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História As Crônicas dos Peregrinos - O Algoz de Sangue - Mel é doce, Mnemósine é pouco memorável, et cetera



Notas do Autor


Olá pessoal, aqui trazemos um pouco mais de diversão enquanto nossos personagens finalmente se encontram a beira do tão aguardado encontro com a deusa da memória. Espero que gostem do cap, com algumas surpresas ou não. De qualquer forma, nos veremos em breve, iihihih.
TRILHA SONORA NOS COMENTÁRIOS!
- Mnemósine - Deusa da memória (Titã)

Capítulo 14 - Mel é doce, Mnemósine é pouco memorável, et cetera


Fanfic / Fanfiction As Crônicas dos Peregrinos - O Algoz de Sangue - Mel é doce, Mnemósine é pouco memorável, et cetera

 

XIV

 Caleb não dormira, na verdade, ele desmaiou assim que cruzou a porta de trás e foi carregado pela cama por Gale e Felicia, que passaram a noite no casarão de Bona Dea – que não ousou dar as caras desde o confronto com os basiliscos.

Os dois fitavam Caleb desacordado na cama de solteiro da esquerda que existia no quarto de empregados, onde estavam abrigado. Ru e Eddy estavam de pé na porta, ao redor de Pottie. As três ouviam Aristeu – ou Theo, como elas chamavam. – contar sobre as novidades e que de agora em diante tinham perfeitos direitos trabalhistas graças ao legado.

- Isso é o máximo! O garoto fez muito por nós! – exclamou Ru, abraçando suas amigas e pulinhos com elas. Theo riu de todas e voltou o olhar para Felicia, que acariciava Caleb calada, Gale estava sentado em outra cama, fitando os dois amigos e suspirando.

Theo sorriu para eles, de um jeito bondoso, as deusas ao seu redor fitaram a mesma cena, soltando um muxoxo de admiração em uníssono.

- Cuidem bem dele por hoje, vocês dois...Vocês têm um herói e tanto em mãos.

- Isso não é novidade alguma. – a voz rouca de Felicia rasgou o clima de felicidade como uma foice. Ela fitou os deuses alegrinhos com seus olhos negros e os estreitou, dizendo: - Podemos saber qual a localização de Mnemósine, ou bolarão outras maneiras criativas de acabar com nossa vida?

- A gente tem topado com umas bem interessantes. – murmurou Gale, melancólico. Ele passou a mão pelos cabelos e fitou Theo, Ru, Eddy e Pottie nos olhos, os deuses se retesaram com sua atenção, nervosos.

 O deus das abelhas então tomou a frente, dizendo: - Não há necessidade para isso. Nós não somos tão cruéis, minha amiga Mnemósine se encontra sempre perto de lugares que trazem coisas importantes para a memória...Se não me engano, ela estará no parque memorial de Martin Luther King Jr, pela tarde. – os olhos caramelizados de Aristeu/Theo/Apicultor assomaram sobre os meio-sangues. – Poderão passar a noite, comer e descansar aqui. Por favor, fiquem o quanto quiserem, não recebemos a visita de heróis...Faz éons, não é?

- Ah, e como. – murmurou Eddy, risonha. – Enfim, amanhã queremos ouvir tudo sobre sua aventura!

Felicia quase deu risada com tanta gentileza, ela apenas assentiu para os deuses, que sorriram e desejaram boa noite para os viajantes. A loira fitou Gale, que encarava Caleb ainda calado.

- Ele é incrível, não é? – perguntou ela, atenta a ele. A cabeça do menino-estrela apenas balançou, o vento frio que vinha da janela fazia as paredes e o piso de madeira rangerem, os fios de Gale se bagunçaram. - Sabe o pior? Acho que ele gosta de estar missão. Porque...

- Se sente útil?

- Talvez. – murmurou Felicia. – Talvez ele só queira um pouco de inconstância na vida dele, por isso ele deve se sentir tão atraído por ti, menino. Você é encrenca pura, ainda mais do que eu.

 Gale corou e segurou a cabeça com as mão, Felicia ergueu o queixo e inspirou com os dedos ainda passando dentre os fios crespos de Caleb, que já roncava.

- Não é algo que eu me orgulhe de ser, odeio tudo isso que a gente vem passando.

- Você seria bem doido se não odiasse. – acusou Felicia, cobrindo Caleb com um edredom e indo fechar a janela. Ela mordeu o lábio inferior e encarou Caleb ternamente.

Gale piscou: - Ainda está apaixonada por ele?

- Paixão é para crianças. – murmurou ela, abraçando os próprios braços protegidos pelo casaco. – O que eu tenho com Caleb é algo construído. É uma amizade de verdade, talvez o único relacionamento com o qual eu me importe mesmo.

Um suspiro escapou de Gale, que se recostou na cama e disse: - Me pergunto se tem alguém lá fora assim comigo, sabe? Se minha mãe...Ou se tenho algum irmão, irmã...Alguém que me conhecesse mesmo!

A frustração na voz do garoto era quase palpável, os olhos-quasar deles soltaram chamas multicoloridas. Felicia riu para dentro.

- Cassandra não foi de muita ajuda, também. Aquela louca só me fez odiar mais a Esotérica e levantou umas perguntas bem esquisitas sobre o que raios eles querem com você... – A garota pegou sua adaga e apertou o cabo dela, encarando a lâmina de prata reluzente em mãos. Ela viu o reflexo turvo e disse: - Temos algo em comum, Estrela. Todo mundo de nosso passado quer nos matar.

