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História CONNOR: As crônicas de um Psicopata - 31 de Dezembro (2014) - 01 de Janeiro (2015)


Escrita por: Elipse_

Notas do Autor


Chegay <3
Esse tá menorzinho como eu havia dito nas notas finais do capítulo anterior, mas eu espero que vocês gostem. É mais um daqueles capítulos de desenvolvimento de personagem que mesmo não tendo muitas revelações não deixam de ser importantes!
Boa leitura ♥

Capítulo 8 - 31 de Dezembro (2014) - 01 de Janeiro (2015)


Fanfic / Fanfiction CONNOR: As crônicas de um Psicopata - 31 de Dezembro (2014) - 01 de Janeiro (2015)

 

6ª Sessão

Era noite, nós estávamos andando pelos restaurantes e lojas de Albert Dock* sem ter um lugar certo para ir. A verdade era que Beto e eu só estávamos enrolando até que a hora da contagem regressiva começasse, nada mais que isso.

A animação de Roberto podia ser notada a quilômetros de distância, o mesmo havia me contado sobre uma espécie de encontro anual entre todos os alunos da Brilliant minds naquele lugar durante a virada de ano, quase como uma tradição não intencional, e achou que seria ótimo se eu fosse consigo. Ele também não parecia ter lá uma lista enorme de amigos para escolher.

O motivo pelo qual eu havia aceitado, era simplesmente aquela velha e anual agenda vazia. O casal Morgenstein também tinha uma tradição que era quase regra nessa época do ano, eles sempre saíam para jantar em um dos muitos restaurantes a céu aberto da cidade, como uma noite romântica cujo objetivo final era observar o show de fogos no fim da noite. Porém, depois que decidiram me adotar eu passei a fazer parte desses jantares, coisa que na minha cabeça sempre era como ser um estorvo no meio dos dois. Os anos se passaram e o programa que para mim já era incomodo, passara a ser torturante e a única parte boa naqueles momentos para mim era a explosão de cores no fim da noite. 

Quando alcancei meus 14 anos passei a deixa-los desfrutar das noites de ano novo a sós e eles viram aquela atitude minha como um ato de altruísmo incrível, quando na verdade era só eu me livrando do repúdio que era pensar na imagem de família normal e feliz que as pessoas que passavam por nós podiam ter. Desde então minhas noites de ano novo se baseavam em assistir aqueles filmes ridículos que as emissoras insistiam em colocar durante todo o período das festas de final de ano e olhar os fogos pela janela do quarto. Exceto, claro, em 2012, quando eu pude sair pela primeira vez com a minha primeira namorada — e não me pergunte o que fizemos naquela noite —, mas logo eu voltei a fazer o mesmo programa anualmente. Eu sabia que eles sentiam pena de mim por ficar sozinho todos os anos durante essa mesma época, então saber que eu ia sair com o Beto pela primeira vez depois de muito tempo os deixava mais tranquilos, ou menos culpados. Assim eles poderiam curtir a noite sem se sentir pais horríveis. Não que eles não curtissem antes, claro, nem mesmo a culpa impedia a Sra. Morgenstein de gemer como uma cadela assim que chegavam do jantar de madrugada.

— Estou com fome. — Beto comentou enquanto atravessávamos a rua e passávamos pelo Museu principal.

— Não olha pra mim, eu tenho cara de quem dá a bunda?

— Cara, você é nojento, eu nem pensei nisso! — ele me lançou um olhar indignado e eu prontamente comecei a rir. — A gente podia comer alguma coisa, sei lá. Estamos andando sem nada para fazer desde ás nove e falta muito pra meia noite. Olha, tem um café aberto ali!

— Um café? Sério?

— Sim, podíamos comer uma torta.

— Tanta coisa pra fazer e você quer comer torta, Roberto? — ele deu uma varrida rápida no local. Se observássemos bem, não era tão difícil encontrar rostos conhecidos transitando pelo lugar com seus agasalhos exagerados, o que era compreensível levando em conta a quantidade razoável de neve que vez ou outra caía.

— Mas já pensou que delicinha? Uma torta nesse frio em uma cafeteria quase sem nenhum cliente. Não seja sem coração, Connor.

Girei os olhos em torno da localidade onde estávamos e avistei uma atração mais convidativa pouco depois do café.

— Tem uma loja de bebidas passando apenas alguns estabelecimentos depois do café, o que acha? — sugeri e ele semicerrou os olhos.

— Bebidas?

— Sim, vai me dizer que nunca bebeu?

— Você tem uma imagem bem radical de mim, né? — soltei uma risada soprada achando graça no comentário, afinal, de fato Beto não aparentava ser uma pessoa que bebia ou que fazia qualquer tipo de coisa antiética a não ser, claro, o tão famoso auto-amor, mas aquilo era algo essencial na vida de qualquer pessoa.

