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História Assassin's Creed: Aftermath - Sendo Amigo do Inimigo


Escrita por: B4dWolf

Capítulo 38 - Sendo Amigo do Inimigo


Kenway Homestead. 11 de Maio de 1778.

 

Estar em casa era um alívio, depois de tudo que acontecera. Minha mente ainda tentava processar os últimos acontecimentos – ou melhor, entender toda a bagunça provocada pela Apple.

Sim, eu mudei o futuro. Intervi no Massacre de Boston, e acabei evitando que aquela tragédia acontecesse. Claro que em nenhum momento, quando utilizei a Maçã, pensei que seria capaz de algo assim, mas o calor do momento e as lembranças da tragédia em meus anos da adolescência me levaram a esta atitude. O resultado disto foi o retardamento, mas não a inibição por completo, do processo de Revolução da Colônia Americana. Era 1778 e ainda éramos uma Colônia, mas eu sabia que a Independência era apenas questão de tempo.

O problema é que meu tiro saiu pela culatra. Eu não medi as consequências. O fracasso do Massacre chamou a atenção dos Templários Britânicos, que tenho certeza agora de que enxergaram nisto um golpe. Por que diabos eles não tiveram a mesma opinião quando o Massacre efetivamente ocorreu foi outro ponto com resposta definida. Os Templários eram agora controlados por Charles Lee, um líder fraco e também beirando ao hesitante, com pouca personalidade para enfrentar Howard e defender seu próprio poder. Fora isto, ele cada vez mais me parece ser alguém que gosta de ser submisso a alguém. No fundo, o excesso de poder deveria desagrada-lo. Tudo isto explicava como a presença de Howard Davidson por trás do Rito Colonial não foi detectada por nós. Melhor dizendo, não foi detectada por mim.

Tudo isto era culpa minha. Estávamos combatendo um inimigo fantasma, e todo o nosso trabalho precisava ser reiniciado agora. Sentar e rediscutirmos estratégias, rever planos, tudo deveria ser refeito. Sabíamos que Howard estava para aportar a qualquer momento na Colônia, e deveríamos detê-lo, destruindo sua rede já instalada – incluindo o Templário Shay Cormac.

Shay era um ponto complicado. Eu sabia que ele era pai de Amália. Meus sentimentos por ela ainda não estavam definidos, mas eu temia que fossem destruídos antes mesmo de sua maturação, caso ela descobrisse que escondi, por todo este tempo, a verdade dela. Isso me consumia por dentro, fazendo-me sentir não muito diferente de meu pai, quando eu descobri que ele escondera de mim por muito tempo quem realmente ateou fogo à Aldeia em que eu vivia e causou a morte de minha mãe. Se eu bem conhecia Amália, ela certamente agiria como eu, ou talvez pior. O problema é que cheguei longe demais para voltar atrás agora. A vida me ensinou a ter paciência, de modo que preciso esperar o momento certo para contar o que sei – e sinto que não é agora, com uma guerra em nossas portas. Amália poderia ficar irritada comigo quando descobrisse toda a verdade, mas tenho certeza de que ela me entenderá.

Eu estava na pequena sala de estudos de meu pai. Uma tempestade caía do lado de fora, o que me fez conversar com ele ali, em sua sala de estudos, portas fechadas. Ele se servia de um uísque, após eu lhe contar os últimos acontecimentos em Nova York. Para minha surpresa, ele parecia saber a identidade do templário misterioso.

Mas sua resposta ainda era difícil de engolir.

–Tem certeza, pai? – perguntei. Ele assentiu, enquanto dava um gole.

–Sim, meu filho. Shay tinha uma cicatriz considerável na testa, indo até a bochecha. – ele gesticulou, desenhando a cicatriz simbolicamente em seu rosto. – O fato de esse homem ser meio grisalho é óbvio. Ele era um pouco mais jovem do que eu. O tempo também deixou suas marcas.

