A Mercedes prateada, estacionou em frente à construção em estilo vitoriano. Comprara a casa no leste europeu, naquela pequena e simpática cidade inglesa para se isolar e descansar. Drasmoor possuía não mais que sete mil habitantes e na maioria era idosos aposentados, famílias recém formadas, que procuravam no interior um lugar sossegado para criar seus filhos, que crescidos iam estudar em Londres ou Liverpool e sumiam de Drasmoor.
Era o lugar perfeito para ele.
Afinal, estava cansado. Era modelo internacional e tudo o que queria agora, depois de uma turnê pela Europa e pelo Oriente, fotografando para a nova coleção de inverno, era descansar em total anonimato.
Um latido chama a atenção do motorista. Ele sorri e acaricia a cabeça de sua cachorrinha da raça Keeshond, de pêlos acinzentados.
—Chegamos Duquesa. -disse abrindo a porta. -Nosso doce lar pelas próximas semanas.
Duquesa desceu rapidamente explorando o jardim da casa. O rapaz retira os óculos de sol e pegando as chaves em seu bolso e entra na casa, chamando sua cachorrinha. Tudo estava na mais perfeita ordem, limpo e organizado, fazendo-o desconfiar que sua empresária esteve aqui antes.
Foi até a cozinha e encontrou grudado na geladeira um bilhete dela, avisando que mandara arrumar a casa, e fez compras, o que significava dispensa e geladeira cheias. Sorriu. Saori Kido era perfeccionista e sempre cuidava do bem estar de seus modelos.
—Vamos ver o quintal, Duquesa? -perguntou pegando uma ameixa madura em cima de um cesto no balcão e caminhando para fora. -É um lugar tranquilo, querida. Nada de estresse para nós dois nestes dias.
Os fundos da casa lhe proporcionava uma visão linda. Muito verde, gramas, árvores, uma garota de biquíni tomando sol em sua grama, pássaros, esquilos e...
—O que você está fazendo aqui? -perguntou incrédulo!
A garota de cabelos castanhos levantou a cabeça e ergueu os óculos, revelando grandes olhos castanhos e curiosos.
—Ah...você é o novo proprietário da casa? –perguntou.
—Sou sim! E quem é você? Se está invadindo terei que chamar a polícia! -ameaçou o rapaz.
—Sou Helena Frost. Sua vizinha. -sorriu se levantando para cumprimentá-lo. -Espera! Eu já vi essa pintinha antes. -falou apontando para o rosto dele. -Você é aquele modelo da campanha de celulares! E do perfume! E do Rolex! Afrodite!
—Sou eu sim! -respondeu ainda irritado pela invasão. -Vem cá...não tem quintal na sua casa para se bronzear?
—Ter tem...mas está cheio de operários reformando meu estúdio. -falou desanimada. -A senhora Pudding não se incomodava de me ver tomando sol aqui.
—Mas não sou a senhora Pudding, ela me vendeu a casa. E eu me incomodo sim e...O QUE É AQUILO? -perguntou exasperado para um cachorrinho de pequeno porte, de capa preta e saltitante que brincava com a Duquesa.
—Aquele? É o meu cachorro Hank!
—Não quero aquele vira-lata horrendo perto da minha cachorrinha! -falou pegando Duquesa no colo.
—Que estresse! E o Hank é limpinho! -falou irritada. -Não precisa dar piti por causa disso!
—Quem está dando piti?
—Do jeito que falou, parece que o Hank é um monstro! -disse-lhe ainda brava. -Vamos embora, Hank!
—A saída é por aqui! -Afrodite apontou para um lado da casa e Helena o ignorou, saindo por uma falha na cerca de hera que separava as casas, seguida pelo cãozinho.
—Vou consertar essa falha depois. -disse o rapaz entrando na casa. -Espero que essa maluca e seu cão fiquem longe da gente.
Sentou no balcão, brincando com um guardanapo e ficou refletindo sobre sua vizinha, era bem espontânea...bonita até, mas sabia que deveria ficar longe se quisesse paz e sossego.
—Nada e nem ninguém ira destruir minhas férias. -determinou.
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Na noite seguinte...
