História As palavras que eu nunca disse - Prólogo

Dor.

            Tudo o que Katherine sentia naquele momento era dor.

            Um sentimento onipotente e avassalador, que aos poucos abrira um buraco profundo em seu coração. A escuridão nunca tinha fim. Era um abismo sem fundo, sem volta. E cada vez mais ela sentia sua alma sugada para baixo, e para baixo.

            Sentada sobre a grade da sacada de seu quarto, olhou para o céu, onde a lua prateada brilhava em contraste com o céu negro. Naquela noite, não haviam estrelas. Diante àquele cenário, imaginou-se como uma irmã dela, tão solitária e imersa na escuridão quanto ela estava.

            Um vento agradável soprou, lançando seus cabelos prateados para trás, enquanto ela fechava os olhos a apreciava a sensação que causava aquela brisa deliciosa de verão a beijar-lhe carinhosamente a pele. Então, deixou-se embalar por lembranças.

            Não conseguia chorar.

            Já havia chorado tudo o que podia e nada mudou com isso.

            As lágrimas não fizeram seu coração ficar mais leve, não mais que por um breve momento.

            Naquela noite, fazia um ano.

            Um ano desde que um fatal acidente levou toda a sua vida para baixo da terra.

            Um ano desde que sua vida começara a definhar de raiva e solidão.

            Seus pais morreram em um acidente de carro há exatamente 365 noites atrás, enquanto ela e o irmão dormiam, naquela mesma casa. Não fora culpa deles, mas o irmão não suportou a perda. Não aceitou. Então foi embora, abandonando-a à solidão como companheira.

            E então, ela perdera tudo.

            E sabia, que jamais juntaria novamente seus próprios pedaços.

            No entanto, permanecer naquele lugar parecia ficar cada dia mais difícil. Era difícil conviver com as lembranças, com as vozes daqueles que tanto amava sussurrando por entre as paredes. Com seus olhos no teto e em cada lugar para onde olhava.

            Por esta razão, decidiu ir embora.

            Vendeu a casa que por direito lhe pertencia, e no dia seguinte se mudaria para um apartamento qualquer que pôde comprar.

            Com isto, não se sentia culpada por abandonar a última lembrança que tinha de sua família, pois aquilo era apenas mais um caminho para a dor.

            No dia seguinte, se mudaria.

            Para uma nova casa, uma nova escola (pois também voltaria a estudar), e para uma nova vida.

            Mesmo que soubesse que jamais partiria para um novo coração.

            Abraçou o próprio corpo, sentindo os pelos já eriçados em contato com aquela brisa fina, e abriu os olhos, fitando mais uma vez o céu escuro que tanto lembrava sua alma.

            Mas, mal ela sabia, que em algum lugar daquele injusto mundo, outro par de olhos fitava aquele céu com o mesmo pesar.