História Asas para voar, raízes para ficar, motivos para amar - 5*Passaporte, por favor?

Então... É isso. E aqui estou eu, em um aeroporto, com uma amiga doida,algumas roupas em uma mala um cérebro desmiolado e um coração quebrado.

Acho que deu para entender um pouquinho do que eu estou fugindo. 

—Eu confesso que fiquei muito surpresa quando você ligou pra mim. Quem costuma fazer abordagens táticas sou eu. —Ela diz, meio que tentando quebrar o gelo que estava ao meu redor

—Desculpe...

—Se estava ruim assim, podíamos ter conversado sobre isso.

Não respondi. Ela estava muito solene, o que me deixava mais desconfortável do que já estava. Só para você ter uma boa noção de como estávamos: Duas pessoas, tarde da noite, em um aeroporto internacional, uma com uma mala e outra apenas com a roupa do corpo e o passaporte—Outra nesse caso é rotulada como Hannah— Uma com o rosto inchado de tanto chorar e outra completamente relaxada no banco. Hannah parecia não ter tantas preocupações assim. Se tinha, nunca mostrava.

—No telefone—Continuou.— Você me disse que queria viajar comigo. Mas não disse para onde. Apenas disse que estava na frente da "minha casa".—Ela disse fazendo aspas com as mãos. Pra ela, nenhum lugar era chamado de casa.—Isso quer dizer que qualquer lugar serve?

—Apenas quero sair daqui—Tudo o que consigo dizer no momento.

—Entendo.—Ela se levanta e pega minha mão.— Vamos. Ande!—Ela exclama quando vê que não me levanto.—Anda logo, Grace. Isso está indo um pouco longe demais.—Resmunga a última frase consigo mesma. Sempre, desde criança, tive pressão para ser perfeita, bondosa e aceitar tudo o que diziam. Hannah apenas assistiu tudo um pouco mais de perto do que os outros, e estava cansada tanto quanto eu.

—Aonde vamos?—Pergunto, exausta. Preciso dormir urgente.

—Vou te levar para casa.—Por que as pessoas têm a mania de não olhar para mim quando estão com pressa?

E como assim "Casa"? 

—C-como é?—Pergunto, querendo não entender da forma como estava entendendo.—Você enlouqueceu?!Não posso voltar!Você sabe o que-

—Excuzes-moi? —Sou interrompida por Hannah falando...Francês?

—Pour non?— Responde a funcionária do aeroporto, pega de surpresa para ressuscitar das cinzas um francês mecânico.

—Quand est le prochain vol pour la Grande-Bretagne?

—Com licença, Hannah—Pergunto ainda mais confusa do que antes—O que está fazendo?

—Eu te disse que te levaria para casa.—Ela tira seu passaporte do bolso, junto com a carteira. Um sorriso travesso brinca em seu rosto.—Mas não disse que era a sua.