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História Assassin's Creed - Omnis Licitus - Tarde Demais


Escrita por: Meurtriere

Capítulo 65 - Tarde Demais


Cobertas de pelagens foram entregues à Jenny antes do navio chegar nas áreas congeladas, a loira apenas não sabia se era bondade de Shay ou de seu irmão, ainda sim ela não podia reclamar. As refeições também eram melhores do que prisioneiros costumavam receber, sempre três porções com um pouco de conhaque para manter a caloria do corpo. Apenas alguns dias se passaram desde que ela sentiu o brigue se mover pela primeira vez. Shay não retornou e os encarregados de retirar seu penico e levar sua comida nunca respondiam nada, ordens de Haytham, certamente.

Às vezes ela sentia o casco colidir-se suavemente contra o que ela deduzia ser blocos de gelo. Os ventos uivantes do Norte eram fortes demais e pouco confiáveis, por isso a velocidade era razoável e quase uniforme, dado tal constatação, a Assassina notou de imediato quando o navio parou. Seus ouvidos não puderam captar sons atípicos dos níveis acima. Na verdade, tudo estava quieto demais.

A filha de Edward Kenway permanecia deitada, vazia ou quase. Seu íntimo acreditava no bom senso de Shay. Ele não mataria o melhor amigo, eles eram quase irmãos. Suas esperanças desmoronavam quando a comparação entre ela e Haytham era inevitável, eles eram realmente irmãos e isso não a impediu de tentar matá-lo. Seria então que Liam morreria? Ou Shay? E se isso acontecesse, ela poderia culpar o irmão?

Repentinamente o som das trancas de ferro lhe chamou a atenção. De costas para as grades, ela não viu ninguém se aproximar e por isso foi com espanto que a Kenway se virou. Lá estava Pierre Bellec, lhe sorrindo de maneira triunfante sobre uma grossa camada de pele que ainda deixava água pingar no solário.

- Pierre...

Sua surpresa era tamanha que demorou alguns instantes antes que ela conseguisse se por de pé. A porta rangeu estridente quando o rapaz a abriu e sinalizou para que a mentora saísse dali.

- Como...?

- Barcos menores navegam mais rápido com os ventos certos. Disse isso uma vez, lembra-se? Agora, vamos embora antes que apareça alguém.

- Onde estamos?

- No fim do mundo, eu diria. Só vejo branco e azul para tudo quanto é lado. Um frio da porra.

A mais velha lhe direcionou um olhar repreendedor e ele revirou os olhos. – Como arranjou um barco?

- Ofereci toda a reserva de carne que tinha há alguns caçadores que conhecem a região.

- Oh Pierre, não devias ter feito isso. Era para ti e tua mãe consumir no inverno.

- Tudo bem, ainda temos tempo para repor até lá, mas precisamos sair logo daqui. - Ela lhe negou em silêncio e deixou o rapaz confuso. – O que? Por que?

- Haytham está aqui.

- Seu irmão?

Jenny deixou a cela enfim e iniciou uma busca por seu armamento pelo recinto. Mas obviamente os dois Templários não lhe facilitariam as coisas e ela encarou o jovem seriamente.

- Preciso de minhas armas.

- Sabe onde elas a guardaram?

- Provavelmente na cabine mestra, precisamos atrair os tripulantes para baixo.

- Mas como?

Jenny encarou o rapaz seriamente e seguiu para a saída do compartimento das celas, ganhando novamente o corredor pelo qual Shay a guiou dias atrás. De súbito uma dúvida surgiu em meio seu avanço.

- Como conseguiste entrar?

- Pela popa. Há uma portinhola um convés abaixo.

Os passos da Kenway pausaram por um instante e os calcanhares viraram para ficar frente a frente com Bellec.

- O que havia lá? No lugar por onde entrou.

- Barris de pólvora e armamento.

- Me leve para lá.

- Certo, mas e se encontrarmos alguém pelo caminho?

- Tiramos do caminho. Não temos tempo para perder.

Pierre anuiu e assim a dupla continuou o percurso até encontrar escadas para o convés inferior. Como em outros navios, os tripulantes mantinham-se ocupados ao céu aberto, apertando nós, trocando cordas e talvez costurando algumas velas. Os encarregados da cozinha tinham a obrigação de alimentar todos dentro de aproximadamente uma hora, mantendo-se trancados até então. Logo o caminho da Assassina e de Pierre apresentou-se tranquilo e eles chegaram a um nível mais escuro do Morrigan, o segundo convés mais baixo do brigue, o armazém.

Liam havia contado a ela que ali eles mantinham carne, sal, água doce, bebidas, legumes e grãos na parte da proa. Ocupando o espaço intermediário estava o dormitório dos marujos e na popa ficaria a praça de armas. O nível mais baixo da embarcação, ela se lembrava, era reservado para a reserva de materiais como vela, linha, cordas, madeira, ferramentas, redes de pesca, utensílios de arpoaria e bombas para uma eventual necessidade de drenagem.