–Ele vestia um uniforme templário. Colley reconheceu o emblema.

–Decerto o mesmo uniforme daquela época. Não tenho dúvidas, meu filho. O homem que seguiu este tal Colley era mesmo Shay Cormac. Mas parece que ele se limitou a fazer uma pesquisa de campo, desta vez.

Eu cruzei meus braços, não satisfeito.

–Ou quis uma ocasião mais divertida para mata-lo.

Meu pai pareceu me repreender.

–Shay é profissional, Connor. Não acha matar algo divertido. Mas saiba que ele, assim como eu, é talentoso nisto. Ele poderia ter matado seu amigo Assassino, bem antes até do tumulto. Seu amigo deveria se considerar um abençoado por sair apenas com os olhos lacrimejando de um encontro com Shay.

Virei meus olhos para o meu pai. Ele estava com algum tipo de esperança, isso era notável, e estava fazendo o possível para não deixar isto muito evidente.

–Você por acaso está pensando que...?

Meu pai sorriu brevemente, antes de falar.

–Shay não era o melhor em seguir ordens cegamente. Pergunte ao homem que você chama de Mentor. – disse, com o conhecido repugno na voz. – Quando plenamente convencido de suas ações, de fato, ele as seguia com maestria e excelência. Mas deixe o homem no escuro, que ele pensará duas vezes em como agir. É, Charles... – falava meu pai, referindo-se ao seu antigo colega. – Parece que você está fazendo tudo errado.

–Não se refira mais a Charles deste modo. – aleguei, preparando o terreno para dar a principal notícia do dia. – Ele não é mais o Grão-Mestre.

–Não?! – meu pai pareceu aturdido. – Por Deus, e quem é agora?

Olhei em seus olhos azuis arregalados em surpresa. Mesmo revelar isto era doloroso. Nada mais sentia, senão fracasso e culpa, por ser o responsável em trazer aquela ameaça à Ordem mais cedo que devia.

–Howard Davidson. – disse, como se estivesse vomitando o nome.

Creio que meu maior medo era a reação de meu pai. Eu jamais soube como era a natureza de seu relacionamento, quando meu pai era um Templário do Rito Britânico. Embora ambos fossem diferentes, isso não os impedia de terem sido amigos. Meu pai tinha sido próximo de muitas pessoas que destoavam de seus princípios. O que eu mais temia era que um sorriso se desenhasse em seus lábios, ou que ele se sentisse satisfeito em saber que o Rito Colonial era submisso à Inglaterra e controlado por alguém de confiança.

E eu mal pude reagir quando vi seu semblante se tornar grave.

–Howard? – ele perguntou outra vez.

–Você o conhece, não é? – perguntei. Naquele instante, seu semblante se tornou vago, até que vi um ligeiro asco se desenhar em seu rosto.

–Infelizmente. É alguém de meu passado, longa história...

–Mas parece que é alguém desagradável. – insisti, mas ele parecia arredio. Tentou se levantar, mas eu segurei em seu braço, e para minha surpresa, ele bateu em minha mão, claramente mostrando desagrado com minha atitude.

–Por que não me conta? – voltei a reagir. – Este homem está prestes a destruir tudo o que nós, Assassinos, construímos...

–Isso não é problema meu. Ao menos, não mais. – disse, voltando a caminhar pela sala, sem olhar para mim. Aquilo me deixou abismado, e ainda mais irritado. Eu me levantei, seguindo-o, ainda irredutível a deixa-lo sair sem me dar as respostas que precisava.

–Já parou para pensar no quê a Colônia pode se tornar nas mãos dele?

–Já. E se quer saber, eu me sinto feliz em não mais participar disto.

–E quanto a mim, pai? Esqueceu-se de que estou participando disto?

–Eu te avisei, Connor. Adentrar a Ordem dos Assassinos foi uma escolha sua. Você é um adulto, e precisa agora lidar com as consequências de suas escolhas. A vida de adulto é assim, e terá de se acostumar com ela.