—Alô polícia! -Afrodite chamava desesperado pelo telefone. -Tem um animal selvagem atacando minha cachorrinha indefesa.
Largou o telefone e saiu correndo com uma raquete de tênis, pronto para atacar o tal animal selvagem. Estancou horrorizado ao ver que era tarde demais.
—DUQUESA...NÃÃÃÃÃOOOOOOOOOO! -gritou.
—Qual o problema? -Helena apareceu de repente atrás dele, assustando-o, preocupada. -Quem morreu?
—Isso é pior que a morte!
Ele disse apontando para a cena e Helena foi averiguar.
—Aii..que bonitinho! -Helena pula batendo as mãos. –Hank e Duquesa estão fazendo filhotinhos!
—Esse seu cão sarnento está arruinando a minha cachorra campeã de Pedigree! -irritado.
—Para mim estão transa...
—EU SEI O QUE ESTÃO FAZENDO!
—Ai, não precisa gritar. -ela pediu. -Agora não adianta. Tarde demais. O Hank tirou a virgindade dela! -apontando para a cena.
—Pára de dizer estas coisas! Ela era virgem mesmo?
—Claro que era! ELA FOI VIOLADA!
—Ai, que exagero! -Helena suspirou. -Vamos fazer o seguinte...vamos entrar, farei um chá e vamos esperar a natureza seguir seu rumo.
—Helena...se não reparou...não estou com ânimo para chás! NÃO QUERO CHÁS!
—Refresco? -sorriu a morena.
—Seu maldito vira lata desonrou MINHA CACHORRINHA PREMIADA! -berrou assustando-a.
—Nossa! Você faz parecer um desastre!
—É um desastre! Mês que vem ela concorreria ao European Cannel Club, e agora...agora...
—Se ela ficar prenha não acho que seja uma boa ideia estressá-la com exposições. -falou pensativa.
—Ela não pode ficar prenha deste vira lata pulguento e sarnento! -bradou.
—Bem...é uma possibilidade. Como também ela pode não ficar. E o Hank não tem sarnas! -ela deu os ombros. -Reparou que estamos discutindo isso na frente de dois cãezinhos que se amam? E estão se amando?
—Maluca! -bufou entrando na casa, seguido por Helena. -Quero você e seu vira-latas longe de mim e da minha Duquesa!
—Temos que esperar eles terminarem. –ele gritou de dentro da cozinha. -Não é o fim do mundo sabia? Ela nem pode ter ficado prenha!
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Dias depois, Helena recebe um telefonema em casa. Estava ocupada com uma nova peça de arte que atendeu sem muita pressa.
—Sim?
—Seu animal terá que assumir a responsabilidade do que fez! E você também!
—AH, oi Afrodite. -respondeu com um sorriso tampando o bocal do aparelho e falando para o cachorrinho que estava ao seu lado. -É seu sogro!
—Eu ouvi isso! -gritou do outro lado. -Adivinha de onde estou voltando?
—Bem...da massagista não é e nem da sua aula de yoga. Está estressado!
—Do veterinário!
—Passou mal? -brincou.
—Hahaha! -riu com ironia. -Adoro quando é engraçada, pena que não foi agora! A Duquesa está prenha!
—Que maravilha! -Helena pulava e vibrava, Afrodite tentava se controlar contando até dez.
—Pare de pular como uma borboleta saltitante e venha até aqui! -e desligou o telefone.
—Ele está furioso! -falou com Hank que latiu, balançando a cauda. -Safadinho. Agora vamos ver o que faremos com o resultado da sua irresponsabilidade.
Trocou-se rapidamente e atravessou a falha na cerca viva, entrando na casa pelos fundos, usando a cozinha. Afrodite estava ali, esperando-a, com uma expressão nada amigável.
—Bem.. -suspirou Afrodite. -Agora que o inevitável aconteceu. O que faremos?
—Sobre?
—Ela ficou prenha. Quem cuidará dos filhotes? -indagou encostando-se no balcão da cozinha e cruzando os braços.
—Você não pensa em separar a mãe dos filhotes? Pensa? -falou horrorizada. -Não seja cruel!