 Toda aquela organização lhe era tão familiar, pois fora justamente ela quem a recomendou ao O'Brien, isso porque o Gralha era exatamente dividido daquela maneira. E lá estava a porta do armazém bélico, destrancada e sem qualquer alma lhe fazendo guarda, afinal um ataque ao Morrigan teria mais chances de ocorrer em seu convés superior.

Jenny pegou um barril pequeno e tirou a folha de seu tampão, despejando seu negro conteúdo pelo solário de madeira em uma fina trilha de pólvora. – Despeje os barris grandes no mar, não quero mortes desnecessárias.

O rapaz fazia como ordenado, empurrando os roliços recipientes pela portinhola que ele usou para entrar no brigue. Não havia mais sinal do barco usado pelos caçadores no horizonte e ele não sabia agora como poderiam voltar para casa.

- Está pronto, voltemos para cima.

A voz de sua mentora ecoou vinda da porta antes dele jogar um último barril água abaixo. Com cuidado para não desfazer a trilha de pólvora, os dois correram até as escadas, não sem antes a loira pegar uma lamparina pendurada na parede, uma das poucas luminosidades do local. Já no meio das escadas ela jogou o objeto na direção de sua artimanha, fazendo o vidro de quebrar em pedaços e o óleo escorrer lentamente com as pequenas chamas.

- Venha rápido, Pierre! Voltemos para as celas.

Com agilidade, a dupla terminou a subida e avançaram de volta para o espaço reservado aos prisioneiros. Quando passaram pela porta do recinto a explosão aconteceu e todo o navio tremeu. Vozes e passos apressados vinham do convés superior e logo eram ouvidas do corredor.

- Pierre, vá para a minha cela e fique de costas.

- O quê?

- Apenas vá.

O garoto o fez não muito contente, enquanto ela permaneceu atrás da viga onde as chaves ficavam pendurada. Em dois minutos a porta se abriu e um homem se aproximou da cela preenchida.

- Está tudo bem aqui?

O homem nem ao menos percebeu que não era uma mulher presa ali, pois a loira o surpreendeu por trás, bloqueando a sua respiração até que o mesmo desfalecer em seus braços. Pierre se levantou ao ouvir o som do corpo cair e encarou o homem por um instante enquanto a mais velha recolhia uma pequena faca da cintura do homem. Por fim ela ergueu o olhar para o rapaz e sinalizou para que saíssem dali.

Ambos cruzaram a porta e ainda viram alguns homens seguirem rumo às escadas que davam acesso ao nível inferior. Mas já com o caminho livre eles seguiram para a meia nau e subiram os degraus para o céu aberto. O convés estava praticamente vazio, havia dois homens no topo do mastro e mais alguns colados no parapeito da popa, deixando assim o caminho livre para a cabine do capitão.

Sem delongas ela seguiu até sua meta, com seu aprendiz logo atrás. O local estava exatamente como o vira dias antes, por isso dirigiu-se até o canto direito onde ela sabia ser o local onde Shay guardava seu próprio armamento e lá estavam sua Hidden Blade e as pistolas de Edward Kenway. Jenny se adiantou em pegar seus pertences e na pressa não percebeu a alça de sua inseparável bolsa de couro até esta vir ao chão.

Dinheiro e duas bombas de fumaça espalharam-se por sobre o piso de madeira, mas foi um brilho rubro que lhe chamou atenção. Há muito esquecido no fundo daquela bolsa, o cordão que Haytham lhe dera na Espanha ainda brilhava como novo. A cruz vermelha refletia a luz que adentrava ao local pela janela enquanto a loira abaixou-se para pegar a joia. Sem que Pierre percebesse, ela a guardou dentro de um dos bolsos de seu manto antes de se virar para enfim deixar o Morrigan.

- Já peguei tudo o que precisava, é melhor irmos antes que eles retornem.

A Assassina passou por ele e ganhou o convés, rumando diretamente para a rampa de embarque e desembarque. Bellec a seguia em seus calcanhares e foi com certo espanto que a Kenway viu Achilles surgir por uma fenda à sua esquerda e logo atrás estava seu irmão. Davenport virou-se para encarar o Templário frente a frente e lhe deu combate. Contudo, o inglês era um exímio espadachim e precisou de poucos golpes para desarmar o rival.

No fundo de si, Jenny sentiu um leve orgulho em ver Achilles rendido por um Kenway, mas então Shay surgiu do mesmo local que os combatentes e impediu Haytham de matar o mentor.

- É ele. É o homem que atacou os Assassinos.

Pierre falou alto demais e no mesmo instante os três direcionaram os olhos para a dupla recém-chegada. Jenny o olhou furiosa e o rapaz percebeu, não suportando a repreensão silenciosa da mais velha e desviando o rosto para o chão.

- Jenny? O que está fazendo aqui?

Mesmo atento à sua irmã, Haytham não moveu um milímetro sua lâmina para longe de seu, agora derrotado, adversário.

- Jenny...

