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História As Crônicas de Zhank - Velhos heróis


Escrita por: LeoKramer

Capítulo 1 - Velhos heróis


A velhice o assolava. Cabelos brancos, dores nas costas e cicatrizes das velhas batalhas. Já se preparava para dormir no seu simples quartinho quando reparou a foto de Aisha, colocada na cabeceira para lembrá-lo de seu grande amor. Sua pele queimada do sol, seus longos cabelos negros e aqueles olhos, tão penetrantes que mesmo em foto pareciam reais. Sua espada, que agora servia apenas de decoração, ornamentava a parede com toda a sua glória e suas malditas lembranças. Uma última olhada na janela. A lua estava mais bonita que o normal, aliás, tudo estava mais bonito que o normal. Será que ele estava aqui? Já estava na hora?

Anthony, o neto mais novo, chegou correndo no quarto, seguido por Lucas e seus grandes óculos.

- Eu disse pra ele que já era hora de dormir, vovô, mas ele insistiu. – disse o tímido Lucas.

- Por favor, conta de novo aquela história! Conta! - gritou Anthony com os olhos brilhando.

O velho avô sorriu, sentou-se na cama junto com os netos e contou mais uma vez a grande história. Talvez não tão grande assim mas, aos olhos dos garotos, Theodore era um herói.

- Bem, deixe eu começar pelo início de tudo. – diz risonho o velho herói. - Havia um grande sábio, que possuía todos os poderes do mundo para sí. Ninguém sabe o que existia em sua época além dele, e com a solidão que sentia, ele resolveu criar o mundo. Um mundo só dele. Fez as pessoas, os animais e tudo o que conhecemos, e então deu para os humanos o dom da magia, para que eles brincassem também. Os humanos assim fizeram. Criaram suas casas, suas roupas, sua civilização e suas regras. Tudo isso divertia o grande sábio, que assistia sua criação com a empolgação de garotos que gostam de ouvir histórias grandiosas antes de dormir.

Mas o grande sábio, mesmo com toda a vida de sua criação, ainda se sentia sozinho. Afinal, seu palácio era muito alto no céu, os humanos não podiam subir, então com quem ele iria dividir toda essa história? Ele então criou seus deuses, um panteão inteiro que surgiu das suas virtudes e emoções. A cada um foi dado um título: deus da beleza, da guerra, da paz, do ódio, do amor e inúmeros outros, todos espelhados nos humanos por ele criados.

Agora o grande sábio e seus semelhantes tinham suas criaturinhas humanas para asssistir juntos. Mas eles queriam mais. Eles queriam participar da criação mais diretamente. O grande sábio então resolveu designar tarefas aos deuses, para que eles cuidassem dos humanos e permitiu que eles se comunicassem diretamente. A partir disso vieram os cultos aos deuses mais fortes, que demonstravam seus poderes aos maravilhados humanos, que mesmo com a magia sob seu controle não tinham tal força.

- Mas vovô ,– interrompe Lucas - eu li uma vez num dos livros do papai sobre uma primeira civilização diferente.

- Ora, meu pequeno Lucas, aquilo é uma outra história. Uma história pra outra hora! - respondeu calmamente o avô enquanto passava a mão nos longos cabelos pretos de seu neto. E então continuou - Os deuses então se tornaram mais fortes graças aos seus seguidores, mas muitos deles não estavam felizes. Eles queriam atingir o máximo de seus poderes, ou até mesmo atingir o nível do grande sábio. O todo poderoso sabia de uma provável ameaça, porém não fez nada sobre.

Ciente da sede de poder de suas crias, ele propôs um pequeno jogo. O grande sábio criou uma arena nos céus que era tão formidável quanto o próprio mundo por ele criado, e disse ao seu panteão que iria criar um novo cargo no palácio. O cargo era de comandante e seria ocupado pelo deus ganhador de uma série de batalhas que seriam travadas na arena. Porém, nessa batalha os deuses não poderiam lutar mas sim seus heróis, que deveriam ser escolhidos entre os humanos. Cinco humanos liderados por cada deus iriam lutar na arena. O deus que tivesse seu time como vencedor, iria tomar o cargo de comandante, e seus heróis iriam receber o prêmio divino de usar a pedra Zhank.

Theodore, - continuou o avô, todo orgulhoso falando de si mesmo, - comandante das tropas do reino de Lyrak, foi contatato por Efraim, o deus da beleza para lutar sob seus comandos. O jovem comandante perguntou ao deus o que ganharia com isso, mas tudo o que recebeu como resposta foi que ele ganharia beleza em sua vida. E assim foi feito, ele entrou na arena e batalhou bravamente, obtendo a vitória. E lá ele conheceu a jovem Aisha, que se tornaria a grande beleza de sua vida.

- Vovó era corajosa mesmo né? - diz Anthony olhando fixamente para o quadro na cabeceira.

- Ela era a mulher mais linda e corajosa que eu já conheci na vida – suspira Theodore.

- Mas porque ela não tinha um braço? O senhor nunca nos contou direito a história - indaga Lucas.

- Ela era uma jovem médica no reino de Nashar. Naquela época, a guerra era constante na região, e ela sempre dizia que não podia ficar sentada olhando todas aquelas pessoas morrerem. E numa das batalhas da guerra de Ulroth ela machucou gravemente o braço. Mas nem isso foi capaz de impedir ela de ajudar as pessoas ou de entrar na arena dos céus!

