Certo dia, uma colega de escola de Yoongi o chamou, com todo o ar de seus pulmões, de garotinho egoísta por não lhe dar uma bala. E mesmo que o pequeno mal soubesse o que aquilo significava, tomou aquilo para si e, quando descobriu seu significado, já estava tão acostumado com a nova característica que apenas a deixou ficar por ali.
Sua mamãe vivia o lembrando que meninos egoístas não faziam o que ele fazia, mas de nada adiantava na mente daquela criança de dez anos.
Meio que só começou a repensar esse adjetivo quando seu melhor amigo, Hoseok, começou a ficar cada vez mais afastadinho de si (fora os dias em que aparecia e nem queria brincar, de tão tristinho).
E, poxa! Era o Hoseok, ele nunca ficava quieto á não ser que estivesse comendo – às vezes, nem assim.
Então Yoongi esperou, esperou e esperou até que seu amiguinho quisesse falar consigo, mas quando assistiu aquela novela com sua mãe em que um casal terminava seu namoro e não se falavam mais, o menino entrou em desespero.
Quer dizer, não é como se as crianças se gostassem ou algo assim (Yoongi já até chegou a quase namorar a menininha que o chamou de egoísta!), mas o garoto realmente se empenhou em alimentar a paranóia de que a situação era a mesma.
Portanto, naquela sexta-feira em que sua mamãe chegava às quatro da tarde, o Min se arrumou todo cheirosinho, como seu papai o ensinou, apenas para que fosse tentar reatar sua – talvez, ainda – nem terminada amizade.
É claro que quando sua mamãe chegou e estranhou todo aquele perfume do marido espalhado pela casa, a criança já se preparou para a bronca. Mas meio que estava tudo bem, contanto que ela não o proibisse de sair.
E deu tudo certo, na verdade.
Até o minuto em que ele parou na frente da porta do amigo, e simplesmente não conseguia bater nela. No seu coraçãozinho, a cena do término permanecia o deixando tristinho (quase mais do que seu amigo estava).
— O que foi, hyung? – perguntou o garotinho, após abrir a porta de surpresa, já sabendo que o amigo ia até sua casa nas sextas-feiras.
Meio que Yoongi não se lembrou dessa parte da amizade em que sempre viam filmes aos finais de tarde de sextas.
— Eu que te pergunto, Hoseok-ssi! – falou, repentinamente se sentindo um bobo.
E Hoseok continuou ali, paradinho com a mão na maçaneta, confuso. Naquela semana, não era a que iriam para a casa do Min, ao invés da sua? Tinham combinado isso de trocar as casas!
— Vamos pro seu quarto – decretou Yoongi, entrando mesmo sem ser convidado (já era da família, mesmo) e puxando o outro pela mãozinha.
— Yoonggie, o que foi? – perguntou, ao chegarem no seu quarto cheio de desenhos pelas paredes.
Seu aniversário havia sido há pouco tempo e, de presente, sua mamãe o havia deixado arrumar o quarto como quisesse. De longe, uma das últimas memórias felizes da amizade antes do mais novo começar a ficar chateado pelos cantos.
— Sabe, eu estava vendo TV com a mamãe e aí, o casal terminava! Sabe, eu nem gostava muito dela mesmo mas, poxa! Eles terminaram só porque ela gostava de outro! Mamãe me disse que ela estava certa, Hoseok-ssi, mas eu acho que não! – começou, de uma só vez, confundindo o amigo que havia deitado no tapete do quarto. — E aí, eu pensei! Se você está tristinho comigo, é porque tem outro amiguinho, né? E aí, não sabe como me contar, é isso? Pode me falar, eu não vou ficar triste.
Desabafou completamente, as mãozinhas tremendo de nervoso e vergonha enquanto o amigo continuava deitadinho no tapete, confuso como nunca sob tantos "e aí".
— Você é um bobão, Yoongi-ah. – falou, sorrindo com aquele sorriso de dentinhos de leite aqui, permanentes acolá (fora o espacinho vazio em que ainda cresciam mais!). — É que minha mamãe me contou que meu papai vai ter outro filho! Você não precisa ter medo, é meu melhor amigo do mundo!
— Ah, então não vamos terminar, né? – falou, com os olhinhos já cheio de lágrimas de medo.
— Nunquinha. Eu é que 'tô com medo, sabia? Meu papai já nem fala comigo e agora vai ter outro eu! – falou, repentinamente amuadinho, como tem ficado nos últimos dias.
— Não se preocupe, Hoseok-ssi, se seu papai te trocar eu falo pro meu papai brigar com ele! – sorriu grandão, segundo Jung, do jeito que ele tanto gostava e fazia tê-lo vontade de sorrir, também. — E também, se ele te trocar, eu vou continuar aqui, 'tá bom? Não precisa ficar triste, eu também fico!
E com todas as palavras juntinhas no ouvido de Hoseok, as lágrimas vieram fortíssimas, fazendo com que o amigo se desesperasse mas, nem tanto depois, chorasse junto.
Os soluços não demoraram a chegar, e logo a Sra. Jung estava no batente da porta, preocupadíssima com os ruídos dos garotinhos. É claro que toda a preocupação se dissipou no momento em que os olhou, ali tão juntinhos no tapete, entre lágrimas e paredes pintadas aleatoriamente.
Nem choraram tanto depois disso, apenas tentando entender afinal, o porquê de terem chorado. Nem se sentiam mais tão tristes!
— Obrigado, Yoongi-ah, você é mesmo o melhor amigo de todos! – falou, num rompante se levantando do tapetinho, sorridente como nunca deveria ter deixado de estar — Só não conta pros outros, tá bom? Ninguém mais pode ficar tristinho aqui!
Ambos sabiam que os outros logo saberiam, também. Até porque, Yoongi adorava se gabar de como ele e Hoseok eram os melhores amigos de todos, sempre juntinhos e nunquinha – quase – brigados.
E o dia que começou cheio de desespero e carinhas tristes, terminou quando todos os amiguinhos se sentaram na calçada da casa de Jimin, cansadinhos que só, olhando o sol se pôr atrás da casa de Namjoon – foi um choque o dia em que descobriram que o sol estava muito mais longe que ali, no cantinho do quintal do amigo.
Entre carinhas de sono, gritos e baguncinhas na calçada, cada um foi pro seu canto – exceto por Yoongi, é claro. Afinal, ainda era sexta-feira! E com sexta, queremos dizer o dia de filmes de super-heróis e pipocas cheinhas de manteiga (sem mais nenhuma lágrima, amém).
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