1. Spirit Fanfics >
  2. As (Des)vantagens de Ser Visível >
  3. Unico

História As (Des)vantagens de Ser Visível - Unico


Escrita por: jiwont

Notas do Autor


Eu passei dois meses tentando terminar essa os, me recusando a dividir ela em 2shot, 3shot ou shortfic e ela nem saiu do jeito que eu planejei.
Aviso: vai rolar muito clichê, mimi, frases feitas, e coisinha de mangá porque a fic foi tipo uma realização de uma vontade de escrever uma história com um universo bem manga, anime e etc. Queria dedicar a Kuma bb tbm essa fic.
Enfim, desculpem qualquer erro, são mais de 17k, eu reli duas vezes mas pode ter passado algo.
Bom, boa leitura, espero que gostem do clichezinho com lemon dee brinde.

Capítulo 1 - Unico


Quando eu consegui concluir o segundo ano do ensino médio sendo assim o apagadão que ninguém da a mínima mas continua vivendo sua vidinha na calada sendo uma pessoa normal, eu estava comemorando, cantando vitória porque consegui chegar ao terceiro ano intacto, não me envolvi com gangue, não virei um daqueles trombadinhas que matam aula para ir para a praça dos milagres que era a única da cidadezinha e enchia de desocupados que não queriam estudar, não entrei para uma banda rústica de garagem como a de Chanyeol e seus amigos, não comecei a andar com os super inteligentes e virei motivo de piadas, não entrei pra roda de amigos do Namjoon que se escondia no banheiro para foder com os pulmões no intervalo, enfim, eu consegui sobreviver sendo apenas o cara que senta sozinho e fala com as pessoas quando é necessário, incrivelmente sem terminar meu dia correndo de alguém, ou sendo feito de chacota simplesmente por ser eu. Sobrevivi ao ensino médio sendo tão apagado que nem os professores lembravam bem do meu rosto, sequer do meu nome, eu era tão apagado que Yixing, um chinês que estuda comigo desde o primeiro ano, no primeiro dia do segundo ano perguntou se eu era novo na escola, e no final do mesmo ano me perguntou de onde eu era e quando eu havia me matriculado. Eu gostava de ser invisível, gostava demais, era bom, era como se o colegial fosse uma selva e eu aqueles animais que vivem se escondendo, passando despercebido pelos predadores, como um camaleão.

Embora eu sempre gostasse de ser um zé ninguém, zero a esquerda invisível, às vezes eu queria incansavelmente ser notado; mas não por todo mundo, não por qualquer um, nem mesmo pelo Yixing que sempre achava que eu era aluno novo, muito menos pelos meus professores que esqueciam meu rosto e nome, mas sim por Park Jimin, o presidente do grêmio estudantil. Park Jimin nunca me notou, exceto na vez em que ele sem querer esbarrou em mim e muito educado pediu desculpas enquanto delicadamente tocava o ombro que esbarrou, foi a primeira e única vez que ele me tocou. Jimin era tão gentil, acho que eu me apaixonei no primeiro dia que coloquei os pés no solo arenoso dessa selva chamada escola. Ele estava ajudando Kyungsoo, que na época não era namorado do Chanyeol e não fazia parte da banda de garagem dele e agia como um idiota. Kyungsoo tinha passado por uma cirurgia ocular recente e nos primeiros dias de aula não enxergava, Jimin, muito gentil o guiou até a sua turma, que por acaso era a minha também. Eu vi tanta beleza naquele ato do baixinho, eu vi tanta bondade e doçura que no meio daquela selva assustadora ele brilhava. Eu não fiz mais do que ficar enamorado por tudo nele, assim buscando saber qualquer coisinha sobre sua vida. No decorrer dos anos descobrir cada detalhe seu foi o meu dever de casa, o meu trabalho avaliativo semestral. Eu me perdi de tão apaixonado que estava, e as vezes queria deixar de ser invisível, só para ter sua pele na minha novamente, só para ouvir sua voz de pertinho, e conseguir quem sabe um sorriso direcionado só pra mim.

Eu até tentei, juro que foram dois anos de falhas tentativas de ser notado, já deixei bilhetes em seu armário - mas ele estava tão habituado a recebê-los de garotas que os ignorou. Comecei a sentar em uma mesa no refeitório em frente a sua só para que ele cruzasse os olhos com os meus, mas ele focava em tudo menos em mim. Já entrei na sua chapa eleitoral para ajudá-lo com os votos do grêmio estudantil do primeiro ano e ele em nenhum momento dirigiu a palavra a mim porque seu vice cuidava de tudo. E muitos outros desastres que sempre deram errado e ele de fato nunca se importava com a minha presença ou me notava. Com Jimin era meu pior pesadelo ser só o cara invisível que ninguém dava a mínima.

Mas embora esse detalhe me chateasse e tivesse tornado meu amor platônico de uma forma que nunca seria correspondida ou levado ao conhecimento do remetente, a minha vida era legal, eu estava muito bem, e eu me acostumei com esse fato. Eu aceitei que Jimin nunca me notaria e aceitei que não tinha chances. Eu estava feliz por ser o último ano, tudo que passava pela minha cabeça era que eu ficaria no meu cantinho como sempre, que meus últimos meses seriam legais, que eu viveria para contar como foi passar por todo aquele alvoroço juvenil animalesco, onde os adolescentes eram selvagens, que eu continuaria são e salvo sentando no cantinho sozinho e passando o intervalo na biblioteca ou almoçando na mesa em frente a de park Jimin, e falando em Park Jimin eu achei que continuaria sendo como anteriormente, achei que amaria em segredo e não-mutuamente pelo resto dos meus dias letivos na High School HyunRi.

Mas no segundo mês de aula, o desastre intitulado Kim Taehyung entrou na minha vida.

Kim Taehyung todo ano mudava ao menos duas vezes de turma, um garoto problema; deixava a turma um alvoroço, arranjava confusão, respondia os professores, matava aula, sempre estava na sala do diretor por mau comportamento e adorava arranjar encrenca com Namjoon por causa do banheiro que usavam para fumar no intervalo. Todo mundo o conhecia, ele era tão visível, com uma popularidade péssima mas ainda assim conhecido por todos e respeitado por muitos daqueles selvagens. Ele não era ruim, de fato, só era babaca, eu não tinha nada contra ele, de verdade, nunca precisei ao menos formar concretamente uma opinião sobre ele e suas ações quando ele era apenas um sujeito problemático que mudava muito de turma e ninguém suportava sua petulância. Mas as coisas mudaram quando ele entrou na nossa turma e quando seus olhos se encontraram com os meus e ele me notou.

A pessoa que eu nunca imaginei que me notaria era ele, e desde então o babaca tornou minha vida um inferno e eu venho tentando escalar as paredes da saída desse inferno de forma desesperada desde então.

 

Pior do que sofrer agressão e ser motivo de piada em público foi Kim Taehyung se esgueirando para minha vida, foi ele tomando espaço, se aproximando e sentando na fileira ao meu lado.

 

Ainda me lembro do dia em que ele desfez em segundos toda a minha camuflagem que construí em anos. Eu estava sentado no refeitório, bebericando um suco de uva enquanto respondia algumas questões do trabalho de física para a semana seguinte quando ouvi um rangido estridente de uma cadeira sendo arrastada no chão, e vi botas pretas e sujas de terra em cima da mesa logo em seguida, senti o perfume amadeirado que deixava a sala de aula com aquele cheiro toda vez que ele chegava minutos após o horário. Eu engoli em seco, não queria erguer a cabeça, muito menos levar os olhos até o rosto dele, mas quando seus braços passaram pelo meu ombro foi inevitável não olhá-lo. Fiquei atemorizado.  

 

Taehyung era muito insistente, a única pessoa que desde o primeiro dia se esforçava para falar algo comigo na sala de aula, mesmo sendo alguma merda desnecessária ou algum comentário maldoso e idiota sobre alguém, mas ele falava, ele parecia ter vontade de falar comigo. No entanto, sentar comigo no meio do refeitório foi como trazer todos os olhos para nós dois, inclusive, os olhos de Jimin que estavam logo a frente.

 

Jimin nunca me olhava. Mas naquele dia...

 

“O que você está fazendo?” Bruscamente tirei seu braço de cima do meu ombro, enquanto o encarava irritado.

 

Os lábios se ergueram em um sorriso ardiloso, sujo, ele bagunçou meu cabelo, enfiando aquela maldita mão enorme entre os meus fios, e então respondeu:

 

“Eu sento aqui agora”

 

Petulante. Esse era o babaca do Taehyung, completamente petulante e se achava dono do mundo.

 

“Não te convidei para sentar, Kim.” Afastei sua mão de mim. Nos conhecíamos há duas semanas e ele achava que podia ficar me tocando daquele jeito.

 

“A mesa não é sua Hoseok” Ele agora bagunçou os próprios cabelos alourados e escorridos, exalando uma  prepotência abundante.

 

“Engole, então. Eu sento em outro lugar.” Rosnei meio infantil, enquanto recolhia meu caderno e o livro de física, apoiando-os no braço direito.

 

O pior de tudo era saber que os olhos de Jimin estavam sobre mim, todos deviam estar aos cochichos interessados em saber que diabos estava acontecendo.

 

“Engole você, eu não faço questão, também.” Ele tirou os pés de cima da mesa, quando ameacei sair.

 

Respirei fundo. Não pensei duas vezes antes de rolar os olhos e pegar minha caixinha de suco, para dar-lhe as costas.

 

Eu nunca fui de ser arrogante, muito menos impaciente. Mas Kim despertava o pior em mim, principalmente quando de invisível me fez passar para o carinha zero a esquerda que é amigo do trombadinha petulante.

 

E nem somos amigos!

 

Ele me insulta, me chateia, tira uma com tudo que eu gosto, não leva o que eu falo sério, vive de piadinhas infames, adora me contrariar e principalmente: seu maior prazer desde que descobriu meu amor platônico por Jimin é me caçoar por isso. Ele adorava ver minha desgraça, parecia me odiar, mas por algum motivo bizarro e sem explicação ele nunca saia do meu pé.

 

Na selva entre os selvagens indômitos e desregrados, eu sou aquela gazela pronta para ser devorada e o Taehyung é o meu parasita que me mata aos poucos, diga-se de passagem o carrapato.

 

No meu último ano eu consegui sentir o gostinho de ser notado, as pessoas olhavam para mim, as pessoas sabiam meu nome. E aquilo estava me enlouquecendo. Nunca me acostumei ser convidado para festas, e desde que Taehyung passou a me seguir como um maldito parasita, toda sexta-feira havia um bilhete no meu armário como aviso de alguma festa ou social de gente que eu nunca pensei que ao menos saberia da minha existência.

 

De fato o maldito era popular, porque embora ele fosse uma praga, trombadinha e encrenqueiro, ele era bonito pra caramba e todo mundo sabia disso. Até os professores sabiam, até eu que o odiava admitia sua beleza. E naquela escola você podia ser o cara mais babaca do mundo (porque haviam muitos babacas) mas se tinha um rostinho bonito e diferente ninguém ligava para a podridão que saia de sua boca, ou, no caso de Taehyung ele podia esnobar qualquer um e ser um cretino que ainda assim seria respeitado e popular. Ele era bonito pra caralho, ninguém se importava se ele era escroto.

 

Uma vez minha mãe disse que o ser humano se acostuma até com podridão de um porco se passa muito tempo nela. E foi o que aconteceu comigo no decorrer dos meses com aquele cara me seguindo pra tudo quanto é canto. Eu me acostumei, às vezes eu o ignorava, as vezes eu me assustava porque começava a rir de suas piadas infames. As vezes eu não ligava quando ele aparecia na minha casa, eu me acostumei com Kim Taehyung, me habituei a sua petulância, e me tornei tão arrogante e impaciente que as vezes me desconhecia perto dele.

 

[...]

 

Um dia desses meu professor de filosofia me fez esperar após a aula, Taehyung chiclete irritante quis ficar para saber o que ele queria, mas estranhei quando o professor pediu que ele saísse pois precisava que a conversa fosse a sós. Achei que ele diria que eu estava com o ano perdido em sua matéria ou de recuperação, mas foi a coisa mais bizarra do mundo quando a conversa se iniciou.

 

“Você sabia que as notas do seu amigo tem aumentado?” Ele sorria, e eu o olhava sem entender absolutamente nada.

 

“Que amigo?”

 

“O Taehyung, Hoseok, ele está indo bem em todas as matérias e com o comportamento moderadamente bom.”

 

“Ah…” Eu não sabia o que dizer, apenas me perguntava porque ele estava dizendo para mim e não para o próprio que esperava lá fora.

 

“Em nome de todos os professores eu quero te agradecer por ter conseguido colocar um pouco de juízo naquela cabeça. Achamos que ele reprovaria esse ano, ou que teríamos de expulsá-lo”

 

“Eu não fiz nada, professor” Sussurrei, estava sem jeito demais.

 

“Apenas continue assim, talvez você ganhe pontos extras por isso”


 

Pontos extras por aturar Kim Taehyung, eu deveria ganhar mesmo, na verdade eu deveria ser pago por passar por tudo isso. Mas, embora aquela conversa tenha sido estranhamente bizarra eu adorei saber que ganharia pontos extras, porque eu definitivamente não era um cara super inteligente, eu estava na média, e tinha que fazer um esforcinho para não chegar ao vermelho.

 

[...]

 

Depois de muitos convites acumulados no meu armário, eu decidi que iria em uma festa daquelas. Vesti uma camiseta larga, branca com listras, uma calça jeans escura bem justa e um tênis que encontrei pelo quarto. Eu estava morrendo de vergonha do tom flamejante do meu cabelo - causados por uma irmã mais velha que adora me usar como cobaia desde que começou um curso de cabeleireira -, mas mesmo assim decidi que iria.

