História As herdeiras dos dragões - A vida segue (mesmo com uma guerra a caminho)

Lynae desceu as escadas um pouco sonolenta naquela manhã, exatamente por isso ela não ouviu os sussurros vindos da cozinha.Só passou a percebe-los quando viu seu pai ajoelhado na frente de sua mãe sentada na mesa. Lynae não sabia dizer quanto tempo ficou os encarado.
Soluço estava ajoelhado do lado de Astrid na mesa, tirando a franja dela do rosto para tentar fazer contato visual, o que não estava funcionando. A loira mantinha os olhos parados em um ponto fixo da mesa, e as duas mãos nas orelhas. Eles estavam sussurrando coisas tão baixas que Lynae não pode ouvir.
De repente, Astrid se levantou, ela encarou Lynae por um segundo e passou pela filha, sem dizer nada.
— o que foi? — perguntou a loira, encarando o pai.
Soluço suspirou, cansado.
— você pode cuidar das tarefas da sua mãe e da sua irmã? — perguntou o ruivo, se sentando na mesa e mudando de assunto.
— posso! O que há de errado? — insistiu Lynae.
— nada! — murmurou Soluço.— nada com o que se preocupar.
Lynae olhou para uma bolsa que trouxe consigo desde a ilha dos caçadores.
— pai! Ontem eu estava realmente cansada, e esqueci de te contar a melhor parte da minha fuga! — a loira pegou a bolsa animada.
— tem uma parte boa de ter fugido? Aliás, mocinha... — ele parou quando ela tirou o olho do dragão da bolsa.— o que é isso, Lynae? 
—e você não sabe o melhor! Tem um livro sobre ele! — Lynae pegou o mesmo animada.
— filha isso é..— os olhos do ruivo brilharam.
Ele foi interrompido por um grito agudo, forte e doloroso, vindo do andar de cima. Os dois subiram as escadas correndo.
— Kristen? — chamou Soluço correndo até a filha, sentada na cama, com os pulsos cerrados.
A ruiva se manteve com os olhos parados e respiração desregulada.
— estou bem! — sussurrou ela. 
Soluço suspirou.
— por que não volta a descansar? Quer comer alguma coisa? 
Kristen fez que não e voltou a se deitar, virada de costas pra ele.
O ruivo se levantou, procurado por Astrid, que achou encolhida em um canto no banheiro.
— ou! Ou! — ele se abaixou.— se levanta! Por favor! 
— como eu faço parar? — perguntou a loira, batendo a cabeça na parede.
Soluço a encarou nos olhos, sem mais nenhuma ideia.
— eu não sei.. — sussurrou ele, uma lágrima escorrendo. 
Ele não aguentava mais, a cada dia, a cada hora que se passava, mais fracas Kristen a Astrid ficavam, mas magras, pálidas e com olheiras, mais atormentadas, ele não conseguia parar de ouvir os gritos delas que ecoavam pela casa de noite. Ele tinha que fazer aquilo parar. Mas, como?
— eu estou tentando, Soluço! — a loira deixou algumas lágrimas escapar.
— eu sei! — ele a abraçou.— eu sei! 
— talvez.. — ela soluçou.— talvez você devesse procurar outra pessoa! Uma que possa te ajudar e não dar trabalho! 
Soluço se afastou, chocado.
— não! Astrid, não! — ele colocou o rosto dela entre as mãos.— da onde está tirando isso? Eu nunca te trocaria! 
Ela tentou desviar os olhos, com um suspiro cansado.
— olha pra mim! — pediu o ruivo se inclinando contra ela.— eu te amo! Nunca vou te deixar! — ele entrelaçou os dedos nos dela.— e você não vai me deixar! — ela apertou levemente a mão dele.— feito? 
Astrid forçou um pequeno sorriso cansado.
— feito! — dito isso o ruivo se inclinou, prensando seus lábios nos dela, ela correspondeu, mais fraco do que poderia, mas correspondeu.
— mãe, acha que pode ficar algumas horinhas... — Lynae parou na porta do banheiro encarando seus pais.— vocês podiam fechar a porta! — murmurou a loira, fazendo os dois rirem.
— Kristen? É você no corpo da sua irmã? — perguntou o ruivo, brincando.
Lynae deu de ombros.
— de qualquer forma, mãe, você pode ficar com a Kristen? 
— não! É melhor.. — começou Soluço, mas Astrid o interrompeu. 
— é claro que eu posso! — disse a loira.
— Astrid.. — Soluço a encarou preocupado.