—Lógico que não farei isso! -defendeu-se.
—Então...o que você está querendo dizer sobre “quem cuidará dos filhotes”? -perguntou curiosa, vendo-o preparar um chá.
—Estava pensando se você terá dinheiro para pagar as consultas ao veterinário. -ele a analisou. -O doutor Steel em Londres fica longe e não quero que ela fique fazendo viagens desgastantes.
—Me chamou de pobre? -perguntou sarcástica.
—Sei que é uma artista plástica de renome. Tem dinheiro. Mas está disposta a pagar?
—Tá. Admito que em parte tenho culpa, afinal Hank é meu. -ela ergueu os braços em rendição. -Podemos levá-la ao veterinário do Hank, o doutor Petronades é muito bom!
—Ótimo! -e colocou a xícara de chá em frente a ela no balcão. -Agora veremos outras coisas.
—Outras coisas?
Pela portinhola Hank e Duquesa entravam, indo diretamente deitar em uma almofada jogada em um canto da cozinha.
—Oh...eles se amam! -suspirou Helena.
—É disso que estou falando! Isto não pode acontecer! Duquesa é uma campeã, vamos viajar pelas exposições do mundo! E agora? -desesperou-se. -Terei que ver a nutricionista, a psicólogo e a babá!
—Desculpe...o que disse? -ela pareceu que não havia entendido.
—Uma nutricionista para balancear a alimentação da Duquesa para que ela não engorde demais, e que fique ao mesmo tempo nutrida por causa dos filhotes. -falou pegando um caderno na qual fizera alguma anotações. -Um psicólogo de cães. Entenda que esta situação será muito estressante para ela e uma babá para cuidar dos filhotes durante nossas ausências. Já selecionei algumas candidatas para entrevistarmos e...
Parou de falar ao sentir que Helena coloca sua mão na testa dele, vendo se estava febril. Isso o deixou zangado.
—Tem noção de que estamos falando de uma cadela e não na princesa de Gales? -ela perguntou. -Nutricionista? Psicólogos caninos? Babás?
—Tem razão. -ele jogou a caderneta sobre o balcão. -Esqueça a nutricionista, mas não abro mão do psicólogo e da babá!
—Reparou no que está dizendo? -Helena ainda não acreditava no que ouvia. -É insano!
—Ah, outra coisa! -ele disse. -Quero esta coisa sarnenta e criadora de pulgas longe da minha Duquesa!
Hank latiu em protesto e Duquesa ganiu.
—Viu? Até eles estão contra sua decisão tirânica!
—Está dizendo que sou um tirano?
—É sim! Quer separar eles, mesmo vendo que se amam! -falou furiosa.
—Duquesa é minha cachorra! Eu decido o que é melhor para ela!
—Sabe o que mais? Você é um idiota! -Helena bufou, fez um gesto com os dedos e Hank a segui até a saída! -E eu vou mostrar o quanto você é um idiota!
—Aonde vai? Não terminamos ainda!
—Eu terminei!
Afrodite ficou furioso e venceu a distância entre eles rapidamente. Pelo olhar dele, Helena não sabia se ele queria agredi-la ou expulsá-la dali.
—Mas eu não terminei! -ele falou furioso.
—Ao meu ver sim! E se pensa que eu irei tolerar que separe Hank de seus filhotes esta super enganado! Nem que eu tenha que processá-lo!
—O que disse? -ele espantou-se, riu e provocou-a com ironia. -Vai entrar com uma ação de paternidade em nome do Hank? Visitas nos finais de semana?
—Sim!
Respondeu mais furiosa ainda pelo tom de voz que ele se referiu ao assunto, e abriu a porta, dando-lhe as costas, mas hesitou e deu meia volta, dando um chute no joelho de Afrodite.
—Maluca! -gemeu de dor, pulando e segurando o joelho ferido. -O que deu em você?
—Não sei! -respondeu simplesmente. -Me deu uma enorme vontade de te chutar e eu o fiz! -e saiu.
Afrodite imaginou com que tipo de pessoa estaria lidando agora. Helena Frost...o que tinha de linda, tinha também de loucura. E o estava deixando louco também.
Continua...
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