 

A ideia de ir naquela festa sozinho foi péssima, mas quando cheguei e fui completamente ignorado eu me senti tão bem. Aquele loiro não estava comigo então ninguém ligava para mim, ninguém se importava com o zero a esquerda e eu adorei poder sentar naquele sofá sozinho e beber aquela vodca mesclada a um refrigerante enquanto ninguém direcionava o olhar para mim.

 

No decorrer da festa eu intercalei entre ficar no sofá bebendo e andando pela casa em busca de Park Jimin. Eu estava tonto e queria muito vê-lo, a cada gole que eu dava queria mais ainda dizer a ele tudo que eu sentia ou só dizer o quanto o achava bonito e legal.

 

Eu não sabia se Jimin gostava de garotos, e corria muito o risco de levar um fora e ser chamado de pervertido nojento, sem contar que se ele espalhasse isso por aí eu experimentaria o gostinho de ser notado ainda mais por todos por algo que me traria uma surra todos os dias na escola. O que era ainda pior que ser notado por ser o zero esquerda amiguinho de Kim Taehyung.

 

Minha visão estava embaçada quando encontrei Jimin, mas eu conseguia vê-lo ainda brilhando como sempre, com os cabelos pretos sempre bem penteados, uma camisa de botões branca e uma calça que apertava muito suas delineadas coxas. Ele estava sozinho na cozinha, mexia em seu celular enquanto segurava um copo avermelhado. Eu estava tão corajoso que ao chegar nele eu deixei de ser invisível para a única pessoa que eu queria.  

 

“Oi… Você quer alguma coisa?”

 

“Eu só… Queria te dizer que você é lindo, Jimin. E-eu eu não sei como te dizer isso mas, eu gosto muito de você, tanto que acho que fico até enjoado e tenho vontade de vomitar, desde a primeira vez que te vi eu tenho vontade de ser notado por você, mas é tão difícil”

 

Definitivamente não era o que eu havia planejado, não mesmo, na minha cabeça eu recitaria até mesmo um poema só frisando a beleza e magnitude do seu sorriso, em seguida cantaria uma música, e depois me declararia como um verdadeiro cavalheiro e babaca apaixonado. Mas lá estava eu, falando embolado, dizendo que ele me deixa enjoado, e querendo vomitar nas suas botas.

 

“Cara, você está tão bêbado!”

 

E foi a única coisa que ele disse com um olhar indiferente, em seguida ele me deixou lá, parado, com ânsia de vômito e um coração despedaçado, desfragmentado, quebrado.

 

Eu queria tanto chorar, que ao menos notei que já chorava, mas ainda não era suficiente, eu queria gritar, queria me dar um tapa por ter sido um imbecil, queria me esconder embaixo do meu cobertor e de lá nunca mais sair.

 

Contudo a noite não tinha terminado e era daquela situação a muito pior.

 

Eu ouvi palmas, e um riso escandaloso, um riso que eu conhecia bem. Me virei sabendo quem era, mas minha visão estava ainda pior por conta das lágrimas.

 

“Isso foi patético. Você ensaiou pra ser ruim assim ou foi só a bebida Hoseok?”

 

“Porque você não me erra Taehyung? Porra!” Gritei, sem notar que o fazia.

 

Aquela noite foi tão estranha, eu me lembro de chorar, eu me lembro de sentir braços em volta de mim, e me lembro de ser acolhido em um abraço, me lembro de deitar em algum lugar e chorar contra o peito de alguém até pegar no sono, e assim acordar no dia seguinte no banco de trás do carro de Taehyung, às seis da manhã de um domingo, com ele me apertando contra si.

 

Minha cabeça doía pra caramba, aquele cheiro amadeirado era tão forte naquele momento que por algum motivo me deixou enjoado. Eu demorei para perceber que estava deitado contra o peito dele. No momento fiquei tão irritado que mal tive tempo de me constranger com os fatos anteriores.

 

Foi automático o meu ato de acordar o xingando e o empurrando.

 

“Porra, Hoseok!” Ele resmungou ainda de olhos fechados, e eu já me sentava longe de seus braços.

 

“O que eu to fazendo aqui, Taehyung?”

 

“Me deixa dormir, por favor, eu passei a noite cuidando de um bebê chorão” Jogou o braço que antes me segurava contra o próprio rosto.

 

Eu me encolhi, engolindo em seco. Não queria acreditar nas lembranças vagas, não queria que fosse ele a me acolher, muito menos a cuidar de mim, e me ver chorando. Podia ser todo mundo, menos aquele idiota.

 

“Alguém pediu que você fizesse alguma coisa? Aliás, por que você fez? Pra zombar da minha cara depois?” Belisquei seu braço e ouvi sua risadinha suja.

 

“É claro, eu não perderia uma oportunidade como essa depois de ver de camarote o presidente ignorando totalmente sua declaração fajuta”

 

Eu me encolhi, suspirei sentindo um sentimento de derrota cair sobre meus ombros, não havia mais como fugir, e o cara por quem passei anos nutrindo um amor platônico e totalmente secreto agora sabia de tudo e podia me achar uma grande piada.

 

[...]

 

Eu sempre odiei ter uma sombra, um parasita me perseguindo para todo lado que eu fosse na escola, mas eu me tranquilizava quando ele se despedia de mim em frente a escola e pegava seu caminho oposto para casa, no entanto havia algumas semanas que ele começava a ser extremo demais.

 

A início eu perguntei porque ele estava indo comigo para casa se ele morava do lado oposto da cidade, e ele simplesmente disse que queria me levar porque não tinha nada para fazer em casa depois da aula. Mas algo me deixava chateado e com a pulga atrás da orelha achando que tinha um lance bem maior do que apenas me levar em casa pra evitar o tédio da tarde. Não fazia sentido nenhum, eu não conseguia compreender onde ele queria chegar com toda aquela insistência em me perseguir, por mais que nossa relação tivesse avançado e nos tratássemos como colegas-quase-amigos. Era estranho, era chato pra caralho, ele parecia um guarda-costas maldito. Sem contar que me irritava e constrangia o fato de que ele se colava em mim no metrô, já que a linha ia sempre muito cheia aquele horário.

 

E naquela sexta estava acontecendo a mesma coisa, mesma situação constrangedora, onde eu me encostava na parede do trem e ele estava tão perto que eu podia sentir sua respiração pesada contra minha bochecha, seu joelho quase tocando minha virilha, e aquele maldito braço se apoiando na parede atrás de mim, como se me prendesse.

 

“Por que você sempre evita olhar para mim quando estamos aqui? Eu estou na sua frente e você olha pra todo lugar menos pro meu rosto… Por acaso tem vergonha?” Ele tinha um tom zombador, enquanto ria baixinho. Mas ele tinha razão e inclusive naquele momento eu focava a atenção em uma senhora idosa sentada, eu desejava ser ela, só para que alguém cedesse um lugar para mim e não ter que estar nessa situação com o loiro.

 

“Você quer que eu fique te encarando?” Perguntei, agora o olhando nos olhos. Ele sorriu zombador, e tocou-me a bochecha numa carícia nada habitual, confesso que fora um ato tão estranho para nós dois que engoli em seco e tinha certeza que minhas maçãs estavam num vermelho escarlate abominável, porque seus olhos se arregalaram em surpresa e ele sorriu ainda mais. Bufei e sacudi a cabeça afastando sua mão.

 

“Você está corando, que bonito. Sabia que tinha vergonha” Gargalhou.

 

“Você espera que eu faça o que quando age desse jeito tão impróprio e inesperado, seu idiota?”

 

“Se você me odeia tanto e me repudia como diz, não devia se envergonhar comigo.” Ele não tirava aquele maldito sorrisinho dos lábios promíscuos e burladores, eu quis arrancá-lo dali com um soco mas fiquei sem saber o que fazer quando ele se aproximou mais, colando seu corpo a mim, encaixando seu joelho direito entre minhas pernas, não sei onde foi parar minha respiração, ou até mesmo minha capacidade de revidar aquela aproximação com um empurrão. “Veja só como está todo vermelhinho, tão frágil” O maldito zombou ainda mais.

 

“Se afasta de mim, ou eu vou…”

 

“Você não vai nada” Ele me interrompeu, rolando os olhos em seguida, tão petulante e prepotente, mas me aliviei quando ele se afastou. “Eu vi um cara passando a mão em você esses dias e você deixou, porque tem medo, você trava quando te tocam. E eu não quero que isso aconteça de novo, se acontecer eu acho que posso ser preso por agressão” De repente ele não ria mais, e não tinha aquele sorriso babaca e irritante a modelar os lábios.

 

Se eu estava me corroendo de vergonha antes me senti ainda pior com aquilo, realmente eu travava quando aconteciam tais imprevistos na volta pra casa, até porque o que eu podia fazer? Armar um escândalo naquela lata de sardinha e depois ser chamado de mentiroso? Não era normal tocarem um garoto, ninguém acreditaria em mim.

 

“Então é por isso que passou a me levar pra casa?” Tentei não gaguejar, era no mínimo difícil de acreditar que ele estava ali tentando “me proteger”, além de ser algo que não era de seu feitio.

 

“É claro, Hoseok, se alguém for passar a mão em você, é melhor que seja eu, não acha?” E lá estava ele, o sorriso petulante e burlador, a expressão zombadora. Tão perto e apertado contra mim, tão impróprio ao enfiar o joelho de novo entre minhas pernas, quase o pressionando naquele meu lugar tão sensível.

 

Eu o empurrei de leve, agora conseguindo afastá-lo mesmo que tivesse ficado nervoso e envergonhado.

“Se você tocar em mim eu quebro seus dedos” Rosnei.

 

“Gatinho arisco” Gargalhou, e segurou minha mão, a mesma que o havia afastado. Taehyung tinha a mão absurdamente grande, e ela ao se fechar em volta da minha com certa força quase fez a minha sumir. Era frustrante e constrangedor.

 

“Eu te odeio”

 

“Devia me agradecer por isso”

 

“Eu posso me virar sozinho”

 

“Deixando que te toquem?”

 

“Não é que eu deixe de propósito” Suspirei.

 

“Eu sei, Hoseok, eu sei que não deixa. Mas comigo aqui não vai acontecer de novo”

 

“Eu já disse que não preciso de você”

 

“É uma pena porque eu vou continuar te trazendo”

 

“Por que se importa se me tocam ou não?”

 

“Eu sou seu amigo”

 

“Você é só um cara que me segue” Resmunguei e puxei a minha mão, ele estava apertando-a.

 

“Por que você é tão difícil? Achei que tínhamos progredido, Hoseok-sshi”

 

“É que você me irrita”

 

“Você que é agressivo” Ele rolou os olhos, e notei quando ele tentou parecer que não fazia de propósito se aproximar outra vez. Aquela mão grande outra vez estava contra mim, só que agora na minha cintura, ele se aproximou, se aproximou, se aproximou, até que seus lábios alcançassem minha orelha.

 

O que aquele maldito queria me tocando daquele jeito?

 

“E eu adoro esse seu jeitinho agressivo, Hoseok-sshi”

 

Eu definitivamente não queria ter sentido meu corpo vibrar com aquela voz sussurrando em meu ouvido, muito menos queria que minha respiração tivesse ido embora com a forma como sua mão se apertava em mim, me perguntei porque estava fechando os olhos e porquê meu corpo retesou.

 

Queria simplesmente morrer, ou matar aquele maldito loiro.


 

[...]

 

Por mais que eu achasse que aqueles toques, aquela aproximação, aqueles tons maliciosos acabariam por ali eu me enganei erroneamente. Não havia nada pior do que ele começar a me tocar de forma tão íntima o tempo todo quando semanas antes ele ficava numa distância mais do que aceitável. O problema é que agora não havia mais espaço pessoal, não tinha uma distância que pessoas normais mantém quando não tem nenhum relacionamento.

 

Taehyung era tão maldito que só não andava segurando minha mão porque eu apertava seus dedos com força e ele se rendia num choramingo bobo e infantil.

 

É claro que era só para que eu me irritasse, porque a mente bizarra dele funcionava dessa forma; me constranger para me deixar irritado.

 

De qualquer forma, quanto mais próximos ficávamos, mais pessoas descobriram meu nome, aquilo definitivamente não estava me agradando. Poxa, tudo que eu queria era ser o cara que ninguém dava a mínima ou sabia da existência, agora eu passo pelos trombadinhas e eles acenam para mim como se eu fosse do grupo deles, eu passo pela mesa dos nerdes e eles se encolhem como se qualquer coisinha eu mandasse o capacho Taehyung ir dar um jeito, caramba nem os Nerdes me aceitavam no clube deles antes e agora eles tem medo de mim e sabem quem eu sou? Eu só queria continuar sendo um Zé ninguém.

 

Queria ainda mais que Jimin não soubesse sobre mim e sempre olhasse para mim com pena quando passava pelos corredores, ele se lembrava da minha declaração, e eu sentia tanta vergonha por isso.

 

O moreno naquele momento estava na mesa de sempre, de frente para mim, hora ou outra ele olhava para cá, com pena, meio sem jeito, e depois ele voltava a focar no vice-presidente como se eu não estivesse bem ali implorando para que ele parasse de me lançar aqueles olhares.

 

“Você não tava na aula de Química” Aquela voz grave e insuportável me despertou da tortura, e seus braços rodearam meus ombros, e como esperado seus lábios libidinosos molharam minha bochecha num selo rápido. Naquele momento claramente daria para ver uma nuvem negra e tempestuosa acima da minha cabeça.

 

“Eu não estava passando muito bem” Resmunguei. E eu até poderia bater os pés e gritar para que ele se afastasse, já que Jimin olhou rapidamente para nossa mesa, mas o que eu podia fazer? Ele faria de novo, e de novo, e de novo.

 

Só consegui choramingar e esconder meu rosto entre as mãos.