— eu consigo! Eu vou cuidar das minhas filhas até o dia em que eu for pra Valhala! — ela o encarou nos olhos com certa confiança, o que tinha sumido há alguns dias, enquanto ele a ajudava a se levantar do chão.
Soluço sorriu.
— ok! — ele beijou a testa dela.— qualquer coisa me chama! 
— então eu vou esconder o Olho do Dragão, e fazer as tarefas da mamãe e volto pra cá o mais rápido possível! — decidiu Lynae, descendo correndo as escadas.
— ela está se tornando uma mocinha mais decidida.. — murmurou Soluço, sorrindo.
— ela é uma mocinha decidida! — disse Astrid.
***
Lynae deu todas as aulas da manhã na academia, seus ouvidos estavam zunindo com barulho de gritaria de crianças pequenas e dragões filhotes. Ela estava arrumando os alvos pra próxima aula que começaria daqui alguns minutos, quando ouviu passos familiares da porta da academia.
— oi porquinho! — disse a loira se virando e sorrindo para Torresmo rapidamente.
— suas tentativas de apelido são horríveis! — murmurou o loiro, enquanto ela voltava a arrumar os alvos.— precisa de ajuda? 
— não! — ela se virou com as mãos na cintura.— já terminei aqui, tenho que arrumar alguns papéis ir em algumas reuniões e voltar pra casa! 
A loira, olhou para um Terror Terrível que estava quase queimando alguns papéis.
— não! Alguém segura aquele dragão! Flecha! Queima ele! — ela saiu correndo para a sala em que os papéis e os dragões estavam.— não queima ele não! Réptil sem noção! — gritou a loira, pegando os papéis.
Torresmo não pôde segurar uma risada.
— então.. — Torresmo se aproximou, encostando o ombro na parede, de braços cruzados.— vamos almoçar juntos? 
— desculpa! — a loira passou a separar os papéis.— a próxima aula começa daqui a pouco, adiantei todas as aulas pra poder chegar em casa mais cedo! Não é seguro deixar mamãe com a Kristen! Ela pode ter um ataque e.. — ela suspirou, achando uma carta de ameaça a guerra, depois jogou a mesma em um cesto com as outras pro seu pai.— do que eu tava falando? 
— não vai comer nada? — perguntou o loiro preocupado.
— eu vou ficar bem! — ela deu de ombros, sem tirar os olhos das cartas.
— Lynae, eu meio que precisava falar com você.. — a loira se virou o encarando nos olhos.
— por favor! Pode ser mais tarde? Me desculpa! De verdade, eu.. — ela olhou em volta, um pouco desesperada com o tanto de papéis na sala.— não posso deixar meus país na mão! 
Torresmo engoliu em seco e forçou um sorriso.
— claro, florzinha! — disse o loiro, pegando as mãos dela e se aproximando para um beijo, mas os dois foram interrompidos por um senhor coçando a garganta na porta.
— oi! — Lynae se afastou do loiro.—  Carpinteiro? A aula já começou? Desculpa eu... — ela encarou o senhor enquanto ele se afastava, voltando para o seu dragão com os outros alunos.— ok! Estou atrasada! Desculpa Torresmo! 
Ele não teve tempo nem de puxa-lá para um beijo rápido, porque quando viu a loira já estava lá fora.
Torresmo suspirou, pensando se o resto da vida deles seria assim.
*
*
***
— já chega da sua pequena vingança, Leila! Preciso do meu olho do dragão de volta! Pare de controlar a Astrid e controle a Lynae! — comandou Viggo, irritado com a senhora na sua frente.
— eu não vou controlar a Lynae, ela é troxa sozinha! Você viu como ela olha pra sua filha? — um sorriso maligno surgiu nos lábios da senhora.
— eca! Elas são irmãs! — disse Rayker atrás do irmão, fazendo uma careta.
— não assim, seu idiota! Lynae se importa com a irmã! Talvez a única que se importa em toda essa família! Vamos usar isso ao nosso favor!
— esse seu plano vai trazer meu Olho do Dragão de volta? — perguntou Viggo, a encarando com raiva.
— vai trazer a morte da futura líder de Berk! — disse a senhora animada.
*
*
***
— oi filha! — Soluço olhou para metade da Sala cheia de papel, a outra metade com alguns pequenos montes e a filha com uma cara de tédio.— como vai por aqui? 
— estou tentando ir mais rápido possível, mas ainda falta alguns montes.. — murmurou a loira, com voz grogue.
— ok! Eu consegui terminar mais cedo, pode ir pra casa eu termino aqui! — disse o ruivo, beijando a testa dela.
