História First things first - A primeira tentativa

- Isso é um gato? – Perguntei secando meu cabelo com a toalha enquanto minha outra mão livre apontava para o animal de pelos branco no colo dela.

- Sim! – Ela me respondeu com uma animação enorme levantando o animal. – Eu a encontrei na rua e depois de passar no veterinário e descobrir que ela não tinha dono resolvi adotar.

- Ela é fofa! – Falei me sentando na cama largando a toalha no chão e pegando aquela bolinha, ela tinha um olho de cada cor, azul e cinza. – Qual o nome?

- Kiki! – Skye me respondeu enquanto eu ainda brincava com a gatinha. A campainha tocou e ela se levantou indo atender, sai do quarto e fui para a sala sabendo que seria arrastada pela Skye de qualquer maneira, então era melhor ir por boa vontade.

-Então, acho que chegou a hora de você falar! – Skye disse colocando a caixa de pizza na mesa de café no centro da pequena sala.

- As cocas!

Ela me olhou feio assim que pedi, se virando e indo até a geladeira trazendo dois copos de suco.

- Suco! – Ela respondeu colocando o copo na minha frente, revirei os olhos.

- É o ultimo dia antes das aulas começarem, como você se atreve a fazer isso comigo? – Perguntei resmungando olhando para o copo na minha frente enquanto comia minha pizza.

- Seu problema, não meu. – Ela respondeu dando de ombros.  – Então, quando estiver pronta.

Skye falou, quando terminou de mastigar seu primeiro pedaço de pizza, sorrindo simpática, mas seu olhar era impaciente.

- O que você exatamente quer saber, o quanto constrangedor e horrível, ou a minha reação, ou também minha mãe, que com certeza deve estar planejando um casamento para mim e ele. – Falei, colocando a quantidade certa de sarcasmo em cada palavra.

- Qual é, não pode ter sido tão traumático dessa maneira! – Skye disse tentando amenizar, otimista.

- Ele roubou meu primeiro beijo. – Me exaltei. – Não que eu ache isso grande coisa-

- Maya- Skye começou a falar, mas não deixei ter tempo e continuei com meu desabafo.

- Ta eu posso achar que é um pouquinho uma grande coisa pra reagir dessa forma, mas foi tão ruim e na frente de toda aquela gente fofoqueira e as vizinhas xeretas, arg, e minha mãe.-

Eu começava a divagar falando e gesticulando enquanto Skye somente me encarava esperando que eu continuasse com meu desabafo até me cansar e acabar lhe contando a coisa toda com todos os detalhes.

- Ok drama Queen! Acabou com desabafo?

Assenti de boca fechada.

- Agora essa é a parte que você conta tudo, lembrando que...a puberdade fez alguma coisa de boa nele, mas o cérebro de Jacó não mudou muito então... O que eu to falando é, não dá pra ter sido tão ruim assim. – Skye tentava fazer uma lógica com a coisa toda com algumas caretas que não mostravam muita segurança.

- Vamos ver se você vai ter esse mesmo pensamento no fim. – Comentei mordendo raivosamente um pedaço de pizza.

Flashback on

Então lá estava eu mais uma vez, com um sorriso fraco e falso implantado no meu rosto, cumprimentando parentes que eu nem fazia ideia de que eu tinha. Era por isso que eu odiava casamentos ou festas de parentes, alguém vem sempre apertar suas bochechas com a frase clichê “Como ela cresceu” falando como se você nem estivesse ali.

- Eu estou falando sério, se eu tiver que sorrir por mais tempo meu rosto vai permanecer assim para o resto da vida. – Falei para meu pai que deu uma leve risada, enquanto eu exercitava meu maxilar que doía.

- Seja forte, estamos somente na cerimônia. – Ele comentou e eu grunhi claramente nem um pouco feliz, enquanto outro parente se aproximava para nós cumprimentar e eu preparava mais um sorriso falso.

Finalmente a festa havia começado, e a pista de dança tinha sido liberada para quem quisesse, eu estava sentada em minha cadeira confortavelmente, comendo o bolo de baunilha com recheio de ganache de chocolate finalmente sozinha depois de varios, fingindo não ouvir a voz de Skye no interior da minha cabeça me malhando por ingerir uma bomba calórica como aquela, e dando alguns goles no champanhe que havia pego de meu pai. Quando ele apareceu, e justo quando uma música lenta com uma pegada romântica começava a soar pelos alto falantes do espaço. Por alguns segundos eu tive a impressão de ser um cervo atravessando uma estrada no meio da noite, quando ao longe dois faróis o alcançam e ele fica parado ali só esperando a batida.