–O que deu em você para não mais se importar? – perguntei, esbravejando. Isso o fez parar, alguns passos diante de mim, o que me impediu de ver sua reação. Ele se virou lentamente, e vi que havia nada, além de dor e cansaço em seus olhos.

–O que deu em mim? – ele perguntou, com os dentes cerrados, me intimidando, caminhando lentamente em minha direção. – Tu vês a lápide de seu irmão no fundo de nossa casa quase todos os dias, e ainda vem me questionar o que deu em mim? – ele disse, com raiva cada vez mais salientada. Senti-me envergonhado, por questioná-lo desta forma. Ele ignorou minha reação e continuou.

–A lápide de seu irmão é apenas uma, meu filho, dentre outras lápides que esta guerra estúpida trouxe à minha vida. E eu quero que a lápide de Jim seja a última, mesmo que para isto, eu tenha que me acovardar e me recolher a um canto, para proteger minha família.

–Destruir Davidson é a melhor maneira de protege-los, pai! – insisti. – Eles virão atrás de você, não importa seus atos!

–Sim, e depois que eu destruir Davidson, quem mais virá? Acha mesmo que Davidson é o último templário da face da Terra? Não, meu filho. É ingênuo pensar nisto. A Ordem dos Templários jamais será derrotada. Mesmo quando o seu Credo parecer triunfar, os Templários ainda irão se reerguer outra vez. E você sabe por quê? É porque a Ordem dos Templários nasce de uma realização. Eles não exigem nenhum credo. Não há doutrinação feita por velhos desesperados. Tudo o que precisam é que o mundo seja como ele é.

Bufei, exasperado. Aquelas eram praticamente as mesmas palavras que ele proferira, em um telhado em Nova York, quando caçávamos Benjamin Church, a um Assassino ingênuo e ainda duvidoso sobre a quem acreditar. Mas ao menos, algo me consolava. Em nenhum momento, ele usou o termo “nós”, como naquela época.

–Mas você não me entende... É jovem e ingênuo demais para perceber seus próprios erros. Acho, meu filho, que está na hora de você saber a verdade, então, sobre meu verdadeiro relacionamento com Howard Davidson.

Ele encheu mais um copo de uísque, mas para minha surpresa, ele não bebeu aos poucos, mas terminara com o copo de uma vez. Depois de sentir a bebida aquecer sua garganta, ele continuou.

–Eu e Howard nunca nos entendemos. Ele é cinco anos mais velho do que eu, apenas. Quando meu pai... Céus, eu acho que terei de te contar tudo.

Assenti, procurando ficar em silêncio. O que se seguiu, então, foi uma narrativa, emocionada em vários momentos, a respeito de meu avô, Edward Kenway, e dos primeiros anos de meu pai. Eu vi seus olhos lacrimejarem em alguns momentos, mas foram breves. Creio que sua ferida já era mais que cicatrizada para isto.

–Então, meu avô foi morto... Por seu tutor?

Ele assentiu. – Na verdade, não diretamente como afirmas. Ele estava por trás do ataque à nossa casa na Queen Mary Square. Então, pode-se dizer que sim. E eu não o matei, na verdade. Quem matou foi sua tia, Jenny. Ela fez questão, pois sofrera anos de escravidão em um país estranho graças a ele, tal como te contei. Mas tive minha participação. Foi um desgosto, mas ao mesmo tempo, eu sabia que estava fazendo a coisa certa. Ele matou meu pai, afinal. “Foi para um bem maior”, alegara aquele bastardo, acreditando que isso me convenceria a poupá-lo. Mas que filho poderia aceitar a morte do pai por causa de um “bem maior”?

Enquanto ele enchia mais um copo, senti-me endurecer. Aquele parecia um claro recado a mim. Afinal, eu matei meu pai – sim, meu pai, o homem que estava ali, vivo, bem diante de mim – em prol de um “bem maior”.