— não eu... Posso terminar! Vai estudar o Olho do Dragão! E ajudar a mamãe! 
— querida eu...
— vai lá pai! — ela forçou um sorriso animado, como se não estivesse cansada.
Ele forçou um sorriso.
— eu te amo! — disse Soluço a abraçando.
— também te amo! 
— você vai ser a melhor líder de todos os tempos! — disse Soluço, orgulhoso, ainda a abraçando.  
O sorriso dela se desfez sem que ele percebesse.
— tem certeza que não quer deixar isso..
— pai! Vai logo pra casa! 
Ele forçou um sorriso, orgulhoso do trabalho dela, antes de sair pela porta.
Eles presumiram que Lynae iria acabar mais cedo, mas depois de todas as cartas que Astrid deveria ter lido terem que ser lidas a loira acabou ficando até mais tarde na academia. 
O sol ainda estava se pondo quando alguém bateu na porta e a loira o mandou entrar.
— fui na sua casa, sua mãe disse que você estava aqui! — disse Torresmo entrando na sala.
— não tive tempo de sair! — murmurou a loira.
— comeu alguma coisa? 
— sim! Uma salada de frutas! Uma aluna trouxe! Tão fofa...— Lynae ainda não tinha levantando o olha pra ele.
— posso te ajudar? — perguntou ele.
— são só papeis que precisão ser lidos e assinados por alguém da família do líder! Eu posso fazer isso sozinha! 
— Lynae..? 
— Hmm? 
— o que acha de um passeio amanhã? 
— Torresmo, eu não posso! — ela finalmente levantou o olhar, com uma mistura de tristeza e raiva.
— tá desculpa! Eu sei! — ele aproximou da mesa, a encarando nos olhos.— eu quase te perdi ontem, tá legal?! 
— mas eu...
— não! Eu disse pra você...
— acha que manda em
Mim agora?! — gritou a loira. 
Torresmo a encarou incrédulo, Lynae suspirou, massageando as têmporas.
— desculpa Torresmo! Eu... Não queria....
— eu sei que você não queria fugir! Você sempre pensa em todas as chances antes de agir, você é inteligente! Não sairia sem mais nem menos! — ele pegou a mão dela.— isso que me assusta, tá legal?! Não quero te perder por besteira! 
Ela forçou um sorriso.
— eu estou aqui não estou?! 
— pode pelo menos almoçar comigo, ou sei lá.. Me treinar amanhã? — perguntou o loiro, fazendo-a sorrir.
— sim! Eu vou tentar! 
Ele se inclinou prensando os lábios dela rapidamente. Ele se virou, mas antes de sair, se virou pra ela.
— e tem mais uma coisa.. Duas na verdade mas... — ele se virou pensando em contar sobre Idum, mas ao encarar o olhar cansado da loira decidiu esquecer.— nada! Não é tão importante! 
Ela sorriu.
— boa noite porquinho! 
— boa noite, florzinha! — Torresmo fechou a porta atrás de si, e logo após fazer isso apoiou a testa na mesma, suspirando.
Lynae fez o mesmo lá de dentro e voltou a assinar cartas.
***
Kristen acordou mais uma vez, irritada, ela tinha que levantar. Mas não conseguia. Era como se vinte elefantes estivessem sentados em cima dela.
— você tem uma visita! — disse Astrid entrando no quarto, com Erick atrás. 
— oi..— sussurrou a ruiva.
— Hey... — disse o moreno.
— se precisarem de mim eu.. — a loira pareceu ficar tonta.
— tudo bem, Astrid? — perguntou ele.
— sim eu... — ela olhou pra filha apertando a maçaneta e saindo do quarto rapidamente.
Erick suspirou.
— tudo bem? — perguntou ele se sentando ao lado da namorada.
— sim! — ela segurou a mão dele, a apertado.
— mentirosa...
— To bem.. — ela abriu os olhos, o encarando.— Erick? — ele se aproximou, apertando a mão dela como um sinal pra ruiva prosseguir.— me ajuda a levantar? 
— hãn.. Tá! — ele passou um braço dela por seu pescoço e a apoiou para ficar em pé.
Ela estava descalça, com uma camisola branca que ia até seus pés.
— eu só.. — ela tentou se apoiar sozinha, mas falhou.—.. Quero ir ver a Violeta!
— ela tá comendo! Mas eu te levo lá! 
Kristen tentou se afastar dele e andar sozinha de novo, mas falhou.