Ela o olhou nos olhos e apontou a argendaga para o menino, que a fitou, recostando-se na cabeceira e rindo sôfrego do gesto, Felicia era, ao menos, divertida. Dava até para esquecer que sua cabeça estava a prêmio e que havia uma organização do mal com vários mortais magicamente aprimorados atrás deles.

- As vezes eu queria não ter memória de quem eu fui. – murmurou ela, estreitando os olhos e abraçando a adaga em um gesto protetor. A garota deitou, a luz do abajur fez seus cabelos parecerem platina amarelada. – Você não sabe a sorte que tem, Lockheed.

Gale pousou a cabeça no travesseiro.

- Me sinto tudo menos sortudo, Greyback.

- Você decide então, quando recuperarmos sua memória vai poder dizer se prefere estar com ou sem ela.

A garota então desligou a luz e rolou para o lado, abraçando sua arma favorita e seu garoto favorito, que roncou e se mexeu brevemente. Felicia piscou alguns segundos depois, percebendo que o quarto ainda estava claro.

- Gale...

- Oi?

- Fecha os olhos, porra.

- Ah...Claro, boa noite. – a voz tímida do garoto murmurou. Ele se cobriu e fechou os olhos, deixando a cabeça descansar depois daquele dia cheio que tiveram.

Gale não dormiu, sua cabeça, no entanto, passeava pela paisagem da fazenda e os deuses que ali viviam. Na parte mais profunda de si ele se questionou como seu pai seria.

Até que dormiu no meio do caminho, não concluindo o pensamento, por fim.

 

 

  De manhã, os meio-sangues já estavam de pé no quarto. Felicia tinha acabado de voltar do banho e estava colocando o sutiã com ajuda de Caleb. Gale estava recluso e encarando a fazenda pela janela, vendo Ru, Eddy e Pottie levarem algumas vacas para o curral.

- Então eu desmaiei?

- Sim. – falou ela, já impaciente pela demora do garoto em apenas fechar um sutiã.

- Mas salvei vocês?

- Sim.

- Ótimo.

- Seria mais ótimo ainda se você conseguisse fechar o sutiã, pelos deuses, Caleb.

- Eu tô tentando!

Gale virou-se para os dois e riu, subitamente percebendo a delicadeza e a intimidade dos dois no movimento quase cirúrgico de Caleb, que conseguiu fechar o sutiã. A garota suspirou e pegou o top preto cheio de furos, que tinha sido devidamente lavado com a magia das deusas que os hospedavam, assim como o resto das poucas roupas que eles levavam na viagem.

 Caleb estava usando sua camisa roxa reserva do acampamento e Gale ainda vestia seu visual punk que ela escolhera para entrarem no Rhode’s Pub sem chamar tanta atenção. A camisa preta sem manga e a calça rasgada nas coxas estranhamente combinava com sua expressão sempre a deriva e os olhos flamejantes.

 Ela foi até ele e remexeu em seus cabelos, jogando-os para cima em um topete.

- Fica mais bonito assim. – murmurou ela, franzindo os lábios que pareciam esquisitos aos olhos do filho de Eósforo sem a presença de batom. Na verdade, acordar com Felicia e vê-la sem maquiagem era esquisito.  – Vou retocar no banheiro, Gale, quer alguma sombra ou base? Acho que cairia bem.

O garoto negou com a cabeça, a garota deu de ombros e passou pela porta, esbarrando com Theo. O deus sorriu para ela, Felicia deu uma risada amarela e seguiu caminho, calada.

 Caleb encarou o deus e deu um sorriso sem nem perceber. Gale conteve sua risada, vendo o garoto escanear Aristeu com os olhos, quase como se quisesse imprimir o que via em uma foto mental.

 Theo deu um sorriso acalentado que fez Gale entender de imediato o porquê da cara abobalhada de Caleb ao fita-lo. Ele estava lindo usando um suéter cor de creme que ia até o começo dos ombros e uma camisa rosa bebê por dentro, sua calça de tecido era grande e larga, mas combinava com as botas de couro amarronzado e o cabelo cacheadinho com undercut em tons escuros. O deus coçou o rosto cheio de sardas e disse: - Hã, está tudo bem, meninos?

 Notando que Caleb tinha subitamente perdido a fala, Gale disse: - Sim.

Theo sorriu: - Ótimo, hã, querem tomar café? Eu preparei tudinho para nós. O melhor que um deus grego poderia fazer para heróis romanos.

Gale se levantou e encarou Caleb, cutucando-o com o cotovelo e despertando-o de seu estupor antes que começasse a babar.

- Ah, claro, já estamos indo, né, Gale?

- Aham. – murmurou o garoto-estrela, risonho. – Estamos sim, Theo. E nem todos nós somos romanos, eu tecnicamente sou grego. – Gale apontou para si mesmo. Aristeu deu de ombros.

- Bem, Júpiter o quis do lado romano por algum motivo, Lockheed. Espero que descubram o porquê.

- É o que tentaremos hoje. – disse Felicia, voltando já maquiada e penteada. Ela se apoiou no ombro do deus das abelhas e deixou um sorriso malicioso cruzar seus lábios. – Você disse algo sobre comida? Quero.