 

“Você deveria se declarar pra ele de novo” O loiro ao meu lado murmurou, num tom despreocupado, como se soubesse o que acontecia, mas mesmo sabendo continuou na mesma posição.

 

“Ele acha que sou uma piada”

 

“Tenta de novo, vai que dessa vez ele ri da piada que você é e role uns beijos” Ele riu, ele teve a pachorra de conseguir zombar daquela situação que me magoava tanto.

 

Contei mentalmente até dez, definitivamente eu contei e recontei, mas não consegui me conter e pensando bem seria menos constrangedor se eu só tivesse chorado entre minhas mãos bem baixinho naquele momento do que batido com força as mãos na mesa e mandado aquele infeliz tomar naquele lugar do jeito mais dramático e escandaloso que alguém poderia fazer, chamando atenção não só de Park Jimin que me olhava com olhos arregalados, como de todo refeitório.

 

Kim Taehyung conseguiu destruir todo meu jeito discreto, paciente, e calmo que montei durante os dois anos anteriores.

 

Não tinha como eu ficar naquele refeitório com aquele tanto de gente me encarando, então eu engoli a vontade de chorar e definitivamente fiz qualquer coisa menos andar até a saída.

 

Kim Taehyung era tão desagradável e insensível, sempre dizia que éramos amigos mas nunca agia como um, nunca se importava em abusar da acidez quando o assunto era Jimin, nunca media as brincadeiras sem graça ou coisa do tipo, ele definitivamente não era meu amigo e eu estava cansado de ter que aturar suas patifarias.

 

Voltei a ficar no terraço, assim como havia ficado por lá na aula de Química porque não queria vê-lo. Eu geralmente não matava aula, sequer faltava quando era necessário, até mesmo quando uma gripe me pegava eu não faltava às aulas, mas ele simplesmente fazia com que eu fugisse, eu não queria ficar horas ouvindo suas gracinhas, ou, sendo tocado a cada segundo. Eu poderia enlouquecer se continuasse.

 

O bom de ficar naquele lugar esquecido era o fato de que eu continuava sendo apenas Hoseok, um Zé ninguém, não havia nada além de mim, um céu nublado, um espaço enorme vazio. Sem Taehyung, pessoas me notando, ou até mesmo Jimin com aquele olhar sobre mim.

 

Me sentei no chão, escorando-me na parede desbotada atrás de mim. Respirei fundo, implorando mentalmente para que daquele céu nublado não caísse uma chuva bem agora que eu precisava tanto de um tempo sozinho.

 

Mas não era a chuva que iria estragar tudo, muito menos o frio que começou fazer de forma tão inesperada, era Kim Taehyung, como sempre sendo alguém indesejado, aparecendo em momentos que ninguém o queria por perto.

 

“Me deixa em paz, Kim…” Suspirei, e encostei minha cabeça na parede, fechando os olhos para não me irritar outra vez.

 

“Eu falei com o Jimin” Eu não estava vendo mas sabia que ele tinha se sentado ao meu lado “Eu disse que você tinha algo para conversar com ele e então ele disse que vocês podiam se encontrar hoje no bar The Kill, a bandinha merda do Chan toca la hoje e o pessoal vai pra lá.”

 

Por alguns segundos eu não me movi, não respirei, não abri os olhos, ou, sequer, raciocinei, sem acreditar no que de fato estava passando pelos meus ouvidos, e que era aquela voz grave mesmo me dizendo aquelas coisas.

 

“Ele te acha bonitinho” Murmurou.

 

Dessa vez eu o olhei, minhas bochechas queimando outra vez diante do infeliz, mas por motivos contrários do que passou a ser habitual.

 

“Você falou mesmo com ele?”

 

“Por que eu mentiria?”

 

“Pra eu comemorar e você rir da minha cara, talvez?” Resmunguei.

 

“Aish…” Rolou os olhos, e então, depois de metade da manhã fugindo dele, ao olhá-lo bem, notei os traços deixados de uma possível briga, ele tinha a maçã esquerda bem avermelhada e o real machucado escondido em um band-aid, um arranhão no canto da boca, e uma ferida bem pequena e meio aberta na sobrancelha. Acho que iria fazer dois meses que ele não aparecia daquele jeito.

 

“Você voltou a brigar por aí?” Tentei não parecer preocupado, porque eu realmente não dava a mínima, só estava um pouquinho curioso.

 

“Se importe em ensaiar o que vai dizer para o Jimin hoje, não ligue pra mim”

 

“Não é como se eu ligasse” Soltei um bufar leve e foribundo, desviei o olhar para as minhas pernas, dando-me conta que aquela mão estava ali a tempo.

 

Ele era tão insistente com aquilo que eu realmente não me importava mais

 

“Você já sabe o que vai dizer?”

 

“Acho que eu vou dizer que da ultima vez eu estava bêbado, e pedir desculpas por ter dito aquilo”

 

“Só isso?” Sua mão subia e descia, como se quisesse de alguma forma me acalentar ou acalmar. Aquilo era muito estranho. Ele era definitivamente um cara estranho. “Não vai dizer que adora o sorriso dele, e como ele joga o cabelo para trás, ou como ele brilha e é aquele pontinho vermelho escarlate no meio do infinito preto e branco tão desinteressante que é essa escola?”

 

“Você estava mexendo nas minhas coisas de novo, né?” Tentei não me irritar, de qualquer forma ele estava me ajudando eu não podia pegar aquela mão que me acarinhava e quebrar os longos dedos agora.

 

“Bem interessante, embora eu tivesse me sentido muito menosprezado, ele nem é tudo isso” Gargalhou, daquele jeitinho petulante e arrogante que só ele no mundo inteirinho podia gargalhar.

 

“Você não faz parte do preto e branco” Resmunguei.

 

“É mesmo?”

 

“Você é aquele pontinho verde musgo nojento que nem merece ser mencionado de tão insignificante que é” O encarei, cansado de ouvir sua risada, e definitivamente puto porque sua mão estava subindo demais na intenção de me envergonhar. Segurei seus dedos esguios com força e ele continuou rindo.

 

“Não seja tão agressivo, eu acabei de te fazer um favor”

 

“Para de me tocar assim, que saco”

 

“Então para de ter pernas tão bonitas”

 

“Do que você está falando? Eu sei que é só um joguinho para me constranger” O soltei, me afastando, e como sempre ele conseguiu deixar-me envergonhado. Bufei, irritando-me com isso.

 

“Pode ser que sim, pode ser que não, mas apesar de tudo elas realmente são bonitas” Sussurrou, de repente tão perto de minha orelha, esquentando-a com aquele hálito irritante de menta e cigarro. “Eu acho que Jimin precisa reparar mais em você, sabe? Porque Hoseok, você é muita coisa, mas não é só um carinha bonitinho”

 

Não soube o que fazer quando aquela mão tocou-me o rosto numa carícia leve e “amorosa”, muito menos quando os lábios do diabo encontraram minha pele do pescoço e ele beijou, mordiscou, chupou, como se desejasse aquilo de verdade. Eu estava perdido, com o corpo inteiro palpitando, e numa indecisão absurda entre o empurrar ou continuar travadão, deixando que ele violasse meu pescoço.  

 

Ainda que eu odiasse seus toques, e me irritasse todas as vezes que ele insistia em acariciar tudo em mim só para me constranger, naquele momento eu não me irritei, para ser sincero eu estava sentindo muitas coisas, e raiva ou irritamente não se incluíam. Me senti na verdade acanhado com a forma como meu corpo começou a reagir; minhas mãos suavam, minha respiração começou se tornar pesada demais, eu não consegui pensar em exatamente nada senão o quão macios e quentes aqueles lábios eram contra a minha pele, me praguejei quando fechei os olhos assim que uma de suas mãos alcançou meu queixo. Eu queria poder empurrá-lo, mas me senti tão fraco, fraco e com uma moleza ridícula e paradoxal. Me deixei ser beijado e mesmo que pareça idiotice correspondi.

 

Kim Taehyung não era Park Jimin, mas ainda assim arrancou de mim meu primeiro beijo.

 

Perguntava-me porque seus lábios eram ainda mais macios quando estavam contra os meus, e como sua língua conseguia se enroscar com a minha daquela forma.

 

Era um beijo tão bom, e me deixou apavorado. Apavorado porque não me reconheci, eu não me conheci. Porque minha cabeça de cima parou de funcionar e eu fui levado pelas sensações que ele causava em todo meu corpo.

 

Como se já não fosse insano o suficiente aquele beijo conseguiu se tornar tão intenso. Eu nunca beijei, estava pouco ligando se estava beijando mal ou errado, e muito menos sabia como controlar a vontade de mais, e estava sendo correspondido na mesma intensidade.

 

Segurei sua nuca, e notei uma mão agarrando a minha cintura com tanta força, mas parecia haver carinho naquele toque, me deixando perdido. Minha mente estava tão nublada, deixando-me apenas com o pensamento do quanto aquele beijo era irritantemente gostoso que eu não me dei conta de ter criado a coragem de sentar em seu colo.

 

Ah, Taehyung nunca mais me deixaria em paz, ele era tão idiota antes e eu nunca havia dado motivos, agora passando por esse momento tão constrangedor serei motivo de piadas pra sempre.

 

Taehyung passeava sua mão pesada pelo meu corpo, enquanto sua língua tão macia se enroscava com a minha, afundei os dedos naqueles cabelos alourados e os puxei com força, e enquanto ele gemia baixinho causando leves tremores pelo meu corpo eu respirei pesadamente.

 

Eu nunca pensei que gostaria tanto de tomar um banho de chuva como gostei assim que senti os pingos grossos e gelados alguns minutos depois. Porque se não fosse a chuva, talvez Taehyung faria bem mais do que ter um dos meus mamilos em sua boca enquanto apalpava a minha bunda, e eu insanamente deixaria.

 

Quando a chuva começou a cair, a ficha caiu juntamente e eu poderia ter ficado tempos parado desacreditado que cheguei a aquele ponto tão humilhante com ele, se ele não tivesse me feito levantar e me levado para dentro.

 

Eu o encarei, envergonhado e frustrado quando paramos na escadaria, me encostei na parede e repudiei todas aquelas vibrações, minha ereção, e meus lábios formigando.

 

“Que cara é essa?” Ele estava perto, tão perto que quase se colava a mim, segurando minha cintura. Ele tentou beijar-me novamente, mas desviei, fazendo com que seus lábios encontrassem minha bochecha.

 

Achei que ele pararia, e se afastaria, mas no entanto continuou, mordiscou minha bochecha e depois o maxilar. Escorregando sua mão para o meu bumbum. Realmente a partir daquele momento no terraço minha vida seria um inferno e pelo que eu conhecia daquele imbecil toques como aqueles serão mais frequentes do que respirar.

 

“Você sabia que pra quem nunca beijou, seu beijo é uma delícia?” Sussurrou em meu ouvido, e eu o empurrei levemente cortando sua aproximação.

 

“Esquece o que aconteceu, Okay? Eu não vou te beijar de novo, nunca mais.”

 

“Veja pelo lado bom” Ele tinha um meio sorriso estranho, enquanto dizia “Ao menos se vocês se beijarem você vai ter certeza de que não vai fazer feio.”

 

[...]

 

Eu queria acreditar que nunca mais beijaria aquela boca, mas eu estava tão enganado, dizer não a Kim Taehyung é a coisa mais difícil que existe.

 

Após a aula quando ele me levou em casa outra vez fomos espremidos juntos em algum canto do trem, e ele me prendia contra a parede, impedindo qualquer pessoa de se aproximar de mim. Mas havia uma tensão entre nós dois tão grande que minhas bochechas ardiam intensamente durante todo o percurso, e eu me acanhava ainda mais toda vez que sua respiração quente batia contra meu rosto. E quando ele me deixou em frente a minha casa, sem se importar com os vizinhos puxou-me pela cintura e colou nossos lábios, e eu sendo tão fraco me deixei ser beijado.

 

O resto do dia eu apenas pensei naqueles beijos, buscava no fundo da minha mente o que me fez fraquejar tanto e porque eu não conseguia negar seu toque ou beijo… Talvez fosse por ele aparecer em horas tão inoportunas, quando eu me sentia vulnerável e estava mal.

 

Meu dia estava longe de ser o melhor do ano, ou do mês, e mesmo que eu tivesse passado boa parte dele escondido embaixo de muitas cobertas, eu não podia fugir por muito tempo. Dali a algumas horas eu teria que me esclarecer com Jimin, e não tinha ideia do que dizer além de que sentia muito por aquela noite em que eu quase vomitei em seus sapatos e disse tanta besteira.

 

Em meu íntimo, no lado mais otimista e auspicioso eu esperava ser correspondido, que ele me desse uma chance de demonstrar todo carinho e amor que furtivamente eu alimentei durante todo o ensino médio, todavia uma parte de mim; a mais pessimista e cética previa um pé na bunda, e mais Park Jimin me achando a piada do ano por ser um moleque insistente que chama atenção com um carrasco em seu encalço.

 

E toda aquela ambiguidade de sentimentos, estava me deixando meio paranóico. Eu não queria ir a lugar algum, se eu ficasse em casa, ainda escondido debaixo de muitos cobertores em um quarto escuro, nenhuma tragédia ocorreria com meu emocional

 

Contudo ainda que essa fosse a melhor escolha a se fazer, o ano letivo estava terminando e era a minha última chance de conseguir qualquer coisa com Park Jimin. Definitivamente ou seria naquela noite ou nunca seria. Ou eu levava um fora ou eu ganhava um beijo. Ou eu passaria o resto da minha noite chorando ou eu passava sorrindo feito bobo por ganhar uma chance e ser correspondido.

 

Eu precisava arriscar e acabar com tudo aquilo.