Eu não tinha conseguido nem pensar e já tinha sido arrancada da cadeira, e olhava por cima do meu ombro com pesar para meu bolo meio comido, procurando por alguém que pudesse me tirar dali. O começo apesar do meu desconforto foi muito bem, ele dançava bem, por ter feito aula de dança no verão da oitava série, e tentava puxar assunto comigo enquanto eu rezava para todos os santos existentes que a música acabasse logo. As coisas começaram a ir por água a baixo no meio da música, quando ele começou a se aproximar do meu rosto de uma forma muito desconfortável, e eu sentia o olhar de gavião de alguns convidados curiosos demais observando a cena toda, eu tinha certeza que teria uma torcicolo pelo jeito que eu mexia meu rosto, era horrível eu não entendia o que ele estava fazendo, éramos ótimos colegas/amigos – ok, mais para colegas – a cada tentativa dele eu tentava puxar algum assunto, enquanto procurava alguém por perto que pudesse me salvar.

Ninguém. Nada. Nietch. Quando eu preciso do Rhys para fazer alguma de suas artes – o que ele deve estar fazendo agora –ele nunca aparece, e foi nesse momento de distração onde eu queria ajuda que a merda atingiu o ventilador. O Connor me beijando, não foi bom, foi estranho, um pouco nojento, tudo só piorou quando sua língua invadiu minha boca, ele terminou o beijo com um sorriso orgulhoso no rosto e eu com uma careta e olhos arregalados. “Awwns” e “Eles formam um lindo casal!” Eram comentados em cochichos pelo salão. Meu primeiro beijo tinha acabado de acontecer, e daquele jeito!?

Depois desses míseros segundos, todos estavam sabendo, minha mãe tinha um sorriso no rosto feliz por sempre falar que eu e o Connor daríamos em algo. Mais sorrisos falsos quando as pessoas vinham comentar sobre meu mais novo inexistente relacionamento, enquanto eu desesperadamente tentava tirar a imagem traumática da minha mente, e uma boa quantia paga para Rhys deixar Connor bem longe de mim. A noite havia acabado e eu me sentia injustiçada, desejando ter ido mais cedo para a universidade.

Flashback off

- UUUUH! Isso ia ser uma ótima matéria, você acha que eu posso publicar isso no jornal da faculdade? – Isso foi à primeira coisa que Skye comentou quando acabei minha trágica história de primeiro beijo. Eu a olhei como se fosse um alien que tinha acabado de surgir na minha frente.

- Então, é isso que você fala quando sua melhor amiga acaba de contar, provavelmente o acontecimento mais traumático da vida dela!? – Perguntei, dando bastante ênfase em cada palavra, me exaltando.

- Não, é claro que não...Mas iria dar uma ótima história, “A primeira vez”... não um bom nome, mas ainda dá pra pensar. – Skye, claramente via muita graça em tudo aquilo, falava com um sorriso no rosto que denunciava o quanto ela se divertia. Bufei.

- Já te disseram que é muito feio rir da desgraça dos outros?

Falei jogando uma almofada que se encontrava do meu lado, na sua direção acertando seu peito enquanto ela ria.

- Olha, foi uma experiência traumática? Com certeza! Vai deixar marcas permanentes? Pode apostar! Mas antes tarde do que nunca, não é mesmo – Skye tinha seu sorriso de quem estava se divertindo muito, mas não podia mostrar então saia uma coisa meio difícil de ser explicada. – MAS aconteceu, e roubado ou não, agora você já pode riscar isso da sua lista, não foi do jeito que você queria, mas acontece, são coisas da vida.

Fiquei a encarando, com uma careta nada feliz.

- Eu odeio quando você vem com esses papos psicológicos. – Resmunguei pegando outro pedaço de pizza e me jogando no sofá de forma dramática, ignorando seu olhar que julgava a minha ação naquele momento.

Skye deu de ombros e abriu a boca.

- Se você disser que “são coisas da vida”, eu juro, amanhã você não vai acordar feliz.

A ameacei o que a fez rir e erguer os braços em sinal de rendição

 – Ok, ok, mas foi tão ruim quanto parece?

- Sim! – Respondi sem pensar duas vezes. – Provavelmente pior, mas eu não estou na posição para falar, porque né, eu não tenho com o que comparar, mas tenho certeza de que tudo que aconteceu não era pra ter acontecido, mais parecia uma máquina no modo de centrifuga!

 Skye se acabou de rir quando comentei do ‘modo centrifuga’, ela continuou rindo por um tempinho no chão, quando parou limpava os cantos dos olhos onde algumas lágrimas haviam escapado e se levantava, respirando para poder falar.

- Eu deveria ter ido! Eu poderia ter te salvado, ou ao menos ter uma boa risada!

Ataquei-lhe uma almofada que tinha do meu lado acertando certinho em seu rosto dessa vez. Ela reclamou passando a mão no rosto.

- Até que enfim essas aulas de tiro ao alvo deram algum resultado! – Skye comentou se levantando e se sentando ao leu lado.

- Eu sempre fui boa de mira, não preciso de aulas! – Respondi ligando a teve, conectando com o netflix.

- O que te ajudar a dormir à noite! – Skye disse tirando sarro da minha cara.

Ficamos jogando conversa fora e assistindo series até tarde da noite, o dia seria cheio amanhã e eu precisava de energia para o começo de mais um ano para lidar com tudo prestes a vir.