- Bem, me acompanhem. – disse o deus, se desvencilhando da garota e correndo pelo corredor, animado.

Felicia parou na porta, encarando Caleb e Gale, estreitando os olhos para seu melhor amigo e cruzando os braços sobre o peito.

- Que cara é essa, Caleb?

- Hã...N-nada.

Gale conteve uma risada por pouco e foi até a porta, encarando Felicia nos olhos e levantando as sobrancelhas. A garota o fitou sem entender nada, mas apenas deu de ombros.

- Oooook. – murmurou ela. – Vamos indo.

Os três se puseram a andar, então.

 

 Caleb teve que admitir: Ele fizera um excelente trabalho no dia anterior.

As árvores do pomar estavam vivas e verdes, os arbustos e plantações atraíam as abelhas de Aristeu, que zuniam felizes sem a interferência de serpentes mortais da mitologia romana. Ru, Eddy e Pottie acenavam para os hospedados toda vez que passavam, continuando a trabalhar mesmo sem a presença de Bona Dea.

- Como está a comida? – perguntou Theo, atento ao olhar perdido de Caleb, que se fixou na mesa logo em seguida. Felicia e Gale já comiam, sem a mínima cerimônia.

Gale falou: - É a melhor coisa que já comi. – e então, voltou a enfiar torradas amanteigadas com mel e orégano na boca. Felicia encarou-o de soslaio, talvez ponderando se deveria ser cruel e deixar claro que ele não seria capaz de lembrar muito mais do que uns três dias de refeições comidas, mas decidiu se calar por fim.

 Caleb riu e tomou um pouco de chá de ervas, mordiscou um pouco de queijo prato e agradeceu ao deus com um aceno de cabeça.

- Então...Lorde Aristeu... – a voz de Caleb saiu cautelosa. – Quanto à localização de Mnemósine...

- Nós já sabemos. – murmurou Felicia, dando uma colherada em um iogurte com mel e fazendo uma cara prazerosa em seguida. – Isso está perfeito.

Caleb retrucou: - Como assim já sabemos?

Theo, então, pigarreou.

- Nada de lorde, querido, me chamem de Theo. E sim, é vero, já os informei sobre a localização da titã das memórias. Eu não diria o nome dela fora daqui se fosse vocês, a alertaria de sua presença de imediato. – o deus falou, pegando um pãozinho e comendo-o em seguida em poucas mordidas. – Ela pode ser muito escorregadia as vezes, especialmente se souber que está sendo perseguida.

- O tal do Rei-Anual também está afetando ela? – perguntou Felicia.

- Provavelmente, aquele tolo filho de Poseidon manda em todos os mercenários e monstros da região. Não me surpreenderia se ele, também, estivesse mancomunado com a Esotérica. –  os olhos cor de mel de Aristeu vibraram de poder. - Eu adoraria por minhas mãos no desgraçado por si só, mas isso provavelmente vai ser problema de vocês, sinto muito.

 Caleb então estranhou o dito, não por ouvir de um deus que queria destruir algum inimigo, mas por ouvir um “sinto muito” vindo de uma divindade. Ele pigarreou e roubou a fala: - E o que vai fazer agora, Aris...Theo, o que vai fazer agora? Com Bona Dea longe e esse cara ameaçando Seattle...

- Vou viajar, não sei, talvez me faça bem, ficar longe da cidade e tudo o mais. – murmurou ele, franzindo o cenho para sua xícara de porcelana e voltando o olhar para o legado de Esculápio em seguida, fitando-o fixamente. – Ou talvez eu devesse visitar os romanos um dia, nunca fui muito afeito a meus parentes de lá, mas creio que não ficarei decepcionado se forem como você, Caleb.

 Gale e Felicia encararam o amigo, que estava enrubescendo por todos os elogios. Theo tomou um gole de seu chá, o vento balançando seus cabelos cacheados. Ele arregalou os olhos em seguida e disse: - Quase esqueci, Caleb.

 O deus estalou os dedos, fazendo então uma nuvem de abelhas vir voando dos limiares da fazenda até ali. O enxame trazia algo consigo: Sustentado pelas abelhinhas diminutas, o cajado mágico de Caleb foi parar em suas mãos, Linda, o basilisco fêmea, chiou de felicidade e abriu sua coroa de espinhos.

 Theo se levantou e o entregou para Caleb, que deu um sorriso e corou. Linda se desenrolou parcialmente do cajado e acariciou seu rosto áspero contra o do curandeiro, que deu risada.

- Isso é todo seu, Caleb. Você deveria estar orgulhoso. – murmurou Theo, cruzando os braços sobre o peito e deixando um suspiro escapar. Gale viu o deus se ajoelhar ao lado de seu amigo, que encarou Theo ficar se joelhos e se aproximar dele, tocando em Linda, que sibilou feliz. – Eu admiro sua coragem e tudo o que fez por nós.

 Felicia sorriu para Gale e disse: - Ei, estrela, vamos falar com as meninas. Elas estavam querendo ouvir nossa aventura, e temos até a tarde, então...

- Certo, vamos. – disse o filho de Eósforo, que se levantou e foi com a amiga pela fazenda. Os dois encararam Caleb de longe, se afastando e vendo Theo sorrir para eles e dizer “Obrigado” com a boca, sem som algum.