 

Por isso por volta das dez eu cheguei naquele bar, vestindo calça jeans justa e um moletom vermelho, não me arrumei tanto como deveria mas passei tanto tempo indeciso sobre sair debaixo das cobertas ou não que quando notei o horário eu só corri para um banho rápido e usei qualquer roupa que Taehyung já havia me elogiado usando-as antes.

 

Eu sei, eu sei. É estranho. Mas se ele achava que ficava bem em mim, devia ser verdade, certo? E talvez Jimin também gostasse.

 

Apenas tive tempo de arrumar meus cabelos, que desta vez estava róseo - devido a um novo experimento da minha irmã como cabeleireira em mim. Conquanto eu só consegui parti-los no meio deixando minha testa exposta porque segundo aquele trombadinha eu ficava ainda mais bonito separando-os daquela forma.

 

Okay, talvez seja estranho eu começar a considerar as bobagens que ele diz. Muito estranho.

 

[...]

 

O bar realmente estava cheio, lotado de alunos da nossa escola, iam do pessoal do clube de esgrima aos trombadinhas que respeitavam tanto Taehyung, no palco pequeno do bar a banda de Chanyeol performava à toda animação, a iluminação era meio opaca e eu precisava forçar um pouco a vista para ver cada um ali. Meus olhos buscavam incessantemente pelo sorriso do presidente, pelos cabelos escurecidos e os olhos pequenos. Mas eu não encontrei.

 

Aquilo por um tempo me desesperou. Achei que ele tinha desistido, que não queria me ver e até mesmo podia ter ido antes da minha chegada, talvez tivesse sofrido um acidente, sei lá. De qualquer forma eu me preparei para tudo, menos por um furo dele.

 

Eu não sabia se estava aliviado ou me sentindo frustrado.

 

Após desistir de buscar aquele meu pontinho vermelho escarlate pela imensidão monocromática do bar, fiz a burrada de caminhar até o balcão. Senti um ímpeto imenso de encher a cara, eu não estava com Taehyung então ninguém dava a mínima para mim. Então pedi uma cerveja e tentei, só tentei, apreciar o som rústico daquele metal barato e falho da banda.

 

“Hoseok…” Aquela voz, aquele perfume, a mão tão pequena de dedos fofinhos tocando meu ombro, eu conhecia tão bem que virei abruptamente ao encontro dele.

 

“Jimin”

 

“Taehyung disse que você queria falar comigo” Ele puxou o banco ao meu lado e se sentou.

 

Deus, como ele era lindo. Mas não era um lindo comum, era um lindo simplesmente extraordinário, quase inadmissível para um mortal, como se o Deus Apolo sentisse inveja dele. Sempre achei que era ganancioso demais por fantasiar em ser correspondido por Jimin, ele era demais não só para mim, mas para qualquer outro alguém.

 

“Eu não… hum” Cocei a garganta tentando me recompor. Ele estava ali na minha frente, esperando pelas minhas palavras mais uma vez e eu não podia foder tudo como antes. “Eu gosto de você, Jimin” Iniciei, logo tomando sua atenção, fazendo-o focar-se diretamente em mim, e eu de fato não consegui me segurar e corei violentamente. “Eu sei que da ultima vez eu estava bêbado e falei besteira e te peço desculpas por aquele dia, mas o sentimento é real, é sincero, entende? Talvez você nunca tenha me visto pela escola antes de tudo isso e nem me considere, mas, eu gosto de você a muito tempo, eu só queria que você soubesse, independentemente do que você acha de mim, eu não estou me declarando e pedindo que me ame, mas sim me confessando corretamente pra tirar esse peso de mim… Mas, Jimin eu te peço também uma chance, de talvez me aproximar de você, só isso”

 

Me surpreendi por conseguir dizer tudo olhando naqueles olhos escuros, mesmo que minhas bochechas flamejassem e as vezes minha voz falhasse um pouquinho.

 

“Você é fofo” Foi o que ele disse logo após sorrir, e eu não consegui fazer nada, simplesmente nem me movi, sequer respirei. “Você é bonitinho, e eu realmente nunca prestei atenção em você antes de andar com aquele garoto problemático, e falando nele, eu te acho um menino legal Hosook, não queira ser notado pela fama de alguém como ele”

 

Ele confundiu ou esqueceu meu nome?

 

“Mas… Eu nunca quis” Suspirei. Não era como se eu tivesse usado Taehyung, a todo tempo eu só quis distância; e ser notado por ele logo às custas daquele loiro maldito nunca esteve nos meus planos.

 

“Tudo bem, mas se afaste, o ano está acabando, você não quer ser lembrado como o carinha que andava com um imbecil sem futuro, não é?”

 

“Não…”

 

“Bom, eu acho fofo que goste de mim, e é até interessante que tenha coragem de falar comigo mas eu não tenho interesse em um relacionamento agora, estou muito focado com os estudos pro vestibular, não tenho tempo nem para respirar, imagina dar conta de um relacionamento.” Ele falava com tanto cuidado, acariciava meu ombro e parecia ter medo de me machucar, mas, ainda assim doía como inferno.

 

No fim o meu lado otimista era grande demais, eu estava com muita esperança em algo que sabia que não daria em nada.

 

Desviei o olhar para minha garrafa de cerveja em cima do balcão e apenas conseguia ouvir zumbidos, como se ninguém estivesse gritando, ou se a banda tivesse simplesmente parado de tocar e a voz de Kyungsoo, o vocalista baixinho já não cantasse a todo fervor.

 

“Aposto que você é um garoto que gosta de muito carinho e atenção, não é?” Ouvia sua voz mas ela parecia tão distante, num lugar vazio e oco. O olhei, mas não o respondi, se eu abrisse a boca seria capaz de chorar. “Sei que é, se não fosse Taehyung não seria tão carinhoso contigo, não é? Vou te contar que nunca vi aquele cara encostar em alguém… Ele é assustador. Mas enfim, eu não sou o cara que você precisa, porque eu não te daria o valor e atenção que deseja e merece. Mas eu espero que não se sinta mal, um dia você encontra alguém que seja menos babaca do que eu”

 

Ele se levantou, e eu queria dizer que ele não era um babaca, e que estava tudo bem, que eu entendia seu lado e que não queria preocupa-lo com nada. Mas eu não consegui, eu não fiz exatamente porra nenhuma. Afinal, não mudaria muita coisa, aquele continuaria sendo um fora, mesmo que fosse delicado, e ele fosse gentil o suficiente continuava me causando dor.

 

Por longos segundos permaneci na mesma posição, com a garganta dolorida e os olhos em chamas. Eu estava com uma garrafa de cerveja na mão, podia beber dela e depois comprar muitas outras para encher a cara. Contudo, eu não queria beber, não queria ter um coma alcoólico ou beber a ponto de vomitar e me afogar no meu próprio vômito - o que de fato a situação fazia ser merecedora. Eu só queria chorar, só queria permitir que as lágrimas caíssem e não ter que me preocupar se as pessoas veriam e falariam pelas minhas costas depois sobre o quão patético eu poderia ser.

 

Tentei ao máximo evitar me desfazer ali mesmo, no balcão, ao lado de Yixing que fumava um cigarro enamorando a imagem do baterista lá no palco. Me levantei, deixei a garrafa ainda pela metade no balcão e em meio a tanta gente caminhei em direção a saída.

 

E quando o vento bateu contra meu rosto, eu não consegui segurar mais, ninguém estava ao meu redor, a rua deserta demais, eu pude me desmanchar; pude soluçar e até mesmo soltar um grunhido em frustração, tristeza e irritamento.

 

Eu não devia estar tão mal, eu passei o dia inteiro me preparando para uma possível rejeição. Mas, acho que quando passamos tanto tempo gostando de alguém, desejando esse alguém, uma rejeição nunca é bem vinda ou bem digerida. Eu queria que ele dissesse que me daria uma chance, mas nem mesmo dizer que eu poderia me aproximar ele disse. O sabor dos lábios cheios de Park Jimin seriam um mistério para sempre, a sensação de ser correspondido ao menos um terço por ele, também.

 

“Nossa…” Aquela voz grossa, irritante e intrusiva mais uma vez chegava no pior momento possível. Coloquei minhas mãos contra o rosto e me encostei em um carro que estava estacionado em frente ao bar.

 

Por não ter encontrado-o antes achei que ficaria livre dele naquela noite. Mas Taehyung sempre aparecia, seja lá de onde ele surgia, sempre estava ali para mim, mesmo que eu não o quisesse por perto.

 

“Me deixa em paz… Por favor” Solucei.

 

“Achei que daria certo se Jimin não me visse mas parece que realmente não tem jeito, ele é meio pretensioso”

 

Não o respondi, sequer conseguiria falar se eu quisesse.

 

“Vamos lá, não é o fim do mundo, não precisa ficar assim”

 

Continuei sem respondê-lo.

 

“Jimin nem é tudo isso, eu sempre achei ele metido demais… Aposto que você conseguiria algo bem melhor”

 

Permaneci exatamente da mesma forma. No entanto eu deveria me mover quando seus braços me acolheram e ele me apertou contra o próprio peito. Ele jogava tão baixo, era tão idiota por me dar apoio nessas horas, por se aproveitar da minha dor para me acolher e me apertar tão forte. Eu não consegui fazer mais do que tirar as mãos do meu rosto para agarrar sua camiseta preta do Arctic Monkeys com força e me deixar chorar ainda mais com o rosto bem afundado em seu pescoço de cheiro amadeirado.

 

Ele tinha tanta culpa naquela história toda, se não fosse por ele meu amor continuaria em segredo, eu não estaria tendo uma crise absurdamente vergonhosa de choro e nem mesmo tinha enchido a cara naquela noite, eu também não teria tanta dor de cabeça e não me irritaria tantas vezes no dia. Se ele não fosse tão insistente eu continuaria o mesmo. Mas apesar disso eu queria continuar sendo abraçado, queria que seus dedos continuassem enroscados no meu cabelo num afago lento enquanto ele repetia que estava tudo bem.

 

Porra! NADA estava bem. Começando pelo fato de que eu estava gostando do seu consolo quando eu deveria estar indo pra minha casa me agarrar a um travesseiro e chorar sozinho depois de mandá-lo para o inferno.

 

“Ei” Ele chamou minha atenção, fazendo-me encará-lo. “Eu vou te levar pra casa, tá? Eu peguei o carro do meu pai”

 

“Não precisa, eu vou sozinho”

 

“Cala a boca, eu vou te levar pra casa e ponto” Ele revirou os olhos quando tentei sair de seu alcance e me impediu apertando ainda mais os braços contra mim. “É sério, eu vou te levar, eu não quero que pegue um ônibus a essa hora”

 

“Tanto faz” Dei-me por vencido.

 

Afinal, quando é que ele aceitava o que eu dizia?

 

[...]

 

Eu sempre fui meio frágil, chorava a toa, era do tipo que chorava mesmo quando não devia chorar; como por exemplo ao assistir um filme de animação como Toy Story 3, então quando alguma dor me sufocava, ou algum sentimento me perturbava tão fortemente eu não conseguia parar de chorar até que meu peito estivesse aliviado, até que eu pudesse suspirar e sentir que já havia sido patético o suficiente. E naquela noite, era o tipo de momento que eu só queria me aliviar sem vergonha alguma, eu só queria digerir a ideia de ter que definitivamente desistir de Park jimin, por isso eu passei o caminho inteiro afogado em lágrimas, a ponto de ter deixado meu rosto inchado, meu nariz avermelhado, minha garganta ardida, e a aparência mais constrangedora da história.

 

Agradeci mentalmente quando chegamos, ele estacionou em frente a minha casa, eu quase corri a caminho da porta da minha casa após pedir obrigado pela carona. Tudo que eu almejava era um banho quente, meu cobertor quentinho para que eu pudesse me esconder e muita escuridão durante as próximas horas, só para chorar até dormir ou sei la desmaiar - se é que é possível-.

 

Mas aqueles não eram os planos da minha sombra, Kim Taehyung me seguiu até a porta da minha casa, e antes que eu abrisse a porta o olhei, sem conseguir falar nada, não tinha energia ou cabeça para insultá-lo ou enxotá-lo da minha casa.

 

“Eu vou passar a noite com você” Ele respondeu, como se falasse a sentença mais normal já dita entre nós dois. Por um momento segurei toda aquela vontade de chorar, respirei fundo, para me conter e não gritar, não de raiva ou qualquer coisa do tipo, só que eu estava impaciente e queria ficar sozinho.

 

“Qual é, Taehyung, eu só quero um pouquinho de paz”

 

“Hoje você não tem escolha, Bebê”

 

“E quando é que eu tenho, não é?” Respondi, resignado. “Mas por favor, se não quer que eu te jogue daqui pra fora chamando a Polícia eu acho que seria legal você só ficar quietinho”

 

“Okay, eu só não quero te deixar sozinho agora” Ele disse num tom bem baixo, como se relutasse dizer aquilo.

 

Estranho. Era isso que Kim era; Estranho pra caralho.

 

Por que ele se importava tanto comigo?

 

“Vamos, entre”

 

Okay que ele estava só preocupado demais, e agindo como um amigo que aparentemente ele é para mim, mas eu realmente queria ficar sozinho, e também não queria que ele segurasse a minha mão e não soltasse até que chegássemos no quarto.

 

Meus pais e Dawon não estavam em casa desde o dia anterior, a vovó havia ficado doente e eles foram visitá-la, eu queria ter ido mas meus pais queriam que eu mantivesse meu histórico de presença intacto, mal sabendo que eu vinha matando algumas aulas para ficar no terraço.

 

Deixei-o no quarto, porque ele já estava habituado ao cômodo que tanto passava a tarde embromando para ir embora me perturbando, e peguei meu pijama e toalha para meu merecido banho.