Theodore continou contando suas batalhas e descrevia a arena com os mesmos olhos dos garotos, porém ele sentia a dor daquela época. A dor das perdas que teve e das consequências que vieram com esse pequeno jogo que já acontecia há muitos anos e se repetia a cada 100.

O cheiro de rosas estava forte no quarto há muito tempo. Será que os garotos não estavam sentindo?

A porta então se abre. Era Lars, filho de Theodore.

- Vamos crianças, deixem seu avô dormir.

- Mas já?! Ele nem terminou de contar a parte do...

- Nada de "mas". Já está tarde. Todos pro quarto.

Os pequenos se despediram do avô. Os abraços mais apertados que ele já recebera. Theodore já estava cansado. A vida já lhe era um fardo pesado pra se carregar.

As crianças saíram do quarto e o silêncio se estabelecera. Lars estava fechando a porta.

- Espere, meu filho.

- O que foi, pai? - diz Lars num tom de desdém.

- Eu quero que você me perdoe por tudo o que eu te fiz passar. O que eu fiz todos passarem...

- Por que está dizendo isso agora? - diz Lars um tanto confuso.

- Ele está aqui. Eu sei disso.

Lars arregalou os olhos e caminhou apressadamente até a cama. Theodore se deitou e seu filho segurou suas mãos.

- Mas... Agora? O que eu faço se eles vierem aqui?! O que eu falo pras crianças?! O que eu faço.. sem você?

As lágrimas de Lars molharam seus óculos.

- Apenas se certifique que eles estejam dormindo, tudo bem? Por agora, apenas me deixe. Ele deve ter algo pra dizer antes disso.

Lars então enxuga as lágrimas e caminhou até a porta.

- Você tem os olhos de sua mãe...

O atual general das tropas estava fechando a porta do quarto de seu pai. Mas antes que o fizesse por completo, disse pela pequena fresta que ainda restara.

- Eu te perdôo.

A escuridão e o silêncio agora reinavam no quarto. Theodore sorriu aliviado.

- Então você sabia que eu estava aqui?

- Reconheço sua presença de longe. Afinal, quantos anos juntos?

- Adoro quando você conta a história para seus netos, e a forma como mente alguns fatos.

- Não minto. Só faço uma realidade diferente pra eles.

- Ora, é um bom ponto de vista.

- Está na hora?

- Sim, meu velho. Mas como prometido, eu vim te levar de uma maneira mais bela.

- Heróis morrem de uma forma diferente, Efraim?

- Só os meus.

Efraim emergiu da escuridão no canto do quarto. Caminhou vagarosamente até a cama, sentou-se na beirada e estendeu sua mão. Suas vestes e cabelos impecavelmente arrumados, suas madeixas ardiam em um vermelho vivo e caíam delicadamente sobre o rosto, fazendo o pobre velho quase esquecer do tempo que já havia se passado. Theodore então sentou-se na cama.

- Você tinha que ter ganho. Talvez o mundo não estivesse assim. Mas logo Drael? - disse Theodore evidentemente indignado.

- Eu escolhi os melhores heróis. Foi apenas um infortúnio!

- Não éramos os mais fortes.

- Mas eram os mais belos... Pelo menos aos meus olhos.

- Promete que vai se esforçar dessa vez?

- Eu lhe prometo, Theodore, o deus da guerra não vencerá novamente!

Efraim, sorrindo, se aproxima de Theodore e o abraça.

- Que você e Aisha possam se encontrar novamente.

Theodore chorava enquanto segurava forte o retrato em sua mão.

- Nos vemos no palácio de Arthera. - diz Theodore enfim desfalecendo.

Após a partida de Theodore, Efraim coloca uma rosa vermelha em sua mão e se desfaz nas sombras.

Anthony abre a porta do quarto.

- Vovô, eu esqueci meu boneco na sua cama... Vovô?

Anthony caminha até seu avô. Ele empurra seu ombro e o chama, mas não obtém sucesso. Com todo o barulho, uma nova imagem surge na porta.

- O que faz aqui, Anthony? - indaga Lars.

- Papai, por que o vovô não me responde?

Lars espia a cama pela porta e segurando suas lágrimas, caminha até seu filho e o abraça. Ajoelhado com Anthony em seus braços, ele vê a rosa vermelha na mão de seu pai. Ele sabia de tudo, afinal.

- Não se preocupe meu filho, vovô está só dormindo.

- Ele tá dormindo pesado? - diz Anthony, inocente.

- Sim, meu filho, o sono dos heróis! - diz Lars já com a voz trêmula.

- Por que você está chorando, papai?


 

-


 

- Acha mesmo que esses paspalhos vão dar conta?

- As vezes eu acho que você deveria ser a deusa do pessimismo.

A rua estava escura e não tinha nenhuma alma, pelo menos viva, andando por ali. Algo bem incomum para o distrito da Garganta Cortada. As duas figuras cochichavam em cima de um telhado.

- Não brinque com coisa séria, Efraim!

- Tudo bem, - diz Efraim revirando os olhos - Drael fez seu movimento e agora é nossa vez!

- Espero que ele tenha o mesmo destino de Zhank.

- Tá bom! Mas por hora me mostre que você é a deusa da inteligência e me dê um plano. Temos que resolver logo essa pequena ... pendência.

 



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