Shay não a chamou, pois, sua voz saiu incomumente baixa, mas seus olhos estavam pregados sobre a mulher e todo o seu corpo parecia paralisado. Palavra alguma foi proferida, mas seus olhos.... Suas vestes manchadas de vermelha fez o coração dela disparar. Imediatamente ela ergueu as duas pistolas, uma direcionada para seu irmão e outra para o Cormac.

- Disse que Liam e Achilles estariam aqui, Shay.

- E eu não menti. Nunca menti para você.

- Sim, e é por isso que acredito em você. Onde ele está?

- Morto, provavelmente...

Mesmo no chão, Davenport não deixava de importunar a inglesa que logo o encarou ameaçadoramente.

- Cale a boca ou garanto que eu mesma a calarei.

- Apenas a disse a verdade.... Vocês dois nunca gostaram de ouvir a verdade. Shay matou todos os outros membros da Irmandade e agora ele finalizou seu trabalho de uma vez por todas.

Jenny não tirava os olhos de Shay que a encarava de igual modo, de repente matar seu irmão já não se fazia tão urgente.

- Diga-me tu, Shay, isso é verdade?

- Ele caiu...

O som do click da arma sendo engatilhada pôde ser ouvido por todos. – Jenny, não faça isso. Pelos céus, ouça-me apenas uma vez na vida. – Haytham mantinha a calma e a espada rente ao mentor Assassino.

- Mate-os e vá atrás de Liam...

A paciência dela se foi de uma vez por todas e desta vez a loira se aproximou de Davenport ignorando completamente seu irmão.

- Preste bastante atenção no que vou lhe dizer, Achilles.

- Se vai me matar então poupe-me de qualquer discurso.

 Um tiro e um dos joelhos do homem explodiu em sangue, deixando tanto Haytham e Shay perplexos. O Grão-Mestre Templário afastou sua espada do homem que se lamuriava de dor.

- Já mandei-lhe calar a boca e prestar atenção! Não irei te matar, pois não merece minha misericórdia. Não, meter uma bala em seu coração seria muito rápido e fácil. Não.... Te ver sofrer me dará mais prazer do que mil homens poderiam me dar na cama. Quero que ao se levantar todos os dias sinta dor e lembre-se que tu apenas viverá porque eu permiti, Achilles. Davenport.

A loira então, guardou o par de armas nas calças e abriu as pequenas peças de ferro que prendiam sua Hidden Blade no pulso direito, retirando-a por completo de seu braço. Dois passos a frente, passando por cima do mestre Assassino, e ela parou frente na frente do irmão.

- Nosso pai estava errado em tentar decidir nossos destinos... E eu estava errada... Ele devia ter protegido a nós dois, mas muito tempo já se passou e não podemos mais voltar atrás em nossas escolhas. – Ela lhe estendeu a lâmina e encarou os cinzentos olhos do Kenway. – Passei anos atrás de você, primeiro querendo te salvar dos Templários e depois querendo te matar, mas agora estou cansada demais. Pegue, ele provavelmente daria a você e não a mim de qualquer modo.

O mais novo, porém, não o fez. Antes, Haytham também abriu o bracelete que carregava sua lâmina oculta, outrora pertencente à Miko e repetiu o gesto da irmã. Ainda que o mais novo nunca tivesse visto sua irmã junto com qualquer homem que um dia ela possa ter relacionado, a tristeza em sua voz era palpável, e mesmo acostumado a lidar com a melancolia da morte todos os dias, o inglês sentia por ver a loira daquele jeito. De luto, sem a tradicional maneira de falar, com determinação tal qual seu pai.

- Pegue esta. Tu eras aluna dele e a merece por seus próprios méritos.

A dupla de irmãos Kenway trocaram de armas de maneira amistosa. Haytham prendeu a Hidden Blade usada por seu pai em seu pulso, mas Jenny guardou a lâmina de Miko no bolso de seu manto.

- Eu lamento que Miko tenha morrido por algo tão banal, pois lhe alerto que nada há para ser encontrado com esse amuleto Haytham. Pesquisei por anos e mesmo com a ajuda de Ziio eu nada consegui encontrar.

O alarde na face do Templário passou completamente despercebido aos olhos da irmã que já se virava na direção de Shay. Com os olhos marejados, ela segurou tudo dentro de si para não desmoronar ali, não podia se permitir isso, ao menos não na frente de todos.

- Onde ele está?

- No fim deste caminho, mas o que pretende fazer?

- Dar-lhe um fim digno.

Com palavras tão mórbidas feito aquelas que a inglesa os deixou, ouvindo as passadas de alguém logo atrás. Uma breve espiada por sobre o ombro lhe permitiu ver Pierre silencioso lhe seguindo. Marcando a brancura da neve com suas pegadas, eles saltaram em alguns blocos de gelo até chegar ao platô onde jazia Liam O'Brien.


Notas Finais


Ainda há tretas para o próximo, aqui é que nem GOT. O nono capítulo que nos destrói.


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