 

Eu tentei não chorar, mas minha garganta ardia tanto que mal suportei segurar aquela vontade, passei uma boa gama de tempo chorando baixinho, debaixo daquela água tão quente, deixando que minhas lágrimas se mesclasse a água também. Apenas saí quando senti meu peito mais suave, quando o nó de minha garganta se desfez e provável toda água do meu corpo já tivesse se esvaído por meus olhos.

 

Após o banho, vesti meu pijama azul bebê com desenhos aleatórios, sequei meu cabelo róseo apenas com a toalha, porque eu não passaria nem um minuto sequer parado em frente ao espelho com o secador em mãos, ainda que minha mãe odiasse que eu fosse me deitar com os cabelos úmidos.

Voltei para o quarto e o loiro petulante estava lá, deitado, mexendo no meu caderno de anotações - eu me recuso a chamar aquilo de diário.

 

“Você poderia ser um pouquinho mais conveniente, Taehyung?” resmunguei sem ânimo, tomando o caderno de suas mãos.

 

Não era a primeira vez que ele mexia ali, talvez ele já tivesse lido desde a primeira folha até a última que escrevi. Mas não adiantava gritar, berrar, insultá-lo e essas coisas, ele não ligava, não funcionava muito com aquele sujeito, então eu deixei pra lá, também não tinha nada de comprometedor mesmo. Eram rabiscos sobre frustrações, Jimin,  desvantagens da vida escolar e ser visível. Só isso. Mas ele achava super interessante.

 

“Você não escreve sobre mim porque?” Ouvi-o perguntar ao que colocava o caderno em cima da cômoda.

 

“Você quer que eu escreva o que sobre você?” Indaguei, meu tom era baixo demais e desanimado pra caramba. Caminhei de volta em sua direção, me deitei ao seu lado, tendo que ficar mais próximo do que eu desejava porque a cama era de solteiro.

 

“Sei lá, sobre o quanto eu sou irritante, bonito, e tal” Ele dizia. Eu não consegui me opor quando ele se acomodou mais na cama e me puxou para que eu deitasse contra seu peito.

 

“Você não é bonito” Resmunguei, nunca admitiria em voz alta “Mas eu não escrevo porque seria gasto do meu tempo”

 

Ele não me respondeu, ou, disse algo mais nos minutos seguintes. Por um lado eu agradeci, eu não queria conversar, ele poderia ficar se só continuasse calado, acarinhando meus cabelos com os dedos enroscados no mesmo, até que eu pegasse no sono, mas por outro lado era meio estranho, achei que aquilo tinha o magoado, porque ele sequer respondeu com seu tom petulante ou sarcástico. Seu silêncio passou a me incomodar e eu me senti mal por ter dito aquilo tão friamente.

 

“Taehyung…?” Mesmo que eu relutasse o chamei. Mas não obtive resposta, então deixei que meu braço escorregasse até sua cintura e o abracei de lado. Era a primeira vez que eu fazia algo parecido e mal sabia porque estava o fazendo. “Taehyung, você não ficou boladinho por isso não, né?”

 

“Não”

 

“Hm… Me responde uma coisa?”

 

“O que?”

 

“Por que você está aqui?”

 

“Porque eu quero”

 

“Por que você quer estar aqui?”

 

“Porque eu sou seu amigo”

 

“Mesmo que eu seja um babaca que te odeia?”

 

“Você não me odeia” Por algum motivo me aliviei quando ouvi sua risadinha. Talvez a noite estivesse ruim demais para piorar com aquele loiro chateado, não seria nada legal. “Se você me odiasse não me abraçaria agora”

 

“Eu ‘tô mal, só por isso que to te abraçando. Você adora se aproveitar dos meus momentos de fragilidade”

 

“Quantas desculpas”

 

Com Taehyung definitivamente não se podia brincar, nem ser agradável. Eu engoli em seco quando num movimento abrupto e inesperado ele ele estava com o corpo pesando em cima do meu, o rosto bonito tão perto, sua respiração quente chegando até minha bochecha.

 

“Eu gosto” Sussurrou aleatoriamente, eu até poderia empurrá-lo, mas continuei sem me mover, sem querer de verdade que ele saísse de cima de mim.

 

“Gosta do que?”

 

“De você; é por isso que eu estou aqui, por isso que eu não te deixo voltar sozinho pra casa e que te toquem. Por isso eu aturo seu jeitinho chato, também.” A medida que ele murmurava, não me olhava mais nos olhos, apenas resvalava seus lábios pela minha bochecha, beijando vez ou outra com cuidado, como se eu fosse algo muito frágil e delicado.

 

Definitivamente aquela estava sendo uma noite péssima, com tantos altos e baixos que eu não conseguia conciliar tudo que me bombardeava e sentia. Eu não consegui pensar direito, a menos de uma hora eu estava levando um fora e uma ordem para deixar de gostar do cara por quem passei anos nutrindo um amor platônico, e agora aquele quem me perturbou por meses simplesmente diz que gosta de mim daquela forma, numa situação tão inapropriada.

 

Que droga estava acontecendo com a minha vida? Até o ano passado eu era um cara invisível que não precisava nem mesmo ser educado ou fingir simpatia com ninguém porque não era notado, e agora… tudo isso acontece em uma noite apenas.

 

“Vou te obrigar a gostar de mim agora, já que pra você eu sou um cara cruel que te força a tudo” Ele riu, abafando a risada em meu pescoço, me causando arrepios e me despertando daquele questionamento interno.

 

“O que droga você tá falando, Kim?” O empurrei, ainda que não fosse forte foi o suficiente para que ele desgrudasse os lábios da minha pele. “Você tá brincando comigo?”

 

“Aish… Gostar de você é meio difícil.” Ele deixou seu peso cair mais sobre mim, naufragando o rosto em meu pescoço de novo; ele também fez com que eu abrisse um pouco as pernas para que se encaixasse entre elas.

 

Não. Aquilo não estava acontecendo. Ele não estava falando todas aquelas coisas.

 

“Você gosta de um cara que nunca nem olhou na sua cara quando tem um bem aqui na sua frente, fazendo de tudo por você, nunca te considerando invisível” Ele falava num tom meio entediado e abafado, nada que um dia seja comum ao confessar sentimentos entre duas pessoas. Até porque ele nunca agia como alguém comum.

 

Eu não soube o que fazer ou dizer, sempre fui tão cego por Jimin, tão focado no que ele pensava ou na imagem dele que, nunca cogitei nada que viesse de Kim. Me senti meio babaca, ao me recordar de tudo que já disse a ele, da forma de como fui idiota por tanto tempo. Mas vá lá, Kim não sabe demonstrar seus sentimentos. E a forma como ele agiu o ano inteiro nunca me faria suspeitar de nada que não fosse só para que eu me irritasse.

 

“Mas eu não me importo, você sabe que vai gostar de mim” Ainda continuava petulante e prepotente, mesmo num momento como aquele. Ignorei o calor que seu hálito contra minha pele fazia enquanto ele falava, assim como os beijos que hora ou outra ele distribuía.

 

Eu não me via namorando alguém como ele, sequer havia pensado um dia em corresponder, mas ele era um imbecil que sabia me levar a fazer qualquer coisa que ele quisesse, ele simplesmente era tão insistente que eu me deixava levar, e não seria diferente com relação a isso.

 

“Você é tão prepotente, cara” Sussurrei, e ele voltou a rir, mordiscando meu pescoço em seguida.

 

“Eu tenho todo tempo do mundo para que isso aconteça, não tenho?” Ele me encarou, por algum motivo aquela sensação de queimação nas maçãs do rosto intensificou de um jeito constrangedor

 

“Eu odeio você, você sabe disso, não é? Você nem respeita o meu momento de ficar triste pelo que aconteceu hoje”

 

“Você já chorou o suficiente” Deu-me um selinho rápido “Tá na hora de partir pra outra e só chorar quando eu estiver fazendo algo que vai te deixar nas nuvens”

 

“O que você quer dizer com isso?”

 

Ele sorriu, não um sorriso comum, ou um sorriso que eu já havia visto pintar sua boca antes, era meio estranho, que deixou meu estômago se revirando e minhas bochechas ainda mais ardidas.

 

E então ele colou seus lábios nos meus, não me dando chance de raciocinar apropriadamente. Não sei se foi porque estava muito sensível, ou, abalado com toda aquela noite de merda e super conturbada, mas, simplesmente eu não consegui reunir forças para empurrá-lo, ou virar o rosto, para falar a verdade me faltou vontade até mesmo de negar que sua língua ardilosa serpenteasse para dentro da minha boca.

 

O fato de que aquele maldito gostava de mim me deixou meio fora de órbita, confuso, todo desorganizado e sem saber o que fazer. E ter que lidar com isso e a rejeição de Jimin estava me enlouquecendo, então ainda que eu estivesse fazendo a maior besteira de todas deixando que ele me beijasse, naquele momento eu não estava ligando mesmo.

 

Taehyung separou mais minhas pernas; encaixando-se tão bem que seu corpo esfregando-se contra o meu causando-me uma enxurrada de vibrações estranhas. Ele não beijava com calma, era com necessidade, com tanta vontade que me roubava inteiramente o ar. Levei minhas mãos até o seu cabelo, embrenhando os dedos naquele emaranhado sistemático loiro que tanto odiava.

 

Me perguntei durante todo aquele calor, beijos, puxar de cabelos, morder de lábios e chupar de línguas, se realmente o odiava, se eu sempre odiei tanto aquele cara como pensava, se ele sempre foi insignificante pra mim. Porque desde que nos beijamos a primeira vez sinto que nunca havia sido um sentimento tão ruim, eu sei que era algo forte, que me irritava e me deixava envergonhado… Mas não era ódio. Eu nunca conseguiria beijar alguém que odiasse.

 

Para ser sincero sempre senti algo por ele que nunca soube explicar com palavras. Era estranho. Me confundia. Ele me irritava exatamente por isso. Por eu não saber o que sentia.

 

Senti aquela mão pesar em minhas coxas, enquanto seus dentes detiam meu lábio inferior, fazendo-me notar o quão longe aquilo estava indo. Seus dedos apertavam-me a pele onde o short do pijama não cobria com uma força moderada e apreciativa, e ainda que no fundo me envergonhasse eu admitia para mim mesmo o quanto estava apreciando todo aquele calor, toques e essas coisas.

 

Os lábios do loiro vagaram sem rumo, soltando a minha boca, percorrendo caminho pela minha bochecha, seguindo para o queixo, mandíbula, onde ele mordiscava, beijava, brincava com a língua circulando despreocupadamente. Era meio impossível evitar suspirar, e até mesmo manter a respiração regulada.

 

Taehyung era um idiota, que me roubou o primeiro beijo, o primeiro amasso, o primeiro suspiro, e ainda que uma parte de mim fosse ingênua em pensar que não, naquela noite ele me roubaria mais uma primeira vez.

 

Acariciei os fios de sua nuca e mal acreditei quando girei o pescoço expondo a pele para que seus lábios quentes tocassem lá. Eu queria tanto seu toque que mal acreditava. Ansiava tanto que aquilo continuasse que mal parecia eu.

 

A sua boca deixava marcas ferventes pelo meu pescoço, mordendo e chupando com tanta força enquanto esfregava a própria ereção crescente contra a minha que se tornava difícil evitar emitir sons constrangedores; gemia baixinho, puxando de leve os cabelos curtos de sua nuca bonita. Suas mãos tinham certo gosto pelas minhas coxas, pois em nenhum momento deixou de apalpá-las e espreme-las naqueles toques fortes e sedentos. Lembrei-me de mais cedo, do terraço, o modo como ele acariciava e dizia que as achava bonitas. Senti-me envergonhado com a lembranças, e prontamente envergonhado por todas as vezes em que ele me elogiou e eu não levei a sério. Taehyung sempre tinha mania de dizer quais partes do meu corpo que achava bonita, isto quando não dizia que eu por inteiro era lindo.

 

Decidido a dar mais um passo perigoso naquela noite escorreguei minhas mãos por suas costas, acarinhando durante o percurso até a barra de sua camiseta. Timidamente segurei o pano, erguendo aos poucos, e ele estava interessado em me arrancar suspiros com seus chupões e esfregar de corpos que não havia notado meu atrevimento de subir a camiseta até o meio de suas costas. Mas logo ele notou, e eu me senti um pouco nervoso e acanhado por meu corpo reagir de um jeito tão sujo quando ele se afastou para tirar de vez aquilo. Meu baixo ventre simplesmente doeu com a cena, com aquele corpo magro e ainda assim tão airoso e esbelto, a barriguinha nada definida que me deixava numa vontade impura e insensata de soltar beijinhos e lambidas pela região tão próxima a aquele lugar ainda guardado em suas calças.

 

Um sorriso bonito pintava a boca dele enquanto voltava para mim, beijou de modo carinhoso - o que estranhei - e parou com fricção que fazia contra meu corpo. Não vou negar, estava tão necessitado daqueles toques que poderia choramingar para que ele continuasse.

 

Taehyung agiu estranho, mas gostei da pausa para o dengo, haja vista que ele esfregava o nariz por minha bochecha, quando não dava leves mordidas fazendo-me corar e sorrir com aqueles atos.

 

“Você não precisa fazer agora” Me encarou, sério.

 

“Taehyung…”

 

“Você tá frágil, e eu não quero que diga que me aproveitei do seu momento pra conseguir transar contigo”

 

Por algum tempo perdi a capacidade de falar, não sabia como dizer que queria tanto aquilo, queria tanto ele me tocando e levando no seu bolso outra primeira experiência.. Eu sempre falo demais, que ele se aproveita e coisa e tal, mas, admito que são desculpas que eu uso para justificar o efeito que ele tem sobre mim, que ele sempre teve e eu nunca consegui explicar porque.