 Caleb sequer percebeu a partida de ambos, seus olhos estavam atentos aos dedos delicados de Theo, pousando sobre Linda e acariciando-a. O deus se aproximou mais e disse: - Nunca conheci alguém tão heroico...Na verdade, nunca fui muito o tipo de cara que falava com heróis. Eles sempre me entediaram, mas eu gosto de você, Caleb.

- E-eu...Você é muito gentil, Lord...

 Theo, rindo largamente, calou a boca de Caleb colando seus lábios em um movimento gentil. O legado da medicina, surpreso, quase não fez movimentos, apenas sugou os lábios do deus lentamente. Seus olhos se fecharam, assim como os de Aristeu.

Os dedos quentes de Theo acariciaram o rosto de Caleb, que custou a separar o beijo – que era doce, viciante e quente como mel recém-extraído. Os dois pararam, o legado fitou o rosto salpicado de sardas do deus e corou fortemente, sua pele negra ganhando um tom rosado logo em seguida.

- Theo...V-você é muito gentil, Theo.

- E você é encantador, Caleb. Eu gostaria de dar algo a você. – o deus, ainda agachado, puxou um cartão cor-de-mel colorido. Caleb o pegou atentamente, pousando o cajado na mesa para observá-lo de perto com ambas mãos.

- O que é isso? Um cartão mágico?

 Theo deu risada e pegou o cartão delicadamente com seus dedos, virando-o para o garoto, que corou novamente. No verso do cartão havia uma série de números e um nome THEO CAIRNSMORE – APICULTOR, CRIADOR DO QUEIJO, DEUS NAS HORAS VAGAS.

- É...Meu número. – o deus das abelhas coçou sua cabeça, encabulado, ficando corado pela primeira vez. Caleb piscou e o encarou com um sorriso bobo cruzando o rosto. A voz suave do deus saiu com um sotaque escocês fofo que Caleb só havia reparado naquele instante.– Você pode ficar com ele. Me ligue quando achar que deve...Eu adoraria te ver de novo em breve, poderíamos marcar um encontro e...Ai, Santo Eu, sou péssimo em dar em cima de alguém.

- Hã...Theo. – Caleb engoliu em seco e encarou o deus, que fitou-o atentamente ao ser chamado por seu nome mortal. – E-eu...Não sei, eu...Ok, é, ok, te ligo.

 Caleb parou, surpreso com a própria resposta. Ele sequer parara para pensar no que havia acabado de falar, mas ficou feliz consigo mesmo por havê-lo dito sem tanta ponderação, ele planejara coisa demais em sua vida, marcar um encontro com um deus que subitamente tinha se sentido atraído por ele não lhe pareceu má ideia – só uma ideia doida, que ele passara a apreciar repentinamente.

O deus da apicultura mordeu o lábio inferior e ficou vermelho de pura felicidade. Ele deu uma risada e pousou a mão no rosto, envergonhado.

- Me sinto ridículo.

- Eu também. – admitiu Caleb, risonho. – Nenhum deus me cortejou assim e...Na verdade, ninguém nunca sequer o fez...

- Uma pena, porque você é incrível, e eu estou louco para te conhecer em...Melhores circunstâncias. – disse Aristeu, sorrindo, seu sotaque charmoso fez o interior do legado de Esculápio se embolar de felicidade.  

 Caleb corou e deu uma risada boba, para então, sair da cadeira e agachar-se, sentando na varanda ao lado do deus e se jogando contra ele no chão de madeira. Theo suspirou entrecortado, sentindo os lábios de Caleb pressionarem os seus carinhosamente e deixando o tempo passar como se ambos fossem imortais com todo o tempo do cosmos a seu dispor.

 

 

 

 O carro estava parado na entrada da fazenda. Gale e Felicia estavam sentados no jipe juntos, ambos calados. Eles acenaram uma última vez para Ru, Eddy e Pottie, que correram para seus afazeres e passaram por Caleb, que vinha calmamente pelo caminho ladrilhado e sendo acompanhado por Theo, segurando sua mão como um casal.

 O curandeiro parou na cancela aberta e lançou um último sorriso para o deus da apicultura. O garoto falou: - Até mais, e obrigado. – ele foi logo se virando para os amigos, que o encaravam atento, mas Theo segurou sua mão e o puxou de volta para seu corpo, beijando seus lábios terna e vagarosamente.

O interior de Caleb esquentou com o gesto, seus olhos se fecharam momentaneamente. A mão de Theo acariciou seu rosto naquele momento, que era tão terno que chegava a ser desconcertante. Caleb perdia o equilíbrio ao toque do deus.

Eles se olharam, parando o beijo.

- T-te vejo em breve, eu prometo sob o Rio Estige. – murmurou Aristeu, com os olhos determinados e trêmulos. Ele mordeu o lábio inferior e suspirou. – Faz éons que eu...Bem, foi bom te conhecer, Caleb Albeus Saint-Dominique.

 Caleb deu risada de pura timidez e disse: - Bom te conhecer também...Theo Cairnsmore.

 Os dois deram risadas em conjunto. Gale piscou, se sentindo inevitavelmente feliz pela cena que se desenrolava a sua frente e sentindo uma pontada esquisita em seu coração, como se tivesse a certeza que era a primeira vez que via algo parecido com amor em toda sua vida.

 Theo então encostou o rosto no de Caleb, que o beijou novamente. Felicia, já impaciente, buzinou três vezes seguidas, cortando o barato do amigo, que encarou o deus nos olhos e disse: - Eu te ligo.

