História As Tigrezas em: A dama de vermelho - Capítulo 2

No jantar, os cinco conversaram bastante. As meninas contaram o que aconteceu nos últimos meses, principalmente a descoberta do nome da garota de azul.

-Eu já ouvi falar dessa lenda.

-Acredite, vó, ela é mais verdadeira do que você pensa.

-Entendi. Mas vocês já ouviram falar da "Dama de vermelho"?

-Não - disseram as meninas ao mesmo tempo.

-Querem que eu conte?

-Sim! - responderam, juntas.

-Mãe, por favor, depois elas não dormirão à noite.

-Está tudo bem, sra. King, qualquer coisa eu protejo a Mel.

-Eu não preciso de proteção.

-Da última vez que você disse isso, uma menina colocou um chiclete no seu cabelo e a cabelereira teve que cortá-lo até os ombros.

-Nem me lembre disso, Luna.

-Então, vão querer a história ou não?

"Há duzentos anos atrás, uma mulher de família rica chegava à cidade, trazendo consigo joias valiosas e vestidos deslumbrantes. Fora morar em um casarão lindo com um jardim florido belíssimo à frente. Não havia quem não parasse para admirar sua beleza incontestável quando passasse. Além de bonita era educada e gentil e adorava contar histórias para as criancinhas.

Todo domingo ela ia à igreja e em uma dessas idas, conheceu um rapaz de família humilde. Logo os dois já estavam apaixonados e trocaram olhares durante toda a missa. Na saída, eles se cumprimentaram e marcaram de sair mais tarde. Ao chegar em casa, animada, ela foi tomar um longo banho de banheira, vestiu seu vestido de seda azul celeste, seus sapatos, um chapéu -já que fazia sol- e luvas brancas de linho. Ele já a esperava na porta e os dois foram ao lago, a alguns metros da cidades, para ver o pôr-do-sol mais lindo do mundo.

Eles começaram a sair frequentemente e logo começaram a namorar. Dentro de alguns meses, ele a pediu em casamento e ela aceitou. A notícia se espalhou pelas cidades vizinhas até que chegou aos ouvidos do pai da moça, o único problema era que ele já havia prometido a mão da filha ao filho de um dos fazendeiros mais ricos da região. Insatisfeito com a situação, ele mandou um telegrama para a filha, obrigando-a a mudar de ideia. Ela ignorou o pai e decidiu fugir com o seu amado. Furioso, seu pretendente jurou que mataria o homem que roubou sua amada.

Planejaram fugir à noite, levariam pouca coisa. O destino era incerto, só queriam ir para algum lugar longe dali. Saíram sorrateiramente, ela vestia um vestido vermelho como o sangue e sapatos baixos. No momento em que estavam subindo o morro, encontraram o pretendente da moça e alguns de seus capangas. Foram cercados e, sem dó nem piedade, atiraram no rapaz, o qual morreu na hora. Aproximando-se da donzela, obrigou-a a ir com ele, mas ela resistiu e, tirando uma adaga da bolsa, cravou-a em sua barriga, caindo em cima do corpo sem vida de seu amado e, com o fôlego que lhe restava, pôs-se a chorar. Os homens montaram em seus cavalos e saíram dali o mais rápido possível.

Na manhã seguinte, um fazendeiro que passava por ali viu aquela cena e chamou ajuda. Os corpo dos dois foi velado naquele mesmo dia. Dois dias depois, todos os homens que participaram do crime apareceram mortos, possuíam as mesmas marcas de arranhões, espuma saindo pela boca e olhos e língua foram arrancados. Dizem que a dama de vermelho se vingou da morte de seu amado, mas ela ainda não está satisfeita. Relatos contam que, no calar da noite, ainda pode-se ouvir seu choro pela morte de quem ela mais amou enquanto ainda estava viva."