 

Pelo meu silêncio acredito que ele levou aquilo como uma concordância, e então não beijou mais nenhuma parte do meu rosto, nem mesmo esfregou carinhosamente a ponta do nariz por minhas bochechas depois de mordê-las.

 

Deitou a cabeça em meu peito e deixou seu peso se fazer sobre meu corpo. Ainda sem coragem para dizer como me sentia, apenas levei minhas mãos até aquele emaranhado loiro, acariciando.

 

“Eu não sei se você quer mesmo me beijar, ou se pensa nele enquanto faz, eu sei que você deve ter fantasiado uma primeira vez com ele e não comigo. Então agora além de pensar que estou me aproveitando do seu momento talvez você pense nele. E eu gosto demais de você pra passarmos por uma experiência tão ruim” Ele falava, bem baixinho.

 

Aquela era a primeira vez que eu não via sarcasmo ou tom burlador dele, não tinha risadinha, ou um sorriso tosco. Era só um tom triste e meio magoado, que me fez notar o quanto eu devia tortura-lo com as minhas manias de tratá-lo mal o tempo inteiro desde que o conheci.

 

“Podemos ficar aqui, só deitados, e você pode ficar triste o resto da noite que eu vou te consolar”

 

“Mas eu não quero que me console” maldita voz traidora, falhando miseravelmente. “Eu quero que você aperte as minhas coxas e as elogie, que me beije e diga que não sou tão ruim para alguém que nunca beijou… Quero que me toque, Tae. Não seja estúpido depois que eu disser isso, mas eu quero colocar no meu caderno de anotações que você é um carinha estúpido que eu uso desculpas para justificar a fraqueza que me causa.”

 

Ao terminar de dizer tal sentença, o Kim apoiou o queixo em meu peito, para me encarar. Não havia uma expressão a início, mas aos poucos um sorrisinho bem pequeno se formava no cantinho esquerdo dos seus lábios.

 

“Sua voz está trêmula”

 

“Ah, não seja idiota” Apertei os dedos em seus cabelos, os puxando um pouco forte. “Acabei de dizer que quero ficar com você e isso é tudo que me diz?”

 

“Fofo” Sussurrou, sorrindo mais “Você tem certeza disso? De que quer continuar?”

 

“Quero, Kim. Não vou pensar no Jimin. Talvez eu não goste dele tanto a assim a ponto de beijar você pensando nele”

 

“Eu ainda vou fazer você escrever sobre mim, Hoseok”

 

O que ele disse foi tão aleatório no meio daquela conversa que me fez torcer a boca um bocado confuso, contudo não pude ao menos expressar aquele pensamento em palavras pois logo seus lábios estavam colados aos meus de novo; num ósculo necessitado, meio violento, mas era legal perceber que estava sorrindo em meio a ele.

 

Naquela noite, eu estava uma bagunça, estava fodido, sem saber conciliar nada. E estava me importando demais com os sentimentos daquele loiro, querendo demais vê-lo bem. Talvez fosse carga demais para um único dia, e a rejeição de Park tenha me dado liberdade para pensar no Kim.

 

Sua língua era invasiva, curiosa, tocava a minha com gosto, se enroscando num ritmo meio afoito e gostoso. Enquanto isso suas mãos estavam em minhas coxas, apertando, dedilhando, e às vezes ia subindo, invadindo o espaço que havia no short do pijama, até tocar meu bumbum; quando ele apertou e jogou seu quadril ao encontro da minha pélvis soltei um gemido lânguido e manhoso.

 

Sexo era algo novo para mim; ainda que eu fosse adepto a assistir filmes adultos nunca tive tanta vontade de praticar. Quer dizer, eu não queria ninguém que não fosse Jimin, então eu não pensava muito nisso. Então por não ter experiência alguma eu não conseguia evitar ser tão sensível, eram sensações novas, desejos tão primitivos me corroendo por dentro como se eu fosse um louco necessitado querendo pular toda a parte do esfrega com roupas para a parte em que ele finalmente me tem por inteiro.

 

Me surpreendi quando ele mudou nossas posições, deitando-se a cama e me deixando sentar em seu colo. Seu sorriso era tão devasso, minhas bochechas queimavam. Sua ereção se encaixava muito bem em baixo do meu bumbum, tão bem que eu sentia algo lá embaixo se contrair e me angustiei. Olhando para aquele rosto, às vezes maltratados pelas brigas pelos corredores da escola; constatei sua beleza extraordinária.

 

Os lábios voluptuosos, a pele em melanina tão proporcional, os olhos rasgados e negros tão profundos, os cabelos lisos mas sempre desgrenhados, o nariz em sua exata proporção com um sinal tão adorável na ponta. O peito desnudo mesmo magro era atraente. Ele era todo lindo, de verdade.

 

E tendo a escola inteira admitindo isto em voz alta me pergunto porquê logo eu, porque alguém como ele quis alguém tão invisível e simples. Talvez até feio demais para si.

 

“O que está olhando?” Perguntou, segurando minha cintura com força, mal notei que movia meu quadril de forma indecente e impudica, fazendo meu bumbum espremer seu membro -mesmo coberto - naqueles movimentos.

 

“Nada” balancei a cabeça, e, eu mesmo tirei a camisa do pijama, aproveitando a posição.

 

Seu lábio inferior sumiu entre os dentes, ao que sua mão direita subia pelo meu tronco, fechei os olhos e suspirei com o toque daquela mão grande e pesada sobre mim.. Os dedos percorrendo minha pele quente, eu ainda ondulava meu quadril e ele se remexia em baixo de mim, tornando aquela fricção dupla gostosa demais.

 

Um dos meus mamilos foi tocado por seus dedos curiosos, e ele beliscou levemente, o deixando sensível e me deixando com mais vontade de sentir aquela mão em outras partes de mim. Inclinei-me sobre seu corpo e reuni coragem e forças para ser a minha vez de marcá-lo.

 

Ele era tão cheiroso, o cheiro forte e amadeirado sempre impregnado em suas roupas e até mesmo nas minhas pelo tanto que ele se agarrava a mim me deixavam meio abobalhado, realmente era gostoso de sentir.

 

“Ar…” Gemi, em uma mistura de dor e prazer quando senti suas unhas se arrastarem pela pele das minhas costas quando dei o primeiro chupão.

 

Instigado a continuar suguei outra vez sua carne, e dessa vez quem urrava era ele, dolorido. Ah, eu não tinha ideia de que eu ficaria tão excitado com um som saindo de sua boca. Mordisquei sua mandíbula, enquanto sentia sua mão descer para meu bumbum e apertar forte, aquelas mãos tão grandes que pesavam de forma tão boa estava me enlouquecendo. Suguei o lóbulo de sua orelha e propositalmente respirei de modo pesado ali, gemendo baixinho pelo aperto que se intensificou.

 

Rebolei os quadris e seu jeans nunca me impedia de sentir aquela ereção tão gritante. Era gostoso sentir que causava esse desejo em alguém. Mas eu ainda me perguntava porque causava e porque logo eu. Não pararia para perguntar agora, afinal.

 

Os dedos esguios passearam pela borda do calção do pijama, e um misto de ansiedade e vergonha me corroeu por inteiro. Puxou o pano para baixo, juntamente a minha boxer, mas no entanto, fora apenas o suficiente para deixar meu pênis livre.

 

Colei minha testa a sua, e respirei pesadamente, sentindo a ponta dos mesmos dedos acariciar meu membro melado. Não me atrevi a abrir os olhos, pois minha vergonha estragaria aquele momento tão carnal e gostoso. Sua respiração não estava diferente da minha, e ele buscou pela minha boca, o músculo molhado enroscando-se no meu semelhante. Sua mão agora envolvia meu membro por inteiro, iniciando uma masturbação compassada e branda. A volúpia era intensa, tão intensa que meu estômago se contraía, e passei a gemer mais do que beijá-lo.

 

Era bom sentir a mão de outra pessoa tocando naquele local tão sensível, era assustador o fato de que eu não desejei que mais nenhuma outra pessoa do mundo estivesse em seu lugar.

 

Seus dentes prenderam meu lábio inferior num mordiscar delicado. Os movimentos contra meu íntimo se intensificando, assim como os meus gemidos.

 

Sem ao menos notar; continuava remexendo-me sobre seu colo, na tentativa de sentir mais afinco sua ereção, além de impulsionar também meu membro contra o toque de sua mão.

 

Estava começando a me torturar, me tornei meio afobado e queria com urgência que nossas peles estivessem sem peça de roupa alguma, que nossos corpos suados pudessem se colar com liberdade e que ele se naufragasse inteiro em mim, naquele instante.

 

O beijei com premência, sendo o que guiava o beijo e serpenteava minha língua para dentro de sua boca. Afastei sua mão - ainda que estivesse gostando demais da masturbação.  Desci as minhas próprias a barra de seu jeans, cegamente buscando o botão e o zíper.

 

Cortei o ósculo em pesar, respirando esbaforido. Enquanto me afastava para poder tirar sua calça. Ajudou-me erguendo um pouco os quadris a expulsar aquela peça, e logo após também me ajudou a sumir com a cueca branca que usava.

 

Logo minhas últimas peças já estavam bem longe de mim, também.

 

Seu sorriso sobre mim, durante todo processo me deixou envergonhado, mas ele parecia se segurar para não comentar nada. Talvez estivesse gostando de me ver tomar partido da situação.

 

Eu devia me sentir constrangido quando seu membro já não era mais coberto e sua ereção tão esquecida até então gritava por atenção. Mas algo me fez apenas desejar ainda mais tudo aquilo. A glande inchada e rosada, tão melada e úmida, as veias saltando pela extensão do membro mediano. Era a primeira vez que eu via algo assim pessoalmente, e era uma ótima visão.

 

Me coloquei de quatro em cima de seu corpo, com as mãos e pernas de cada lado me apoiando no colchão quando ele se sentou, com as costas contra a  cabeceira da minha cama. Engatinhei até alcançar sua boca novamente, beijando-o de modo vagaroso, mas no entanto sugava sua língua e seus lábios tão intensamente que estava a ponto de emitir sons extremamente eróticos.

 

Estremeci inteiramente, sentindo suas mãos em minhas costas, descendo num passeio promíscuo e libidinoso até meu bumbum. Ele tomou nas mãos a carne com força, chegando a separar as nádegas.

 

Tremi, gemi, suspirei contra sua boca, e achei que não suportaria me manter com as mãos e os joelhos firmados contra a cama. Afundei meu rosto em seu pescoço divagando entre a vergonha e excitação com toda aquela exposição.

 

“Ar… Isso dói” Choraminguei, afundando ainda mais o rosto em seu pescoço, no momento com uma das bandas ardendo e queimando pelo tapa estalado que recebi.

 

“Ei” Ele me chamou, e o encarei, acredito que extremamente vermelho. “Chupa?” Pediu, e eu abri a boca um pouco tímido, deixando que quatro dedos seus invadissem a minha boca. Chupei seus dedos, e em seguida os deixei bem molhados de saliva, rodeando minha língua por eles, olhando-o com tamanha vergonha e constrangimento.

 

Taehyung me encarava como se fosse um predador, talvez eu estivesse provocando demais. Seus olhos se fixaram em mim de modo tão intenso e único. Como ninguém nunca havia feito antes. Ele era a única pessoa que gostava de mim, que me desejava daquele modo.

 

Era assustador. Nunca pensei que um dia alguém estaria me olhando daquela forma, com tanta necessidade e desejo. Nem mesmo Jimin, pois Jimin sempre foi uma fantasia distante e inalcançável e que eu não chegava a fantasiar tais pequenos detalhes.

 

Um dedo indicador fizera certa pressão contra meu íntimo, na tentativa de invadir-me. Mas ainda que eu quisesse acolhê-lo, era dolorido e instantaneamente meu corpo o expulsava.

 

“Relaxa, Hoseok…” sussurrou, sereno.

 

Voltei a beijá-lo, talvez em meio a um ósculo eu não sentisse tanto. E eu de fato não senti. Bom, não o primeiro dedo, mal notei a dor da primeira invasão. Tudo que me importava era o prazer sagaz que me proporcionava com o passar do tempo.

 

O segundo já senti uma pontada meio irritante e ele não conseguiu mover muito bem a início. E o terceiro, também. Mas apesar daquela dorzinha boba, era gostoso, era bom. Tão bom que esse prazer era expulso de mim em forma de choramingos e lamúrias manhosas e altas.

 

Taehyung também gemia, porque eu o masturbava, com uma coragem vinda de um lugar distante eu consegui tocar aquele membro, conseguia mover minha mão sobre ele, rápido e fazendo uma pressão que ele parecia gostar em demasia.

 

O quarto dedo me fez apertar ainda mais seu pênis, pois fora o mais dolorido, tanto que mordi seu lábio inferior tão forte a ponto de sentir o gosto metálico em meu paladar. Mas aos poucos consegui me habituar, recebendo uns murmúrios carinhosos, e ele movia os dedos lentamente com um tanto de dificuldade.

 

Era necessário que eu conseguisse me habituar aos seus dedos, assim, acredito eu, que não doeria tanto quando descemos o próximo passo.

 

Com o tempo não só me habituei, como queria que ele fosse mais fundo, que seus quatro dedos naufragassem profundamente em mim. Era realmente bom. Chegava a ser irônico eu estar tão necessitado por seus toques, quando passei tanto tempo correndo, fugindo e o evitando. Sem considerar, de fato, como ele podia ser bom.

 

Quando dei-me conta ondulava o meu quadril, remexendo-me contra seus dedos, sem parar nenhum momento de mover minha mão contra seu membro; pois, também queria agradá-lo, e que ele gostasse dos meus toques; ainda que fossem inexperientes.

 

“Você quer sentar?” Sussurrou, contra a minha boca, embrenhando os dedos livres nos meus cabelos, fazendo com que eu me afastasse.