Comecei a andar em direção a loja com Beto em meu encalço. O lugar tinha um toque rústico assim como a maioria das lojas naquela localidade. As prateleiras carregavam bebidas das mais variadas e Beto pareceu observar calculosamente as marcas, mesmo sem conhecer metade das coisas expostas.

— O que acha de vinho? — ele me direcionou um olhar sugestivo e eu franzi uma das sobrancelhas — Eles tem Carpineto aqui!

— E o que você entende de vinho?

— Meu tio trabalhava em uma fábrica, vez ou outra ele trazia alguns para mim experimentar escondido da minha mãe. Ele sempre falava muito dessa marca, mas pelo visto custa os olhos da cara.

Fitei a garrafa na prateleira vez ou outra lançando olhares furtivos para Beto. Eu não entendo de vinho, tenho que admitir. Na verdade eu não entendo muito de bebida nenhuma, eu simplesmente ingeria aquelas que os bartenders costumavam indicar quando você vai naquelas boates de música ruim.

— É ano novo, não é? — perguntei mais para mim que para Beto, que estava entusiasmado ao meu lado.

— Sim, mas eu acho que não vale a pena. Além do mais, nem temos esse dinheiro todo.

— Quem disse que não? — peguei uma unidade nas prateleiras já me dirigindo ao caixa, porém fui impedido por um aperto desesperado no braço.

— Aonde você pensa que vai? — ele perguntou aturdido — Você é menor de idade, eles não vão te vender.

— Fica frio, eu fiz dezoito.

— O que? Quando?

— Agosto.

Me direcionei ao caixa e falei com o atendente que prontamente exigiu minha identidade como prova da minha maioridade. Por sorte — ou não, já que eu já tinha em mente passar aqui quando sai de casa — eu estava com a mesma e não tivemos problemas.

Saímos da loja já com a bebida em mãos e nos sentamos em um dos bancos em uma praça perto do pier principal, onde muitos adolescentes se encontravam conversando em alvoroço já esperando pela contagem regressiva. Abri a garrafa com certa dificuldade e logo passamos a dividir a bebida.

— Sabe o seu próximo aniversário? A gente podia comemorar em um daqueles lugares loucos que você frequenta e precisa irritantemente me usar como desculpa para ir.

— Acho aniversários irrelevantes. — comentei negando a oferta nas entrelinhas.

Um silêncio se seguiu enquanto degustávamos o sabor do vinho caro. Era um sabor atípico, mas com certeza foi um dos melhores que eu já provei.

—De onde você tirou dinheiro pra comprar isso? — Beto perguntou depois de um gole profundo.

— Presente do senhor e da senhora Morgenstein. — respondi omitindo o fato de que eu havia pegado emprestado sem permissão. —  Acho que tivemos um bom lucro. 

— De fato tivemos, é muito bom. — ele disse dando um gole exagerado e fazendo uma careta engraçada quando a bebida desceu pela garganta — Doce e ao mesmo tempo amargo pra caralho.

— Todo vinho é. Agora passa o que você tem no bolso, não vou te deixar beber às minhas custas. 

— 'Tava bom demais pra ser verdade. — ele tirou do bolso todo o dinheiro que tinha, o que pessoalmente não era muito, mas eu não me importava contanto que eu tivesse um reembolso mínimo pela boa ação.

— Eu não sou trouxa, Beto.

— Cara, nós somos amigos!

É engraçado como as pessoas encaram aqueles que apenas disponibilizam seu tempo livre para andar ou conversar um pouco com elas como amigos. Eu não via Beto dessa forma, ele era apenas um cara minimamente idiota no meio de muito lixo populacional ao qual eu fiz o favor de aceitar simplesmente por tédio. Mas parecia que eu era o único que pensava assim. Eu dava abertura pra isso, confesso. Acho que o transtorno me deu superpoderes e eu sou grato. É como ser um ator nato. Me diverte e me faz sentir no controle. Se existe um Deus eu acho que ele me deu um dom. Então eu deixava Beto fantasiando estar certo sobre sermos melhores amigos. Dons precisam ser usados.

— De qualquer forma, acho que o belo buraco no meu bolso valeu a pena.

Não demorou a começarmos a ouvir o barulho dos corpos se direcionando ao pier principal à nossa frente, afinal de lá a vista era mais bonita e a contagem regressiva já ia começar. Eu assistia a movimentação envolto nos efeitos da bebida até ser puxado por Beto em direção á nuvem de pessoas animadas. O lugar tinha uma movimentação digna daqueles filmes de ano novo que eu me acostumei a assistir por essas épocas. As luzes de natal ainda iluminavam as lojas ao redor e a luz da lua refletia no mar ocupado por embarcações bonitas. Seria reconfortante se ter levantado de súbito não tivesse me deixado levemente enjoado.

