

                Ela sorriu, cínica, então sentou-se. Sentei-me ao lado dela, que observava o céu salpicado de estrelas. Era de fato uma visão estupenda.

                - Sinto falta daqui. Do rancho.

                - O rancho dos seus avós?

                - É.

                - Eu também sentiria saudades de um lugar lindo assim.

                Ela riu, e deitou, a cabeça em meu colo.

                - É chato ter que passar um tempo no Arkansas durante as férias. Quer dizer, eu gosto de lá e quero morar lá mas... ah, cara, pelo menos aqui eu tenho paz.

                Ficamos em silêncio por algum tempo, observando o céu - que provavelmente era só o teto da Sala Precisa. Meus pensamentos fluíram, e tudo que estava me incomodando de repente sumiu. Sentado ali com Ashley em meu colo, tudo havia se acalmado. Podia até sentir minha tensão dissipando-se, esvaindo-se...

                - Ted?

                - Oi.

                - Você ainda está nervoso?

                - Não, definitivamente. Por quê?

                - Seus cabelos mudaram de cor novamente.

                - Eu mudei voluntariamente.

                Ela levou as mãos aos meus cabelos, acariciando-os. Estavam com um belo tom de caramelo. Eu podia vê-los refletidos nos olhos caramelo dela. Eram límpidos como um espelho. Como o céu noturno do Texas.

                Não sei por quanto tempo ficamos ali, mas pouco importava. Aquilo era o que eu realmente precisava.

                Estar ali com Ashley Campbell era indescritível.

                Ela era real demais, concreta demais. Eu podia tocá-la, sentir seu calor, ouvir sua música e sua risada. Eu podia até mesmo beijá-la.             

                E, cara, como eu queria. Aqueles lábios eram um convite irrecusável.

                Mas eu teria de recusar.

                Porque não era justo com Victoire.

                Assim que pensei nisso, toda a paisagem desapareceu. A Sala Precisa voltou a ser apenas uma sala com poltronas e o violão. Ashley levantou-se do meu colo, confusa, mas eu não queria explicar.

                Ergui-me, e saí em direção à porta. Ash não se moveu, ficou apenas me observando partir.

                E isso me perturbava ainda mais. Ashley não tinha medo de despedidas. E, embora eu fosse vê-la amanhã de novo, sabia que aquilo equivalia à um adeus.

                Eu tinha de voltar para minha realidade. Não poderia magoar Victoire novamente. Eu jurei a mim mesmo não magoá-la. Sim, eu precisava voltar para a realidade.

                Ou, no meu caso, para meu sonho, deixando minha realidade plantada numa sala vazia, com os belos olhos tentando disfarçar uma tristeza profunda com indiferença debochada.

               

               

                



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