 

“Eu queria te chupar antes…” Não sabia porque aquilo não ficou entalado em minha garganta.

 

“Ah… Hoseok, você quer me enlouquecer, isso sim.” Puxou um pouco mais, aproveitei aquela coragem devassa que se alastrou, para sorrir bem sacana. “Você gosta de me torturar, cara”

 

“Depois de tudo, talvez você mereça, não acha?” Me empinei mais contra seus dedos e intensifiquei a masturbação, ouvindo seu urro gostoso pra caramba.

 

“Então… O que você acha de me chupar enquanto eu te chupo também?” Realmente com aquele loiro não se podia brincar, quem dirá ser um pouco mais ousado. Ele estava mesmo propondo aquela posição.

 

E eu estava mesmo alcançando a insanidade a ponto de concordar.

 

Vazio. Era assim que eu me sentia. Vazio. Porque não tinha mais quatro dedos naquele lugar. E ele sorriu, ao ver minha expressão, sorriu daquele jeitinho petulante e prepotente. Pela primeira vez, gostei de ver aquele sorriso.

 

“Difícil acreditar que eu sou o primeiro com quem você já ficou quando você age assim.” Apertou meu queixo entre seu dedão e o indicador, beijando-me levemente em seguida.

 

“Eu te odeio por despertar esse jeito sujo e necessitado em mim” Respondi, e ele sorriu novamente.

 

“Vire-se então, você vai ser mais sujo ainda”

 

Mordiscou-me o lábio inferior e eu choraminguei baixinho, era como se aquilo tivesse me deixando completamente estarrecido, com as pernas e braços bambos. Aquela voz podia me enlouquecer naquele momento.

 

Me virei como ele havia pedido, e ficar cara a cara com seu membro era um pouco vergonhoso, no entanto o que me deixava num tom vermelho escarlate dos pés a cabeça era o fato de que ele estava olhando lá, e que sua língua logo… Bem, ele ao menos esperou que eu me estabelecesse devidamente na posição e faminto, espalmou minhas nádegas sem delicadeza alguma e seu músculo macio e molhado contornava meu íntimo. Inclinei minha coluna com a surpresa do seu ato repentino, e o gemido altamente esganiçado foi impossível de controlar na garganta.

Devido aos quatro dedos que antes brincavam por lá, ele não teve dificuldade alguma de ser o bom invasor que sempre fora e serpentear sua língua para dentro.

 

A minha mente estava tão nublada que já não pensava em exatamente nada. A realidade que nos esperava lá fora. Meu desprezo que nunca foi realmente um desprezo por ele. O fora. O amanhã. O que nos esperava depois de tudo.  As inseguranças. Nada. Me esqueci de tudo, nada passava por minha cabeça; se não a volúpia que sua língua me proporcionava.

 

Com seu pênis em mãos, logo decidi que aquele era o momento de saciar a vontade que crescia desde que arranquei o jeans que cobria algo tão apetitoso.

 

Inicialmente abriguei a glande inchada, sugando devagar. Nunca havia feito então mesmo me esforçando não seria algo que o agradasse tanto, afinal. A textura dele era diferente, o gosto meio salgado nada do que eu já não esperasse.

 

Me senti um tanto guloso e afobado quando acolhi mais da metade dele, sugando num ritmo lento o qual eu me esforçava para não me engasgar.

 

Saciei aquela vontade com deleite. Taehyung era gostoso, no fim de tudo.

 

Conciliar o prazer que sua língua invasiva me causava com o de sugar gulosamente aquele membro tão bom era a coisa mais difícil daquela noite. Tão difícil que eu não sabia se continuava soltando gemidos e suspiros, ou se continuava o sexo oral. E no momento em que ele parou de usar sua língua dentro para chupar fazendo sons extremamente eróticos enquanto intercalava em apertar meu bumbum e deixar tapas estalados eu passei a gemer enquanto mantinha a felação, pois simplesmente não sabia o que fazer.

 

Os espasmos começaram a ser intenso, a sensação de estar prestes a alcançar o orgasmo também.. Minha coluna doía pelo tanto que eu me arqueava. Meu membro podia não estar sendo tocado, mas ele doía tanto, e estava pronto para sujar o peito daquele loiro.

 

E quando o prazer foi impossível de manter, me desfiz, enfraquecido. Minha mente em um vazio profundo, meu corpo inteiro se contraindo, meus joelhos tão bambos que se ele não me segurasse eu cairia sobre seu corpo, e com seu membro ainda em minha boca.   

Dei uma última sugada estalada antes de sair da posição em que estava, para voltar para ele. Me deitei ao seu lado, e o vi passar o dedo pelo peito sujo do meu líquido branco e viscoso. Era despudorada demais a forma como ele sugou os dedos.

 

“Você quer continuar?” Sussurrou, quando me acheguei mais, abraçando-o de lado, e afundando o rosto em seu pescoço.

 

“Sim, mas eu não quero sentar.” confessei.

 

A verdade é que eu estava mole demais, só queria me deitar, e que ele fizesse todo o trabalho.

 

“Deita de bruços então”

 

Talvez seja meio estúpido o sexo ter me deixado meio manhoso, mas eu apertei meus braços em volta de sua cintura quando ele ameaçou se levantar.

 

“Eu vou só limpar isso aqui, já volto, Hoseok”

 

Deixei que ele se levantasse e me deitei como havia ordenado. Minha ereção tinha ido embora, mas ver aquele loiro andando nu até o banheiro logo me deixaria tão excitado como a segundos antes.

 

O vi se limpar com uns lenços  de papel que eu deixava no armário do banheiro, e ele sorria, daquele jeito só dele, todo dele, como se soubesse que eu estava gostando da sua imagem tão pornografica no momento.

 

Não.. não desgrudei os olhos da sua ereção, das suas coxas tão fartas e definidas, ou até mesmo do bumbum que eu ainda apertaria quando tivesse oportunidade.

 

Agarrei-me ao travesseiro, e afundei meu rosto no mesmo, sem coragem para manter aquele contato visual que ele desejava.

 

Não demorou nada para que ele voltasse, sua respiração queimando minha nuca, o corpo pesando sobre mim, seu membro tão pressionado ali, no entanto ele não fazia menção de iniciar a penetração naquele momento.

 

No fundo cheguei a conclusão de que em todo esse tempo que o conheço, ele só quis poder ser carinhoso comigo. Por isso os toques em excesso, não era uma forma de me irritar, acredito agora; sentindo seus lábios sobre meu ombro em beijinhos delicados que foi sempre uma tentativa de ser carinhoso.

 

Talvez o cretino da história fosse eu, afinal.

 

“Se doer muito, e você quiser parar, fala, tudo bem?” Sussurrou contra minha nuca, e eu girei um pouco o pescoço para o lado, deixando uma parte do meu rosto contra o travesseiro, e a outra exposta para que ele pudesse deixar mais dos seus beijos carinhoso.

 

“Huhum” Respondi-o.

 

Não abri os olhos, mas sabia que ele estava encarando-me de perfil, sabia que ele olhava-me a todo instante, e corei pela primeira vez por algo tão simples naquela noite.

 

Não tive muito tempo de pensar sobre tais banalidades momentâneas, pois ele me surpreendia outra vez, me invadindo inesperadamente. Não doía tanto quanto eu achei que iria doer, talvez quatros dedos indo tão fundo a início tenha ajudado, e a umidade da sua língua e saliva também. Mas ainda que não doesse tanto, apertei os dedos contra o meu lençol azul, com força, enquanto gemia fraco.

 

Ele se movia, mas era devagar, acredito que com receio de me machucar e isso eu podia ver e sentir pela forma como ele continuava beijando a minha nuca e ombros, sussurrando coisas como “já passa” ou “relaxa” várias e várias vezes...

 

E até que aquele ritmo estava sendo gostoso e aprazível. Eu conseguia encontrar prazer daquela forma, naquela baixa intensidade. Mas com o passar do tempo vi que estava sendo difícil para ele manter naquela lentidão gostosinha, e eu não o torturaria mais, estava na sua vez de gozar..

 

Me virei um pouco para ele e segurei sua nuca, buscando seus lábios de maneira desajeitada. Ele estava se controlando tanto que soltava gemidos baixinhos e roucos, a segundo que entrava e saía lentamente, e sua respiração era forte, quente e pesada demais. Como se já estivesse no seu limite.

 

“Pode ir com força, agora” Disse, com meus lábios resvalando aos seus semelhantes.

 

“Você acha que aguenta?”

 

“Não se preocupe, Kim. porque tanto cuidado agora?” Indaguei, lembrando-me do início da noite, antes de tudo.

 

“Então você quer assim, hum?” sorriu, todo libidinoso e cafajeste.

 

Ele impulsionou o quadril fortemente uma única vez, mas fora um movimento intenso e encorpado, doloroso também, mas ainda assim chegou à minha próstata; arrancando-me um grito lânguido.

 

“Assim…” Concordei, em meio à gemidos

 

E ele voltou a se arremessar para mais adentro, indo fundo e rápido, o membro massageando minhas paredes internas e a próstata inúmeras vezes. Era rude, forte, intenso e sujo. Mas era gostoso, era bom demais. E eu definitivamente não queria que fosse outro alguém em seu lugar.

 

Talvez nem mesmo Jimin.

 

Os beijos em meus ombros foram substituídos por mordidas, ele não se controlava, mordia com força, sugava minha carne dolorosamente, e não posso negar que gostava muito da sua boca sendo tão violenta.

 

As mãos pesadas e grandes apertavam minha cintura, a ponto de que não tardaria para que seus dedos logo ficassem marcados ali num arroxeado mórbido.

 

Mesmo que ele estivesse e extravasando, ditando o próprio ritmo, eu ainda queria um pouco mais, e sem ao menos notar empurrava meu bumbum contra ele, e nos contrastavamos, nossas peles emitiam um som vulgar e pornográfico, estalos, e mais estalos.

 

Meu quarto nunca esteve tão quente, minha mente nunca esteve tão nublada, e eu nunca pensei que o nome de Taehyung fosse sair da minha boca tantas vezes em gemidos, e murmúrios, com tanta necessidade.

 

A sensação de espasmos correndo desgovernada por todo meu corpo se tornou mais intensa, logo deduzi que estava prestes a me desfazer mais uma vez. E como se ele soubesse as sensações que me causava aumentou o ritmo e a força como se arremessava, fazendo com que seu membro fosse completamente engolido lá embaixo.

 

Foi questão de poucos minutos para que o segundo orgasmo me alcançasse, e dessa vez sujando a mim mesmo e meu lençol azul, tudo em mim se contraiu, e seu membro parecia maior, tão maior que meu corpo frágil e mole tentava expulsá-lo. Mas eu ainda queria que ele chegasse lá, dentro de mim, então mesmo amolecido e começando a ficar dolorido voltei a beijá-lo, sussurrando contra seus lábios para que continuasse.

 

E ele continuou, algumas poucas estocadas depois senti-o se desfazer dentro de mim, preenchendo-me com seu prazer, enquanto urrava meu nome como um mantra.

 

Aos poucos eu estava vazio outra vez, e ele se deitava ao meu lado. Não sei muito bem o que ele disse, mas me lembro de sentir seu afago carinhoso em meus cabelos até que eu pegasse no sono.

 

No dia seguinte. Kim Taehyung não estava mais ao meu lado, muito menos em meu quarto.

 

Estranhamente me senti mal por isso.




 

[...]





 

Não é como se eu tivesse superado magicamente minha obsessão por Jimin, não mesmo, eu ainda gostava dele. Mas acontece que aquela noite bagunçou tudo na minha vida, deixou minha cabeça totalmente desorganizada. Os sentimentos que antes eu gritava firmemente pelo Kim, não eram tão exatos assim agora. Tudo estava tão diferente. Minha vida não era mais a mesma, muito menos eu era o mesmo.

 

Eu fiquei alguns dias sem encontrar Kim, e isso me deixou meio agoniado, lá no meu âmago eu me perguntava se ele estava me evitando, ou, se aquela noite não foi nada para ele. Sentia-me meio ludibriado, como se suas palavras não fossem reais, e tudo que ele realmente queria era se aproveitar da minha vulnerabilidade para conseguir sexo fácil.

 

Sei que pode ser exagero meu. Mas, o que se pode pensar se um cara transa com você, diz que tem sentimentos e depois simplesmente some por três dias?

 

Por outro lado, uma coisa boa no seu sumiço foi poder andar pelos corredores sem ser olhado, ou que as pessoas esbarrassem em mim sem medo, eu não era mais o Zé ninguém dos anos anteriores, as pessoas sabiam quem eu era, mas apesar disso elas não davam a mínima para mim. E essa era a parte boa da coisa toda, ser ignorado, passar despercebido, não ser ninguém na fila da cantina.

 

No quinto dia de sumiço, eu já estava começando a surtar de verdade, e se ele queria que eu escrevesse como eu me sentia em relação a si no meu caderno de anotações, eu passei uma noite inteirinha apenas deixando claro todo ódio que ele me causava, todo sentimento ruim, toda a raiva. Eu só queria que ele aparecesse para que eu pudesse dizer o quanto o odiava e que não queria nunca mais que chegasse perto de mim.

 

Porque sim, no sexto dia eu já tinha certeza de que suas palavras eram falsas suas intenções imundas. Kim Taehyung era pervertido e eu me deixei levar por aquele jeito irritante.

 

Não, não gosto dele. Bom, eu posso estar afim dele. Talvez um pouquinho apaixonado, mas é só um pouco, quase nada. Contudo isso não é problema, já que logo o ensino médio termina e eu nunca mais vou precisar olhar para aquele rosto estupidamente… bonito e cafajeste.