— vamos lá! Dá o braço pra mim! — Erick a apoiou por um braço, Kristen respirando com dificuldade.— você consegue! 
 Foi difícil descer as escadas, ela escorregou algumas vezes, tiveram que parar algumas vezes para tomar fôlego até conseguirem chegar no andar de baixo.
— Violeta? — chamou a ruiva.
A dragão veio correndo, recebendo um abraço da ruiva.— oi garota! — ela acariciou o dragão com carinho e do jeito que conseguia.
Kristen se afastou encarando a dragão nos olhos.
— sinto muito que não possa ficar lá comigo! É que eu posso te assustar e você pode pegar fogo.. — a ruiva revirou os olhos com um sorriso.— mas eu estou bem! Não precisa se preocupar! 
Erick sorriu encarando as duas, ele percebeu o quão era sortudo por ter aquela ruivinha, ela nunca parava de lutar e parecia linda sorrindo para Violeta naquele momento.
Mas como tudo que é bom dura pouco as pernas dela fraquejaram e ela faz uma careta, cerrando os pulsos.
— Kristen? — Erick se aproximou a pegando no colo antes que Violeta não conseguisse a apoiar mais.
— estou bem! — sussurrou ela.
— Hey! — Soluço pousou na frente da casa.— o que vocês estão fazendo aqui?
— eu queria ver a Violeta! — murmurou Kristen sorrindo pra dragão, sentada, a encarando com preocupação.
— ok mocinha! — Soluço caminhou até os dois, a pegando do colo de Erick como se ela voltasse a ter 2 anos, o gesto chateou um pouco o moreno.— vamos voltar pro quarto.
— estou bem! — sussurrou ela de novo, franzindo a testa, fechando os olhos e descansando a cabeça no ombro do ruivo.
— tá bom, Astrid Hofferson! Nunca vi puxar tanto pra mãe! — murmurou Soluço, o mesmo se virou pra Erick.— você vem? 
— preciso ir pra casa! 
— Erick! — sussurrou Kristen, apertando o ombro de Soluço.
— tá eu vou.. Só.. — começou o moreno, corado, fazendo Soluço rir.
— sobe logo! — disse Soluço, entrando na casa.
Soluço deixou a filha em sua cama e foi procurar Astrid.
— se sente melhor? — perguntou Erick se sentando na cama de novo.
— ela vai matar meus pais? — perguntou Kristen.
— opa! Opa! Ninguém vai matar seus pais! 
— a Idum! Quer matá-los! — sussurrou Kristen com algumas lágrimas escorrendo.
— Hey! Vai dar tudo certo,ok?! — ele arrumou a franja dela, atrás da orelha da mesma. A ruiva assentiu.
— eu não vou deixar ela fazer isso.. 
— você não vai! — concordou Erick beijando a testa dela.
"Eu vou matá-la primeiro" pensou Kristen, antes de apagar de novo. 
*
*
***
— estamos na última fase do plano! — disse Daniela quando Leila entrou no seu quarto. 
A garota estava sentada em uma cadeira, com seu cavalo logo atrás, relinchando pra Leila. 
— ótimo! — a senhora se sentou de frente pra morena.
— eu sei o que estão buscando Leila! — Daniela se levantou.  encarando a senhora com desgosto por alguns segundos.— vingança não é o melhor caminho! 
Leila a encarou de queixo erguido.
— Então não vou mais mentir pra você! Mas precisa entender que eles querem todos os dragões, todas as ilhas! Anos atrás mataram um alfa inocente que estava sendo controlado por uma joia! — devolveu a senhora.
Daniela pensou por alguns segundos.
— Bem, se fizeram tudo o que diz que fizeram e se tudo isso trará paz para o seu coração, para finalmente poder se juntar a sua filha... — Daniela, desviou o olhar pegando uma bebida.
— sim! Ver minha maldita sobrinha sofrendo me trará paz! Tenho certeza! 
— então eu não vou descansar até Astrid pagar! — Daniela sorriu. — e agora vamos destruir tudo que ela ama! 
Leila olhou pro cavalo, com as veias se tonando cinzas e secas, depois o fogo voltando a percorre-las rapidamente, Daniela o acariciou, com os olhos preocupados.
— eu quero meu Olho do Dragão! — gritou Viggo entrando no quarto.
— calma meu querido! — Leila sorriu.— você vai assistir a algo muito mais preciso! 
— está na hora de orgulhar Drago, Viggo! — Daniela acariciou seu cavalo, com leveza e de vagar, até sorrir satisfeita.— sua filha finalmente vai matar os pais biológicos!