–Os Templários Britânicos ficaram abalados pela morte de Birch. Foi um duro golpe. Ele era um articulador, estrategista brilhante, estudioso Daqueles Que Vieram Antes, tal como foi o meu pai. Alguns viram sua morte como uma fatalidade que poderia acontecer a qualquer um com inimigos Assassinos, outros... Bem, outros passaram a desconfiar de mim. E Howard encabeçava a lista. Assim que parti de volta à América, decidi que o Rito Colonial deveria caminhar com suas próprias pernas. E então, começou a Guerra dos Sete Anos. Eu sabia que era importante expulsar os franceses, pois eles estavam mancomunados com os Assassinos, por isso acabei por tomar partido do lado inglês. Mas eu sabia que o Rito Colonial precisava ser independente. A insatisfação crescente que assistia pela Colônia, desde os poderosos aos mais pobres dos cidadãos, começou a me atentar de que uma América independente seria benéfica aos meus planos. Eu cuidaria dos Templários da América, alegando estar à procura do Local Precursor, e assim ficaria longe das cismas de Davidson. Ele jamais se interessou por nada da Primeira Civilização, dizia que era “velharia” e que os Templários deveriam se focar mais na política.

–Howard está dominando a Ordem desde o fracasso daquele tumulto em Boston.

–De fato? – isso perturbou meu pai. – Isso explica porque a Revolução da Colônia ficou travada por tanto tempo. Mas nem mesmo Howard seria capaz de impedir o curso da Revolução. Mas o que me surpreende é Charles ter sido tão...

–Fraco? – perguntei. Ele pareceu hesitante em afirma-lo.

–Parece que me enganei em meu julgamento, então. Charles não era o mais apto a liderar a ordem. Na verdade... – ele refletia, hesitante em continuar. – Ninguém era. Cada vez mais, sinto que a Ordem que eu idealizei e construí era constituída apenas por mim, e mais ninguém.

Ele andou de um lado a outro, mãos atrás das costas, semblante sério.

–Está bem, meu filho. Eu vou derrubar este crápula. Mas saiba que não é por nenhuma Ordem ou convicção, mas por sua mãe, por você e por sua irmã. Este homem virá atrás de mim, não importa o quão inofensivo eu me mostre. E eu preciso acabar com ele, antes que ele ouse se aproximar de nossa família.

Era difícil esconder minha felicidade em saber que, finalmente, eu trouxe meu pai para lutar ao meu lado. E não porque havia um mero objetivo alinhado como na ocasião de Benjamin Church, mas porque tínhamos um mesmo inimigo em comum.

–Pai... – comecei, precisando alertá-lo. – O senhor está consciente de que isto o coloca no mesmo lado dos Assassinos, não está? Ou seja, trabalhar em conjunto conosco...

Ele fez um olhar de desgosto, eu percebi. Rolou os olhos, e soltou um suspiro resignado, mas nada dissera. Creio que nem precisava, pois ele estava claramente irritado por estar nesta situação, tão alinhado assim com o meu Credo.

–Se eventualmente for necessária uma parceria com os seus, tudo bem. Contanto que eu não precise usar um maldito capuz para derrotar Howard. – decretou, por fim, deixando um leve sorriso escapar.


Notas Finais


Hahaha Parece que Haytham está... Hum...Er... "Disposto" a ajudar os Assassinos...
Quem diria... O que um Templário como Davidson não faz, não é... Une até os mais fervorosos dos inimigos.
Mas será que todos os Assassinos irão gostar dessa nova adição?

E Achilles? Vai reagir bem a ter o Haytham como aliado?
É, Connor, você tem uma encrenca e tanto pela frente...

Próximo episódio: uma recepção "super-calorosa" dos Assassinos à Haytham Kenway.

Até lá!


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