 

E depois de uma semana, ele apareceu na sala de aula. O olho direito meio inchado, o nariz com um band-aid mal colocado, típico uniforme amarrotado, com a gravata solta em volta dos ombros, a camisa branca para fora da calça, e os coturnos imundos. O olhei, sério, e pedi mentalmente para qualquer divindade que regesse a terra para que não permitisse que ele se sentasse ao meu lado. No entanto, nenhuma divindade estava disposta realizar meu pedido, e ele teve a pachorra de se sentar ao meu lado.

 

Me controlei, precisava manter a calma, precisava controlar a vontade de gritar e socá-lo por inteiro.


 

“Bom dia” Sussurrou em meu ouvido, e embora tenha sido rápido e ninguém deve ter notado ele deixou um beijo leve abaixo da minha orelha.

 

Respira, Hoseok. Não mata ninguém hoje, não na frente de tantas testemunhas que podem te incriminar.

 

E para piorar toda a situação ele aproximou de modo absurdo a cadeira para mais perto de mim, e colando uma a outra pois seu braço direito em volta dos meus ombros. Eu até pensei em fazer algo, mas meu sangue ferveu tanto, e fiquei tão irritado que se eu fizesse qualquer movimento descarrilharia em show e tanto. Com gritos, ofensas, agressões e essas coisas. Então decidi ficar na minha, me afastando toda vez que ele ameaçava me beijar o rosto, e ignorando-o sempre que ele puxava um assunto meio bobo sobre a aula, ou sobre alguém da sala - nunca falando sobre aquela noite.

 

Era admirável como ele achava que estava tudo bem entre a gente, como ele ignorava toda a situação e queria agir normalmente depois de um sumiço tão longo. Era tudo culpa da sua prepotência em pensar que conseguiria tudo de mim, ou de qualquer pessoa.

 

Estava me sentindo um idiota. Admitindo finalmente para mim mesmo a minha estupidez e o quão merda a minha vida estava nos últimos meses. Pensar que algo iria melhorar só um pouquinho era ingenuidade, burrice. Com Taehyung tudo sempre teve tendência a piorar, ele era um maldito desastre na minha vida.

 

Assim que sinalizou que era horário do intervalo, tirei sem delicadeza alguma àquele braço irritante de cima de mim e me levantei, deixando meus materiais de qualquer jeito sobre a mesa, sem ligar se poderia sumir ou não.

 

Ignorei a presença do loiro que chamava meu nome logo ao meu encalço; era certo, claro como água, quando eu abrisse a boca apenas gritos saíram, e não podia ser ali, no meio do corredor.

 

“Ai!” Estava tão distraído focado em encontrar as escadas para o terraço que acabei esbarrando em alguém, e só notei a gravidade da minha distração quando não percebi ser Jimin, quando reconheci os cabelos negros e os olhos pequenos já era tarde, o garoto estava no chão, junto à sua papelada de possíveis cópias para algum professor ou clube extra curricular.

 

“Meu, Deus! Me desculpa, Jimin” Ajudei-o a se levantar, afobado e preocupado.

 

Meu coração ainda batia forte, mas não como antes.

 

“Está tudo bem, Hosook. Eu é que não te vi.” Ele respondeu. E eu assenti enquanto o ajudava com as folhas.

 

Ele nunca me via, realmente. Nem mesmo se eu me pintasse da sua cor favorita. Eu continuaria sendo invisível. Tão invisível que até meu nome ele esquecia.

 

Respirei fundo quando terminei de ajudá-lo e voltei ao meu percurso inicial, ignorando a presença que continuava me seguindo e falando coisas que eu não estava disposto a ouvir e sequer; compreender. Zumbidos, eu ouvia zumbidos.

 

Quando alcancei o terraço tentei fechar a porta atrás de mim, no entanto, não tinha força o suficiente contra ele e muito menos a chave ficava por ali para que eu pudesse trancar. Uma ideia estúpida, é claro.

 

“O que ‘tá acontecendo com você?” Ele tinha uma expressão assustada, como se eu fosse louco ou algo do tipo.

 

Eu poderia ter feito algo mais sensato do que ter começado a dar socos frustrados em seu peito enquanto permitia que minhas lágrimas - seja lá de onde tenha vindo minha triste vontade de chorar - transbordassem de mim por inteiro.

 

“Eu odeio você!” Gritei, e ele tentava segurar meus punhos, indo cada vez mais para trás.

 

“O que aconteceu?”

 

A sua insolência estava me emputecendo, ao mesmo tempo que me agoniava e entristecia. Era tão insignificante assim para ele? Que ele simplesmente não tinha ideia do que fizera? Ou ele só estava sendo cínico? Fazendo-me de idiota?

 

“Cara, calma, relaxa” Ele conseguiu dominar meus pulsos, e sem que eu pudesse pensar na hipótese de ser abraçado fui pego de surpresa.

 

Idiota. Era isso que ele era. Um idiota, estúpido, babaca. E eu não cairia de novo nessa.

 

“Não toca em mim” tentei me afastar, no entanto, ele era mais forte, mais alto, não havia como eu sair daquelas garras.

 

Eu não estava chorando porque estava triste, era mais por ódio, raiva, frustração. Eu fui tão enganado mas continuava ali, em seus braços, agarrando o pano da camisa do seu uniforme, afundando o rosto naquele pescoço cheiroso. Tão maldito.

 

Ele me manteve preso naquele abraço infernal por uns bons minutos, talvez quase cinco, até que eu já não molhasse sua camisa e parasse de tentar empurrá-lo. Aqueles dedos grandes e esguios se afundando nos meus fios de cabelo.

 

“Respirou? Relaxou?” Me encarou, os dedos acariciando meu rosto. Rolei os olhos e afastei-me do seu toque.

 

“Você é um idiota” Resmunguei. “ Um babaca.”

 

“se você não me disser o que eu fiz, não tem como a gente conversar, Hoseok” Forçou-me a encará-lo de novo.

 

Era muito idiota mesmo.

 

“Você não sabe mesmo? Não se faça de tonto, Kim” Consegui empurrá-lo o suficiente para me afastar. “Como você consegue sumir por uma semana depois daquela noite e agir como se nada tivesse acontecido? Você só queria foder com algum babaca”

 

“Ah…” Ele enfiou as mãos no bolso, mudando um pouco a expressão; antes parecendo confuso. “Eu não sumi por querer. É que a minha mãe estava doente, e essa semana piorou, meus irmãos não ajudam muito e eu tive que ficar em casa com ela.”

 

Okay, talvez possa ser mentira, e eu possa estar sendo feito de idiota outra vez. Mas, se eu estava ou não sendo feito de idiota não importava, eu me senti um babaca, dramático, bobo, arrogante sentimental. Afinal, porque eu estava dando tanta importância pra toda essa situação?

 

“E então me desculpe por sumir, não queria que você se sentisse assim”

 

“Você não tem celular? Podia ter me avisado, tipo: “oi, seu trouxa, eu to cuidando da minha mãe, volto pra escola logo”.” Resmunguei, cruzando os braços. “Isso não custaria nem dois minutos do seu dia.”

 

“Eu também achei que não foi nada pra você, por isso não liguei. Porra, Hoseok, você é cego pelo Jimin, o que eu podia esperar além de você querer distância de mim pra conseguir organizar sua cabeça?”

 

“Você acha que se eu não gostasse nenhum pouquinho de você, tudo isso estaria acontecendo? Nós chegaríamos onde chegamos? Você é um babaca” sussurrei, deixando aquilo me escapar de modo impensado.

 

Me sentei, escorando-me na parede, no mesmo lugar onde nos beijamos naquele dia. E ele logo se sentou ao meu lado, não tão perto como da última vez.

 

“Você fala de mim mas é péssimo em demonstrar sentimentos”

 

“É que eu não sei o que eu sinto por você”

 

Ficamos em silêncio por um bom tempo, eu não sabia se estava irritado, ou, decepcionado, mas eu me senti incomodado com o nosso silêncio, com a forma como ele estava meio distante. Eu queria que ele tocasse em mim, que me beijasse.

 

“Oitavo ano” Ele murmurou meio aleatório; o olhei, erguendo uma sobrancelha.

 

“O que?”

 

“Foi a primeira vez que eu vi você. Foi no oitavo ano.”

 

“Você não estudava aqui…”

 

“É engraçado como você pensa que é invisível, mas, não é. Não pra mim, talvez eu sempre tenha sido pra você, porque eu te vi pela primeira vez num dia frio no oitavo ano, você estudava em um corredor diferente do meu e sempre passava olhando pros próprios pés, cheio de pressa para encontrar o carro da sua mãe em frente a escola. Até entrar para o ensino médio eu não era assim, eu era só um garoto que normal que só era chamado atenção na aula por cochilar. Acho que eu gosto de você desde o oitavo ano, sei lá, eu sempre te observei, te admirei do meu cantinho e defendi você quando algum colega falava sobre sua estranheza ao ser tão sozinho” Ele não olhava para mim enquanto dizia, apenas fixava o olhar em um ponto qualquer no chão, parecendo perdido nas próprias lembranças.

 

Eu me senti mal por não reparar logo nele, que chamava atenção onde quer que passasse.

 

“Quando entramos no ensino médio eu mudei um pouco, quer dizer, eu não fazia exatamente por querer atenção. A início eu só perdi a cabeça quando o Jonghyeon da sua sala estava planejando te trancar no banheiro. Foi a primeira vez que eu briguei por você, Hoseok. Não quero que se sinta como uma princesa que não pode se defender sozinha, mas eu tinha na minha cabeça que era o meu dever fazer com que você tivesse sempre bem, sem ninguém no seu pé, ou te enchendo porque você é diferente. A verdade é que nessa escola ninguém é invisível, ninguém passa despercebido. Se você não tem um grupo de amigos, e é sozinho vão falar de você, vão inventar defeitos que não  existem para te pôr pra baixo e humilhar. Porque assim que funciona esse inferno. Não me arrependo de ter passado esse tempo evitando que você sofresse, Hoseok. E é até engraçado como eu consegui essa popularidade ridícula. Eu nunca quis, mas no fim quanto mais sabiam de mim, mais te deixavam em paz. Me desculpe se baguncei tudo, é só que, eu levei tanta porrada que achei que talvez merecesse só um pouquinho do seu amor. Eu não sou esse cara bruto que você pensa, quer dizer, eu sou sim, sou meio babaca também, mas é porque eu gosto muito de você. Te amo até e…”

 

Beijar Taehyung foi a única coisa que consegui fazer corretamente naquele dia. Era um misto de culpa e admiração me corroendo de forma tão dolorosa, que algumas lágrimas escapavam traiçoeiras. Nunca passou pela minha cabeça que ele estivesse por trás da minha paz, que eu nunca tivesse uma camuflagem, e ele fosse o motivo para que nada e nem ninguém enfiasse a minha cabeça no vaso sanitário ou tornasse minha vida um inferno.

 

“Você é um idiota” Sussurrei contra sua boca, ele sorriu, dando-me selinhos estalados, enquanto me puxava para sentar em seu colo. Levei as mãos até seu rosto e o beijei rapidamente, talvez eu estivesse começando a ter certeza do que sentia por ele. “Por que você é assim?… Que droga, Tae”

 

“Não me arrependo.” Apertou os dedos em minha cintura, e me afastando um pouco do seu rosto eu notei novamente os hematomas.

 

Em todo esse tempo, ele continuava se machucando por mim.

 

“Você brigou dessa vez porque?”

 

“Porque… O Seungho disse que você era só uma…” Respirou fundo, apertando ainda mais os dedos em minha pele “Uma bichinha”

 

“E daí, Tae? Você não pode querer dar uma de Superman toda vez que alguém me insultar”

 

“Você não entende, Hoseok. Se eu deixar, eles começam a falar mais, criam grupinho e sabe-se o que podem fazer com você quando te verem sozinho”

 

“Eu não quero que você continue brigando, é sério, eu sei cuidar de mim mesmo muito bem, Taehyung”

 

“Eu sei, eu sei. Mas é mais forte que eu”

 

Suspirei, ainda me sentindo culpado, e acariciei seu rosto, beijando sua pálpebra arroxeada, a ponta do nariz machucado, a testa, e ambas as bochechas meio rosadas. Passei meus braços por seu pescoço e o abracei, como um agradecimento pelos anos de paz, e talvez pela bagunça do último ano. Ele me abraçou também, apertando os braços firmemente em minha cintura.

 

“Eu tenho uma coisa pra te dar” Falou meio abafado.

 

“O que?” me afastei para olhá-lo, ele sorria. Um sorriso estupidamente bonito.

 

Afastou-se um pouco mais e se remexeu um pouco buscando algo no bolso da calça, acompanhei seus atos com curiosidade. Ele parecia ansioso e estava me deixando ansioso.

 

Surpreendi-me ao ver um caderno bem pequeno azul, com uns detalhes em branco, e meu nome estampado na capa como se tivesse sido feito a mão, não vou negar; estava uma merda, mas ele devia ter passado bastante tempo tentando customizar aquilo.

 

“É um diário novo, pra essa nova fase da sua vida”

 

“Você pode falar que quer que seja só pra eu escrever sobre você” Ri, em escárnio, tomando o diário de sua mão.

 

“E você vai?”

 

“Vou, vou escrever sobre as desvantagens de ser visível para o mundo e as vantagens de ser visível pra você”

 

Ele sorriu, eu o beijei novamente. Tendo certeza de todo sentimento que explodia de mim por aquele loiro nada cafajeste.

 

No fim, as desvantagens de ser notado pelo mundo não era tão ruim quando havia tantas vantagens de ser um alguém tão brilhante, na vida de Taehyung.

 

Eu era o pontinho escarlate no meio do imenso branco monocrático da nossa escola para ele. E ele era meu verde musgo que se destacava também, bem mais do que Jimin um dia já havia se destacado antes.


Notas Finais


Sei la, doido taehyung é mó trombadinha fofo

Chega ai https://curiouscat.me/jiwont


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...