 Caleb beijou Aristeu como se nunca mais fosse vê-lo novamente – o que, tendo em vista a natureza perigosa da missão e a natureza dos deuses, era bem possível. O vento pareceu se calar com o beijo com gosto de mel que Caleb provara, o deus era quente de um jeito convidativo e aconchegante.

 Mas a hora de ir embora chegara. Seus lábios sentiram o nada repentino e Caleb abriu os olhos, vendo os contornos de Theo Cairnsmore se desfazerem em uma nuvem de insetos que alçou voo para longe. O garoto parou por meio-segundo e encarou os amigos com um gosto estranho na boca. Ele a abriu, deixando uma última abelha escapar e voar para longe.

 Felicia e Gale não contiveram a risada e zombaram do garoto, que foi calado até o jipe, não parando de suspirar ou olhar para a fazenda. Mas tão pronto eles ligaram o carro, o local desapareceu.

- Ok, se agarrar com um deus menor bonitinho com certeza ganha de ter beijado o lobisomem gostoso. – comentou Felicia, tomando a direção e fazendo o jipe tomar rumo. Gale, no banco de trás, deu uma risada sincera. – Se bem que Caleb já beijou a mim, a você e agora esse Theo. Estamos perdendo, Gale.

 O filho das estrelas tocou o ombro do amigo, que estava parado e pensativo.

- Eu fico satisfeito com quem já beijei. Romance é a última de minhas preocupações. – ele deu tapinhas no ombro de Caleb, que respirou profundamente. – Mas parece que alguém aqui realmente gostou de fazer essa parada.

- Ah, calem a boca. – murmurou Caleb, o que arrancou uma risada alta da legado de Mercúrio e do filho de Eósforo.

A viagem prosseguiu, então, com ambos meio-sangues zoando a cara enrubescida de Caleb.

 

 Quando eles chegaram em Seattle, o Sol já passava do meio-dia. E, caramba, como aquela cidade era grande. Eles tinham passado por dezenas de cidades menores, pontes e rios dentro do condado de King só para ver a majestosa Seattle de perto.

 A Torre de Seattle, um edifício branco e alto cuja ponta parecia uma nave espacial, se erguia majestosamente à vista dos meio-sangues, que tinham parado de frente ao bendito Parque-Memorial de Martin Luther King Jr.

 Gale parou a frente do carro, o parque era bonito e cheio de árvores em canteiros verdejantes. No meio da praça havia um grande monumento – uma fonte com uma pilastra negra que se erguia ao meio. O chão coberto de grama e pedras de granito imitavam a paisagem sequenciada de um anfiteatro ondulado.

 O garoto abraçou os próprios braços de repente, vendo nuvens de chuva assomarem sobre a cidade. O vento frio o fez tremer, ele definitivamente precisava arranjar um casaco. Seus olhos brilhantes vagaram pelo parque, a frieza o deu calafrios e trouxe uma memória pouco desejada: A voz de Cassandra, ameaçando-o.

“O Grão-Lorde ainda tem planos para você.”

 De algum jeito esquisito, Gale sabia que o Grão-Lorde era o velho de seus delírios e visões. Aquela voz ressequida disfarçada de bondosa, implorando seu retorno e o ameaçando lhe fazia tremer dos pés à cabeça. Os olhos leitosos do homem o assombraram por meio segundo, o que fez Gale fechar os olhos e deixar um suspiro temeroso escapar de si.

 Caleb saiu do carro com Felicia, ambos se colocaram de cada lado do filho de Eósforo, que retornou de seus devaneios e fitou os companheiros de viagem armados até os dentes.

- Você vai levar a cobra? – perguntou Gale, apontando para o legado de Esculápio, que levava o cajado amarrado nas costas improvisadamente com uma corda que tinham comprado de uma lojinha de conveniências.

- Porque não? – Linda sibilou e abriu a coroa de espinhos, apenas para se enrolar e bocejar novamente. – Ela pode ser útil. Pode não ser eficaz para curar sua amnésia, mas com certeza dá para curar vocês mais rápido agora.

- Ótimo. Poderemos nos machucar mais, então. – bufou Felicia, estreitando o olhar para o parque e dizendo em seguida: - Não gosto de vir atrás de uma titã.

- Por causa de seu passado? – questionou Gale, erguendo as sobrancelhas para ela. A garota meneou a cabeça.

- Mais ou menos. Mnemósine nunca ficou do lado de Cronos em nenhuma guerra. – a garota remexeu no cinto enquanto falava, lá estava amarrado o chicote flamejante de Faia, nos bolsos ela levava seus denários mágicos e nas mãos trazia a sica roubada de Cassandra, reluzente e sinistra. – Ela não é burra e nem descuidada, mas ainda é uma titã, traiçoeira, só que desconhecida por muitos, mesmo sendo a mãe das Nove Musas. Por sorte, conheço um jeito de chamar a atenção de uma divindade desconhecida.

A garota se pôs a andar pela praça. Gale piscou e perguntou: - Como?

 Os passos de Felicia se apressaram, ela gesticulou com a lâmina despreocupadamente e disse: - Oferendas.

Caleb murmurou: - E lá vamos nós, de novo.

 

Os três meio-sangues pararam em frente ao monumento. Alguns mortais tiravam fotografias e posavam, despreocupados em uma tarde de inverno qualquer. Gale mirou uma família – curiosamente, todos negros. – tirando fotos ao monumento de um dos maiores líderes da luta contra o racismo nos Estados Unidos.