Casais, crianças, adolescentes e até mesmo anciões tinham sorrisos exagerados no rosto, um novo ano estava chegando afinal, era normal ficarem empolgados, certo? Bom, eu nunca pensei assim. Para mim o réveillon sempre fora uma noite aparentemente calorosa onde fogos legais pairavam no céu, mas o ano novo em si nunca significou mais do que a chegada de trezentos e sessenta e cinco dias monótonos a mais tentando me manter longe de pensamentos odiosos para com as pessoas ao meu redor, passando por tratamentos e tentando me abrir com psicólogos inúteis que pareciam se divertir ouvindo sobre a vida alheia, um claro trabalho feito por qualquer vizinho fofoqueiro, com a diferença de que esses não eram graduados ou pagos.

— Vai começar Connor!

As pessoas trocavam abraços apertados. Provavelmente o cérebro de cada uma delas já trabalhava em uma promessa ou um pedido de ano novo que nunca ia se realizar. Eu não ia perder tempo fazendo o mesmo, mas eu acho que o vinho começou a me afetar quando por um breve momento achei que não fosse uma ideia tão ruim.

— Dez! Nove! Oito...

Beto se encostou nas grades do pier olhando de maneira esperançosa para o céu. Eu estava um pouco atrás e fui arrastado algumas vezes por alguns adolescentes que queriam ir para mais perto das grades do pier.

— Desculpe! — disse uma figura masculina encapuzada que havia esbarrado com certa força em mim. Acho que minha cara não tinha sido das melhores, pois o garoto falou repetidas vezes que não queria problemas antes de se virar a procura de alguém na multidão. — Becca, espera!

Becca?

— ... Sete! Seis...

Observei meio tonto o garoto segurar o pulso pálido que o casaco não havia conseguido cobrir. Ela sorriu e acolheu o garoto em um abraço de lado direcionando o olhar para a noite, assim como todas as pessoas contentes ao redor. Contive a vontade de vomitar com a cena. Ele a encarava com tanta devoção que eu só consegui me perguntar se ela já tinha liberado para ele alguma vez. Que outra coisa o faria ficar tão idiota perto de uma garota?

Fiquei ao lado de Beto na grade e dei mais um gole na garrafa que eu ainda tinha em mãos antes de olhar as primeiras faíscas coloridas soltadas antes do término da contagem.

— ...Cinco! Quatro...

Faltava pouco para mais trezentos e sessenta e cinco dias de rotina.

A não ser que eu fizesse algo para mudar.

Morrer não era uma opção.

— ...Três! Dois...

Ela parecia feliz.

Eu posso ser feliz também, não é? Digo, do meu jeito...

E foi ali, ao lado de um idiota, com uma garrafa de vinho vazia, tonto pelo efeito de alguns muitos goles, rodeado de falsos apertos de mão e desejos de "Feliz ano novo" que eu percebi que eu precisava viver mais. Mesmo que aqui e acolá eu fizesse uma bobagem, mesmo que vez ou outra os cigarros e animais mortos me deixassem em êxtase, eu precisava provocar mais dessas sensações. Precisava sentir mais intensamente a vontade que anos de terapia não haviam afastado. Era da minha natureza no final das contas. Eu não sabia direito como era estar feliz, mas eu sabia o que era prazer e uma vez eu ouvi: Prazer e felicidade andam juntos.

Olhei novamente na direção do casalzinho nojento e revirei os olhos com o selinho que o garoto havia roubado da menina pálida dos olhos de bola de gude. Ela pareceu surpresa no primeiro momento.

Talvez eu queira uma namorada.

Era um pensamento inocente vindo de um garoto de dezoito anos, certo? Errado. Por que eu não queria uma namorada, eu queria ela, ou pelo menos foi isso que vagou pela minha cabeça por toda aquela noite.

Talvez fosse o efeito do vinho.

— Um!

Mas quando o efeito do vinho passou, eu ainda queria aquela vagabunda.

"Feliz ano novo!"

Todos se cumprimentavam e se abraçavam ao meu redor. Uma ação que simbolizava um claro desejo de mudança, uma vontade de ser melhor, ou no meu caso, uma vontade de fazer dos meus dias melhores pra mim. Eu podia fazer o que eu quisesse e eu faria.

Talvez eu conheça novas pessoas. Talvez eu viva mais intensamente. Talvez eu me apaixone ou... Talvez eu mate alguém.


Notas Finais


*Albert Dock - É um complexo de edifícios e armazéns de docas localizado no centro de Liverpool.

Meça seus desejos de ano novo, Connor :v
Aqui nós vemos claramente a cabeça do nosso personagem principal passando por uma transição bem doida.
Alguém curioso pra saber quem é o carinha que roubou um selinho da Becca?
E não se iludam, o Connor não ficou com ciuminho dos dois, ele ficou com inveja mesmo. Talvez ele queira um brinquedinho, nunca se sabe. A única certeza que temos é que a Becca é bem azarada.

Nos encontramos de novo daqui a quinze dias, se eu não atrasar em nada!
Um beijão ♥


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