Aquilo o trouxe algumas perguntas: Como ele sabia quem Martin Luther King Jr. era? Porque a Esotérica tinha uma espécie de racismo contra semideuses e legados? Porque ele estava no centro disso tudo?

 A ansiedade de Gale quadruplicou ao sentir que estavam perto da deusa da memória, ao sentir que estava perto de abrir uma porta ao qual ele não podia voltar mais. Ele fitou Caleb e Felicia, ambos ao seu lado desde o início, e se perguntou o que aconteceria depois que ele passasse a lembrar de seu passado – ele se perguntou se o Gale do passado teria amigos tão fiéis assim.

 - O que pretende fazer? – Gale perguntou, olhando para a loira agachada diante da fonte. Ela estava dispondo os objetos na margem de granito escuro: A sica de Cassandra, o chicote de Faia, alguns denários e um prato com pretzels que tinham comprado ao descer até o centro da praça.

- Já disse, tem que ser gentil com alguém importante. Os deuses romanos são esnobes demais para atender preces sem uma oferenda, uma titã antiga com poderes de guardar memória de toda a Criação deve querer, no mínimo, ser mimada. – explicou Felicia, limpando as mãos e suspirando, erguendo o olhar para Caleb, que estava vasculhando a praça com seu olhar. – Acha que será o suficiente?

- Não sei, você encontrou divindades mais vezes que todos nós. – murmurou o curandeiro. – Tudo o que sei sobre Mnemósine é que ela foi a mãe das Musas, nunca foi do tipo lutadora. Acho que ela sempre foi esperta o suficiente para se manter longe das guerras dos deuses.

- Eu queria ser esperta assim. – bufou Felicia, cruzando os braços e encarando as oferendas paradas. – Bem, está feito.

- Não deveríamos invoca-la? – perguntou Gale, estreitando os olhos. – Assim, alguma música em grego? Um poema?

Felicia bufou em desdém e disse: - Não olhem para mim, meu Grego Antigo só serve para palavrões criativos, nada que eu diria para uma deusa. Caleb?

- Porque eu? – perguntou ele.

- Hã, você fala grego bem e é legado de um deus da música, poderia cantar algum hino para ela, não é?

- Felicia, você quer mesmo que eu cante?!

Ela parou e meneou com a cabeça, como se subitamente tivesse flashbacks de guerras passadas. A garota negou com a cabeça e disse logo em seguida: - Quer saber, deixa pra lá.

 Ela empurrou as oferendas na fonte, derrubando tudo indiscriminadamente dentro da água. Os mortais encararam a cena confusos e se afastaram. A legado de Mercúrio se virou para os amigos, agora de pé e de braços cruzados. Gale e Caleb se encararam, preocupados.

- Mnemósine, tá aí. Você sabe porque viemos, apareça. – invocou ela, bem ao estilo Greyback. – A não ser que não esteja interessada neste aí.

A garota apontou para Gale Lockheed, que se remexeu, desconfortável. O menino das estrelas ficou encarando Felicia bater o pé no chão diversas vezes, em seu próprio tique nervoso. Caleb deixou um suspiro escapar.

O momento de silêncio se prolongou, Felicia deu meia-volta e andou para longe da fonte, até uma voz surgir atrás dela, dizendo: - Naturalmente, estou interessada. – a loira voltou-se para a deusa, que estava de pé na fonte.

 Diferente de todos os deuses já encontrados, Mnemósine demonstrava que não estava nem um pouco afim de modernizar o visual: Ela estava de pé, mais de três metros de altura, o belo cabelo marrom estava amarrado em um coque alto decorado por uma coroa prateada. O rosto era cheio de vida, pardo como o Mediterrâneo e com olhos azuis grandes, observadores e marcantes. Seu corpo torneado e musculoso de titã estava coberto por um vestido grego sem mangas com detalhes dourados, ela usava pérolas como brincos e um colar de ouro reluzente.

Seus lábios se entortaram de um jeito assustador, ela cruzou os braços sobre o peito e disse: - Sua oferenda foi aceita, seu chamado foi ouvido. Vocês estão diante da Senhora das Memórias, a Mãe das Musas, A Que Não Esquece, a Preservadora da Criação e a Escrivã do Cosmos. – os contornos dela cintilaram de poder, a deusa ergueu as mãos majestosamente, sua voz ressoava com um timbre sobrenatural sinistro que fazia o vento, a água e as folhas se agitarem.

 Ela caminhou para fora da fonte e os encarou mais de perto, altiva. Gale, Felicia e Caleb engoliram em seco, vendo a titã assomar diante deles como se estivesse prestes a crescer ainda mais e esmaga-los com o pé.

 Mas então, algo inesperado ocorreu: Mnemósine caiu na gargalhada.

- Mas o que...?! – Caleb perguntou-se, tão confuso quanto os demais.

A forma dela brilhou enquanto ela ria, a titã então se transformou em algo bem menor, ainda com o mesmo rosto e penteado, mas agora, usando um terninho cinza com uma gravata dourada e óculos redondos de armação cinza. Ela continuou a dar risada e deu alguns passos a frente, sentando-se nos bancos de pedra em formato de anfiteatro e rindo de um jeito quase humano para os três meio-sangues que a encaravam, completamente perdidos.

- Ai, deuses, perdoem-me, eu tinha que fazer algo assim. Eu sei que banquei muito a Daenerys Targaryen de Game of Thrones, mas eu tinha que fazê-lo. – ela riu e passou uma perna por cima da outra, pousando as mãos sobre o joelho e dando de ombros, dizendo em seguida: - Olá meninos, obrigada pela oferenda. Agora, sentem-se, acredito que queiram conversar sobre os recentes ocorridos.

 Ela tirou um pacote de pretzels do nada - o mesmo que Felicia tinha oferecido à fonte - e começou a comer despreocupadamente no banco. De terno e com aquela atitude, a deusa parecia mais uma executiva em horário de almoço do que uma titã.

Gale sentou-se ao lado direito dela, tentando conter seu nervosismo. Caleb e Felicia sentaram-se a sua esquerda, encarando-a fixamente.

- Lady Mnemósine...Hã...Eu sou Gale Lockheed, e-eu...

- Ah, você é bem mais fofo do que eu me lembrava, Lockheed. – comentou ela, suspirando. – Eu sei, vocês passaram a falar meu nome bastante desde que Júpiter o reclamou para Roma, não foi, Estrela da Manhã? Venho acompanhando vocês.

Gale assentiu de imediato, Felicia encarou-a de soslaio, não gostando da maneira que ela se dirigia ao filho de Eósforo com uma curiosidade apaixonada pouco natural.

- Sabe, eu conheço seu pai. Sempre ocupado nos céus. Você me lembra ele, tem os mesmos olhos de Eósforo-Héspero, menino.

- Se me permite, Lady Mnemósine. – interrompeu Felicia, já mais nervosa que o filho do deus-estrela. – Nós gostaríamos que restaurasse a memória de Gale ou ao menos falasse quem ele era. Tudo o que temos passado tem a ver com esse garoto! Os esotéricos parecem conhece-lo bem, mas não são exatamente os melhores para dialogarem. Nós não temos muito tempo.

- Ah, é claro que não têm. A contagem dos dias não para, não é? Faltam quantos, três dias até o Solstício?

Gale, Felicia e Caleb se encararam, confusos.

- Como assim? A gente ainda tinha quase uma semana até o prazo! – exclamou o legado de Esculápio, até que um brilho de compreensão passou por sua face. – A fazenda...

- Era mágica. O tempo flui diferente na casa dos deuses, Bona Dea nunca foi muito paciente, sempre gostou de acelerar o tempo ao redor de suas plantações. – explicou Mnemósine, fitando-os cautelosamente com seus olhos límpidos. Gale ficou pálido de repente, Felicia soltou um palavrão em latim. – Então, é, serei rápida no gatilho.

Ela encarou Gale, que se retesou de nervosismo. A deusa apontou o dedo para ele, Felicia e Caleb se inclinaram para longe, preparando-se para se jogar ao chão caso a titã disparasse algum raio da memória que explodisse os arredores ou algo do tipo.

Mas então, ela resignou-se e gesticulou, impotente: - Não consigo. Eu queria conseguir, mas sem meu Porta-Memórias...Tudo tem estado muito difícil!

 Gale piscou e fitou a deusa, incrédulo.

- C-como assim não consegue?!

- E lá vamos nós. – a voz semimorta de Felicia soou pesarosa, sentindo o que vinha a seguir: Mais trabalho.

A titã deu de ombros e abriu os braços, o pacote de pretzels vazios em seu colo só tornava a cena mais deprimente ainda.

- O Rei-Anual roubou de mim, creio que Aristeu e as meninas devam ter te mostrado o que ele vem fazendo para neutralizar os imortais nas proximidades, certo?

Caleb apertou seu cajado, Linda sibilou de um jeito nem um pouco animador.

- É, sabemos. O que houve, ele mandou basiliscos para você também?

- Não, pior...Ele...- ela pareceu envergonhada demais para falar. Gale a encarava, frustrado, os punhos cerrados soltando faíscas vez ou outra, como se ameaçasse pegar fogo do nada de pura raiva.

Felicia estreitou o olhar para a cara nervosa da deusa e adivinhou: - Esse tal de Porta-Memória é seu símbolo de poder, não é?

- Não é meu símbolo, é meu instrumento de trabalho! – retrucou a deusa, ofendida.

- Instrumento de trabalho?! – questionou Gale, seus olhos faiscaram com labaredas vivas dignas de uma nebulosa espacial. Uma linha de chamas coloridas irradiou seus punhos. Caleb pousou a mão nas costas do garoto e deu tapinhas, mas Gale não pareceu nem um pouco mais calmo dessa vez.

- S-sim, meu celular. É onde mantenho as memórias de tudo. – a deusa deu um sorriso amarelo.

Felicia cerrou os dentes e fitou a deusa com seus olhos escuros: - Você mantém o registro da criação inteira...Em um celular.

- Di Immortales. – murmurou Caleb, já perdendo sua paciência com Mnemósine. – Você ao menos sabe onde está?

- Sim, eu sei. – murmurou a titã, pousando as mãos sobre o joelho e dizendo: - Mas não vai ser fácil de recuperar, vocês terão que enfrentar Cércion de um jeito ou de outro.

- Porque não estou surpresa? – perguntou a legado de Mercúrio, quase retórica.

Gale deixou um suspiro escapar, já sério e contendo sua raiva. A mão de Caleb o segurou firmemente no ombro, em um gesto singelo de apoio que o ajudou a se centrar. O menino-estrela encarou Mnemósine nos olhos e perguntou: - Pode ao menos me dizer o que são esses surtos que eu tenho?

- Sim, eu posso. São obra do Grão-Lorde Vitreus. – a face dela endureceu, a mera menção do nome a fazia irritada, pelo visto. – Ele é o Primus-Pater da Esotérica e não é alguém que você quer como um inimigo. Ele tem tentando entrar na sua mente com a feitiçaria antiga, tal qual ele faz com seus esotéricos, mas aposto que ele não contava com uma mente em um estado tão...Peculiar.

O nome pareceu fazer o vento parar naquela tarde de inverno. Gale abraçou os próprios braços, ouvindo a voz de seus amigos como ruído de fundo e enxergando parte da praça como paredes de pedra maciça, mais a frente, havia um trono também de pedra, tudo numa cor de acobreada e avermelhada. Sentado no trono estava o velho coberto de uma túnica longa, escarlate com detalhes dourados.

O homem parecia ter mais de cem anos de tão velho que estava. Ele apoiava o rosto cansado e enrugado no punho fechado. O homem, então, abriu os olhos leitosos, em um cinza quase branco como os dos outros esotéricos com quem Gale se deparara.

 Os lábios ressequidos do velho se abriram, sua voz soou pela paisagem e misturou ainda mais o cenário da praça-memorial e a sala do trono do velho cujo nome evocara o devaneio.

Grão-Lorde Vitreus falou, sério: “Te achei”

A sala do trono se encheu de sentinelas esotéricos – Os hemógenos, Gale se recordava de seus nomes, se ajoelharam em respeito ao grão-lorde. A visão então cessou.

 

Gale piscou, de volta ao mundo real e fitando suas mãos, agora trêmulas.

 Ele ergueu o olhar para Mnemósine e seus amigos, percebendo que tinha ficado fora do ar de novo. O garoto engoliu em seco e falou em um tom mórbido: - Ele sabe onde estamos. Não vai demorar muito até a Esotérica vir atrás de nós.

- Maravilhoso. – ralhou Felicia, já de pé ao lado do menino-estrela. Ela mirou a deusa das memórias com os olhos e disse, séria: - Nos dê as direções, nós tomamos conta do resto. Em troca, você nos ajudará com a memória desse aí. Feito?

Mnemósine deu de ombros e falou: - Feito.

- Jure. – insistiu Caleb, lançando um olhar esperto para Felicia, que conteve uma risada ao perceber que ele fazia isso só porque ela não confiava totalmente na deusa. – Pelo rio.

- Juro pelo rio Estige que farei tudo o que devo. – disse a deusa, assentindo sem hesitar. – Gale Lockheed, Felicia Greyback e Caleb Saint-Dominique, se pretendem desafiar Cércion, vocês só precisam ir em um lugar específico, ele o adora. Vocês vão reconhece-lo, é meio...difícil não notar o homem. Mas ainda assim, precisam estar no local certo e na hora certa.

- Que seria? – perguntou Gale, cerrando os punhos em pura ansiedade e respirando fundo.

Os olhos de Mnemósine ganharam um brilho nervoso, a deusa então disse: - O Obelisco Espacial. – ela falou. – Cércion toda a Seattle de dentro da torre. É o troféu pessoal dele, sempre come no restaurante que existe lá dentro. E eu devo dizer, ele tem bom gosto, escolher um ponto com tanta história acumulada, me sinto até desafiada. Ah, Seattle é uma joia histórica...

- Mas, não é super difícil conseguir uma reserva lá? – perguntou Felicia, estreitando os olhos.

Mnemósine deu de ombros e encarou os três heróis: - Não para uma das titãs mais antigas. Boa sorte, heróis, vejo vocês em breve.

 Os três se encaram, confusos com a despedida súbita. Mas então, Mnemósine estalou os dedos e o mundo virou de ponta-cabeça, a realidade se dissolveu e levou Gale, Felicia e Caleb junto.


Notas Finais


*==TRILHA SONORA==*
- Aristeu agradece a Caleb - https://www.youtube.com/watch?v=KaJqLCMUt7s
- Mnemósine e os Peregrinos - https://www.youtube.com/watch?v=nfBsvDLkB-k
- Vitreus - https://www.youtube.com/watch?v=pI7Jc-fSQQ8

Valeu pela leitura, pessoal! Até a próxima!
Quem não leu a saga anterior, aqui vai a lista:
* == SAGA "A Outra História" == *
* Os Heróis do Olimpo - A Outra História - http://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-os-herois-do-olimpo-os-herois-do-olimpo--a-outra-historia-1438939*
* Os Heróis do Olimpo - AOH II - O Crepúsculo do Olimpo - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-os-herois-do-olimpo-os-herois-do-olimpo--aoh-ii--o-crepusculo-do-olimpo-2261241*
* Os Heróis do Olimpo - AOH III - A Ruína da Névoa - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-os-herois-do-olimpo-os-herois-do-olimpo--aoh-iii--a-ruina-da-nevoa-3296148
* Os Heróis do Olimpo - AOH IV - A Fúria Celestial - https://spiritfanfics.com/historia/os-herois-do-olimpo--aoh-iv--a-furia-celestial-5469436


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